Já pensou conhecer lugares que estão nas alturas? A Colômbia é um país lindo e fica ainda melhor se você tiver que se esforçar um pouco para vê-lo de uma nova perspectiva, como por exemplo, de cima.
Com montanhas sagradas, rochas incomuns e passarelas vertiginosas ao ar livre o país possui várias opções de locais para os visitantes mais aventureiros, há sempre um novo desafio a ser conquistado na Colômbia, veja quais você pode explorar:
1.Monserrate, Bogotá
A montanha de Monserrate é o marco mais famoso de Bogotá e uma fonte de peregrinação. Você pode pegar o teleférico ou o Funicular da montanha até seu pico vertiginoso de 3.152 m acima do nível do mar ou fazer como um peregrino e caminhar (ou correr, como atletas colombianos em treinamento). A subida em degraus íngremes de pedra sobe cerca de 600m e leva cerca de uma hora, embora a alta altitude signifique que é melhor ir devagar. No topo, você encontrará a Igreja de Monserrate, além de cafés e restaurantes, bem como beija-flores coloridos e uma vista deslumbrante.
A Rocha Guatapé (conhecida também como La Piedra ou A Pedra) é um monumento nacional, adorado pelos povos indígenas que costumavam habitar a área. Esta enorme rocha foi escalada pela primeira vez em 1954, por três homens que precisaram de cinco dias para escalá-la. Hoje em dia, você pode subir os degraus, encravados em uma fenda na superfície da rocha, em menos de uma hora e aproveitar as vistas do reservatório ao redor e suas ilhas. El Peñón fica ao lado da cidade de Guatapé, Antioquia, a cerca de duas horas de ônibus de Medellín.
O poeta chileno Pablo Neruda certa vez descreveu Manizales como ‘la fabrica de atardeceres’ (a fábrica do pôr do sol), mas na verdade é melhor subir na Torre Panorâmica da cidade (também conhecida como Torre al Cielo ou Sky Tower) durante o dia, para poder ver o vulcão Ruiz coberto de neve e a montanha Santa Isabel. A torre, no bairro Chipre, tem um balanço extremo, bar, restaurante e jogos interativos, mas o melhor de tudo são as vistas de sua passarela a céu aberto para o vale, cerca de 300 metros abaixo.
Foto: Reprodução/Prefeitura de Alcaldía
4. La Popa, Cartagena
A montanha La Popa e o Convento Santa Cruz de la Popa, de 400 anos, dominam a cidade costeira de Cartagena. O pico pode estar a apenas 150 metros acima do nível do mar , mas sua altura e selva espessa protegeram o convento durante toda a turbulenta história da cidade e, todos os anos, centenas de peregrinos descem até ele para uma grande procissão. Embora os peregrinos prefiram escalar La Popa, a maioria dos visitantes evita o calor e as dificuldades do caminho e pega um táxi até o cume, visitando o convento e apreciando vistas gloriosas da cidade.
Foto: Reprodução/Roger W
5. O Pão de Açúcar, La Guajira
El Pilon de Azucar, em La Guajira, oferece uma vista deslumbrante do litoral caribenho da Colômbia com ondas quebrando, areias vermelho-douradas e deserto que se estende até a Venezuela. Esta rocha branca fica a cerca de uma hora de caminhada da vila de Cabo de la Vela e é conhecida pelos indígenas locais como Kamaici (Senhor das coisas do mar). É uma curta subida até o topo, onde há uma imagem da Virgem de Fátima e vistas de tirar o fôlego das praias quase desertas abaixo, em uma região repleta de pássaros.
No dia 9 de agosto, é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, uma data vital para reconhecer a rica diversidade cultural e histórica dos povos indígenas globalmente. Este dia não é apenas uma celebração, mas uma oportunidade crucial para refletirmos sobre os desafios enfrentados por essas comunidades e reafirmarmos nosso compromisso com seus direitos e a preservação de suas culturas.
Isabelle Nogueira, ex-BBB e defensora dos direitos sociais, ressalta a relevância deste dia.
“O Dia Internacional dos Povos Indígenas é um momento para celebrarmos a riqueza e a diversidade das culturas indígenas. No Amazonas, devemos valorizar essas culturas que não só enriquecem nossa ancestralidade , mas também desempenham um papel crucial na proteção de nosso meio ambiente. É nosso dever apoiar a luta dos povos indígenas por justiça e respeito, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e suas tradições preservadas.”
Foto: Arquivo Pessoal
Em Manaus, capital do Amazonas, onde a presença indígena é profundamente enraizada na vida local, a importância desta data é ainda mais significativa. A região amazônica, berço de diversas etnias indígenas, é um testemunho vivo da importância de manter vivas essas culturas e saberes tradicionais que são essenciais para a preservação do meio ambiente e da biodiversidade.
Celebrar esta data é um passo importante para fortalecer as políticas públicas que garantam os direitos dos povos indígenas e a conservação de seus territórios. É um chamado para a ação e para a construção de um futuro mais inclusivo e sustentável.
Úna xíta atuhu anu. A frase, que significa ‘Fui eu que assei o peixe‘, consta, entre outras, no livro Xipai kaména da usetúpa – Sedja kaména bahu de anu (fala dos nossos pais e das nossas mães, ancestrais Xipai), gramática pedagógica do povo Xipaya. A publicação é resultado de ações da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, e busca valorizar as culturas, resgatar línguas indígenas e documentar processos próprios de ensino e aprendizagem das etnias que vivem na área de influência da usina.
Atualmente, a obra é utilizada por professores indígenas para ensinar a língua mãe para alunos de escolas das aldeias Tukamã, Tukaya e Kujubim, localizadas nas Terras Indígenas Xipaya e Cachoeira Seca, em Altamira.
Para elaborar a gramática, a companhia promoveu oficinas, de 2016 a 2017, com os anciões – como se referem aos indígenas mais velhos – que ajudaram os pesquisadores a desenvolverem os fonemas e construírem uma espécie de dicionário com palavras e frases faladas pelo povo Xipaya.
A indígena Yawaidu Xipaya, moradora da aldeia Kujubim e considerada a mais velha das falantes fluentes da língua foi fundamental para o resgate do idioma. “Hoje, nós já estamos passando para o bisneto dela, meu filho. Nós vamos nas escolas, colocamos as músicas para serem cantadas, fazemos jogos na língua para testar os conhecimentos”, disse, orgulhoso, Antônio Xipaya, neto de Yawaidu.
Segundo Antônio, no final do século passado, a língua xipaya ficou adormecida, sendo considerada extinta por muitos.
“Existia muita discriminação, preconceito. Então tinha gente que se negava a dizer que pertencia ao grupo. Hoje nós temos nossa gramática, temos muitas histórias contadas por ela (avó), e sempre falo que, como neto, preciso trabalhar muito no fortalecimento da nossa cultura”, avalia.
A gramática xipaia reúne a maneira como o idioma se organiza, em sua forma falada e escrita e contém ilustrações feitas pelos próprios indígenas. Os trabalhos foram conduzidos pela linguista Carmem Lúcia Rodrigues, professora da Universidade Federal do Pará e pesquisadora da língua xipaya desde 1988.
“Na primeira oficina, nós discutimos a ortografia e os Xipayas deram importantes sugestões. Na ortografia, em uma língua que é ágrafa (sem grafia), usamos o alfabeto como base, mas há fonemas que não tem no português. Em termos da gramática, partimos do mais simples para o mais complexo, até chegarmos em alguns textos”, explicou a linguista.
Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, que representam 6% da população mundial, segundo a Organização das Nações Unidas, trabalhos como esses ficam como legado, para salvaguardar tradições e contar a história do Brasil. A influência indígena está presente em muitos aspectos da cultura brasileira, desde a culinária até a medicina tradicional, passando por nomes de lugares e expressões linguísticas.
Programa de Educação Escolar Indígena
O Programa de Educação Escolar Indígena (PEEI) faz parte do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI) da Usina Hidrelétrica Belo Monte e apoia os órgãos educacionais na implantação de um sistema que atenda às especificidades das comunidades indígenas, promovendo a readequação dos serviços de educação para a construção de um modelo de ensino voltado aos interesses das nove etnias da área de abrangência da Usina – Arara, Parakanã, Xikrin, Araweté, Assurini, Juruna, Kuruaya, Kayapó e Xipaya.
A gramática xipaya faz parte de uma série de 36 publicações viabilizadas pelo programa, entre livros de alfabetização, sobre animais e plantas, além de dicionários, cartilhas e jogos didáticos. Financiado pela Norte Energia, o programa já disponibilizou mais de 26 mil exemplares de material didático às secretarias municipais de educação dos municípios da região para utilização nas 68 unidades educacionais indígenas presentes no território indígena.
Foto: Divulgação/Norte Energia
“As ações do Programa de Educação Escolar Indígena potencializam o fortalecimento da identidade e cultura indígena, somando, para além das melhorias de infraestrutura implementadas no território, produção de materiais didáticos diversos, inclusive na língua indígena, contribuindo, entre outras coisas, para o resgate das línguas xipaya, juruna e kuruaya”, explica Sabrina Miranda Brito, gerente socioambiental do componente indígena.
Contexto histórico
Segundo a linguista Carmen Rodrigues, no final do século passado, a língua Xipaya foi considerada extinta. Isso se deu ao fato de que não se tinha conhecimento de falantes da língua e, também, de indígenas desta etnia. Porém, em 1994, foi criada a primeira aldeia Xipaya, a Tukamã, reconhecida apenas 4 anos depois. Em 2006, a aldeia Tukaya também foi reconhecida e, a partir daí, segue-se a vinda de grupos familiares xipaya para os antigos territórios tradicionais, caso do grupo da aldeia Kujubim.
No início deste século, começou uma mobilização desse povo no sentido de valorizar e fortalecer seu idioma e sua cultura. Assim surgiu a necessidade de se ter um material comum que possibilitasse alavancar o ensino e a aprendizagem do xipaya.
*Com informações da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte.
Em 1º de agosto, a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) emitiu um alerta epidemiológico sobre o aumento no número de casos notificados da Febre Oropouche em 2024. A organização internacional atribuiu tal crescimento às mudanças climáticas, ao desmatamento e à urbanização desordenada no Brasil e em alguns locais da América Central e do Sul.
Apenas em nosso País, em Boletim Epidemiológico de julho, o Ministério da Saúde informou a ocorrência de 6.976 casos de Febre Oropouche no Brasil, um aumento de quase 12% em relação ao ano anterior. Endêmica na região amazônica, a doença também teve casos confirmados entre homens e mulheres de diferentes faixas etárias, nas regiões Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) e Sul (Santa Catarina). Novos casos aguardam diagnóstico.
Especialista responsável por diagnosticar o primeiro caso em feto e de relatá-lo em reunião do Ministério da Saúde com a OPAS na última semana, o médico patologista da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) Dr. Juarez Quaresma relaciona às mudanças climáticas a disseminação do Maruim, Puim ou Mosquito-pólvora(Culicoides paraensis), pequeno mosquito comum em árvores frutíferas e que é transmissor do vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), causador da Febre Oropouche.
“Esses mosquitos são de zonas tropicais, acostumados a climas quentes e úmidos. Com o aquecimento global, eles estão cada vez mais se espalhando”, afirma o patologista em arboviroses, doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes como os mosquitos, e que atua como pesquisador do Instituto Evandro Chagas e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Estadual do Pará (UEPA).
Dados recentes do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus (C3S) da União Europeia informam que julho de 2024 foi o segundo julho mais quente já registrado desde o período pré-industrial, ou seja, antes do século XIX.
Quaresma também detalha que o OROV foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960 a partir de amostra de sangue de um bicho-preguiça, durante a construção da rodovia Belém-Brasília para a qual foi realizado um desmatamento de parte das Regiões Centro-Oeste e Norte. Em seu ciclo na natureza, o vírus é comum em animais silvestres que atuam como hospedeiros. Em seu ciclo urbano, o humano se torna seu hospedeiro. Desde àquela década, já haviam sido relatados casos isolados e surtos em Estados da região Amazônica, mas agora a doença tomou uma proporção extra-Amazônia.
Foto: Reprodução/Bruna Lais Sena do Nascimento
Sintomas e tratamento
Entre os sinais e sintomas característicos da Febre Oropouche, estão febre, dor de cabeça intensa, exantema (vermelhidão no corpo), prostração e dor nas articulações, tornando-a semelhante à Dengue. “No entanto, diferente da Dengue que a dor de cabeça é atrás do olho, na Febre Oropouche ela afeta toda a cabeça e pode inflamar as meninges, o que pode causar a morte.”, explica ele.
O Ministério da Saúde orienta que as pessoas evitem o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizam a exposição às picadas dos mosquitos vetores, usando roupas que cubram a maior parte do corpo e repelente nas áreas expostas da pele, também que sejam limpos terrenos e locais de criação de animais, recolhidas folhas e frutos que caem no solo e usem telas de malha fina em portas e janelas. Ainda não existe tratamento específico, sendo recomendado às pessoas diagnosticadas com Febre Oropouche o repouso e o acompanhamento médico.
Atuação do patologista
Entre as ações tomadas pelo Ministério da Saúde está a descentralização do diagnóstico do vírus Oropouche para os Laboratórios Centrais (Lacens) de Saúde Pública, que recebem para análise amostras de sangue e tecido orgânico e podem também encaminhá-lo para centros de referência como o Instituto Evandro Chagas. Quaresma conta que nesses laboratórios, os patologistas realizam exames de biologia molecular, de imunohistoquímica e correlacionam as lesões nos órgãos à determinada doença, sendo preponderante seu papel no diagnóstico.
O especialista relata que o caso diagnosticado em um feto, que até se desenvolvia de forma saudável até o sétimo mês de gestação, foi transmitido pela mãe a partir de infecção pelo OROV e ocorreu em Recife (PE), portanto, fora da região Amazônica.
“A gestante teve dois episódios de quadros febris e depois não sentiu mais o feto se mexer. Com a verificação de que o feto estava morto, o parto foi induzido e tecidos do cérebro, baço, rim, fígado, coração e pulmão me foram encaminhados para análise. O pulmão e o rim estavam bastante comprometidos e o cérebro apresentava edemas, tinha bastante água, uma das características da Febre Oropouche mais grave”, relata ele, que convenceu representantes do Ministério da Saúde e a OPAS do nexo causal entre a infecção pelo vírus e a morte fetal.
Nesse sentido, para ele, a SBP tem protagonismo ao realizar ações para qualificar exames realizados por médicos patologistas e laboratórios de todo o Brasil, informando e formando os especialistas que podem atuar no diagnóstico das arboviroses cujo crescimento no número de casos é uma tendência com o aquecimento global. “Também podemos atuar fundamentalmente no diálogo com gestores públicos para definir estratégias sanitárias, sem que para isso tenhamos que alarmar a população”, conclui.
Inovar no ensino da química foi objetivo de um projeto desenvolvido com estudantes da Escola Estadual Vicente Telles de Souza, no bairro São Geraldo, em Manaus, que identificou no cará-roxo, pitaya e urucum, frutos da região amazônica, pigmentos naturais indicadores de pH (substâncias orgânicas, ácidas ou básicas, que mudam de cor em função do pH da solução) como recurso didático para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem da disciplina.
Intitulado ‘Química das cores naturais, estudo e aplicação de frutas da Amazônia como indicadores de pH’, o projeto recebeu fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), no âmbito do Programa Ciência na Escola (PCE), sob a coordenação da professora da Secretaria de Estado de Educação e Desporto, Persiely Pires.
Fotos: Divulgação / Fapeam
Doutora em Química, Persiely destaca que o projeto buscou trazer melhorias no ensino de química, por meio da facilitação do acesso aos recursos da região e dos conceitos de equilíbrio químico, pH, titulação ácido-base, Princípio de Le Chatelier, conhecimentos de botânica, além da valorização da fruticultura regional. Os frutos utilizados na pesquisa foram coletados pelos bolsistas que residem nas regiões de ramais e sítios da cidade.
“Nosso projeto buscou despertar o interesse nos estudantes pelo conhecimento científico de forma clara e prática, além de socializar junto com a comunidade escolar os conhecimentos adquiridos em sala de aula”, destacou a professora.
Pioneiro no Brasil, o PCE é uma ação idealizada pela Fapeam com objetivo de apoiar a participação de professores e estudantes do 5º ao 9º ano do ensino fundamental, da 1ª à 3ª série do ensino médio e suas modalidades: educação de jovens e adultos, educação escolar indígena, atendimento educacional específico e Projeto Avançar, em projetos de pesquisa a serem desenvolvidos em escolas públicas estaduais sediadas no Amazonas e municipais de Manaus e Tefé.
Revista PCE
A história do PCE ao longo de duas décadas e as experiências de professores e estudantes estão registradas em edição especial da revista comemorativa do PCE 20 anos lançada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fapeam.
Com o tema principal ‘A chama revolucionária da ciência na educação básica’, a revista, disponível também na versão digital, apresenta dados históricos relacionados ao programa, projetos desenvolvidos no estado e depoimentos de como o PCE tem transformado vidas e aberto possibilidades para futuras gerações de cientistas e pesquisadores no Amazonas.
A epidemia atual de oropouche é causada por uma nova variante do arbovírus OROV capaz de se replicar até cem vezes mais do que a original e de evadir parte da resposta imune. As conclusões são de um estudo divulgado em versão pre-print (artigo sem revisão por pares) no repositório medRxiv.
A febre do oropouche faz parte do rol de doenças negligenciadas, como a malária e outras arboviroses (dengue, por exemplo). É transmitida por moscas hematófogas da espécie Culicoides paraensis e causa dor de cabeça, artralgia, mialgia, náusea, vômito, calafrios e fotofobia – mas também pode levar a complicações mais graves, como hemorragia, meningite e meningoencefalite.
Apesar de documentada na América do Sul desde a década de 1950, a doença apresentou um aumento substancial de casos entre novembro de 2023 e junho de 2024 no Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru.
Em território nacional, foram detectadas infecções autóctones em áreas anteriormente não endêmicas nas cinco regiões, com casos relatados em 21 unidades federativas e aumento de quase 200 vezes na incidência em comparação com a última década.
Para investigar os fatores virológicos por trás desse ressurgimento, pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo (USP), do Kentucky, do Texas (Estados Unidos) e da Federal de Manaus (Ufam), além do Imperial College London (Reino Unido) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), combinaram dados genômicos, moleculares e sorológicos de OROV do período entre 1º de janeiro de 2015 e 29 de junho de 2024, além de caracterização in vitro e in vivo, em um estudo financiado pela FAPESP (projetos 18/14389-0, 22/00723-1, 22/10408-6 e 23/11521-3).
O primeiro passo foi testar por PCR um grupo de 93 pacientes do Amazonas com doença febril não identificada e negativos para Malária, entre dezembro de 2023 e maio de 2024. O resultado foi positivo para OROV em 10,8% dos casos e, posteriormente, foi isolado o soro de sete pacientes em culturas de células.
Em seguida, esses isolados foram usados para avaliar a capacidade replicativa em diferentes células – de primatas e humanos – sempre em comparação com um isolado antigo de OROV.
Por fim, foi avaliada a capacidade de ambos os vírus serem neutralizados por anticorpos presentes no soro de camundongos previamente infectados com o OROV e de humanos convalescentes para linhagens anteriores, infectados até 2016. Para isso, foi feito um teste de neutralização por redução de placas (PRNT50), que mede a redução do número de partículas virais viáveis formadas após a incubação com diferentes diluições do soro dos pacientes ou de camundongos.
“Percebemos que o novo OROV apresenta replicação aproximadamente cem vezes maior em comparação com o protótipo”, explica Gabriel C. Scachetti, pesquisador do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve) da Unicamp e um dos autores do estudo.
“Além disso, produziu 1,7 vez mais placas, de tamanhos 2,5 vezes maiores, um indício de maior virulência.”
“Também infectamos camundongos com as duas cepas e vimos que o vírus antigo não protege contra o novo – a redução na capacidade de neutralização foi de pelo menos 32 vezes”, completa Julia Forato, também autora e pesquisadora do Leve.
(imagem produzida pela Agência FAPESP com base em gráficos do artigo)
Saúde pública
“Além de traçar um panorama da epidemia de oropouche, o trabalho apresenta possíveis explicações para o aumento no número de casos, servindo de base para ações de controle epidemiológico”, afirma José Luiz Proença Módena, professor do Instituto de Biologia da Unicamp (IB-Unicamp), líder do Leve e um dos coordenadores do estudo.
“Se o novo vírus escapa da proteção em áreas com alta soroprevalência, há maior probabilidade de infecções e transmissão, inclusive com disseminação para outras regiões do Brasil, portanto precisamos confirmar e monitorar casos positivos e lançar mão de ferramentas para diminuir o risco de transmissão.”
“Essa epidemia está longe de acabar e tem potencial de causar estragos em áreas onde não havia qualquer circulação do vírus”, alerta o pesquisador.
As professoras Ester Sabino e Camila Romano, ambas da Faculdade de Medicina da USP, participaram do estudo. William Marciel de Souza (Universidade de Kentucky) e Pritesh Jaychand Lalwani (Ufam e Fiocruz Manaus) também são coautores.
O artigo Reemergence of Oropouche virus between 2023 and 2024 in Brazil pode ser lido AQUI.
Conteúdo publicitado originalmente por Agência FAPSP*.
Rodolfo é hoje um empreendedor que pode ser considerado de sucesso, mesmo diante dos desafios que enfrenta, comuns aos empresários de pequeno e médio porte. Conseguiu sobrevier à pandemia, está reequilibrando as contas e tem planos de crescimento. A grande força de sua empresa vem dele mesmo, pela capacidade de trabalho, credibilidade e facilidade de lidar com pessoas, sejam clientes, fornecedores e a própria equipe. Estando na faixa dos seus cinquenta e cinco anos, Rodolfo transmite ser uma pessoa feliz, mesmo que com um estilo mais sério. Este é o Rodolfo de hoje, mas que nem sempre foi assim.
Sério ele sempre foi, mas, anteriormente, ele era uma pessoa fechada e até um pouco agressiva, que vivia na defensiva. Não cultivava relacionamentos e buscava manter distância das pessoas.
Na parte profissional, Rodolfo não se fixava em um emprego, pois não havia vínculos, de parte a parte. Sua relação com o trabalho era puramente transacional, em troca de um salário, baixo ou mediano. Nos relacionamentos, Rodolfo tinha dificuldades em ter um namoro mais sério, desconfiando sempre das intenções das mulheres que se aproximavam. Ou seja, na vida profissional e na vida pessoal, Rodolfo não confiava nas pessoas, e as pessoas não confiavam em Rodolfo.
A reviravolta se deu com a junção de uma crise e a chegada da idade, um momento em que Rodolfo estava desempregado e sozinho. Se aproximava do que, na teoria dos septênios de Rudolf Steiner, é chamada de fase imaginativa (dos 42 aos 49 anos), onde começam a nos incomodar questões mais existenciais e a fazer falta um grau maior de autoconhecimento. Apoiado por um profissional, Rodolfo pôde então identificar algo que era tão forte dentro dele que se confundia com a sua própria personalidade: um forte sentimento de que o mundo é um lugar hostil, onde as pessoas são egoístas e que cuidam apenas de seus próprios interesses. Com esta crença era preciso criar um escudo de proteção.
Demorou um pouco para que Rodolfo tivesse consciência de que este sentimento ou pensamento nada mais era do que uma crença e não a realidade. Só que era uma crença que acabava por formar uma realidade dentro do próprio Rodolfo. Era assim que ele via o mundo e foi nisso que o mundo se transformou. Era preciso mudar esta crença se Rodolfo queria modificar a sua realidade. Não foi tão rápido, não foi tão fácil, mas Rodolfo conseguiu o que podemos chamar de ressignificar a crença. Ela fora herdada de acontecimentos da infância e de experiências que foram se acumulando, e cada vez mais se confirmando. Romper o ciclo possibilitou que Rodolfo entrasse em uma nova realidade, verdadeiramente um novo mundo.
Ressignificar um acontecimento é olhar de uma maneira diferente para ele e contar uma nova história para si mesmo, identificando, por exemplo, aprendizados e ganhos tidos com uma situação, a princípio, negativa. Mas não temos crenças apenas sobre determinados fatos. Carregamos crenças sobre o dinheiro, sobre a família, sobre o amor, sobre o trabalho, sobre a fartura ou escassez, sobre a saúde ou a doença e por muito mais coisas.
Há crenças que nos fortalecem e que nos fazem avançar em relação aos nossos objetivos e à felicidade. Há crenças que nos limitam e que nos afastam deles. Somos em grande parte fruto de nossas crenças, e elas podem nos engrandecer ou nos diminuir, fazendo com que vivamos muito abaixo de nosso potencial.
Passados pouco mais de dez anos, Rodolfo é hoje uma outra pessoa. Tem esposa, filhos, amigos e é admirado profissionalmente. Ter superado uma crença, em um movimento consciente, o libertou de um escudo que não o protegia, mas que o massacrava. Não foram os acontecimentos que mudaram as crenças de Rodolfo. Foram as crenças de Rodolfo que transformaram os acontecimentos.
E no seu caso? Que crenças o libertam? Que crenças o aprisionam?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC, ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livroFelicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
Existem várias definições para considerar que uma pessoa se tornou adulta. No Brasil, um adulto é aquele indivíduo que atingiu seus 18 anos de idade. Já de acordo com a biologia, o ser humano se torna adulto quando chega ao ápice do seu crescimento e funções biológicas.
E com a maioridade as responsabilidades sociais surgem. Porém, para a etnia indígena Sateré-Mawé, a transição de infância para a fase adulta dos homens é celebrada através do Waumat, popularmente conhecido como ritual da tucandeira.
No rito, os jovens, para demonstrar força e coragem, precisam vestir uma luva feita de palha cheia de formigas tucandeiras (Paraponera clavata) e aguentar por, pelo menos, 15 minutos às doloridas ferroadas dos insetos.
A equipe do Portal Amazônia conversou com o mestre em Educação pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Iranildo Sateré-Mawé, que explicou o ritual indígena que “transforma jovens em homens”.
De acordo com Iranildo, o povo Sateré-Mawé acredita que o ritual da tucandeira é um manto sagrado, que através da cerimônia os indígenas adquirem uma vacina natural que protege o corpo contra doenças, além também de guiar a pessoa em um bom caminho.
“Além disso, o rito da tucandeira para os indígenas é uma forma de perpetuar a identidade Sateré-Mawé”, destaca.
Foto: Marina Souza/Agência Brasil
Processo
O primeiro passo para o ritual é pegar as formigas. Em seguida, elas são colocadas em um balde de água contendo folhas de caju picadas. Essa mistura anestesia os insetos por cerca de meia hora, para que possam ser manuseados e fixados, um a um, dentro de um par de luvas grandes, com o ferrão apontando para dentro.
As luvas, tecidas com fibras naturais, são decoradas com penas vermelhas de arara – representando guerras e outros conflitos passados que os Sateré viveram – e penas brancas do gavião real – simbolizando a coragem e a resistência do povo Sateré.
A transição sexual dos rapazes também é simbolizada pelas plumas nos punhos das luvas. Elas representam os pelos pubianos e marcam a transição do adolescente para o guerreiro e o marido.
Para os indígenas, ao colocar as mãos na luva cheia de formigas, o jovem não apenas demonstra estar apto para a vida adulta, mas também consegue a admiração dos demais. Após a primeira experiência com as formigas, eles podem se casar e começar uma família, mas o esperado é que passem pelo rito ao menos 20 vezes durante a vida.
História
Historicamente, não há uma data específica em que os indígenas iniciaram o ritual. Entretanto, existe um mito que diz respeito à origem da própria tucandeira. Nesta lenda, a formiga representa a mulher, desempenha o papel de mãe, a força transformadora, assim como a morte transforma a humanidade em natureza.
“Acreditamos que a pucanjeira foi feita dos pelos pubianos da mulher, por isso que o ritual só é feito para homem. É proibido às mulheres participarem, de colocar a mão na lua do pucanjeiro”, informa o professor.
A participação da família é importante para o rito de passagem, principalmente quando o assunto é alimentação. “A pessoa faz a farinha e vai atrás dos alimentos. Depois, o pai do jovem faz o convite para o mestre de cerimônia, que é o indígena responsável por entoar os cantos do ritual”, explica Iranildo.
Versão feminina
As mulheres também possuem um ritual de passagem. Só que este rito implica em um longo período de reclusão, durante o qual as moças quase não saem de casa.
O ritual acontece no primeiro dia em que a menina tem sua primeira menstruação. Ela é fechada dentro de casa até o final do ciclo menstrual, e até todo esse tempo só é vista e cuidada pela mãe, pela avó e tias.
Resíduos de produtos amazônicos como cascas de árvores, cascas de cupuaçu, ouriço e amêndoas da castanha resultaram numa receita de substrato adequada ao cultivo de cactáceas (cactos). Foi o que constatou uma pesquisa apoiada por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – via Programa de Apoio à Interiorização em Pesquisa e Inovação Tecnológica no Amazonas (Painter).
A pesquisa envolveu produtores dos municípios Rio Preto da Eva e Itacoatiara (distantes 57 e 176 quilômetros de Manaus, respectivamente), com acesso ao aprendizado das técnicas de cultivo e resultados dos experimentos para usar e melhorar seus cultivos e ajudar a impulsionar o mercado de plantas ornamentais na região.
De acordo com a coordenadora do estudo, a professora do curso de Engenharia Florestal do Centro de Estudos Superiores de Itacoatiara, da Universidade do Estado do Amazonas (Cesit/UEA), Iane Barroncas Gomes, a pesquisa é importante principalmente sob dois aspectos: a falta de informações científicas sobre o cultivo de cactos e suculentas no Brasil e também como alternativa de produção para qualquer agricultor que queira aumentar suas opções de venda, devido à alta aceitação desse tipo de planta no mercado.
Pesquisa do Amazonas. Fotos: Arquivo da pesquisadora Iane Barroncas Gomes
“O cultivo de qualquer espécie vegetal requer um conjunto de fatores funcionando, mas foi possível encontrar evidências que norteiam uma excelente opção de substrato utilizando resíduos tanto do ouriço quanto da amêndoa da castanha, os quais apresentaram os melhores resultados”, disse Iane Gomes.
Segundo ela, o estudo conseguiu desenvolver as alternativas de materiais que atendessem às exigências físico-químicas ideais para a utilização como substrato ou como parte da composição de uma receita de substrato.
Na ocasião, Iana destacou a importância do apoio da Fapeam a pesquisas como essa. “Sem o apoio da Fapeam a pesquisa não poderia ter sido realizada, foi imprescindível”, completou a professora.
Pesquisa do Amazonas. Foto: Arquivo da pesquisadora Iane Barroncas
Metodologia
Durante o processo foi feito o levantamento dos materiais com potencial de uso para a composição de substratos com base nas características físico-químicas dos que já foram utilizados em outras regiões do Brasil. Após a aquisição dos mesmos, foram beneficiados (trituramento, peneiramento e secagem), e foram elaboradas as combinações (receitas) em diferentes proporções para os testes físicos e análises químicas.
Painter
Programa de Apoio à Interiorização em Pesquisa e Inovação Tecnológica no Amazonas (Painter) visa fomentar a interiorização de atividades de pesquisa aplicada e inovação tecnológica por meio de indução em áreas estratégicas, especialmente a bioeconomia, para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Estado do Amazonas com a finalidade de aplicação de seus resultados na resolutividade/minoração de problemas específicos dos municípios do interior do Amazonas.
A ararajuba é tão colorida quanto barulhenta. Penduradas nos galhos, três dessas aves gritam enquanto olham para o biólogo Marcelo Vilarta, alguns metros abaixo, enquanto ele as observa. Também chamada de guarubas, essas parentes de araras e periquitos ostentam plumagem amarela vibrante, com pontas verdes nas asas, que chamam atenção na vegetação amazônica. No entanto, são essas cores que colocam sua população em risco de extinção.
O comércio ilegal de animais de estimação, aliado à perda de habitat, reduziu a população de ararajubas (Guaruba guarouba) a menos de 10 mil espécimes na natureza – um pequeno número para um grande bioma como a Amazônia, o único lugar na Terra onde são encontrados de forma nativa. Eles estão presentes principalmente no estado do Pará, com registros também no Maranhão e no Amazonas.
O programa começou em 2017, e o primeiro bando de ararajubas foi liberado na natureza em janeiro de 2018, no Parque Estadual do Utinga, em Belém, cidade onde essas aves estão extintas há mais de cem anos. Os curiosos espécimes que observam Vilarta da árvore são três dos 50 que foram soltos aqui até agora.
“A ideia do projeto é reduzir a vulnerabilidade da população de ararajubas e criar uma nova população selvagem em uma área onde elas já estavam extintas”, diz o biólogo.
O biólogo Marcelo Vilarta passa todos os dias monitorando e cuidando das ararajubas do Parque Estadual do Utinga, em Belém (PA). Tendo passado um tempo considerável com esses animais, ele é capaz de identificar e distinguir cada um deles em um piscar de olhos. Foto: Sarah Brown.
Capturada por sua plumagem
A ararajuba desempenha um papel importante na dispersão de sementes, especialmente de árvores frutíferas como o murici (Byrsonima crassifolia) e o açaí (Euterpe oleracea), além de outras 21 plantas nativas da Amazônia. Embora bastante comum em cativeiro, a espécie se encontra ameaçada de extinção na natureza. Tanto na Lista Vermelha da IUCN quanto na classificação nacional, a ave é categorizada como vulnerável.
A perda de habitat por desmatamento e o tráfico de animais silvestres continuam a ser ameaças significativas para a ararajuba. O comércio ilegal era uma ameaça maior nas décadas de 1980 e 1990, de acordo com Luís Fábio Silveira, curador de aves do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, que trabalha com o projeto de reintrodução da ararajuba. Hoje em dia, diz ele, as pessoas criam a ave em cativeiro, e “elas podem ser adquiridos legalmente em todo o mundo” de criadores autorizados.
No entanto, a demanda por aves exóticas e raras como animais de estimação e os lucros que elas trazem mantêm o mercado ilegal ativo na Amazônia.
“O tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade comercial ilegal do mundo, perdendo apenas para as drogas e as armas”, diz Julia Trevisan, bióloga e coordenadora de vida silvestre do grupo de campanha World Animal Protection, com sede no Reino Unido.
A compra de aves traficadas pode ser mais barata do que por meio de canais legais, e os traficantes são atraídos pelos altos lucros potenciais. Uma arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), por exemplo, pode chegar a 90 mil reais. E uma pesquisa online encontrou sites que vendem ararajubas por até 13 mil reais. A maioria das aves traficadas é vendida no Brasil, mas algumas vão para os Estados Unidos e a Europa.
Os traficantes geralmente capturam ararajubas cortando árvores inteiras com ninhos e coletando os filhotes sobreviventes. Essa é uma prática devastadora para a população selvagem. “As aves que sobrevivem não podem se reproduzir novamente porque seus ninhos foram destruídos”, diz Vilarta. “Eles precisam de cavidades de árvores muito específicas para fazer ninhos, e essas cavidades são muito difíceis de se encontrar.”
Um bando de ararajubas voa pelo Parque Estadual do Utinga, em Belém. Extintas na capital paraense 100 anos, as aves retornaram à cidade após esforços de conservação. Foto cedida por Marcelo Vilarta.
Protegendo a espécie
A Fundação Lymington, sediada no estado de São Paulo, tem criado ararajubas com sucesso nos últimos 20 anos para aumentar o número da espécie e, em 2017, uniu-se ao Ideflor-Bio para reintroduzir a ave de volta à natureza, com o apoio do Museu de Zoologia da USP. Belém foi escolhida para a reintrodução para trazer de volta “uma espécie a um lugar onde ela já havia desaparecido”, diz Vilarta.
O Parque Estadual do Utinga, no centro de Belém, é uma unidade de conservação e o maior espaço verde da cidade, com uma área de 1.393 hectares de ambiente amazônico natural amplamente preservado, o habitat preferido da ararajuba. A área é protegida por segurança privada e pela polícia ambiental pública, reduzindo a possibilidade de tráfico e desmatamento.
Os coordenadores do programa montaram dois aviários no meio do parque, onde dez ararajubas estão sendo preparadas para serem reintroduzidos na natureza. A maioria veio do programa de reprodução da Fundação Lymington, mas algumas foram resgatadas do tráfico ou de serem mantidas como animais de estimação. Dentro dos recintos, as ararajubas passam por um período de adaptação e aclimatação que leva pelo menos cinco meses.
O viveiro tem vegetação semelhante à que as ararajubas encontrarão na natureza, e elas são ensinados a reconhecer e consumir alimentos locais. As aves também são treinadas para reconhecer predadores, como jiboias, e para isso Vilarta e sua equipe colocam cobras vivas em segurança perto do recinto. Em seguida, os pesquisadores avaliam as reações das ararajubas às cobras, bem como às aves de rapina locais que caçam na área, e dão a elas uma nota de aprovação se emitirem coletivamente gritos de alarme quando os predadores se aproximam.
Uma ararajuba pendurada em um pé de açaí, cujo fruto é um dos mais consumidos pela espécie. Foto cedida por Marcelo Vilarta.
A educação ambiental para o público em geral, especialmente em escolas e universidades e para os visitantes do parque, também desempenha um papel fundamental na proteção de longo prazo da ave. “O projeto intensificou a educação para aumentar a conscientização sobre a importância dessa espécie para a cidade de Belém, pois é essa ave que ajuda a propagar as espécies frutíferas típicas de nossa cidade”, diz Monica Furtado da Costa, diretora do Ideflor-Bio. As atividades educativas incluem a distribuição de cartilhas sobre a ararajuba para estudantes, a criação de jogos para crianças e a realização de uma exposição sobre a espécie no Parque Porto do Futuro, em Belém.
Até o momento, o programa de reintrodução está funcionando. Um estudo publicado em 2021 sobre o projeto constatou que “as aves liberadas foram muito bem-sucedidas em encontrar e consumir alimentos nativos, fugindo de predadores, e um casal conseguiu se reproduzir com sucesso”.
Apesar do sucesso, a reintrodução de todas as ararajubas, especialmente as capturadas anteriormente, nem sempre é fácil.
No viveiro, uma fêmea de ararajuba se equilibra na rede de malha dentro do recinto e se aproxima de Vilarta, demonstrando pouco medo das pessoas. O biólogo diz que ela já foi mantida como animal de estimação, criada ilegalmente no Pará, antes que o proprietário a entregasse para o projeto. “Você pode até falar com ela e ela responde”, diz ele.
Outra ave se agarra à rede próxima. Vilarta entra na gaiola, recolhe o animal usando uma vara longa e o coloca perto de uma caixa-ninho para protegê-lo do sol escaldante do meio da manhã. Antes de ser resgatado e entregue ao projeto, esse espécime em particular havia sido mantido em uma gaiola por 15 anos e nunca aprendeu a voar. Vilarta diz que a reintrodução dessas duas aves na natureza será um desafio, se é que será possível, devido à sua incapacidade de se adaptar à vida fora do cativeiro. “Pelo menos esses dois podem ser felizes e seguros aqui”, diz ele.
As ararajubas selvagens se alimentam de frutas e sementes que o biólogo Marcelo Vilarta deixa para elas todos os dias; isso o ajuda a manter o controle da população do Parque Estadual do Utinga. Foto: Sarah Brown.
Atualmente, dez das cinquenta ararajubas selvagens reintroduzidas permanecem no Parque Estadual do Utinga e visitam o recinto diariamente para socializar com as aves em cativeiro e comer nos comedouros que Vilarta deixa para elas. Ele passa todos os dias ao lado dos recintos, monitorando as populações selvagens e em cativeiro.
As outras 40 que foram liberadas anteriormente se dispersaram para outras regiões. Antes de ser solta, cada ararajuba recebe um anel nas pernas e um colar no pescoço para ajudar a manter o controle da população. Os colares de rádio ajudam a monitorar as aves individualmente até certo ponto, mas não são eficazes em longas distâncias.
“Depois que elas são solas, é difícil mantê-las sob controle”, diz Vilarta. O plano agora é expandir o tamanho dos aviários atuais para acomodar mais ararajubas s e, em seguida, soltar outras 50 na natureza nos próximos dois anos. Os pesquisadores e conservacionistas esperam que essas aves continuem a criar suas próprias populações em Belém e além.
“Espero que haja mais filhotes em breve, porque agora eles precisam aumentar sua população naturalmente. Em algum momento, poderemos parar de soltar novas aves aqui e a população poderá se restabelecer naturalmente”, finaliza Vilarta.
*Matéria publicada originalmente em Mongabay. Escrita por Sarah Brown. Publicada por Xavier Bartaburu.