A seca do Rio Negro em 2024 já está mudando o cenário da Orla de Manaus (AM) e afetando a rotina tanto da população quanto dos trabalhadores da área portuária. No dia 4 de setembro, o rio estava em 19,01 metros, 4,03 metros abaixo do mesmo dia do ano passado, quando a cota era de 23,04 metros, de acordo com dados do Porto da capital, responsável pelo monitoramento do nível das águas.
Bancos de areia estão surgindo no meio do rio, forçando as embarcações a se afastarem e ficando cada vez mais longe do local onde costumavam atracar, próximo à via pública. Essa situação impacta tanto os visitantes que chegam de barco à capital quanto os trabalhadores, que precisam percorrer longas distâncias a pé.
Em agosto, a seca avançou de forma alarmante, com o nível do Rio Negro em Manaus caindo cinco metros, segundo dados da Defesa Civil do Amazonas.
A previsão do governo do estado é de que, neste ano, o Amazonas tenha uma seca severa nos mesmos moldes ou até pior do que o estado viveu em 2023. Durante a estiagem do ano passado, o Rio Negro alcançou o nível mais baixo dos últimos 120 anos.
Veja abaixo fotos que mostram como está a orla de Manaus durante a seca do Rio Negro:
Fotos: William Duarte/Rede Amazônica AM
Mudança de cenário
Quem trabalha com a navegação pelos rios do Amazonas afirma que a maior dificuldade durante o período são os bancos de areia que tomam conta do caminho. Eles ressaltam que isso se torna ainda mais desafiador durante a noite, quando a visibilidade é reduzida.
“Rio seco, rio cheio é algo que sempre vai ter. Mas esse ano a situação tá bem ruim, estamos com o rio 1,5 metro mais baixo que o ano passado. E aí tem pedra, banco de areia e essa fumaça que prejudica a visibilidade. Navegar durante a noite tem sido bem complicado, tem momentos em que a visibilidade é péssima e não se vê nada pela frente”, disse o comandante Jarson Santos.
De acordo com o monitoramento da Defesa Civil, o Rio Negro começou o mês de agosto medindo 25,09 metros. Já no sábado (31), as águas mediam 20,02 metros. Ainda segundo o órgão, entre o sábado (31) e o domingo (1º), o rio desceu ainda mais, chegando a 19,77 metros.
O monitoramento aponta ainda que o Rio Negro está em estado crítico de vazante.
Apesar do problema, pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB) acreditam que o rio não deve atingir a cota da seca de 2023, que foi de 12,70 metros. A previsão para este ano é de que o nível das águas fique em torno de 14 a 15 metros, o que já é considerado muito baixo.
Os povos indígenas do Território Wayamu estão se organizando para promover o Turismo de Base Comunitáriacomo uma estratégia para fortalecer suas comunidades e proteger suas terras. A iniciativa busca coibir invasões e práticas ilegais de turismo e pesca, que têm ameaçado a integridade social, ambiental e territorial na região.
Em junho, o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) promoveram um encontro de formação e orientação sobre o Turismo de Base Comunitária em Terras Indígenas. Também foi uma oportunidade para promover acordos internos e planejamento de atividades para o desenvolvimento de iniciativas comunitárias.
Entre os 80 participantes estavam lideranças e representantes de oito organizações indígenas, além do Ibama. A fase preparatória do encontro contou também com a participação do Ministério Público Federal do Amazonas.
O encontro aconteceu em Santarém, no Centro Experimental Floresta Ativa (CEFA), na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no Pará. Conduzido pela consultoria estratégica Negócios Comunitários, foi realizado no contexto das ações de implementação do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) dos povos deste território.
Território Wayamu
Localizado entre o noroeste do Pará, nordeste do Amazonas e sudeste de Roraima, é uma área rica em biodiversidade e cultura. Abrange as Terras Indígenas Nhamundá-Mapuera, Trombetas-Mapuera, Kaxuyana-Tunayana e Ararà, que são habitadas por diversos povos, inclusive com registro de indígenas em situação de isolamento.
Empresas de pesca esportiva têm gerado pressões crescentes na região ao buscar explorar áreas preservadas sem respeitar a legislação ambiental, os direitos e os protocolos indígenas.
Turismo de base comunitária como única opção possível
Foto: Camila Barra/Negócios Comunitários/Iepé
As discussões do encontro sobre Turismo de Base Comunitária abordaram procedimentos legais e técnicos, especialmente relacionados à pesca esportiva, com orientação da Funai e do Ibama. Também visaram fortalecer a governança, promover a autonomia e a segurança das iniciativas, respeitando o PGTA e o Protocolo de Consulta do Território Wayamu, bem como a Instrução Normativa da Funai nº 03/2015, que regulamenta o desenvolvimento o turismo em Terras Indígenas.
As lideranças presentes compartilharam experiências de turismo de base comunitária na Amazônia, destacando as vantagens dessas práticas em relação às atividades ilegais. Foram identificadas várias oportunidades nas regiões dos rios Jatapu, Mapuera, Trombetas e Cachorro.
Todos os presentes concordaram que o modelo do Turismo de Base Comunitária é a única opção possível em Terras Indígenas, conforme determina a Instrução Normativa da Funai. Também houve consenso sobre a necessidade de estudos ambientais pelo Ibama, e de capacitações dos indígenas, incluindo ações para controle e segurança da atividade, com parte da renda gerada pelo turismo sendo aplicada em ações de vigilância e monitoramento territorial.
“Não é por acaso que o Turismo de Base Comunitária é a única forma permitida de empreender o turismo nas Terras Indígenas: o modelo garante às comunidades ampla consulta e participação, e a criação de mecanismos para a gestão comunitária e repartição dos benefícios numa perspectiva territorial e não individual, além de permitir o controle da atividade”, disse Camila Barra, da Negócios Comunitários e consultora do Iepé.
Estudos de viabilidade
Estudos do Ibama no Rio Trombetas, de agosto de 2023, revelaram a necessidade de definir as áreas de pesca para garantir a segurança alimentar das comunidades indígenas e superar os desafios logísticos. Já no rio Cachorro, foram identificadas limitações para a pesca esportiva, apontando a necessidade de se pensar em outras modalidades de turismo.
O Ibama apresentou os resultados dos estudos sobre os rios Trombetas e Cachorro à Associação Indígena Kaxuyana, Tunayana e Kahyana (AIKATUK) em julho de 2024. Os resultados são fundamentais para orientar futuras decisões e políticas de manejo sustentável das atividades de pesca no Território Wayamu. Outros estudos do Ibama estão previstos para os rios Mapuera e Jatapu.
A Associação Aymara apresentou suas experiências e aprendizados na implementação do Turismo de Base Comunitária no baixo curso do rio Jatapu (AM). A iniciativa visa superar o histórico de exploração e invasão de seus territórios, promovendo um modelo sustentável de turismo de pesca esportiva.
O coordenador da Associação Aymara, Benaias Waryeta, destacou as diferenças entre o turismo ilegal de pesca esportiva, promovido por empresas privadas ao longo de 17 anos, e o turismo de base comunitária, que envolve a participação e gestão coletivas, e a criação de regras próprias.
Zacarias Wai Wai, liderança da Aldeia Mapuera, destacou a importância das trocas e aprendizados.
“Gostei de ver como funciona o turismo dos parentes. Entendemos bem. É muito bom quando a gente trabalha junto com nossas associações dentro do Território Wayamu. Quero fazer organizado, e não quero mais gente chegando na aldeia e falando diferente. Vamos ficar cientes daqui para a frente”, disse.
Planejamento para atividades futuras
As lideranças apresentaram planejamentos, incluindo cálculos da gestão comunitária dos empreendimentos, repartição dos benefícios, prevendo a exclusão de áreas de poupança de pesca (que não podem sofrer intervenções que impliquem alteração na dinâmica dos animais) e a preservação de áreas que os povos isolados acessam, além dos custos de vigilância e monitoramento territorial.
Foto: Camila Barra/Negócios Comunitários/Iepé
Todos concordaram com a importância de seguir os passos legais para a implementação do turismo de base comunitária, incluindo estudos ambientais e consultas comunitárias. A União do Território Wayamu reafirmou seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a proteção dos territórios indígenas, promovendo uma gestão comunitária que respeite e valorize a vida e as culturas locais.
Os próximos passos incluem a continuidade das discussões e a implementação das ações planejadas, sempre em diálogo com todas as partes interessadas.
O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação na Justiça Federal para proteger e recuperar uma área de preservação permanente (APP) em Jacundá, no distrito de Alter do Chão, no Pará. A ação busca reverter irregularidades cometidas pelo Município de Santarém, pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) e por dois proprietários de edificação construída indevidamente.
Além da obra ter sido realizada em área de APP, também está em Merakaiçara, um terreiro sagrado do povo indígena Borari de Alter do Chão, desrespeitando tanto a integridade ambiental da região, quanto a cultura indígena, que tem conexão histórica e espiritual com essa área.
O MPF destaca que, com base em documentos e manifestações emitidos pela Semma, o Município já sabia da existência da área de preservação permanente antes de conceder as licenças para a obra. Apesar de ter recebido uma recomendação do MPF para corrigir a irregularidade, a secretaria optou por manter as licenças para a edificação na APP.
Além disso, parte da obra está situada na praia, que é bem público, de domínio da União e de uso comum do povo e, por isso, não poderia ter recebido autorização.
Em fiscalização realizada em abril deste ano, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) constatou a construção do imóvel na APP, inclusive sobre a praia, e o início do processo erosivo no entorno da obra, o que resultou na aplicação de multa ao responsável.
Regularização fundiária
Desde maio deste ano, a Prefeitura de Santarém tenta incluir Alter do Chão no Projeto de Regularização Fundiária Urbana (Reurb) do município – processo que já está em estágio avançado –, mesmo sem realizar consulta livre, prévia e informada às comunidades tradicionais, exigida pela Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), incluindo aos indígenas da etnia Borari, que há séculos vivem no local e já possuem estudos em trâmite na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
“Ao que parece, o Município de Santarém busca regularizar vários imóveis em Alter do Chão, com o objetivo de legitimar ocupações em áreas ambientalmente protegidas – como diversas áreas de preservação permanente localizadas na região – e, simultaneamente, desconsiderar o direito da comunidade indígena às terras tradicionalmente ocupadas, justamente porque visa legitimar a ocupação de terceiros não indígenas”, detalha o MPF na ação.
Redução da área protegida
Após receber recomendação do MPF que orientava quanto à necessidade de demolição da obra realizada na área de preservação permanente e de conservação da área, o Município apresentou à Câmara Municipal Projeto de Lei Ordinária (PLO) que tenta reduzir, entre outras, a APP de Alter do Chão.
O mesmo PLO também visa legalizar todos os imóveis que foram construídos ilicitamente na Área de Preservação Permanente de Alter do Chão até 22 de julho deste ano, o que inclui o imóvel alvo da recomendação e da ação do MPF.
Para o MPF, além de demonstrar o descompromisso político da administração municipal com a proteção do meio ambiente, o projeto de lei representa um retrocesso ambiental significativo, apenas para consolidar e incentivar o avanço do setor de construção civil sobre a floresta e o território do povo indígena Borari.
Ao enviar o projeto de lei à Câmara Municipal, o Poder Executivo buscou reduzir a faixa de APP na área onde localizado o imóvel citado na ação para apenas 50 metros, de modo que a construção passaria a estar fora da APP. É quase como se o projeto de lei fosse criado para atender o interesse dos empresários após a ilegalidade ter sido detectada pelo MPF, destaca a ação.
Tendo em vista as inúmeras irregularidades identificadas, o MPF pede, entre outras providências, como medidas urgentes:
a suspensão e a anulação das licenças concedidas pela Semma para uso e realização de obras na área de preservação permanente;
a paralisação imediata, por parte dos proprietários, de qualquer obra ou intervenção na área do imóvel;
a demolição da obra e a retirada de qualquer item que faça parte dela, como cercas, equipamentos e materiais fincados no solo;
a recuperação ambiental de toda a área afetada;
a não concessão de autorização ou licença, pelo Município, para qualquer intervenção na área de preservação permanente, antes da realização de consulta livre, prévia e informada às comunidades tradicionais afetadas;
• a suspensão imediata do programa Reurb de Santarém, no que diz respeito à Alter do Chão, assim como qualquer outro projeto que envolva o uso ou o parcelamento da área do distrito, sem que seja feita a consulta livre, prévia e informada;
a suspensão imediata do PLO, até que seja realizada consulta prévia, livre e informada ao povo indígena Borari e às demais populações tradicionais afetadas.
Na ação, o MPF também pede à Justiça que exija o mapeamento detalhado das áreas ilegalmente ocupadas ou construídas na Área de Preservação Permanente de Alter do Chão, com foco especial na região do Jacundá (Merakaiçara), e indica a necessidade de implementação de um programa abrangente de educação ambiental em escolas e creches de Alter do Chão, com o objetivo de conscientizar sobre a importância da preservação das áreas de proteção e prevenir novas ocupações ilegais.
Providências para toda a região
O MPF reforça que é fundamental que os cuidados indicados para o caso da Área de Preservação Permanente de Alter do Chão sejam considerados para todos os processos de concessão de licença de obras que possam afetar, direta ou indiretamente, povos indígenas e comunidades tradicionais, estejam esses em andamento ou solicitados futuramente.
Sobre a constante violação de direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais, o MPF reafirma “que esses grupos, ao longo da história, foram marginalizados e afastados dos processos de tomada de decisão, sujeitando-se a imposições administrativas e legislativas que inviabilizavam a própria continuidade de sua existência”.
As aldeias da Terra Itixi Mitari, situadas no estado do Amazonas, enfrentam desafios diários relacionados ao manejo sustentável de recursos naturais. Dentre eles, a dificuldade de conseguir manutenção de motores de popa, essenciais para as atividades de vigilância, monitoramento e manejo do pirarucu.
Recentemente, a Sapopema, a Associação do Povo Indígena Apurinã da Terra Indigena Itixi Mitari – APIATI e Associação das Mulheres Indígenas Trabalhadoras da Terra Grande, com apoio do programa Floresta+ Amazônia, realizaram oficina sobre ‘Mecânica Básica de Motores de Popa’ na aldeia Santa Rita. A iniciativa foi uma demanda das próprias comunidades, que utilizam os motores para suas atividades cotidianas e de manejo do pirarucu.
Durante cinco dias, representantes de diversas aldeias participaram da oficina, incluindo jovens, mulheres e adultos. As atividades foram divididas entre teoria e prática, permitindo que os indígenas colocassem a mão na massa.
Eles aprenderam a fazer revisões periódicas e manutenção e pequenos reparos nos motores e receberam kits básicos de ferramentas para realizar a manutenção dos motores, ganhando confiança para resolver questões técnicas por conta própria.
Foto: Vanderson Moraes de Souza Apurinã
Neriane da Hora, da equipe da Sapopema e responsável técnica pelo projeto, destacou a autonomia adquirida com a capacitação: “Agora, os indígenas podem manter seus motores funcionando sem depender de assistência externa. Além disso, evitam custos elevados ao realizar pequenos reparos localmente, em vez de recorrer à cidade”.
“Essa oficina representa um passo importante para a sustentabilidade das aldeias, garantindo que suas atividades de manejo e transporte ocorram de forma eficiente e autônoma. Acreditamos que investir no conhecimento técnico dessas comunidades é essencial para a conservação”, conta.
A atividade aconteceu no início de agosto de 2024 e contou com a parceria do inspetor de equipamentos da Petrobrás, Valdecy Vascurato.
Foto: Vanderson Moraes de Souza Apurinã
O projeto
Com o histórico de assistência técnica para o manejo do pirarucu no baixo Amazonas, a Sapopema foi escolhida pelas organizações para contribuir na implementação do Projeto Floresta+ Amazônia, uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, o qual abriu habilitação de associações de base comunitária, povos indígenas e Organizações Não-Governamentais.
A iniciativa contempla ações para 11 aldeias do povo Apurinã, numa parceria entre as Associações indígenas, a Funai e Sapopema.
A APIATI é uma entidade criada pelos Apurinã da TI Itixi Mitari com os objetivos de lutar pelos direitos dos povos indígenas; incentivar o trabalho comunitário de forma sustentável; reivindicar ações que melhorem a vida dos comunitários nas comunidades indígenas; promover a formação e qualificação de lideranças indígenas, dentre outros.
Ela é responsável por representar a TI juridicamente frente à sociedade não-indígena, elaborando estratégias para defesa dos direitos e interesses da comunidade e fazendo interlocução com órgãos e instituições parceiras.
A amazonense Maria de Fátima Castro, de 30 anos, conquistou a medalha de bronze na categoria até 67kg na Arena La Chapelle, nas Paralimpíadas de Paris (França). A atleta alcançou o resultado com um levantamento de 133kg e resultado garantiu à Maria o recorde das Américas. O ouro ficou com a chinesa Yujiao Tan, com 142kg (novo recorde mundial) e a prata com a egípcia Fatma Elyan, com 139kg.
A melhor marca das Américas anterior era da mexicana Amalia Perez Vazques, que suportou 132kg em junho deste ano, em etapa da Copa do Mundo na Geórgia.
Maria é estreante em Jogos Paralímpicos. Ela tem má-formação congênita nas pernas. Conheceu o halterofilismo em 2017 e passou a se dedicar à modalidade em 2019.
Foi medalhista de prata no Mundial de halterofilismo de Dubai em 2023 na disputa por equipes femininas, ao lado da mineira Lara Lima e da carioca Tayana Medeiros.
Confira uma entrevista com a atleta no programa Made in Amazônia, do canal Amazon Sat:
Agricultores, pescadores e a população que depende do transporte fluvial em Tabatinga, no interior do Amazonas, estão enfrentando uma crise. No dia 30 de agosto, o alto Rio Solimões alcançou o nível mais baixo já registrado na história. No dia 31, o nível caiu ainda mais, chegando a -1,4 metro, dez centímetros abaixo da medição do dia anterior, conforme dados da estação de monitoramento da Agência Nacional de Águas.
A régua de medição é monitorada diariamente pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) desde o fim da década de 70. O número está atualmente negativo, ou seja, abaixo da régua de medição. Os dados apontam que esta é a maior seca, pelo menos, dos últimos 40 anos na região.
Conforme a Defesa Civil, a estiagem antecipada já afeta mais de 300 mil pessoas em todo o Amazonas, que também enfrenta os impactos das queimadas. No último dia 28, o governo estadual ampliou um decreto situação de emergência para todos os 62 municípios do estado (antes, apenas 20 estavam em emergência).
Com a falta de chuvas e o nível cada vez mais baixo de rios, lagos e igarapés, a agricultora Maria Lenise, que vive em Tabatinga, teme pelo futuro de suas plantações. Ela precisa vender o que ainda resta antes que tudo se perca.
“A vida na minha comunidade está difícil. Não chove há três meses e nossas plantações estão morrendo. Esta seca está acabando com a gente”, lamentou.
Foto: Roney Elias/Rede Amazônica AM
De acordo com o SGB, com a previsão de chuvas abaixo do esperado para as próximas duas semanas, o cenário no Alto Solimões pode se agravar ainda mais.
O pescador Benedito Catique, que atua na região há 42 anos, afirma nunca ter visto uma seca tão severa como a deste ano.
“Nunca vi uma seca assim no nosso Amazonas. Está realmente seco. O rio está quase seco, os lagos estão secando, e temos que caminhar mais de 40 minutos para conseguir pescar”, relatou.
O vice-presidente da associação de taxistas fluviais de Tabatinga, Aladino Ceita, anunciou um aumento no preço da passagem fluvial. Antes da seca, a travessia custava R$ 40, mas agora subiu para R$ 70, devido ao aumento da distância percorrida pelos barqueiros.
“Precisamos aumentar o preço porque estamos contornando uma ilha. Antes, gastávamos três latas de gasolina; agora, são sete latas e meia. Quando o nível do rio subir, voltaremos ao preço anterior”, explicou.
Foto: Roney Elias/Rede Amazônica
Para atender as famílias afetadas, o governo estadual informou que instalou 25 purificadores de água, dos quais 10 foram destinados à calha do Alto Solimões, e também enviou 100 caixas d’água para melhorar o acesso à água potável na região.
*Por Daniel Landazuri e Patrick Marques, da Rede Amazônica AM
Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Não sei como o tema espiritualidade soa para você. Desde criança, sempre me interessou, principalmente a espiritualidade prática, aquela que a gente traz para o dia a dia, sem rótulos e sem muita forma. Chamo isso de Espiritualidade Aplicada, como mencionei no meu primeiro livro O Espírito do Dinheiro.
Já mais velho, em minha dissertação de mestrado, abordei os temas que emergem da chamada Sociedade de Risco, de Ulrich Beck, uma das teorias filosóficas que se referem aos dias atuais. Um dos temas que emergem é a Espiritualidade. Meu primeiro orientador da dissertação foi inflexível: “a espiritualidade não entra na academia”. Troquei de orientador e fui então alertado por outro, de como poderia abordar o assunto e os cuidados que precisaria tomar.
Um dos desafios era lidar com a compreensão do termo. O significado de espiritualidade varia de cada um. Para este estudo, saía perguntando a várias pessoas: “O que é espiritualidade para você?”. As respostas eram das mais variadas, do tipo: religiosidade, mediunidade, incorporação, sentido de existência, pertencimento ao universo, energia, contemplação, natureza, rede da vida, fazer o bem e algumas outras.
A ideia de espiritualidade está frequentemente associada ainda a palavras como: intuição, sensibilidade, percepção, criatividade, entusiasmo, carisma, justiça maior, valores éticos, estado de paz, gratidão e altruísmo.
Ou seja, entrar no universo da espiritualidade é entrar em um mundo em que as palavras podem assumir vários significados. Por definição, espiritualidade é imaterial e, talvez, não seja possível defini-la em termos tão concretos, sem diminuir a sua dimensão. Falar em espiritualidade, por exemplo, não é falar de religião, embora praticamente todas elas tenham como base a existência de um Mundo Invisível, de Deus, de Deuses ou de uma Força Superior, cujas leis comandam o universo.
Para a ciência também existem leis imutáveis, sendo que algumas delas são cabíveis de comprovação e controle, como é o caso das leis da física. Pelas definições de suas próprias regras, porém, há aquelas que não passam pelo crivo do atual método científico, o que não significa que não existam e que não sejam ainda mais determinantes do que as leis conhecidas. Algumas delas não são ainda alcançáveis pela nossa matemática ou pela física, mas já há um grande avanço no conhecimento de um mundo que para nós é invisível, o mundo quântico.
Mas como podemos fazer uso de tudo isso em nossa vida prática? Existe relação entre espiritualidade e felicidade? Os estudos e a vida nos mostram que existem práticas que nos aproximam e outras nos distanciam da felicidade. Isto é sustentado pela filosofia, pela neurociência e pela psicologia positiva. Todas estas práticas nos tornar melhores como pessoas e fazermos os outros felizes também, ou na ordem inversa, colhermos felicidade, na medida em que plantemos felicidade. Todas elas visam promover a evolução de nossa individualidade, nossa essência. Podemos falar em nossa espiritualidade?
Há ainda os diferentes tipos de transmissão de energia como o Johrei, o Reiki, o Passe Magnético e outros, cada um com os seus fundamentos, mas em geral, associados a processos de purificação e de elevação espiritual, visando a cura ou a felicidade. Isto poderá ser assunto de um outro artigo.
E para você, o que é espiritualidade? Na sua compreensão, há uma relação entre espiritualidade e felicidade?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
Estudo realizado por pesquisadores do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) – Campus Maracanã, traçou o perfil de piscicultores e das atividades desenvolvidas por eles, no município de Monção, localizado a 246 km de São Luís. Foi possível identificar que a criação de peixes rende uma média de dois salários mínimos e meio aos produtores locais, representando um ganho mensal de mais de R$ 3.600,00.
“Atualmente, a piscicultura desempenha um papel essencial na economia da Baixada Maranhense, no entanto, ainda existem muitos entraves de conhecimento em vários municípios dessa microrregião, principalmente naqueles onde a piscicultura não está plenamente desenvolvida. Por esses motivos, essa caracterização é uma ferramenta tão importante nesse processo”, destacou a estudante de Agronomia, Cássia Kimberly, que compõe o grupo de pesquisa e é bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema).
O trabalho foi orientado pela professora Izabel Funo, coordenadora do Núcleo de Maricultura do IFMA – Campus Maracanã (Numar). A coleta de dados ocorreu em 25 pisciculturas, por meio de um questionário semi-estruturado.
“Chamou atenção o fato de 36% faturarem mais de quatro salários mínimos, quase o dobro da média de ganhos no município, o que reforça o potencial da piscicultura na geração de renda aos pequenos produtores”, avaliou o zootecnista Lucas Felipe da Cruz Pereira, que fez parte da equipe e apresentou parte desses resultados em seu trabalho de conclusão de curso pelo Pronera.
Também foi observado que a maioria dos piscicultores é de homens, com idade média de 48 anos, e autônomos. 80% possuem o Ensino Médio completo, sendo a piscicultura a principal fonte de renda para todos, embora 60% se dediquem a outras atividades. Os entrevistados revelaram, ainda, que seus empreendimentos começaram após receberem algum tipo de formação técnica. 25% deles possuem o Curso Técnico em Piscicultura e outros 75% já fizeram algum curso de curta duração.
Pequena escala
A piscicultura em Monção é de pequena escala, com policultivo (produção simultânea de duas ou mais espécies aquáticas no mesmo viveiro), e destinada exclusivamente ao comércio local. O ciclo dura cerca de 6 meses e a produção média é de aproximadamente 5 toneladas, nesse período. A comercialização é majoritariamente feita por meio de intermediários. O manejo alimentar dos peixes é eficiente e feito com o uso de ração extrusada (comercial) e probióticos.
“A cooperação entre piscicultores, órgãos governamentais, instituições de pesquisa e organizações civis é crucial para o desenvolvimento sustentável e também para a inclusão socioeconômica. Estudos como o nosso fornecem subsídios importantes para a formulação de políticas públicas que sejam estratégicas e que possam ajudar a expandir a piscicultura tanto em Monção como no Brasil”, defendeu a estudante Cássia.
Mas, além dos ganhos, há desafios enfrentados pelos piscicultores locais, principalmente pela falta de infraestrutura nas estradas e também pela informalidade do trabalho. Há dificuldade no acesso à linha de crédito, principalmente pela burocracia e falta de documentação, reduzindo a capacidade de mais investimentos na produção.
“O desenvolvimento de um projeto como esse melhora o desempenho do aluno durante o curso, além de prepará-lo para o mundo do trabalho, por meio do desenvolvimento pessoal e profissional. Nossos alunos aprendem a pesquisar e a produzir artigos, fazer testes, montar e aplicar questionários, realizar entrevistas, tabular e analisar os resultados. Eu costumo dizer que, durante esses processos, eu vejo meus orientandos aprendendo a criar senso crítico para produzir pesquisa”, destacou a pesquisadora Izabel Funo, que coordenou o estudo.
Às margens de um dos maiores rios do Brasil — o Madeira — famílias ribeirinhas vivem com menos de 50 litros de água por dia em razão da seca histórica e a estiagem extrema que atinge Rondônia. A quantidade é menos da metade dos 110 litros por dia considerados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como necessários para suprir as necessidades básicas de uma pessoa.
“Hoje mesmo foi um dia que ninguém pegou água aqui. A gente tá com a água que veio ontem ainda. Ontem veio um pouco de água e a gente guardou, porque tem dias que não vem”, disse o ribeirinho Raimundo Souza, morador do distrito de São Carlos.
O dia era 31 de agosto, quando a média observada no Madeira foi de 1,26 metro e deveria estar em 4,28 metros, ou seja: o rio marcou mais de dois metros abaixo do que era esperado.
O nível do Madeira é monitorado desde 1967. Nesses quase 60 anos, nunca houve uma seca tão severa, sobretudo nos meses de julho e agosto. Historicamente, o nível do rio deveria chegar a níveis baixos somente nos meses de setembro e outubro.
A falta d’água afeta diretamente a população. Em São Carlos, para atender ao menos as necessidades básicas, os moradores da comunidade precisam adotar medidas extremas, como fazer buracos no chão para extrair água.
“Às vezes a gente precisa abrir um buraco para apanhar um pouquinho de água pra poder lavar uma louça, tomar um banho. E é contado, a situação pra nós tá difícil”, revela Raimundo.
Na comunidade Maravilha 2, zona rural de Porto Velho, famílias estão racionando água. Nesse período de seca extrema, o “cacimbão” (o poço que abastece as casas), está quase seco. Antes, ele marcava um nível constante de aproximadamente meio metro, hoje os moradores contam com apenas 10 centímetros ou menos.
“Tem 40 anos que a gente mora aqui, nunca tinha secado desse jeito, esse ano é que secou assim. A gente pega um pouquinho, depois pega outro, porque se pegar de uma vez vai secando”, revelou Antônio Nogueira, morador da comunidade.
Outra dificuldade apresentada pela comunidade do Maravilha 2, é a baixa qualidade da água. Ao armazenar as garrafas, os moradores precisam coar a água com uma toalha.
“Eu tenho medo de ficar bebendo essa água. Eu peguei uma infecção de urina que até hoje eu não fiquei boa”, disse Liete Torres, moradora da comunidade.
Para auxiliar no tratamento da água consumida por ribeirinhos e moradores da zona rural, já que eles não têm acesso à água encanada, a Defesa Civil Municipal de Porto Velho distribui kits de hipoclorito de sódio, uma substância que “limpa” a água que agora está sendo consumida pela população.
Ribeirinhos estocam água em garrafas pet durante seca. Foto: Gladson Souza/Rede Amazônica RO
Um Igarapé localizado na comunidade ribeirinha Maravilha secou, causando a morte de dezenas de peixes e dificultando o acesso à água para os moradores da região.
Atualmente, existem 52 comunidades ribeirinhas em Porto Velho, às margens do rio Madeira. São quase 1,5 mil quilômetros de extensão em água doce. Ainda assim, os ribeirinhos não possuem acesso à água tratada e encanada.
Segundo a Defesa Civil, os ribeirinhos são os mais afetados pela seca em Porto Velho. As comunidades são divididas em três regiões: Alto, Médio e Baixo Madeira.
Menores níveis da história
Segundo dados do Sistema Integrado de Monitoramento e Alerta Hidrometeorológica do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), em agosto o Rio Madeira bateu uma sequências de mínimas históricas, mais especificamente desde o dia 24 até o dia 31.
A situação foi semelhante no mês anterior: recordes de seca para o período, com níveis mínimos históricos. No último dia 31 de julho a água baixou a 2,45 metros, o nível mais baixo já registrado no mês desde que o monitoramento passou a ser feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB)
Seca do rio Madeira em 2024. Foto: Reprodução/Rede Amazônica RO
Na maior parte do ano o rio se manteve abaixo da zona de normalidade e por várias vezes ultrapassou as mínimas já observadas historicamente.
O Madeira abriga duas das maiores usinas hidrelétricas do Brasil: Jirau e Santo Antônio, que representam cerca de 7% da capacidade de geração do sistema elétrico brasileiro. As duas fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e geram energia para todo país.
A ANA já admitiu a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio por causa da seca. O risco se deve ao funcionamento da usina, em formato de “fio d’água”, que não armazena muita água em seu reservatório e depende do fluxo do rio para manter as turbinas em funcionamento.
*Por Amanda Oliveira, Marcelo Moreira e Jaíne Quele Cruz, da Rede Amazônica RO
Em uma decisão histórica, a Câmara de Vereadores de Santarém aprovou o Projeto de Lei Ordinária nº 12 de 2024, que declarou oficialmente a Feira do Pirarucu de Manejo como patrimônio histórico, cultural e imaterial do município. A feira, realizada anualmente na praça Barão de Santarém, é agora reconhecida por sua importância cultural e social para as comunidades manejadoras e santarenos.
A autoria do projeto é do vereador Sérgio Pereira, que destacou a relevância da feira para a identidade e tradição da região. Com essa nova classificação, a feira do pirarucu de manejo ganhou um novo status que promete fortalecer e preservar essa prática sustentável e ecologicamente responsável.
Poliane Batista, bióloga da Sapopema, ressaltou a importância desse reconhecimento legal:
“Esse projeto de lei é importante no sentido de dar reconhecimento para esse evento como sendo relevante e importante para o município e isso também coloca a feira no calendário oficial de eventos do município”.
Foto: Reprodução/Sapopema
Batista também ressaltou que a medida pode “contribuir para potencializar os resultados das próximas edições dando mais visibilidade, tendo mais apoio do próprio município e também visibilizando essa atividade que ela é considerada especial principalmente por esse componente do manejo do pirarucu que ainda são experiências muito pontuais aqui no município”, disse.
A feira do pirarucu de manejo é um evento que celebra as práticas sustentáveis de pesca que são essenciais para a conservação da biodiversidade na região. A iniciativa começou em 2020, liderada pela Sapopema e comunidades envolvidas (à época Costa do Tapará, Tapará Grande, Santa Maria, Pixuna do Tapará e Tapará Miri) com a parceria de diversas organizações, dentre elas o Sebrae, Colônia de Pescadores Z-20, Mopebam, Semap, Ufopa, Sedap e TNC.
Desde 2020, quatro edições foram realizadas: duas em 2020, uma em 2022 e uma em 2023. Com a participação efetiva dos consumidores, as edições foram ganhando maior estruturação e adesão de público. Até agora foram comercializadas sete toneladas, resultando em lucro para os manejadores.