Após a retirada da mesa de negociação, Edinho Macuxi, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), falou das violências sofridas pelo movimento indígena. Foto: Adriano Machado/Greenpeace
Nesta quarta-feira (28), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) tomou uma decisão firme e histórica: se retirou da mesa de negociação convocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir e “conciliar” diversas questões relativas ao Marco Temporal.
A decisão foi tomada de maneira coletiva, por lideranças de todo o território nacional, que enxergaram na convocação da Suprema Corte mais um gesto de violência do Estado brasileiro contra os povos originários do Brasil. A reunião de conciliação foi feita sem consulta anterior, sem regras claras e com representação minoritária dos povos indígenas – das 24 cadeiras na mesa, apenas 6 eram dedicadas ao movimento indígena (originalmente, era apenas uma).
Além disso, foram convocadas para esta conversa instituições como a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e o Fórum dos Governadores – organizações que, segundo o movimento indígena, não tem porquê se fazer presentes em discussões envolvendo os direitos dos povos originários.
Racismo e violências
A primeira reunião dessa mesa ocorreu no dia 05 de agosto – e, desde o início, diversos episódios incomodaram as lideranças indígenas. Representantes foram impedidos de entrar no anexo do Supremo Tribunal Federal, as falas dos indígenas foram constantemente interrompidas, e os juízes conciliadores tiveram discursos inadequados para com o movimento.
Um ponto especialmente preocupante foi a sugestão de que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) representasse as lideranças durante a negociação, caso a Apib decidisse se retirar. Essa proposta remete à doutrina da tutela do Estado sob os povos originários, uma ideia ultrapassada que, juridicamente, foi extinta na promulgação da Constituição em 1988. Isso enfureceu o movimento indígena. Ao final das seis horas de conversa, as lideranças saíram denunciando o racismo institucional e relatando violências simbólicas sofridas durante a conciliação.
A segunda reunião ocorreu ontem, 28 de agosto. A saída da mesa se deu com a divulgação de uma carta, lida no plenário por Maria Baré, Coordenadora da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam). No documento, a Apib – que representa o movimento indígena em âmbito nacional – denunciou o ambiente de opressão enfrentado durante a primeira reunião, descrevendo-o como “um ambiente aflitivo” e que “ os apontamentos realizados durante a primeira audiência de conciliação foram violentos e opressivos”.
A Apib também expressou sua insatisfação com a falta de clareza sobre os reais objetivos da conciliação. “Não havia nitidez sobre o que se estaria a conciliar, quais seriam os pontos em discussão e o que poderia ser concretamente alterado no sistema de proteção dos direitos indígenas”. Além disso, a entidade criticou as visões ultrapassadas e inadequadas sobre a garantia dos direitos indígenas.
“A gente não enxerga essa mesa de conciliação como uma coisa jurídica. A gente enxerga uma sessão coordenada vinda de pressão política, de pressão econômica, neoliberalista, neocolonial, que continua com o desejo de a qualquer preço e a qualquer custo, explorar e dizimar os povos indígenas. Nosso sentimento, ao sair dessa mesa, é de alívio. A gente não vai compactuar com esse tipo de negociação”, disse Maria Baré.
Paulo Macuxi, liderança da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), contou que os representantes indígenas estão muito indignados e revoltados. “É inadmissível o que aconteceu aqui. A gente não considerou isso uma mesa de negociação. Foi uma mesa de imposição, de retaliação de nossos direitos. A partir do momento em que se fala que a mesa continua sem a nossa presença, não há dúvida de para quê ela serve”, declarou.
A saída da mesa de negociação vinha sendo discutida desde a reunião do dia 05, mas amadureceu ao longo de diversos encontros e conversas realizadas nas últimas duas semanas. Na madrugada do dia 28, foi finalizada a carta que sintetiza o sentimento e a posição oficial do movimento indígena brasileiro em relação a esse processo.
E agora?
Mesmo com a saída da Apib da mesa de negociação, o processo vai continuar ocorrendo. Segundo o despacho de junho do Ministro Gilmar Mendes, a mesa de negociação deve funcionar até o dia 18 de dezembro. Já existe a sinalização de novas reuniões em setembro. No entanto, após a saída da Apib, existem muitas dúvidas sobre a continuidade e legitimidade desse processo.
Uma das condições estabelecidas pela Apib para continuar participando da mesa de conciliação foi a suspensão da Lei 14.701. Promulgada em 2023, essa Lei restabeleceu o Marco Temporal em nosso ordenamento jurídico e colocou diversas dificuldades para a demarcação de territórios indígenas. O Ministério da Justiça já admitiu que diversos processos demarcatórios estão paralisados por conta dessa Lei. Embora um pedido de inconstitucionalidade tenha sido apresentado ao STF, ainda não houve resposta. Sem a derrubada da Lei 14.701, os territórios continuarão vulneráveis diante dos interesses ruralistas e do agronegócio, que permanecem na ofensiva contra os territórios originários.
Além disso, os territórios indígenas continuam a sofrer diversos tipos de ataques, incluindo invasões de garimpeiros, madeireiros, fazendeiros e jagunços. Recentemente, a situação se agravou com o uso criminoso do fogo, que espalhou fumaça por quase todo o país. Não podemos compactuar com essa situação! Para construir o futuro ecológico e inclusivo que queremos, é preciso proteger os territórios indígenas – que possibilitam a sobrevivência dos povos originários, protegem nossos ecossistemas e biodiversidade e ajudam na mitigação dos efeitos da crise climática.
Apenas um dos 16 municípios do Amapá concentrou toda a extração madeireira que foi possível detectar no estado entre agosto de 2022 e julho de 2023. Foi Mazagão, a quarta maior cidade amapaense, onde puderam ser identificados 351 hectares com a presença da atividade, todos com autorização dos órgãos ambientais.
Os dados são do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), composto por quatro instituições de pesquisa: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV. Após realizarem o mapeamento por imagens de satélite, os pesquisadores verificaram se havia planos de manejo emitidos pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá (Sema/AP) autorizando a atividade nessas áreas.
Ainda no município de Mazagão, a retirada de madeira foi identificada em duas classes territoriais, ambas sob plano de manejo. A maior parte, aproximadamente 97%, correspondente a 341 hectares, ocorreu na unidade de conservação de uso sustentável Floresta Estadual do Amapá. Os outros 3%, que equivalem a 10 hectares, foram registrados no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Maracá.
Os dados mostram a predominância da gestão autorizada na região, destacando a importância do manejo florestal adequado para a preservação da natureza e o uso planejado e regulamentado do meio ambiente.
“Para que uma pessoa ou organização obtenha autorização para extrair madeira, é necessário apresentar um plano de manejo florestal para o território. As diretrizes legais e técnicas recomendadas pelo manejo florestal sustentável e descritas no documento são essenciais para garantir a sustentabilidade e a continuidade da produção de madeira no local” afirma Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon.
Foto: Reprodução/Prefeitura de Mazagão
O especialista ainda explica que, devido às condições climatológicas do Amapá, caracterizadas por uma elevada cobertura de nuvens na maior parte do ano, é possível que os números apresentados não reflitam a totalidade da extração madeireira no estado.
“O Simex encontrou limitações para avaliar completamente a cobertura florestal do Amapá entre agosto de 2021 e julho de 2022, já que a presença de nuvens dificultou a visualização de imagens, o que prejudicou a comparação espacial entre os períodos de agosto de 2021 a julho de 2022 e agosto de 2022 a julho de 2023. Como resultado, outras áreas com exploração podem não ter sido mapeadas”, observa.
Dados do cenário madeireiro no Amapá serão divulgados em congresso ambiental
Entre os dias 22 e 23 de agosto, Macapá, capital do estado, recebe o III Congresso Ambiental dos Tribunais de Contas. Durante o evento, que tem como tema “Amazônia – Realidade, Desafios e Oportunidades para o Desenvolvimento”, serão apresentados os novos dados da Rede Simex sobre o Amapá.
A iniciativa é um espaço de discussão sobre as problemáticas e perspectivas da região amazônica e o papel necessário dos Tribunais de Contas na fiscalização e controle das ações governamentais relacionadas à proteção do bioma. O congresso, que já está com suas vagas esgotadas, será realizado no auditório do Sebrae Macapá e reunirá especialistas da área ambiental, gestores públicos, pesquisadores e outras pessoas envolvidas com a temática. Além disso, contará com transmissão ao vivo pelo YouTube da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) e do Tribunal de Contas do Amapá (TCE-AP).
Entenda mais sobre o Simex aqui Baixe o estudo aqui
Milhões de vidas estão em situação de risco iminente na Amazônia, conforme alertas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Dois temas, insegurança alimentar e insegurança pública, estão apresentados lado a lado porque revelam interdependência: para a descontaminação dos rios, a preservação ambiental e a garantia do bem-estar da população, é essencial a erradicação da violência e o combate ao crime.
Insegurança alimentar
O relatório da Fundação, coordenado pelos cientistas Paulo Cesar Basta e Sandra de Souza Hacon, é um guia para estudos imediatos. Todos os dias, milhões de habitantes ribeirinhos da Amazônia, um dos maiores ativos ambientais do planeta, se nutrem de alimentos contaminados. O peixe, sua alimentação básica e cotidiana, é contaminado pelo mercúrio despejado nos rios que atravessam a região. Morte lenta e gradual, ocasionada por mãos assassinas de bandidos em busca de ouro. Para facilitar seu trabalho, os garimpeiros ilegais derramam esse metal líquido prateado, denso e fatal, nas principais reservas de água doce do mundo.
Imagens captadas pela organização MapBiomas revelam que as bacias mais afetadas pelo assoreamento dos rios e contaminação das águas foram as do Amazonas (o famoso rio-mar), Tapajós, Teles Pires, Jamanxim e Xingu. Em 2022, o garimpo ilegal teve um incremento de 265% em relação aos anos anteriores. Isso significa uma área de 35 mil hectares. Para que se tenha ideia da monumentalidade criminosa, basta dizer que as leis ambientais brasileiras não permitem que cada concessão ultrapasse cinquenta hectares. Isso mesmo, apenas cinco dezenas. Mas, durante quatro anos, todas as leis e multas foram, na prática, anuladas.
Quatro instituições – Fiocruz, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Evandro Chagas e Universidade Federal de Roraima (UFRR) uniram-se em um estudo sobre a contaminação dos rios no território indígena Yanomami. Os peixes recolhidos em vários pontos da bacia do Rio Branco tinham concentrações de mercúrio bem maiores ou no limite fixado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Foi detectado que os peixes barba-chata, coroataí, filhote, piracatinga e pirandirá, carnívoros, apresentam riscos elevadíssimos, e deles somente podem ser consumidos cinquenta gramas, uma vez por mês. Também apresentam alto risco os peixes dourado, mandubé, pescada, tucunaré e piranha-preta, requerendo baixo consumo.
Em síntese, a presença de garimpos em terras indígenas não traz riqueza e desenvolvimento às comunidades. Pelo contrário, deixa um legado de enfermidades e problemas ambientais que contribuem para perpetuar o ciclo de pobreza, miséria e desigualdade na Amazônia.
O que fazer?
O que é urgente e efetivo é a proteção integral dos rios. Isso quer dizer aumento da fiscalização, bloqueio das vias de acesso do garimpo, destruição das pistas de pouso, veículos e maquinário dos infratores, além de prisão em flagrante. Estas práticas, naturalmente, devem ser levadas a efeito em paralelo com a busca de tecnologias limpas.
Por meio do Global Mercury Partnership, almeja-se a disseminação de boas práticas para a descontaminação das águas na região. Merece destaque a experiência praticada nos arredores do Tapajós, onde os mineiros locais são treinados visando à redução do uso do mercúrio e à recuperação ambiental.
Instituições do saber científico no Brasil unem-se na defesa da Amazônia. USP, UFPA e Inpa e abordam no Pensa Brasil 2024 as questões levantadas e outros desafios na região. A Embrapa Florestas, a Unicamp, a UFMT, a UEM e a Coogavepe pesquisam os efeitos de quatro bioextratos produzidos a partir de uma árvore nativa da Amazônia, conhecida como pau-de-balsa (Ochroma piramidale) como tecnologia livre de mercúrio na mineração de ouro.
Em complemento, pesquisadores da Chalmers University of Technology, na Suécia, conceberam um processo eletroquímico para tratar rios contaminados por mercúrio. A solução está em um eletrodo que atrai para si os metais pesados e purifica as águas. O novo método torna possível reduzir as impurezas em 99%. O trabalho foi publicado na revista Nature Comunications.
No que se refere à saúde, é preciso incluir médicos que abordem os efeitos da exposição crônica e aguda ao mercúrio, especialistas em saúde pública que analisem padrões de grandes populações e sociólogos e antropólogos que estudem os impactos decorrentes da prospecção e extração de ouro.
Insegurança pública
Na Amazônia brasileira, o cenário é preocupante e exige uma política de segurança pública em condições de cortar o mal pela raiz. Um desses estudos é Cartografias da Violência na Amazônia. Apoiado em mapas, quadros, gráficos e tabelas repletas de informações auditáveis, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta o território em disputa neste infernal mercado de violência, suas dinâmicas, redes, efeitos ambientais e sociais e capacidades a explorar para o seu urgente enfrentamento. A invasão do crime organizado ocupou 23% do território da Amazônia Legal, adotando procedimentos iguais ou até mais nocivos do que aqueles que essas mesmas facções aplicam nas favelas metropolitanas.
Este relatório oferece indicadores preocupantes: nas cidades caracterizadas como “urbanas” da Amazônia, a taxa de mortes por violência é de 35,1 por 100 mil habitantes, 52% a mais do que a média nacional, enquanto nos municípios ditos “rurais”, por sua proximidade ao campo, a taxa média de homicídios superou em 38% a média do País, chegando a 31%.
O feminicídio fez-se rotina na Amazônia e exige combate por todos os meios, que convergem, na justa medida, repressão, educação e, sobretudo, ações preventivas, além do pronto apoio às vítimas em situação de risco. Nos municípios amazônicos, este crime apresenta uma taxa de 1,8 para cada 100 mil mulheres – superior à sinistra média nacional, de 1,4 por 100 mil.
O que fazer?
Quando se fala em Política Nacional de Segurança, é imperiosa a urgência de um modelo específico para tratar os conflitos da Amazônia. A região, por suas peculiares características geográficas, econômicas, sociais e culturais, é como um país à parte, exigindo normas próprias, embora emanadas, como estabelece a Constituição, dos mesmos poderes centrais. Trata-se de um ecossistema a ser monitorado com dados mais precisos sobre demografia, trabalho e condições de vida, rastreabilidade e acesso aos benefícios por parte das comunidades das florestas dedicados à bioeconomia de produtos não madeireiros. A experiência de uma “Casa de Governo”, instalada para monitorar as invasões de garimpeiros, poderia ser replicada no território amazônico para desconstruir as ações do crime organizado.
Conclusão
Promover o bem-estar humano e a conservação da natureza na Amazônia é a missão da Estratégia Nacional de Bioeconomia, instituída no Decreto 12.044 de 5/6/24. Trata-se de uma estratégia para o fortalecimento das cadeias de valor sustentáveis, visando estimular atividades geradoras de emprego e renda para os habitantes da floresta, permanentemente ameaçados pelo crime organizado e envenenados pelo mercúrio espalhado nos rios. A implementação da Estratégia Nacional de Bioeconomia depende da articulação de esferas de governo, incluídos os órgãos responsáveis pela segurança pública, com organizações da sociedade civil e entidades privadas. Uma articulação que exige governança adequada para eleger prioridades, determinar responsabilidades e selecionar métricas de monitoramento para a ampla divulgação dos seus resultados e impactos.
*Artigo escrito por Jacques Marcovitch (professor sênior da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP) e Adalberto Luiz Val (pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), originalmente publicado pelo Jornal da USP
Nas florestas úmidas e nos bosques das Américas Central e do Sul vive um inseto de formas curiosas e ares mitológicos: o besouro-hércules (Dynastes hercules). Capaz de levantar nada menos do que 850 vezes o peso de seu próprio corpo, o nome do animal faz referência ao semideus da mitologia grega Hércules, famoso por sua força física.
A façanha do inseto tem relação com a presença de dois grandes chifres – um localizado na região da cabeça e outro no tórax –, que funcionam como uma espécie de alicate. Restrita apenas aos machos da espécie, a ‘arma’ de ataque e defesa costuma ser colocada para jogo nas disputas por território e, na conquista por uma fêmea durante o processo reprodutivo. Com a ajuda dessa estrutura, o animal consegue capturar e esmagar seus oponentes, muitas vezes ‘lançando-os’ para longe.
Integrante da família dos escaravelhos, ou Scarabaeidae, o besouro-hércules é considerado um verdadeiro gigante entre os insetos, podendo alcançar cerca de 17 centímetros de comprimento. De coloração esverdeada, amarelada ou castanha com tons metalizados, utiliza sua carapaça robusta para fazer alarde e assustar seus predadores, mantendo-os o mais distante possível.
Foto: Reprodução/Shutterstock
Mas antes de se tornar um besourão para lá de imponente, o Dynastes hercules precisa enfrentar um longo processo de metamorfose que pode durar até 21 meses. Para se ter ideia, o estágio mais demorado da transformação leva 465 dias.
Seus taxa são predominantes nas florestas tropicais montanhosas e de planície do lado Pacífico da cordilheira dos Andes até a bacia do rio Amazonas.
Foto: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan
Com hábitos crepuscular e noturno durante a fase adulta, é só depois que o sol começa a se pôr que o inseto sai para comer, buscando frutas no chão. Sua alimentação é diferente na fase imatura, principalmente no período larval, quando prefere madeira de árvores caídas.
Já no estágio de pupa, o inseto não se alimenta e fica apenas fazendo a metamorfose. Mas uma coisa é certa, em ambas fases da vida (larva ou adulto), ele ajuda na decomposição de parte da matéria orgânica presente nas florestas, atuando como um ‘reciclador’ – por isso, o besouro-hércules desempenha um papel importante para a manutenção dos ecossistemas tropicais, contribuindo para a fertilidade do solo, dentre muitas outras coisas.
Madeira apreendida no Pará pelo Ibama em 2023. Foto: Divulgação/Ibama
Um estudo que cruzou a exploração madeireira mapeada por imagens de satélite com as autorizações para a atividade no Pará mostrou que houve um aumento de 22% na ilegalidade. Conforme a pesquisa, a extração de madeira irregular passou de 17,8 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 21,8 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. Com isso, o estado fechou o último calendário com 42% da atividade feita sem permissão dos órgãos ambientais.
Os dados são do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), realizado por quatro instituições de pesquisa: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV. Após mapearem a retirada de madeira por imagens de satélite, os pesquisadores verificaram se havia planos de manejo autorizando a atividade nessas essas áreas emitidos pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas-PA), pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (IDEFLOR-Bio) ou pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
No total, o Pará teve 52,1 mil hectares com extração de madeira entre agosto de 2022 e julho de 2023, período conhecido como o “calendário de desmatamento” da Amazônia. Por causa do regime de chuvas na região, esse período inicia em agosto de um ano e termina em julho do ano seguinte. Por isso, em comparação com o calendário passado, entre agosto de 2021 e julho de 2022, quando foram mapeados 38,5 mil hectares com extração de madeira no estado, houve um aumento de 35%.
Em relação apenas à área explorada com autorização, o mapeamento mostrou um crescimento ainda maior. A extração madeireira com planos de manejo permitidos pelos órgãos ambientais passou de 20,6 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 30,2 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023, uma alta de 46%. Já se comparada com a área total explorada no último calendário, a atividade legalizada representou 58%.
“O aumento da exploração madeireira realizada a partir de planos de manejo autorizados pelos órgãos ambientais é positiva, pois a atividade legalizada precisa ser feita de forma sustentável, gerar empregos e pagar impostos. Porém, a cada cinco hectares com extração de madeira no Pará, dois são ilegais, o que gera danos ambientais, ameaça povos e comunidades tradicionais e enfraquece o setor madeireiro. É preciso intensificar o combate à exploração irregular”, afirma Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon.
Imagem: Reprodução/Imazon
Território indígena Amanayé tem sido o mais afetado desde 2020
Publicado anualmente, o Simex tem alertado sobre a retirada ilegal de madeira na Reserva Indígena Amanayé, localizada no município de Goianésia do Pará, no Sudeste do estado, desde 2020. Nas últimas três publicações, que compreendem os calendários de 2020/2021, 2021/2022 e 2022/2023, esse foi o território indígena com a maior área de exploração madeireira ilegal no Pará. Entre agosto de 2020 e julho de 2023, a reserva teve 2.987 hectares afetados pela extração de madeira, o que equivale a quase 3 mil campos de futebol.
Imagem: Reprodução/Imazon
O território Amanayé foi decretado em 1945 e está presente no cadastro da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), usado pelo estudo, porém ainda aguarda homologação. Espera de quase 80 anos que tem deixado a área vulnerável às invasões e ameaçado a vida do povo amanayé.
Uma das lideranças da etnia, Ronaldo Amanayé afirma que as invasões para a exploração madeireira ocorrem há décadas na reserva e já levaram a outros problemas, como o desmatamento para a produção de soja e o uso de agrotóxicos nesse cultivo.
“Nós já vínhamos denunciando essas invasões para retirada de madeira e agora também temos denunciado a contaminação dos nossos igarapés e dos nossos rios pelo veneno usado na soja”, conta.
Ameaçado por causa de sua atuação pública na defesa do território, Ronaldo, que também atua como coordenador e tesoureiro da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), afirma que a desintrusão (retirada dos invasores) e a demarcação do território são ações urgentes para proteger a vida das 26 famílias que residem na reserva. “Depois, também será preciso fazer a recuperação das áreas degradadas e desmatadas”, completa.
A área de extração ilegal de madeira na reserva entre agosto de 2022 e julho de 2023, de 804 hectares, corresponde a 92% de toda a área com a atividade irregular mapeada em áreas protegidas, que foi de 871 hectares. Esse total foi 20% menor do que a área de exploração madeireira ilegal detectada em áreas protegidas no período passado, entre agosto de 2021 e julho de 2022, de 1.047 hectares.
Maior parte da extração ilegal ocorreu em imóveis cadastrados
Imóveis rurais que constam no Sistema de Gestão Fundiária (Sigef), no Cadastro Ambiental Rural (CAR), no Sistema Nacional de Certificação de Imóveis (SNCI) ou no Programa Terra Legal foram responsáveis por 72% da extração de madeira ilegal no Pará entre agosto de 2022 e julho de 2023. Essas áreas tiveram 15,6 mil hectares com exploração madeireira não permitida, 17% a mais do que no período anterior, entre agosto de 2021 e julho de 2022, quando foram detectados 13,3 mil hectares com a atividade ilegal. “A partir dos dados disponíveis nesses cadastros, os governos podem aplicar as devidas punições pela extração não autorizada de madeira”, explica Dalton.
A segunda maior parte da exploração madeireira irregular ocorreu em assentamentos. Nesses territórios, foram detectados 3 mil hectares com a atividade não autorizada entre agosto de 2022 e julho de 2023, o que corresponde a 14% de toda a área com a ilegalidade mapeada pelo estudo. Comparado com o período anterior, entre agosto de 2021 e julho de 2022, quando foram detectados 823 hectares com extração de madeira não permitida em assentamentos, houve um aumento de mais de três vezes.
“Esse crescimento pode ter sido resultado tanto de invasões quanto da ausência da assistência adequada para a realização do manejo florestal comunitário, o que alerta sobre a necessidade de ações públicas que possam proteger e desenvolver a produção sustentável nesses territórios”, comenta o pesquisador.
Já em relação à exploração ilegal em terras não destinadas e vazios cartográficos, foram detectados 2,3 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023, 13% a menos do que entre agosto de 2021 e julho de 2022, que foi de 2,6 mil hectares. “Essa redução foi positiva, mas precisa ser intensificada, pois a retirada de madeira nessas áreas tem relação com a grilagem de terras. Por isso, a destinação dessas áreas para a conservação é uma ação necessária para combater esse e outros crimes ambientais”, completa Dalton.
Imagem: Reprodução/Imazon
10 municípios concentram 87% da exploração irregular
Apenas 10 municípios paraenses concentraram 87% de toda a extração de madeira ilegal detectada no estado entre agosto de 2022 e julho de 2023. Eles somaram 18,9 mil hectares de exploração irregular, sendo mais da metade somente nos dois primeiros: Dom Eliseu e Paragominas. Ambos na região Sudeste, eles tiveram 9,5 mil hectares com extração ilegal de madeira no período, o que também corresponde a 44% de toda a área com a irregularidade mapeada no estado.
“Cai o sol na terra de Macunaima Boa Vista no céu, lua cheia de mel Sobe a serra de Pacaraima Eu sou de Roraima!”
Roraima é um caldeirão de cultura, né? Quem é roraimense, ou se sente ‘roraimado’, conhece de cor os versos da canção Makunaimando e, com orgulho, celebra as belezas naturais e culturais do extremo Norte do Brasil. Essa expressão é fruto da genialidade de três artistas de Roraima: Zeca Preto, Eliakin Rufino e Neuber Uchôa. Juntos, o Trio Roraimeira transformou a identidade de Roraima em arte.
O grupo comemora 40 anos de uma união artística tão forte que se consolidou como o Movimento Roraimeira, um marco na cultura roraimense, em 28 de agosto. Entre os louros colhidos pelo trio durante as décadas de carreira está a maior honraria dada a um artista no Brasil: a medalha da Ordem do Mérito Cultural, concedida ao trio em 2018. Hoje, eles são “cavaleiros da cultura brasileira”.
Com quatro álbuns lançados juntos, shows por todo o Brasil — na Europa também — e canções gravadas por grandes nomes da música, o trio hoje se consolida como os maiores expoentes culturais de Roraima, tendo o trabalho de exaltação ao estado refletido além da musica, nas artes plásticas, na dança e até na fotografia.
O movimento Roraimeira é o último grande movimento cultural do século 20, de acordo com a doutora pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e que pesquisa o movimento Roraimeira pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Cátia Monteiro Wankler.
Trio roraimeira se apresenta em Roraima em foto de arquivo. Foto: Jorge Macedo/Divulgação
“Hoje, graças a esse movimento, a ideia de que Roraima não tem cultura foi desmistificada. Temos uma literatura rica e diversificada, com poetas e escritores locais ganhando destaque. Artistas como Zeca, Neuber e o próprio trio Roraimeira foram fundamentais para abrir caminho para outros escritores e poetas que hoje têm suas obras publicadas e reconhecidas não só em Roraima, mas em outras partes do Brasil”, disse a pesquisadora.
A musica composta por Zeca Preto, “Roraimeira”, que batiza o trio ficou em segundo lugar no 2º Festival de Música de Roraima em julho 1984, mas o marco inicial para o movimento foi uma apresentação no Teatro Amazonas em agosto do mesmo ano, que levou a cultura de Roraima para além das fronteiras do estado. O primeiro álbum “Roraima”, consolidando a identidade cultural nortista do trio veio apenas em 1992.
“O povo conseguiu entender a nossa mensagem. Eu conheci um homem aqui em Boa Vista, que foi pra um congresso e disse que era do Amazonas, e disse pra mim ‘Zeca, eu não vou falar que eu sou roraimense’. Passou um tempo e ele me disse ‘Poxa cara, você não imagina como eu me orgulho de ser de Roraima, vocês plantaram isso no meu coração’ eu fico muito emocionado”, relembra o cantor e compositor Zeca Preto.
O movimento rompeu fronteiras e foi parar até na Europa, em 1995, com shows na Suíça e Alemanha. Ao longo dos anos, o Trio lançou álbuns e fez apresentações, recebendo reconhecimento nacional.
Segundo o cantor e compositor Neuber Uchôa “a gente não poderia virar as costas, e decidimos ‘vamos fazer uma antropofagia’ a gente não pode abrir mão do que o colonizador trouxe, porque algo bom vai vir’ […] a gente já cantava a pedra nessa época, uma hora a gente ia ter que virar de frente para essas fronteiras” disse.
O ritmo “Makunaimeira” do trio, vem justamente dessa mistura. Na música “O Que É” Zeca cita os ritmos que fazem parte do cotidiano roraimense e também cita a mistura do norte com o sul do país.
“Pode ser coco, maxixe, até vanerão Samba de roda, merengue, toada e canção Bota farinha na cuia do teu chimarrão Traz a paçoca pra roda do teu coração”
O trio não “descobriu a roda” quando o assunto é falar de Roraima. Artistas plásticos, fotógrafos e dançarinos já retratavam o estado, mas “viraram a cara do movimento” por estarem sempre em evidência.
Para Cátia Wankler “a música atinge muito mais gente do que qualquer outra arte […] o papel do trio foi assim inominável, porque foi através deles que, apesar do movimento já existir, se lançou uma luz sobre o Roraimeira “, contou.
Alguns lançados pelo Trio Roraimeira ao longo de 40 anos. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica
‘Uma nova era, lua nova’
O marco inicial do movimento Roraimeira foi um espetáculo promovido pelo trio no Teatro Amazonas, em Manaus, no dia 28 de agosto de 1984. Esse show que envolveu música, dança e artes plásticas foi tido como o “Manifesto Roraimeira”. Após isso, o mesmo espetáculo foi replicado em Boa Vista, em outubro. De lá para cá, o movimento se consolidou como um marco na cultural roraimense, mas a história é anterior a isso.
Tudo começou com uma canção, a Roraimeira, de Zeca Preto. O que iniciou como uma das mais belas canções a falar de Roraima, em pouco tempo, evoluiu para algo muito maior. Antes do marco inicial do movimento, durante festivais de música no estado, Zeca percebeu que outros artistas locais também estavam criando músicas com temáticas regionais semelhantes. Foi então que surgiu a ideia de unir forças e formar o movimento Roraimeira.
“Decidimos nos unir. Nosso primeiro show foi em agosto no Teatro Amazonas. Foi lá que tudo começou e desde então continuamos nessa estrada, fazendo muitos shows e difundindo nossa cultura”, recorda Zeca Preto.
A canção “Roraimeira” havia ficado em segundo lugar no “2º Festival de Música de Roraima” em 1984. Zeca relembra que a principio a música não havia sequer sido selecionada para participar do festival, mas tudo mudou quando Eliakin descobriu uma fraude no concurso — um dos selecionados tinha plagiado a obra de um amigo, o que deu espaço para a composição de Zeca brilhar.
Ele explica que o nome da música surgiu por acaso e foi uma “invenção” que “soou bonita”. A ideia era relacionar o estado com algo sagrado, por isso Zeca misturou as palavras “Roraima” com “Romaria” — o nome católico dado às peregrinações religiosas. Em 2015, a canção foi declarada “Hino cultural de Roraima” pelo governo do estado.
“Eu queria criar uma música que representasse o estado e que fosse motivo de orgulho para as pessoas. Foi então que comecei a compor a melodia, mas ainda não tinha um nome para ela. Durante o processo de composição, surgiu a palavra ‘Roraimeira’. No começo, achei estranho, mas, com o tempo, fui gostando. A música acabou ficando bem extensa, mas decidi mantê-la assim”, explica o compositor.
Outro marco do movimento é o poema “Cavalo Selvagem”, de Eliakin Rufino, publicado em dezembro de 1992, onde o poeta se coloca na posição deste animal marcante do lavrado roraimense. Em 2008, tanto a música “Roraimeira” quanto “Cavalo Selvagem” foram tombados como patrimônios culturais de Roraima.
Trio Roraimeira em apresentação em 2012. Foto: Jorge Macedo/Divulgação
“Os cavalos chegaram a Roraima há 225 anos, em 1789, trazidos para as fazendas reais da coroa portuguesa. Quando a república foi proclamada em 1889, as fazendas foram saqueadas e os cavalos abandonados. Esses cavalos começaram uma vida livre nas savanas, e é sobre essa liberdade que escrevi o poema ‘Cavalo Selvagem'”.
“A paisagem do Lavrado é única em Roraima, e o poema reflete essa singularidade. Comecei a declamar ‘Cavalo Selvagem’ em shows a partir de 1991. Lembro-me de um show em que abrimos com esse poema, e a reação do público foi incrível”, relembra o poeta Eliakin.
Para Cátia Monteiro, Cavelo Selvagem é um dos símbolos da Roraimeira e uma das obras mais relevantes do movimento.
“Cavalo Selvagem é um clássico. Cavalo Selvagem diz muito ‘eu sou o Cavalo Selvagem, não aceito cela’. Ele tá falando dos povos daqui de quem nasceu aqui, dos indígenas que nasceram aqui. Que querem continuar assim, cavalos selvagens, não querem ser dominados porque vem de fora por quem não é Cavalo Selvagem”.
Outro hit presente no consciente do roraimense é a canção “Cidade do Campo”, com letra de Eliakin e música por Armando de Paula. A obra é uma homenagem afetiva à capital roraimense, Boa Vista. O que poucos sabem é que a música foi feita para homenagear ao centenário da cidade e foi feita na mesma época em que Eliakin compôs o hino da capital.
A música foi um sucesso na voz do interprete Halisson Crystian, em 1998, e foi responsável por apelidar Boa Vista como a eterna “cidade do campo”.
“Em 1990, Boa Vista comemorou seu centenário, e o prefeito da época organizou dois concursos: um para criar o hino oficial da cidade e outro para músicas em homenagem ao centenário. Participei desse festival com a música ‘Cidade do Campo’, em parceria com Armando, e ganhei. A música foi um sucesso na voz de Alisson, mas só foi gravada em 1998, permanecendo anos no limbo”.
“Cidade do campo, beira-rio Estrela do Norte do Brasil Cidade do campo entardecer Boa Vista linda de se ver”
Não dá para falar de Roraimeira sem falar em uma das principais músicas do movimento. “Cruviana” é composição de Neuber Uchôa e foi lançada em 1992. Na boca do povo roraimense desde o seu lançamento, a canção fala sobre o orgulho nortista.
Para Neuber, “Cruviana” é como se fosse o “Trabalho de Conclusão de Curso” do compositor. Para ele, foi um dos momentos “mais incríveis da minha vida como compositor”. A letra é conta com versos iniciados em pronomes possessivos no início de cada frase.
“‘Cruviana’ nasce em um momento em que estávamos descobrindo o que tínhamos em mãos; já não era mais uma batata quente, já sabíamos o que estávamos fazendo. Todos nós fizemos obras nesse período, e eu compus ‘Cruviana’ nesse contexto. A música surgiu quando eu quis dizer que sou o cio da tribo”.
“Meu chibé com carne seca te provoca Minha damorida queima e te ensopa Teu café na rede, mi capitiana Tua tez me cruviana”
‘Voa meu pensamento sobre o Monte Roraima’
Com 40 anos de história, o movimento Roraimeira continua a ser um pilar da identidade cultural de Roraima, inspirando novos artistas e reforçando a importância da preservação das tradições locais. As vozes dos artistas de Roraima ecoam a influência e o impacto da mensagem de valorização regional. O g1 também ouviu artistas influenciados pela arte makunaimeira, entre eles a cantora e compositora Milena Makuxi.
Com 24 anos, a artista, como o nome já diz, de origem indígena macuxi, destaca o papel crucial do movimento na valorização das culturas dos povos originários, mesmo que o trio principal não seja indígena. Para ela, ver os símbolos e o dialeto indígena sendo destaque positivo em músicas foi uma importante fonte de inspiração para artistas das comunidades roraimenses, como ela.
A música de Milena funde ritmos como o reggae, MPB e carimbó com cantos tradicionais indígenas e é um reflexo dessa fusão cultural. Milena enxerga o movimento como uma força de resgate, essencial para a preservação da cultura de Roraima.
“O Roraimeira abriu portas para que nós, artistas indígenas, pudéssemos expressar nossa identidade cultural e ancestralidade de uma forma que nunca antes havia sido possível. Hoje, nós falamos e cantamos por nós e isso é bonito. O movimento é mais do que uma expressão artística, é um movimento de resgate e afirmação da nossa diversidade cultural”, disse a artista.
O impacto do Roraimeira é multifacetado e profundo, como destaca o cantor e compositor Hugo Pereira. Membro fundador de bandas importantes para a cena cultural atual de Roraima, como Jamrock e Bodó Valorizado, ele afirma que o movimento trouxe mais do que uma simples expressão musical; trouxe um “direcionamento” e uma “linha de pensamento” que transcendem a música, abrangendo um posicionamento político e ideológico.
“O Roraimeira não é só música, é um jeito de ver o mundo, de entender nossa identidade em Roraima. Até mesmo quando não temos a intenção de seguir essa linha, acabamos sendo influenciados por ela, porque faz parte de quem somos,” diz o artista, evidenciando como o movimento permeia o cotidiano dos músicos e artistas locais.
A cantora e compositora Euterpe também expressa a importância do movimento na construção da identidade cultural de Roraima. Na visão dela, o Roraimeira não só enriqueceu a cena musical, mas também todas as formas de arte no estado.
“O movimento nos ensinou a valorizar nossos costumes, nossa linguagem, nosso dia a dia. Hoje, temos uma identidade que nos diferencia e nos faz ser reconhecidos nacionalmente”, diz Euterpe.
Roraimeira: 40 anos da ‘Regionalíssima Trindade’
Durante as quatro décadas de carreira o trio viveu muitos momentos especiais e importante para o movimento, como em 1996 e 1998, quando o Roraimeira se apresentou na Suíça e na Alemanha, levando a cultura Roraimense para a Europa.
Neuber Uchoa, que se apresentou na Alemanha junto com Zeca preto, contou que a maior realização foi cantar músicas autorais em outro país.
“A maioria dos brasileiros vão para fora para cantar samba ninguém é doido de não fazer isso, só a gente. A visão lá fora é samba, é futebol. Mas gente insistia na história, grande mérito do movimento é esse, e a gente tem insistido encantar nossas músicas”.
E no Brasil, o trio se apresentou no Rio de Janeiro a convite do cantor e compositor Nilson Chaves, e também em em Curitiba na Caixa Cultural, além da turnê que fizeram pelo Norte do país.
“Não, nada de Rio, São Paulo não, primeiro coletar por aqui. Nós fomos em todos os lugares da Amazônia Legal, fizemos várias vezes shows em Macapá, Amazonas […] sempre foi uma recepção fantástica, mas eu acho que os melhores mesmo foram no Amapá”, disse o poeta Eliakin.
Zeca, Eliakin e Neuber lançaram quatro álbuns do Roraimeira, o primeiro “Roraima”, foi lançado em 1992. Já o segundo, “O Canto De Roraima e Suas Influências Indígenas e Caribenhas” foi o primeiro álbum gravado ao vivo em Roraima, em 2000.
E mesmo em carreira solo nos anos 2000, o trio continuou se reunindo em momentos especiais, como em 2009 na gravação do terceiro álbum “Roraimeira – O Canto De Roraima” que celebra os 25 anos do Roraimeira.
E também na gravação do álbum “Show Roraimeira 30 anos” que foi gravado ao vivo no auditório do Centro Amazônico de Fronteiras da Universidade Federal de Roraima (CAF/UFRR).
A “regionalíssima trindade” também conquistou a maior honraria dada a um artista no Brasil: a medalha da Ordem do Mérito Cultural, em 2018. Junto ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Museu de Arte de São Paulo (Masp), Zeca, Eliakin e Neuber se tornaram cavaleiros da cultura brasileira.
“Nós somos cavaleiros da Ordem do Medo cultural, que é o maior prêmio dado no Brasil de reconhecimento. E isso pra gente foi legal, porque a gente tá aqui no extremo norte, nós somos os primeiros na área da cultura”, disse Eliakin.
Além de shows na Europa, honrarias e shows em festivais, o trio também teve músicas regravadas por artistas nacionais, como Gaby Amarantos, que regravou “Pimenta com Sal”, uma composição de Eliakin Rufino.
“Hoje tem mais de 10 gravações nessa minha música […] A Lucinha Bastos lançou um CD chamado Pimenta com Sal, e a musica estoura em Belém, e a Gaby diz ‘Po, essa música é boa, quero gravar de quem é?”, contou o poeta.
Gaby Amarantos então chamou a cantora Fernanda Takai, já que “são uma preta e uma branca de mãos dadas na praia”.
“Gaby Amarantos e Fernanda Takai foram para o Altas Horas, e a música começou a ter uma repercussão incrível”, relembra Eliakin.
Em 2024, quando o Roraimeira completa 40 anos, o trio fez shows no São João do Anauá, no Sesc-RR e também vai se apresentar no palco do Teatro Municipal, durante o festival Mormaço Cultural.
*Por Rayane Lima e Caíque Rodrigues, do Grupo Rede Amazônica RR
Constituído em 1903, o prédio que hoje abriga o Centro Cultural Palácio Rio Negro (CCPRN), em Manaus (AM), serviu para residência particular de um comerciante de borracha, o alemão Karl Waldemar Scholz. O prédio se tornou um dos mais emblemáticos daquele período, que marcou a economia do Amazonas.
O local posteriormente funcionou como sede do Governo e, em 3 de outubro de 1980, foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Amazonas. Ao longo dos anos, o palácio foi reformado, restaurado, adaptado e, em virtude de sua beleza arquitetônica e relevância histórica, foi transformado em Centro Cultural.
Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte
Confira algumas curiosidades sobre o prédio que – talvez – você não saiba:
O espaço é conhecido por ter sido residência de um dos “barões da borracha”, como eram chamados os comerciantes que enriqueceram com a exploração do látex entre o final do século XIX e início do século XX em Manaus. Durante esse período, o local era chamado de ‘Palacete Scholz’;
Foi construído na Avenida Sete de Setembro, onde hoje é o Centro de Manaus, em um terreno de mais de 4.700 metros quadrados;
O espaço guarda três peças originais do ‘Palacete Scholz’, datadas de 1903, incluindo um lustre de bronze e duas estátuas situadas ao pé da escada, representando a poesia e a música. Estas são as únicas peças do mobiliário que permanecem da época do Barão Scholz;
Há um conjunto de móveis doados pelo governo chinês, que inclui um pagode com pés de dragão e duas mesas de espreguiçadeiras;
O Palácio Rio Negro conta com salão para recitais, exposições, lançamento de livros e diversas atividades culturais. O espaço mantém, ainda, um gabinete de despachos para o governador e a agenda aberta para atos oficiais, quando necessário;
É integrado ao Salão Rio Solimões, ao Parque Jefferson Péres e ao Cineteatro Guarany, gerenciado pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Amazonas;
Aberto à visitação pública, também é usado para audiências e recepções do Governador do Estado do Amazonas a Chefes de Estado, Embaixadores e demais personalidades.
As mudanças climáticas estão intensificando fenômenos naturais e impactando não apenas as populações urbanas, mas também as comunidades rurais, com especial ênfase nas populações indígenas, quilombolas e agricultores familiares. É crucial reconhecer a vulnerabilidade desses grupos diante das alterações climáticas extremas.
Eventos como furacões, secas prolongadas e incêndios florestais, que fazem parte do que chamamos de emergência climática, estão se tornando uma realidade crescente em vários países. Esses eventos afetam de forma desproporcional as comunidades mais vulneráveis, frequentemente, as que menos contribuíram para a crise climática.
Em 2023, a seca prolongada trouxe uma série de dificuldades para as comunidades na Amazônia, afetando o manejo de recursos naturais como a coleta de castanhas e a produção de frutas, além de comprometer a pesca, causar perdas na produção agrícola e dificultar a locomoção.
Para 2024, espera-se uma estiagem ainda mais severa do que a do ano anterior, o que intensifica as preocupações com os impactos futuros. Esses impactos prometem ser significativos tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico, impondo desafios adicionais às cadeias produtivas em diversos biomas.
Para Andreia Bavaresco, indigenista com mais de 20 anos de atuação com populações tradicionais e coordenadora executiva do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), o papel das comunidades tradicionais é fundamental para enfrentar os desafios dos desequilíbrios ambientais que impactam a rotina e a vida das comunidades, bem como a produção de alimentos, a mudança no calendário de rituais dos povos indígenas e a educação de novas gerações na transmissão dos conhecimentos ancestrais.
Com informações sobre os impactos, é possível traçar as estratégias de enfrentamento e sugerir formas de mobilizar recursos financeiros adequados. Algumas iniciativas já estão se formalizando, como é o caso da plataforma Povos e Comunidades Tradicionais para as Américas. Por meio dela, as comunidades indígenas conquistaram um espaço nas negociações de grandes chefes de estado, sendo este um mecanismo de voz para aqueles que vivem na pele os impactos negativos dessa nova realidade climática.
A antropóloga e indigenista da OPAN/projeto Raízes do Purus, Cristabell Lopez, conta que o povo indígena Paumari, localizado em Lábrea (AM), sofreu diferentes impactos em seu cotidiano em 2023. Por conta da longa estiagem e do calor extremo, o fogo tomou conta da região, afastando suas caças e impactando seus horários de trabalho na agricultura.
“Antes dava para trabalhar no roçado até meio dia, mas com o calor e a seca extremos, só era possível permanecer até as 10 da manhã, aumentando os dias de trabalho. Houve também, impacto na saúde dos indígenas, que tiveram mais casos de gripes e alergias”, conta Cristabell.
No manejo do pirarucu do povo indígena Paumari, a seca extrema ocasionou aumento em 20% no custo operacional da pesca, a seca nos rios afastou os peixes e prejudicou o escoamento, forçando a comunidade a traçar novas rotas, mais longas. Como consequência, houve o aumento dos custos e a queda no alcance da meta inicial, que passou de 600 para 495 peixes.
Este foi um dos principais impactos para os Paumari. Por conta das previsões para 2024, a comunidade está pensando em não realizar a pesca este ano.
“Não sabemos como serão as adaptações aos impactos das mudanças com relação à geração de renda e abastecimento dessas comunidades. Os desafios são grandes e percebemos que hoje nada é previsível”, destacou Cristabell.
Os impactos mexem no dia a dia, na renda e nas tradições das comunidades indígenas e como solução há a importância das parcerias, do diálogo e da troca de conhecimento por meio de intercâmbios, para que encontrem soluções conjuntas de acordo com suas realidades.
A especialista do IEB apontou estratégias e mecanismos que podem contribuir para esses desafios climáticos, como o de ocupar espaços políticos, apresentar sugestões de promoção da justiça climática, de mobilização e uso adequado dos recursos financeiros, a valorização do conhecimento e as experiências das comunidades tradicionais na construção de soluções climáticas, sustentáveis e inclusivas.
Por fim, ressaltou a importância de uma atuação de base comunitária e o protagonismo da mulher como um fato a se destacar para o enfrentamento à crise climática.
Comemorando 20 anos de criação, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Canguçu, localizada em Pium (TO), é o foco de uma obra que celebra e divulga os resultados de estudos realizados na região. Fartamente ilustrado, o e-book é fruto de uma colaboração coletiva entre pesquisadores de diversas instituições, e tem como objetivo promover o avanço do conhecimento sobre o papel vital das áreas protegidas na conservação da biodiversidade regional, do ecótono Amazônia-Cerrado.
O organizador do livro é o pesquisador da UFT, Renato Torres Pinheiro. Ele é doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre e integra o Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Aves.
“O livro em comemoração aos 20 anos da RPPN Canguçu e 25 anos do Centro de Pesquisa Canguçu reúne pesquisas realizadas no complexo Canguçu durante este período. Contando com a participação de professores, pesquisadores e egressos da UFT, além de outros profissionais de diversas instituições, a obra é um retrato da grandeza e importância da biodiversidade regional. Será distribuída gratuitamente, reforçando o compromisso com a disseminação do conhecimento”.
Além de destacar a rica biodiversidade, o livro também alerta para os impactos diretos que a atividade agropecuária exerce sobre a região, reduzindo a cobertura vegetal nativa e comprometendo a sobrevivência de várias espécies e os serviços ambientais que elas prestam.
A colaboração entre o Instituto Ecológica e a Universidade Federal do Tocantins (UFT) foi essencial para a criação e manutenção da RPPN Canguçu, possibilitando a realização desses estudos, a formação de novos pesquisadores, a educação ambiental e a proteção do patrimônio natural.
Capítulos do livro
Dividido em quatro capítulos, o livro aborda diferentes aspectos da biodiversidade presente na RPPN Canguçu:
Capítulo 1: ‘Composição florística e usos múltiplos das espécies arbóreas da RPPN Canguçu, Pium, Tocantins’ – Apresenta a diversidade de espécies arbóreas e seus diversos usos pela comunidade local.
Capítulo 2: ‘Herpetofauna da RPPN Canguçu, ecótono Amazônia-Cerrado no estado do Tocantins’ – Foca na rica fauna de anfíbios e répteis que habitam a região.
Capítulo 3: ‘Avifauna da RPPN Canguçu, ecótono Amazônia-Cerrado no Vale do Araguaia, Tocantins’ – Explora a diversidade de aves em uma das áreas de maior biodiversidade do estado.
Capítulo 4: ‘Mamíferos de médio e grande porte da RPPN Canguçu, Pium, Tocantins’ – Fornece informações inéditas sobre a mastofauna local e sua importância para a conservação.
Essa obra não apenas celebra a biodiversidade da RPPN Canguçu, mas também reforça a importância das áreas protegidas na preservação do meio ambiente e no avanço do conhecimento científico no Brasil.
O Brasil, reconhecido mundialmente por abrigar uma das maiores diversidades biológicas do planeta, se destaca pela riqueza natural presente em seus diversos biomas. Entre eles, a Amazônia e o Cerrado, dois dos mais importantes ecossistemas do país, convergem no estado do Tocantins, em uma área de transição conhecida como ecótono. Apesar da relevância ecológica dessa região, ainda existem muitas lacunas de conhecimento sobre a fauna e flora que nela habitam.
Grande parte da biodiversidade desse ecótono está protegida em áreas como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Essas áreas de conservação são uma categoria especial de Unidade de Conservação (UC) privada, de caráter perpétuo, cuja criação é voluntária e não requer desapropriação de terras. As RPPNs desempenham um papel crucial na proteção e pesquisa da biodiversidade regional, atuando como áreas de amortecimento para Unidades de Proteção Integral e servindo como refúgios seguros para a fauna local.
*Com informações da Universidade Federal do Tocantins
O projeto ‘Robótica Krintuwakatêjê’, desenvolvido pela Escola Estadual Indígena Jathiati Parkatêjê, uma extensão da Escola Estadual Indígena de Ensino Infantil Fundamental e Médio Kojipokti, localizada na Terra Indígena (TI) Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins (Região de Integração do Carajás, no Pará), tem despertado o interesse de estudantes e da comunidade por unir tecnologia e o ensino da programação em blocos com a cultura e língua indígena.
Entre os projetos desenvolvidos, estão jogos com interação da língua materna, feitos por meio da plataforma Scratch, um deles é o jogo da memória com figuras da pintura corporal indígena.
“O projeto começou em 2022 trabalhando com programação. Inicialmente, nós fizemos testes de condutividade com as crianças. Trouxemos uma plaquinha chamada Make Make, onde se pode criar vários projetos e aí as crianças começaram a gostar e trouxeram a cultura e a identidade deles para dentro da robótica. A tecnologia é para todos, não existe aquela história de que o povo indígena não pode. A tecnologia deve ser acessível para todos, e quando a gente trouxe isso para eles, houve um interesse maior em relação a esse ensino aprendizagem. Lá na frente eles vão poder perceber o quanto isso foi de valor e o quanto vão poder ajudar a comunidade deles no futuro”, explicou a professora Ariete Moraes, responsável pelo projeto.
Foto: Eliseu Dias/Ascom Seduc PA
Para a estudante do 4° ano do Ensino Fundamental, Imayry Tojaretêrê, participar do projeto na escola tem sido uma ótima experiência.
“Está sendo muito bom, a gente criou várias coisas. Criamos uma energia para acender uma luzinha, um teclado que a gente toca nele com uma pulseirinha e eu acho muito bom para a gente aprender. Eu gostei e estou gostando muito da nossa experiência trazendo esses projetos que também mostram a nossa cultura. Na escola, a gente fala que é muito bom aprender isso e um dia podemos criar um foguete. Eu quero ser uma cientista porque eu quero ver o céu de perto”, contou a estudante.
Segundo a cacique Rârãkre Parkatêjê, o projeto de robótica é uma novidade boa para a comunidade e ela mesma está aprendendo mais sobre o assunto.
“O projeto de robótica é uma coisa nova para a nossa comunidade. Eu mesma falei com a professora Ariete que eu não entendia de nada, eu não sabia nem como fazer porque não é algo tão simples, mas eu percebi que os nossos alunos se apaixonaram por esse trabalho, eu vi a dedicação deles e passei a me interessar, me encantei muito com a robótica, porque para nós é uma coisa nova, não tem nem na nossa comunidade indígena, nem na nossa TI Mãe Maria. Eu venho acompanhando a escola, e vejo que é um trabalho muito importante”, avaliou.
Foto: Eliseu Dias/Ascom Seduc PA
Robótica em destaque
Com um dia dedicado a mostrar os projetos de Robótica Educacional desenvolvidos nas escolas estaduais da rede, o estande da Seduc na 27ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes impressionou os visitantes, na última sexta-feira (23), ao expor as iniciativas realizadas por estudantes de escolas regulares, de tempo integral e indígena.
Um deles foi o da Escola Estadual Indígena Jathiati Parkatêjê, que atualmente atende 53 estudantes. Segundo o professor Augusto Carlos, que também faz parte do projeto, o momento foi muito importante para mostrar todo o aprendizado adquirido em sala de aula e mostrar a valorização da cultura indígena.
“Poder mostrar nosso trabalho é muito importante e é um diferencial porque se nós trouxéssemos um projeto que fosse igual ao das outras escolas, não teríamos nenhum propósito da identidade indígena. Então, nós buscamos juntamente com a comunidade, retratar essa cultura através da robótica. Ver que os estudantes puderam levar e apresentar sua própria cultura através da robótica é algo fundamental”, comentou o educador.
Cerca de dez projetos de robótica foram apresentados no estande da Seduc. Outra iniciativa que chamou a atenção dos visitantes foi o ‘Futebol de Robôs’, desenvolvido por estudantes da Escola Estadual de Tempo Integral Professora Dilma de Souza Cattete, localizada no bairro do Coqueiro, em Belém. A iniciativa permite que os estudantes criem, com material reciclável, robôs e os controlem pelo próprio celular.
Foto: Eliseu Dias/Ascom Seduc PA
“O futebol de robôs envolve técnicas de programação e nós também trabalhamos com a confecção do robô utilizando materiais recicláveis. O que faz o robô funcionar são pilhas, baterias que nós utilizamos o lixo eletrônico, ou seja, nós reaproveitamos baterias de notebooks e, a partir daí, nós conseguimos reutilizar as baterias que geram energia para que os carrinhos/robôs possam se movimentar. E claro que a gente, eu que sou professor de matemática, o Ivan que é professor de física, as questões da matemática e da física dentro da robótica”, explicou o professor de matemática Wanderson Monteiro, que atua no projeto junto com o professor de física Ivan Amorim.
Foto: Eliseu Dias/Ascom Seduc PA
O estudante da 2ª série do Ensino Médio, Lucas Costa, conta que aprendeu e continua aprendendo muito com o projeto. Segundo o estudante, o contato com a programação dentro da robótica já fez com que ele escolhesse o que quer fazer no futuro.
“Eu acho muito bom participar da robótica na escola porque a gente aprende bastante coisa como, por exemplo, mexer com elétrica, que também não é só mexer com elétrica, tem a ver com química, matemática e física. Para quem quer seguir no caminho da engenharia elétrica, que é o que eu quero, ajuda bastante porque a gente participa de todo o processo de montagem e eu já vou ter uma base disso na faculdade”, disse.