O Governo do Brasil, por meio dos Ministérios do Turismo, de Portos e Aeroportos e das Cidades, entregou no dia 1º de novembro duas obras de infraestrutura em Belém (PA): a modernização do Aeroporto Internacional de Belém e a requalificação do Terminal Portuário de Outeiro. As intervenções, que somam mais de R$ 630 milhões em investimentos, fazem parte do conjunto de ações voltadas à preparação da capital paraense para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em 2025.
O Aeroporto Internacional de Belém recebeu R$ 450 milhões em melhorias que incluem a ampliação das áreas de embarque e desembarque, novos sistemas de climatização, iluminação e acessibilidade. Sob gestão da concessionária Norte da Amazônia Airports (NOA), a nova estrutura amplia a capacidade operacional do aeroporto e oferece mais conforto aos passageiros.
Já o novo Porto de Outeiro, localizado a cerca de 20 quilômetros do Parque da Cidade, passou por um amplo processo de requalificação orçado em R$ 180 milhões, com recursos da Itaipu Binacional. A obra adequou o terminal para receber dois navios transatlânticos, contratados pelo Governo Federal, que servirão de hospedagem para delegações internacionais durante a conferência. O acesso à ilha também foi aprimorado com a inauguração, em outubro, da nova ponte que liga Outeiro à parte continental de Belém.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve acompanhado dos ministros Celso Sabino (Turismo), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Jader Filho (Cidades), Marina Silva (Meio Ambiente) e Rui Costa (Casa Civil), além do governador Helder Barbalho, do prefeito de Belém, Igor Normando, e de outras autoridades federais, estaduais e municipais.
Para o ministro do Turismo, Celso Sabino, as entregas representam um marco para o desenvolvimento regional e consolidam Belém como destino estratégico do turismo amazônico.
“O Aeroporto Internacional de Belém e o novo Terminal Portuário de Outeiro são símbolos de uma Amazônia moderna, preparada para receber o mundo. Essas obras fortalecem o turismo, geram emprego e renda e deixam um legado de infraestrutura que vai muito além da COP30, trazendo benefícios reais ao povo do Pará”, destacou o ministro.
Com as melhorias, Belém amplia sua capacidade para receber mais de 50 mil participantes durante a conferência, fortalecendo a economia local e projetando o Brasil como referência mundial em turismo sustentável e inclusivo.
Turismo em alta em Belém
Em 2024, o Brasil recebeu 6,65 milhões de turistas estrangeiros, o maior número em 15 anos. De acordo com o Banco Central e o Ministério do Turismo, os visitantes internacionais deixaram US$ 7,34 bilhões no país – o equivalente a cerca de R$ 38 bilhões –, impulsionando a geração de emprego e renda e reforçando o protagonismo do país no cenário global.
Projeto combate a evasão escolar e ameniza as perdas provocadas pela internação. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
Mesmo durante o tratamento médico, o aprendizado das crianças em Boa Vista é contínuo. No Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), o aprendizado se transforma em parte da recuperação por meio do projeto Classe Hospitalar, que desde 2008 combate a evasão escolar e ameniza as perdas provocadas pela internação em Boa Vista.
O ambiente dispõe de mesas, cadeiras, material didático e brinquedos pedagógicos que são utilizados conforme a idade e o nível de aprendizado de cada criança. Atualmente, o projeto é conduzido por três pedagogas, entre elas, Elizene da Luz e Rizoneide Alencar, que atuam na unidade há 16 e 17 anos, respectivamente.
A pedagoga Elizene da Luz atua na Classe Hospitalar há 16 anos. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
“Para mim, além da questão educacional, a grande importância da Classe Hospitalar é o bem-estar das crianças. Quando estamos aqui, eu estou aqui dizendo para elas que elas vão ficar boas e que vão voltar para a escola. Isso faz diferença em como elas se sentem”, explicou Elizene.
Apesar de ter sido elaborado a nível municipal, o projeto também é voltado aos alunos da rede estadual e particular. “A gente já chegou a atender uma criança que veio do Amazonas para fazer cirurgia aqui no HCSA. No retorno para casa, ele levou um relatório para a escola, informando o que tínhamos trabalhado na Classe”, contou a pedagoga.
Diversão com foco no aprendizado
Izabela Sophia, de 12 anos, acompanhada da avó, Altecina Oliveira. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
Durante a internação, os pacientes continuam aprendendo e mantendo o vínculo com a escola, unindo educação e cuidado em um mesmo espaço. Izabela Sophia, de 12 anos, é aluna da rede estadual e foi atendida pelo projeto nos últimos dias. “Eu gostei muito, porque eu fiz minhas atividades, estudei e depois pude brincar com alguns jogos. Também gostei bastante das ‘tias’”, disse.
Para quem atua diretamente na Classe Hospitalar, o sentimento que fica é de gratidão, conforme Rizoneide Alencar.
“Nós convivemos diariamente com essas crianças e, querendo ou não, a gente cria um vínculo. Já fui até chamada pela Izabella para um churrasco na casa dela. Eu sou muito grata. As mães relatam que as crianças acordam muito cedo, só esperando a gente. É gratificante mesmo”, falou a pedagoga.
Ethan, de 6 anos, com a professora Rizoneide Alencar durante atividade pedagógica. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
Quem também aprovou o projeto foi Daniela Geizzelez, mãe do Ethan, de 6 anos, aluno da Escola Municipal Branca de Neve, no Pintolândia. “Ele tem pedido para voltar. Vejo que a Classe é um escape do que ele está vivendo. E eu achei o projeto sensacional, é um cuidado diferente. Eu não conhecia um projeto como esse. Ele se diverte e aprende ao mesmo tempo”, destacou.
O Brasil alcançou resultados históricos no combate ao desmatamento em unidades de conservação federais em 2025, mostram os dados do Projeto de Desmatamento e Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Entre agosto de 2024 e julho de 2025, 134 quilômetros quadrados de desmatamento foram registrados em unidades de conservação federais da Amazônia e 31 quilômetros quadrados no Cerrado, apontando para a viabilidade de cumprimento da meta do Brasil, de desmatamento zero até 2030.
Estes números consolidam o papel estratégico das áreas protegidas no enfrentamento da crise climática, já que o desmatamento é a principal fonte de emissões de carbono no Brasil. Os números atuais demonstram que onde há unidade de conservação, cai o desmatamento, mesmo diante de pressões predatórias.
“A queda contínua dos últimos anos mostra que a estratégia do ICMBio está apresentando resultado real e consistente”, avalia o presidente do órgão, Mauro Pires, que destaca o envolvimento direto da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, e a orientação política clara do presidente Lula, comprometida com a meta de desmatamento zero, para o alcance destes resultados.
“A retomada da presença do Instituto Chico Mendes nos territórios tem sido decisiva para este resultado positivo, com o reforço da fiscalização e do combate às ilegalidades, a recomposição de conselhos participativos, a reativação de políticas sociais que chegam diretamente a povos e comunidades tradicionais e a aquisição de veículos e equipamentos, entre outras ações”, reiterou o presidente do ICMBio.
A ministra Marina Silva, comemorou os resultados e destacou que a queda do desmatamento nas Unidades de Conservação (UCs) federais em 2025 “revela o compromisso do atual governo com a meta de zerá-lo até 2030. E confirma a importância dessas áreas para proteger nossos biomas, a biodiversidade e os modos de vida. Ao manter serviços ecossistêmicos — estabilidade climática e regulação das chuvas —, elas beneficiam toda a sociedade e a própria economia brasileira”.
O desmatamento total na Amazônia Legal também apresentou queda robusta em 2025: 11,08% em relação ao período anterior, terceira menor taxa desde 1988. No Cerrado, a taxa geral teve queda de 11,49% em relação ao período anterior. Esses números confirmam a tendência de retração iniciada em 2023, após cinco anos consecutivos de alta.
Acre tem mais de 34 mil moradores em unidades de conservação, segundo o IBGE. Foto: Ângela Rodrigues/Sema AC
Áreas protegidas são estratégia fundamental para enfrentamento da crise climática
Com os menores índices históricos de desmatamento, tanto no geral quanto em áreas protegidas, o Brasil chega à 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que acontece a partir do próximo dia 6 em Belém (PA), com um recado claro: proteger florestas é uma das estratégias mais eficazes para enfrentar a crise climática.
Ecossistemas preservados absorvem carbono da atmosfera e o armazenam na biomassa e no solo. Ao manter essas áreas preservadas, a liberação de grandes quantidades de gases de efeito estufa é evitada. Nesta perspectiva, o governo brasileiro retomou a política de fortalecimento das UCs federais, com a criação ou ampliação de 14 áreas desde 2023, nos biomas Caatinga, Mata Atlântica, Amazônia e Cerrado, além de áreas marinho-costeiras, somando cerca de 550 mil hectares. Além disso, 59 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) foram criadas neste período.
“Às vésperas da COP, a mensagem que levamos aos chefes de Estado e à sociedade global é simples e firme: investir na criação, ampliação e consolidação das Unidades de Conservação é uma das estratégias mais eficazes para enfrentar a mudança do clima”, enfatizou Mauro Pires.
Dados foram anunciados em visita junto à ministra e ao presidente da República
Os resultados históricos de redução do desmatamento nas UCs federais foram comemorados pela ministra Marina Silva ontem, 2 de novembro, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a comunidades tradicionais da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns e da Floresta Nacional do Tapajós, no oeste do Pará. O presidente do ICMBio acompanhou a agenda e destacou as comunidades como guardiãs da floresta e protagonistas da conservação.
Na ocasião, o governo brasileiro afirmou o papel estratégico das unidades de conservação na proteção da Amazônia e no fortalecimento das populações tradicionais. O presidente Lula reafirmou o compromisso de “conhecer de perto a realidade dos povos da floresta” e de garantir políticas públicas que unam conservação ambiental e desenvolvimento social.
Aplicativo amazônida dá “CPF” ao pirarucu. Foto:Rodolfo Pongelupe
O pirarucu, o maior peixe de água doce da Amazônia, já esteve ameaçado pela pesca predatória, o que levou à proibição da atividade em 1996. Graças ao manejo sustentável, os estoques foram recuperados e o modelo tornou-se referência internacional. Agora, o desafio é dar um novo salto: agregar valor à cadeia produtiva e ampliar a renda das comunidades ribeirinhas.
Para isso, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) lançou o projeto “Sistema de Rastreabilidade: Inovação e Inteligência de Mercado na Cadeia Produtiva do Pirarucu da RDS Mamirauá”, que combina tecnologia, infraestrutura e novos canais de mercado para fortalecer a sociobioeconomia amazônica.
A iniciativa reúne um conjunto de ações que marcam uma nova etapa para a cadeia do pirarucu. Entre elas estão o uso de blockchain para assegurar a rastreabilidade e a procedência do pescado, com dados coletados diretamente no aplicativo Gygas. Também a construção de um flutuante de pré-beneficiamento na comunidade Santa Luzia do Jussara. E ainda a criação da marca Gigantio, voltada a estratégias de comercialização do filé de pirarucu.
Flutuante de pré-beneficiamento na comunidade Santa Luzia do Jussara. Foto:Rodolfo Pongelupe
O projeto beneficia diretamente 55 manejadores de pirarucu em três comunidades (Mangueira, Catiti e Jussara), com previsão de ampliar a renda de 45 famílias, cerca de 180 pessoas, e deve gerar 15 novos empregos.
Os manejadores atuam na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, formando uma ampla rede de atores sociais cuja economia e cultura estão profundamente ligadas à pesca. A atividade é responsável por mais de 70% da produção de pirarucu no Estado do Amazonas e, dentro da reserva, o peixe representa a principal fonte de renda para as famílias ribeirinhas.
Para a FAS, o projeto representa um novo patamar de inovação e protagonismo comunitário. “O sistema é um marco para transformar desafios históricos em oportunidades, unindo qualidade, transparência e protagonismo comunitário”, destaca Valcleia Lima, superintendente adjunta da FAS.
Esses resultados fortalecem a economia local e contribuem para reduzir desigualdades históricas em territórios ribeirinhos, consolidando o pirarucu como um ativo estratégico da bioeconomia amazônica.
Aplicativo dá “CPF” ao pescado
Com investimento total de R$3,5 milhões, o projeto também traz a tecnologia como aliada da conservação ambiental, gestão de negócios e da geração de renda. O aplicativo Gygas, que funciona mesmo em áreas de baixa conectividade, garante rastreabilidade completa do pirarucu como a carne e a pele. A ferramenta utiliza a tecnologia blockchain, assegurando transparência e confiabilidade em toda a cadeia produtiva.
O aplicativo funciona como um “caderno digital de dados”. Foto:Rodolfo Pongelupe
Na prática, o aplicativo funciona como um “caderno digital de dados” que registra cada fase do manejo, desde a captura nos lagos até a chegada ao consumidor final. Esses registros ficam conectados, criptografados em sequência e não podem ser alterados. No final, cada pirarucu recebe um QR Code único, o “CPF do pescado”.
Segundo Wildney Mourão, gerente de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que lidera a iniciativa, o aplicativo representa a união entre inovação tecnológica, protagonismo comunitário e mercado justo.
“É uma ferramenta que fortalece a sociobioeconomia e dá mais visibilidade ao trabalho das comunidades ribeirinhas e indígenas, mostrando ao mundo que é possível conservar a floresta e gerar renda de forma sustentável”.
O Sistema de manejo do pirarucu é regulamentado pelo Ibama, o órgão autoriza a pesca de até 30% da população adulta por meio de cotas anuais. Para cumprir essa exigência, os comunitários já precisavam registrar e comprovar todos os dados da atividade.
Antes do aplicativo, as informações como peso, comprimento, sexo e lago de origem eram anotadas em planilhas. Foto:Rodolfo Pongelupe
Antes do aplicativo, informações como peso, comprimento, sexo e lago de origem eram anotadas em planilhas sujeitas a rasuras, perdas ou até danos pela umidade, como explica o jovem manejador e morador da comunidade ribeirinha, Denilson dos Santos.
Com o aplicativo, o processo se tornou mais ágil e confiável: a tecnologia gera automaticamente relatórios que facilitam a emissão dos documentos de legalização, assegurando a rastreabilidade e a conformidade do manejo sustentável.
“Com a novidade, ficou melhor do que quando a gente usava o caderno. Antes tinha o risco de molhar, porque tudo ficava junto à evisceração do peixe”, relata o manejador.
O aplicativo foi construído com base em um princípio central: escutar quem diariamente lida com o manejo do pirarucu. “As comunidades já possuem seus próprios sistemas de manejo, que são métodos tradicionais. Nosso papel foi traduzir isso em uma solução digital que respeita essa lógica, ao mesmo tempo em que facilita processos, gera mais segurança e valoriza o trabalho da comunidade”, explica o desenvolvedor de tecnologia da FAS, Matheus Vinícius.
Novos mercados e valorização da pele
O projeto também ampliará a presença do pirarucu no mercado gastronômico, com iniciativas como o Gigantio, que vai conectar associações e cooperativas comunitárias da Amazônia a chefs, restaurantes e hotéis de referência em todo o Brasil. A pele do peixe, por sua vez, ganha a oportunidade de ser valorizada em produtos de moda e design de alto valor agregado, criando novas frentes de negócio e ampliando os canais de mercado e a visibilidade do manejo sustentável.
“Isso é inteligência de mercado: uma estratégia que garante origem, eficiência e agrega valor ao pirarucu de manejo sustentável, promovendo iniciativas inovadoras como o Gigantio, clube de assinatura que comercializará o peixe diretamente com o setor gastronômico e hoteleiro de forma mais justa e responsável”, explica Wildney Mourão, gerente do Programa de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da FAS.
Parcerias pela bioeconomia
O projeto “Sistema de Rastreabilidade: Inovação e Inteligência de Mercado na Cadeia Produtiva do Pirarucu da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá” é executado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e conta com o apoio da Positivo Tecnologia, por meio do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) — política pública da Suframa, coordenada pelo Idesam.
Aplicativo amazônida dá “CPF” ao pirarucu. Foto:Rodolfo Pongelupe
Para Leandro Rosa dos Santos, Vice-presidente de Estratégia e Inovação da Positivo Tecnologia, faz parte do papel da empresa investir em projetos que beneficiem a Amazônia e as comunidades locais. “A inovação e a sustentabilidade fazem parte do DNA da Companhia, por isso é tão importante apoiar iniciativas que preservem o meio ambiente e o desenvolvimento econômico e social”, comenta o executivo. “Uma das nossas principais fábricas, responsável por boa parte da produção, está localizada na Zona Franca de Manaus. Trata-se de uma região de fundamental para o bom desempenho da empresa. Participar desse projeto é, também, uma forma de retribuir e ressaltar a importância que os ecossistemas naturais têm para nós e para todo o planeta”, completa.
Thiago Boutin, Líder Técnico de PD&I da empresa, explica: “É importante darmos esse retorno para a sociedade. A Positivo, como uma empresa 100% brasileira, tem orgulho de apoiar iniciativas que fortalecem a cadeia do pirarucu, um peixe que chegou a ficar ameaçado de extinção na década de 1990”.
As ações contribuem diretamente para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), como redução da pobreza, crescimento econômico, consumo e produção responsáveis e vida na água.
*Com informação da Fundação Amazônia Sustentável (FAS)
O calor intenso e a alta umidade, no Amazonas, podem agravar os sintomas da psoríase. Foto: Diego Oliveira/Acervo Portal Amazônia
O calor intenso e a alta umidade, no Amazonas, podem agravar os sintomas da psoríase, doença inflamatória crônica que afeta a pele e exige cuidados constantes. Segundo a dermatologista e professora da Afya Educação Médica, Anne Amaral, o clima tropical favorece o suor excessivo, a irritação cutânea e o aumento de infecções secundárias, o que dificulta o controle das lesões.
A médica reforça a importância da hidratação diária, do controle do estresse e da adesão ao tratamento médico, para reduzir o desconforto e preservar a qualidade de vida.
O calor intenso e a alta umidade, no Amazonas, podem agravar os sintomas da psoríase. Foto: Divulgação
A especialista destaca, ainda, que a empatia e o conhecimento sobre a doença por parte da população são fundamentais para reduzir o preconceito e acolher as pessoas afetadas.
“É essencial lembrar que a doença não é contagiosa, e o apoio emocional faz diferença na evolução do tratamento”, afirma Anne Amaral.
Em Manaus, a Fundação Alfredo da Matta (Fuam) — referência em dermatologia na região Norte — aponta que a psoríase está entre as dez dermatoses mais frequentes atendidas na instituição.
A médica ressalta que os principais sintomas da psoríase são placas avermelhadas e descamativas, geralmente acompanhadas de coceira, ressecamento e dor, localizadas principalmente em cotovelos, joelhos, couro cabeludo e unhas. Em casos graves, as lesões podem atingir as articulações.
“Nosso clima tropical favorece o suor e as irritações cutâneas, além de aumentar o risco de infecções secundárias. Como a pele já está fragilizada pela psoríase, isso exige cuidados redobrados”, alerta a professora da Afya.
Entre as medidas recomendadas estão a hidratação diária da pele, o uso de sabonetes suaves, banhos sem água quente, controle do estresse e adesão rigorosa ao tratamento médico.
“A psoríase é uma condição que precisa de cuidado integral. O apoio emocional e o acolhimento reduzem o estigma e aumentam a adesão ao tratamento. Cuidar da mente também é cuidar da pele”, reforça a especialista.
Medicamentos
O calor intenso e a alta umidade, no Amazonas, podem agravar os sintomas da psoríase. Foto: Divulgação
Os medicamentos utilizados no tratamento — tópicos, orais e injetáveis — são de alto custo e fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A rede pública estadual também mantém grupos de apoio a pacientes e a Associação de Psoríase do Amazonas (Apam) atua na divulgação de informações e combate ao preconceito, promovendo campanhas e rodas de conversa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a psoríase atinja 3% da população mundial, o equivalente a 125 milhões de pessoas. No Brasil, o número chega a 5 milhões de pacientes, reforçando a importância de políticas públicas e ações educativas voltadas à saúde da pele.
“A psoríase tem tratamento. Busque orientação médica, siga as recomendações e mantenha o equilíbrio físico e emocional — ele se reflete diretamente na saúde da pele”, conclui Anne Amaral.
Atendimento gratuito
Em Manaus, a Afya Educação Médica oferece atendimento gratuito em várias especialidades, incluindo Dermatologia. O serviço é parte das atividades práticas dos cursos de pós-graduação.
Os atendimentos, por agendamento, são realizados na sede da instituição, na avenida André Araújo, 2767, bairro Aleixo. “Com essa iniciativa, os médicos estudantes de pós-graduação conseguem tratar casos reais e a comunidade é beneficiada com a oferta de atendimento”, explica a diretora da unidade, Suelen Falcão.
Contato
Os interessados podem entrar em contato pelo número (92) 99379-9297 para verificar a disponibilidade de vagas e realizar o agendamento.
Além de Dermatologia, há atendimento em Endocrinologia, Endocrinologia Pediátrica, Ginecologia Ambulatorial, Nutrologia, Medicina Intensiva Adulta, Cardiologia, Gastroenterologia, Pediatria Geral, Psiquiatria e Ultrassonografia.
O sabor da Amazônia ganhou o mundo. A Hilary Gin, marca manauara que produz o primeiro London Dry Gin criado no Amazonas com botânicos nativos da floresta, acaba de conquistar um prêmio internacional na China, consolidando-se como uma das grandes revelações da nova economia amazônica baseada na biotecnologia e na sustentabilidade.
A destilaria recebeu o título de “Lenda da Destilação” durante a 2ª Exposição Econômica e Comercial China–Países de Língua Portuguesa (C-PLPEX 2025), realizada entre os dias 22 e 25 de outubro, em Macau.
O reconhecimento foi concedido na “Seleção de Empresas de Destaque para a Cooperação Econômica e Comercial China–Portugal”, em cerimônia de gala no The Venetian Macao.
Empreendedorismo feminino
Fundada e dirigida por três mulheres, a Hilary Gin participou da exposição apresentando produtos e participando de rodadas de negócios. A diretora de marca, Raquel Omena, recebeu o prêmio na China e destacou o significado da conquista.
“Somos mulheres, da Amazônia, empreendendo em um mercado tradicionalmente comandado por homens, e ganhar um destaque internacional no que é, hoje, considerado um dos maiores cenários de negócios do mundo, é muito significativo e nos fortalece para sentar às mesas de negociação em todos os níveis. Estamos trabalhando para agregar valor a produtos da Amazônia e recebemos esse prêmio com muito orgulho e cientes da nossa responsabilidade como representantes do empreendedorismo feminino amazônico”, afirmou.
Foto: Divulgação
Para Cristiane Lima, CEO da Hilary Gin, o reconhecimento marca uma nova etapa na trajetória da destilaria amazônica, que busca se consolidar também como produto de exportação.
“A Hilary Gin tem como principal objetivo consolidar sua marca e seus produtos nas prateleiras regionais. Mas, o mercado global está em nosso horizonte. E, certamente, vamos levar nossa bebida amazônica aos mercados mais importantes do mundo em um futuro bem próximo”, ressaltou.
O certificado entregue à empresa reconhece suas “conquistas notáveis e contribuições proeminentes na cooperação econômica e comercial entre a China e Portugal”, destacando não apenas a originalidade de seus produtos, mas também o modelo sustentável que conecta a biodiversidade amazônica ao mercado global.
Gin é um brinde à Amazônia
O Hilary Gin combina a técnica tradicional inglesa de destilação com ingredientes autênticos da floresta, como puxuri, cumaru, jambu, camu-camu e cupuaçu — resultando em um destilado sofisticado, de identidade marcante e alma amazônica.
Em apenas dois anos e meio de mercado, a marca vem conquistando apreciadores e bartenders de todo o país e, agora, desperta o interesse de importadores e distribuidores estrangeiros.
“A Hilary é uma empresa jovem, mas movida por propósito. Entramos no mercado há pouco mais de dois anos, e essa foi a nossa primeira participação internacional. Receber um prêmio como esse na China é uma confirmação de que estamos no caminho certo”, reforçou Raquel Omena.
A premiação ocorreu durante a participação da comitiva amazonense na 2ª C-PLPEX, evento que fortalece a cooperação entre países de língua portuguesa e o mercado asiático.
A presença do Amazonas foi organizada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), em parceria com o Escritório de Representação do Governo do Amazonas em São Paulo (ERGSP).
O secretário-chefe do ERGSP, Alfredo Lins, ressaltou, na ocasião, que o reconhecimento da Hilary Gin representa um marco na estratégia de internacionalização da economia local: “Levar o nome do Amazonas a um evento desse porte e ver uma empresa regional ser premiada é motivo de orgulho. Mostra que nossa bioeconomia tem valor global e que a inovação produzida aqui tem o mundo como destino”.
A conquista reforça o potencial das marcas amazônicas em setores de alto valor agregado, como bebidas premium, inovação e sustentabilidade, projetando o Amazonas como um polo criativo e exportador de produtos que unem tradição, natureza e tecnologia.
Visita da comitiva alemã na Torre ATTO. Foto: Shirley Cavalcante/Editora Inpa
O presidente da Sociedade Max Planck, Patrick Cramer, esteve no Amazonas e conheceu o Projeto Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO — Amazon Tall Tower Observatory), a maior estrutura de monitoramento climático do mundo.
O ATTO é fruto de uma cooperação entre o Brasil, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), e a Alemanha, representada pelos Institutos Max Planck de Biogeoquímica (MPI-BGC) e de Química (MPI-C). Em funcionamento há dez anos, o projeto busca compreender como as florestas da Amazônia Central interagem com a atmosfera do entorno e suas influências sobre o clima.
A comitiva alemã partiu da sede do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa-MCTI), em Manaus, com destino à base científica do ATTO, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDS Uatumã), no município de São Sebastião do Uatumã, interior do Amazonas. O grupo foi recebido pelo pesquisador do Inpa e coordenador brasileiro do ATTO, Carlos Alberto Quesada, que apresentou a dinâmica de pesquisa desenvolvida no observatório.
Além dos representantes da Max Planck, o grupo também contou com a presença da Embaixadora da Alemanha no Brasil, Bettina Cadenbach, que conheceu as instalações do projeto e teve a oportunidade de subir parte dos 325 metros da torre ATTO.
De acordo com o coordenador brasileiro do projeto, o pesquisador do Inpa Carlos Alberto (Beto) Quesada, o ATTO é um “equipamento científico extraordinário” que faz a conexão entre os processos ecológicos e biológicos que acontecem dentro da floresta com a atmosfera. A instrumentalização do do ATTO tem tecnologia que permite acompanhar, em tempo real, como os gases que são formados no solo ou pelas plantas são levados pela turbulência até a atmosfera.
“Estamos celebrando dez anos da torre ATTO, este que é um projeto com grande produtividade de artigos científicos, teses de mestrado e doutorado. São mais de 200 pessoas envolvidas entre Brasil e Alemanha, nessa colaboração científica em que somos liderança mundial nesse estudo”, ressalta Quesada.
O presidente da Sociedade Max Planck revelou novas possibilidades para a longevidade do projeto e sinalizou um plano de criação para uma nova divisão da instituição dentro da Universidade de São Paulo (USP). “o ATTO é um projeto enorme e também único à sua maneira, por causa das pessoas maravilhosas envolvidas. E eu realmente quero agradecer a todos. Queremos estabelecer nossos centros junto em São Paulo. Há algo que poderia começar já no início do próximo ano. Então esse é o presente que temos: mais cooperação, não nos isolarmos, como muitos governos gostam de fazer. Somos internacionais, temos a mente aberta e queremos ajudar a salvar este planeta”, revelou Cramer.
A visita à torre ATTO, ocorrida em outubro, marcou o primeiro contato de Cramer à frente da presidência da Sociedade Max Planck com o sítio científico do projeto. No dia seguinte, o grupo se reuniu na sede do Inpa, em Manaus, reafirmando os laços de cooperação científica bilateral. Na oportunidade, a delegação visitou ainda o Bosque da Ciência e a sede do Grupo de Pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (GP Maua), grupo que mantém colaboração com a Sociedade Max Planck desde a década de 1960.
Sobre o projeto ATTO
Inaugurada em 2015, a torre ATTO é uma das torres mais modernas do mundo para estudos da química, física e biologia da atmosfera.
O sítio de pesquisa do projeto inclui mais duas torres de 80 metros, 18 contêineres equipados com instrumentos de ponta para medição de diversas propriedades científicas e laboratórios, além de acampamentos com dormitórios e refeitório.
A área do sítio está dentro de uma unidade de conservação composta de 20 comunidades e aproximadamente 250 famílias.
Belém é a cidade escolhida para receber a COP30. Foto: Divulgação/Agência Pará
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
À oportunidade da realização da COP30, em Belém do Pará, a partir do próximo dia 10 de novembro – a cúpula de chefes de Estado acontecerá previamente entre os dias 6 e 7 -, cabe conceituar que a Conferência das Partes (COP) é o órgão decisório da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC ou UNFCCC). Sua função é implementar os compromissos globais de combate às mudanças climáticas, assumidos pelos países signatários e ratificadores da Convenção. Atualmente, 198 nações participam da UNFCCC, tornando-a um dos maiores organismos multilaterais da Organização das Nações Unidas (ONU). Desta forma, a COP representa a cúpula global do clima, realizada anualmente em um país diferente. Igualmente funciona como Reunião das Partes para o Protocolo de Quioto (CMP) e o Acordo de Paris, adotado durante a COP21, em 2015, que estabeleceu metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) a serem cumpridos pelos países e revisados a cada cinco anos. O objetivo principal é mitigar o aquecimento da Terra e manter o aumento da temperatura global abaixo de 2º C, com esforços para limitá-lo a 1,5º C.
Segundo protocolo da ONU, a dinâmica da COP, que se realiza durante duas semanas, determina que a primeira será ocupada por discussões técnicas, enquanto a segunda é voltada para encontros políticos e assinatura dos acordos. Os resultados devem ser alcançados por consenso, garantindo que todos os países tenham direito a voto. Durante a realização da Conferência, os mais diversificados temas serão discutidos simultaneamente todos os dias. Dividida em Zona Azul e Zona Verde, a primeira, gerenciada diretamente pela ONU, é voltada às negociações políticas e aos encontros diplomáticos, enquanto a Zona Verde sedia painéis para o público geral, inclusive a questão amazônica, apresentação de ONGs e outras atividades.
Como em todos os eventos anteriores, durante a COP30 o foco centra-se sobre a crise climática mundial, que, segundo a ONU, se faz latente de várias formas – destacando-se o aquecimento global, um dos responsáveis pelo ano de 2024 ter sido o mais quente da história até então, segundo dados de um relatório divulgado recentemente pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia. A intenção da COP de Belém é propor nova verificação da realidade atual da Terra, como informa o próprio site da ONU, tendo em vista que o Planeta atingiu “o ponto culminante de um processo chamado Global Stocktake (Levantamento Global) sobre até onde o mundo chegou no enfrentamento da crise climática e o quanto (e como) o curso precisa ser corrigido”. A COP30, segundo estimativa do governo brasileiro deverá reunir 50 mil visitantes. Para o presidente da Conferência, embaixador André Corrêa do Lago, “a escolha é estratégica ao evidenciar o bioma e oferecer ao mundo uma plataforma para divulgar iniciativas de preservação e transição energética.
Entre os desafios a serem enfrentados salienta-se como prioritária a mediação das discussões, razão que, segundo Corrêa do Lago, “pode confirmar que o Brasil está capacitado a assumir papel central no combate às mudanças climáticas e reposicionar-se no cenário internacional como potência ambiental. A Amazônia corresponde a um terço das florestas tropicais do mundo e desempenha papel determinante na absorção global de carbono, fator que auxilia a reduzir (naturalmente) os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera”. Nesse sentido, “levando em conta que o Brasil detém uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, histórico no uso de biocombustíveis e investimentos crescentes em tecnologias sustentáveis, o país pretende apresentar um novo modelo de crescimento verde, agenda sinalizadora de que pode crescer mais, gerar empregos e atender à nova demanda global por produtos sustentáveis”, reforça o embaixador.
Para o empresário amazonense Antônio Azevedo, o título da coluna “A COP30 não é da Amazônia, apenas realizada na Amazônia” é provocativo, mas levanta uma questão essencial: o risco de a Amazônia ser tratada como palco, e não como protagonista. Defendo que a COP30 precisa ser da Amazônia, no conteúdo e nas consequências da mesma. Isso exige que as pautas reflitam as urgências locais, que os atores amazônicos tenham voz ativa, e que os legados do evento sejam concretos para a região. Será que teremos representatividade local para tal? Acho pouco provável. Eu mesmo não estarei lá! Portanto, a sua frase pode funcionar como alerta, mas talvez mereça uma reformulação mais propositiva: “A COP30 será realizada na Amazônia, e deve ser construída com e para a Amazônia”.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Estudo também está alinhada ao recém-formulado Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 18. Foto: Alonso Júnior
Um projeto de mapeamento iniciado em Manaus (AM) pretende tornar visível a atuação sociocultural e ambiental dos terreiros de Candomblé, Umbanda e templos de religiões de matriz africana da capital amazonense. A iniciativa integra o estudo Cartografia da Resistência e do Cuidado, desenvolvido em parceria entre o Atlas ODS Amazônia, Universidade Federal do Amazonas, Instituto Acariquara e o Instituto Ganga Zumba.
A ação também está alinhada ao recém-formulado Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 18 (ODS 18), voltado à proteção dos povos e comunidades tradicionais, que busca reconhecer os terreiros como agentes ativos de cuidado, cultura e justiça ambiental na Amazônia urbana.
Estudo cartográfico destaca territórios de matriz africana. Foto: Alonso Júnior
Plataforma colaborativa de saberes e territórios
O estudo prevê a criação de uma plataforma digital de cartografia participativa, alimentada pelas próprias comunidades de terreiro. O espaço reunirá informações georreferenciadas sobre localização, práticas culturais, impacto social e estratégias coletivas de cuidado.
O estudo prevê a criação de uma plataforma digital de cartografia participativa. Foto: Alonso Júnior
Segundo o coordenador técnico do Atlas ODS Amazônia, Dr. Danilo Egle, o objetivo é produzir dados que sirvam de base para políticas públicas, pesquisas e ações de fortalecimento institucional. “Estamos falando de territórios que cuidam, alimentam, acolhem e preservam saberes ancestrais em meio à cidade”, explica Egle.
As informações coletadas serão sistematizadas em relatórios públicos e painéis interativos, com previsão de lançamento da plataforma para o início de 2026.
Fé, memória e pertencimento
Além da parte técnica, o projeto inclui oficinas, rodas de conversa e escutas comunitárias com lideranças religiosas e moradores das áreas mapeadas. As atividades garantem que os próprios terreiros conduzam suas narrativas e definam como apresentar seus territórios e modos de vida.
“Esse projeto nasce do nosso próprio chão, da nossa necessidade de existir com dignidade e sermos reconhecidos como guardiões de saberes, memórias e cuidados. Ao mapear esses territórios, estamos dizendo em alto e bom som que nossa presença importa”, afirma o sacerdote do culto tradicional de Ifá e membro do Instituto Ganga Zumba, Donté Luiz de Badé.
Referência
Entre os territórios que inspiram o projeto, eventos como o Balaio da Oxum, que chega aos 10 anos em 2025, se destacam como símbolos de resistência e fé coletiva. Criado em Manaus, o Balaio surgiu como um ato de fé e resistência, reunindo povos de terreiro, comunidades tradicionais e movimentos sociais em torno da arte, da espiritualidade e da luta ambiental. As pautas centrais do evento incluem a defesa dos rios amazônicos, o reconhecimento das águas como fonte de vida e a valorização das contribuições culturais dos povos de terreiro, conectando-se às agendas globais de sustentabilidade e espiritualidade.
A sacerdotisa Agonjaí Nochê Flor de Navê, do Templo de Tambores de Mina Jejê-Nagô Xwê Ná Sin Fifá, destaca a importância de respeitar a visão ancestral presente em cada ação do Balaio. “Colocar o olhar religioso e o olhar de pessoas negras é bem difícil. Por isso, é essencial falar sobre o respeito pela natureza, porque para nós, sem a folha, a gente não vive, não existe orixá”, afirma. “O Balaio é conduzido por essa casa. A gente joga, consulta e faz tudo isso para encaminhar as coisas. É o orixá que mostra o caminho”, completa.
Cuidar é resistir
O vínculo entre o Balaio e o projeto Cartografia da Resistência e do Cuidado reflete a essência das religiões afro-brasileiras: cuidar como forma de existir. O estudo reconhece esses espaços como guardiões ambientais e culturais, essenciais à construção de cidades mais justas e sustentáveis.
O estudo prevê a criação de uma plataforma digital de cartografia participativa. Foto: Alonso Júnior
A iniciativa aposta na articulação com políticas públicas e instituições acadêmicas, inclusive junto ao sistema ONU (Organização das Nações Unidas), para reforçar a pauta do reconhecimento das religiões de matriz africana como parte do patrimônio cultural imaterial da Amazônia urbana.
Uma agenda para o futuro
Ao adotar os parâmetros do ODS 18, o estudo contribui para consolidar uma agenda pública voltada à proteção dos territórios tradicionais e ao fortalecimento dos saberes ancestrais. A expectativa é que, com a plataforma e os relatórios, surjam novas políticas que garantam segurança territorial, sustentabilidade e visibilidade às comunidades.
O Balaio da Oxum, com sua trajetória de uma década, simboliza o que o projeto Cartografia da Resistência e do Cuidad busca registrar: a persistência da fé, o poder da coletividade e a defesa da vida.
A TV Lar Aleixo, dentro da Colônia Antônio Aleixo, em Manaus. Da esquerda para a direita: Pirulito, José Lindoso e Onias Bento. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
No decorrer dos dez primeiros anos, apesar de todas as dificuldades do início da empresa, as vendas da TV Lar, em Manaus, mostravam-se bastante favoráveis, com parcimônia e dedicação sendo que tudo levava a crer que o futuro seria promissor.
A bem da verdade, podemos afirmar que todo esse progresso veio com a criação da Zona Franca de Manaus. Também é verdadeiro afirmar que novos estabelecimentos comerciais começaram a surgir e que um grande número de imigrantes passou a investir na área comercial. Nesse momento, as empresas que já vinham atuando no mercado começaram a assumir nova postura empresarial, adequando-se ao momento.
Embora o comércio de Manaus ainda mantivesse o vínculo e as raízes no interior do estado, com empresas aviadoras, a cidade começava a mudar sua estrutura física, quando o grande centro comercial passou a ter suas casas residenciais transformadas em comércio.
Também é relevante afirmar que a chegada desse progresso comercial, e consequentemente financeiro, acabou por nos trazer um grande prejuízo para o patrimônio arquitetônico, pois não havia por parte dos governos estadual e municipal uma politica de preservação, o que provocou a descaracterização dos velhos casarões e sobrados das principais ruas de centro, em nome da modernidade comercial.
No decorrer do ano de 1977, exatamente no mês de agosto, a Importadora TV Lar amplia sua estrutura física e comercial e abre o Shopping Boulevard. O centro urbano de outrora, voltando para a hinterlândia, já não existia mais, sendo apenas um passado não muito distante que ficara para trás.
Esse vínculo foi perdido porque o interior se tornara decadente e sua economia era extremamente deficitária, tornando-se inviável, e a cidade começava a absorver a modernidade, principalmente na área de eletrônica e o Distrito Industrial, por sua vez, oferecia empregos e provocava o êxodo rural.
Manaus avançava no processo da globalização que passou a refletir a cara do caboclo do Amazonas, provando ser este capaz de montar os mais minúsculos e sofisticados objetos eletrônicos que eram oferecidos no parque industrial e no mundo, tendo recebido as influências e os estilos dos grandes nacionais e internacionais, com os produtos a entrar de formar avassaladora.
Apesar de todos os percalços do interior do estado, a filha da Joaquim Nabuco atendia uma clientela expressiva dessa demanda, muito especialmente do município de Manacapuru. A empresa chegou a ter um funcionário sediado naquela cidade, que efetuava as vendas e trazia os pedidos para Manaus e a empresa promovia o faturamento e a posterior entrega do produto.
Com o passar do tempo, comprovou-se ser viável abrir uma filial na cidade de Manacapuru, tendo isso ocorrido no mês de abril de 1979 e tendo como primeiro funcionário o próprio vendedor de outrora, senhor Francisco Silva. Dessa forma expandia-se a vida comercial na hinterlândia.
Procurando um caminho para ser útil
É extremamente verdadeiro afirmar que ética é a ciência da conduta humana e que toda conduta humana tem um objetivo, como por exemplo a paz e o bem-estar social de uma comunidade, progresso material e espiritual, promovendo a felicidade terrena aos seus semelhantes.
O destino da sociedade e em especial de grupos menores, inclusive empresarial é procurar destacar a felicidade individual de cada pessoa e os valores que lhes modela o caráter, tornando essa sociedade igualitária, modelando algo que traga benefício e um projeto de vida perseguindo pelos indivíduos e principalmente pela sociedade como um todo.
TV Lar Aleixo. Na foto: Onias Bento e José Lindoso. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
O projeto de vida pessoal de cada um não acontece de forma isolada. Ele definitivamente vai se afirmando a partir de um emaranhado de elementos morais, culturais e principalmente religioso. Portanto, fazer seu semelhante feliz, pouco a pouco vai modelando o caráter dos indivíduos.
O êxodo rural rompeu as antigas formas de viver em pequenas comunidades, culturalmente enraizadas, muitas vezes criando o individualismo sistemático no anonimato das grandes cidades.
O homem José Azevedo rompeu a tradição de isolamento de uma comunidade que, pela sua condição social e infectocontagiosa, viveu por muitos anos alienada da possibilidade de obter bens materiais, por falta de crédito no comércio, por falta de transporte coletivo regular e pela própria condição do portador de hanseníase. A partir disso, passou a oferecer de bem e de felicidade o que se compra nos bons e ornamentados salões dos shoppings center e grandes magazines.
Amor ao semelhante, no entanto, não pode ser comprado em lojas bonitas e determinadas camadas sociais da comunidade se retraem pelo seu estado de saúde, porém, ela permanece contribuindo com o desenvolvimento social.
Em Manaus tínhamos a Colonia Antônio Aleixo, que era habitada pelos nossos irmãos portadores de hanseníase, muitos deles clientes assíduos da Importadora TV Lar. O contato direto de José Azevedo com essas pessoas e a sensibilidade de oferecer mais oportunidade a eles, inclusive dando emprego, levou a empresa a instalar-se na Colônia Antônio Aleixo, dentro da própria comunidade, na Rua Getúlio Vargas, s. n°. No mês de outubro de 1980, a loja foi inaugurada, tendo funcionado durante quatorze anos.
Mais tarde, com a desativação do Hospital Colônia, com a invasão de moradores de outras áreas, tornou-se um bairro, hoje já ligado ao Zumbi e a partir daí a diretoria achou-se por bem transferir a loja para a Cidade Nova, na Avenida Max Teixeira, n.° 3200, Cidade Nova I.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras (AAL) e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.