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Prêmio AgroInventores de Roraima impulsiona inovação durante Expoferr Show 2025

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Prêmio AgroInventores de Roraima tem como objetivo principal dar visibilidade a quem desenvolve soluções criativas voltadas ao setor agropecuário. Foto: Divulgação/Seadi Roraima

O estado de Roraima marca a estreia da iniciativa Prêmio AgroInventores em 2025. A 1ª edição da premiação pretende reconhecer ideias, soluções e invenções voltadas ao fortalecimento do agronegócio local e integra oficialmente a programação da 44ª Expoferr Show, realizada entre os dias 4 a 8 de novembro de 2025, no Parque de Exposições Dandãezinho, em Boa Vista.

As inscrições gratuitas do prêmio AgroInventores foram abertas para produtores rurais, estudantes, professores, pesquisadores, empreendedores ou inventores em geral que tenham desenvolvido soluções práticas para o campo, conforme os critérios definidos pelo regulamento da iniciativa.

O prêmio Prêmio AgroInventores de Roraima é organizado pela Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) de Roraima, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa de Roraima (Faperr) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Roraima (Faerr).

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Expoferr. Foto: Divulgação

A ideia central da iniciativa é estimular o desenvolvimento de tecnologias, protótipos ou processos inovadores que possam ser aplicados no meio rural, contribuindo para a produtividade, sustentabilidade e logística do agronegócio em Roraima.

De acordo com o regulamento, as invenções devem estar em fase de desenvolvimento ou teste, indicando que existem protótipos funcionais, porém ainda não disponíveis comercialmente.

Os projetos inscritos são apresentados no espaço denominado Hub Seadi de Inovação. A avaliação é realizada por uma banca técnica e votação pelo público presente. A pontuação máxima é de 100 pontos.

A premiação para os três melhores projetos é de R$ 5.000,00 para o 1º lugar, R$ 3.000,00 para o 2º lugar e R$ 2.000,00 para o 3º lugar.

Conexão com a Expoferr e estrutura da feira

O Hub Seadi de Inovação se destaca como um espaço dentro da Expoferr voltado para dar visibilidade às tecnologias aplicadas ao setor agropecuário.

Expoferr. Foto: Divulgação

Dessa forma, a iniciativa está estrategicamente vinculada à Expoferr, aproveitando a visibilidade da feira, o público especializado e as oportunidades de negócios para fortalecer a cadeia do agronegócio roraimense.

A programação da feira permite a interação entre inventores, produtores, empreendedores e instituições de pesquisa, compondo um ambiente favorável ao surgimento de soluções aplicáveis e novos negócios. Por meio desse prêmio, o agronegócio de Roraima ganha uma vitrine de inovação que, nas próximas edições, tende a se consolidar como um dos principais impulsionadores do desenvolvimento rural no estado.

O impacto esperado inclui o fortalecimento da cultura de inovação no agronegócio de Roraima, aumento da produtividade, mitigação de desafios como irrigação, manejo de solo, armazenamento e logística, além da potencial geração de novos negócios a partir das invenções apresentadas.

Premiados

Os premiados desta primeira edição foram:

1º lugar: Francisco Edivan – criador de uma máquina para debulhar feijão verde, equipamento que promete agilizar o processo de colheita, ainda feito de forma manual.

2º lugar: startup Agramas de Desenvolvimento e Tecnologia – representada pelo CEO Carlos Coutinho, que desenvolveu um equipamento para colher açaí diretamente do pé, eliminando a necessidade do produtor subir nas árvores.

3º lugar: estudante de Agronomia Ana Ferreira – autora do projeto Biomissomos, que propõe o uso de ovos de crisopídeos no controle biológico de pragas no feijão-caupi.

Expofeira na Rede

O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.

#Galeria Expoferr Show 2025: confira destaques do quarto dia da feira em Roraima

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Foto: Willame Sousa

Animais tem encantado as crianças que visitam a 44ª Expoferr Show este ano em Boa Vista (RR). Muito além dos leilões e competições esportivas, os bichos tem chamado atenção dos pequenos, bem como sua relação com o cotidiano do roraimense.

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Jovens também tem participado de projetos como o ‘Juventude na Expoferr’, da Fundação Rede Amazônica (FRAM), que tem como objetivo aproximar e estimular o interesse dos estudantes para as diversas oportunidades que a Expoferr proporciona na educação, cultura, tecnologia e negócios.

Leia também: FRAM promove ‘Juventude na Expoferr’: ação aproxima estudantes do empreendedorismo e da inovação

Animais expostos na Expoferr tem conquistado o público. Foto: Willame Sousa
Feira está em sua 44ª edição. Foto: Willame Sousa
Centenas de famílias tem aproveitado para conhecer um pouco de cada setor da feira. Foto: Willame Sousa
Estudantes participam do projeto Juventude na Feira, da FRAM. Foto: Willame Sousa
Comércio local também tem ganhado destaque na feira, com diversos artesãos entre os cerca de 300 expositores. Foto: Willame Sousa
Atrações como touro mecânico tem feito a alegria da criançada. Foto: Willame Sousa
Rainha da Expoferr e princesas passeiam pela feira. Foto: Willame Sousa
Distribuição de damurida era esperada para a penúltima noite. Foto: Divulgação/Secom RR
Penúltimo dia contou como Manu Bahtidão como atração nacional. Foto: Fernando Oliveira/Secom RR
Outra atração nacional foi João Gomes, que levou centenas de visitantes para a área dedicada a música. Foto: Fernando Oliveira/Secom RR

Expofeira na Rede

O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.

#Galeria Expoferr Show 2025: confira destaques do terceiro dia da feira em Roraima

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Foto: Neto Figueredo/Secom RR

A Expoferr Show 2025 movimenta Roraima com atrações que unem conhecimento, oportunidades e experiências únicas para o público visitante. O Circuito Rota do Agro é um dos atrativos que contam com um percurso interativo revelando a produção rural local.

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E muito além de Roraima, a feira também revela, no Pavilhão Internacional, produtos e tecnologias de outros países amazônicos vizinhos. Além disso, as competições da Arena Rodeio começaram com muita emoção.

Expoferr Show 2025 terceiro dia
Área gastronômica da Expoferr tem sido bastante movimentada, com o público buscando aproveitar a culinária local. Foto: Willame Sousa
No Circuito Rota do Agro o percurso interativo mostra detalhes da produção rural de perto. Foto: Willame Sousa
A Fazendinha da Expoferr também encanta crianças e adultos como uma mini fazendo em meio ao evento. Foto: Willame Sousa
Diversos locais foram montados pensando em proporcionar ao público a chance de produzir registros diferentes pela feira. Foto: Willame Sousa
Jogos típicos de feiras também foram montados para a diversão dos visitantes. Foto: Willame Sousa
Dezenas de shows locais também fazem parte da programação. Foto: Willame Sousa
O Pavilhão Internacional conta com a presença da delegação da Guiana, com o objetivo de ampliar as conexões comerciais e culturais. Foto: Fernando Oliveira/Secom RR
E a emoção tomou conta da Arena do Rodeio com o início das competições da Expoferr Show 2025. Foto: William Roth/Secom RR
Pelo menos 30 peões de Roraima e de outros estados estão inscritos na competição, que distribuirá R$ 33 mil em premiações. Foto: William Roth/Secom RR
A banda de forró Anjo Azul foi a atração nacional da terceira noite. Foto: Neto Figueredo/Secom RR

Expofeira na Rede

O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.

Imagens inéditas mostram áreas destruídas pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami quase 3 anos após emergência

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Crateras cheias de água abertas em área de garimpo na Terra Yanomami. Foto: Divulgação/HAY

Imagens inéditas registradas por indígenas mostram áreas destruídas pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e aviões sobrevoando a região. Elas denunciam que a atividade garimpeira continua, quase três anos após o decreto de emergência no território.

Um vídeo gravado em outubro deste ano mostra a destruição causada por garimpeiros na região de Marauiá, próxima a fronteira entre Brasil e Venezuela. No local, há crateras cheias de água abertas no solo.

“Essa área é destruída pelo garimpo, tá vendo aí olha como está […] tudo é destruído”, afirma um dos indígenas que filma o local.

A Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil com quase 10 milhões de hectares entre os estados do Amazonas e Roraima, e parte da Venezuela. Garimpeiros atuam na região desde, ao menos, a década de 1970.

Leia também: Quem são os Yanomami? Conheça um dos maiores povos indígenas da Amazônia Internacional

Registros também mostram aviões e barcos usados por garimpeiros. Dados do Sistema de Alertas ‘Wãnori’, ferramenta de monitoramento operada por indígenas, apontam que 41 alertas foram registrados no primeiro semestre de 2025, a maioria relacionadas a questões territoriais, como invasões e ataques.

Segundo o líder indígena Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), a mais representativa do povo, os garimpeiros estão presentes, principalmente, onde a fiscalização é menor.

“Os garimpeiros sabem onde tem bases fortes e aonde não têm bases. Então isso, aonde tem os buracos, [é porque] os garimpeiros estão entrando na Terra Yanomami”, diz Dário.

Regiões com alertas de garimpeiros

Entre 6 de agosto e 29 de outubro, ao menos oito alertas de aeronaves suspeitas. Aviões e helicópteros, foram registrados sobre as regiões de Apiaú e Xitei, em Roraima, e Marauiá, no Amazonas.

No dia 8 de setembro, um avião pousou em uma pista conhecida como Pupunha, na região de Xitei, em Alto Alegre (RR). Garimpeiros chegaram ao local com munição, que teria como destino o garimpo. No dia 13, outro avião vindo da Venezuela pousou na mesma área com mais pessoas.

Outro registro foi feito no dia 12 de outubro, quando dois barcos abastecidos com insumos para o garimpo foram vistos no rio Uraricoera, na região de Palimiú. As lideranças informaram que há uma tentativa de retorno dos garimpeiros à região, conforme o monitoramento.

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Imagens inéditas mostram aviões e áreas destruídas pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami quase 3 anos após emergência
Área degradada pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Foto: Divulgação/HAY

O rio Uraricoera, em Palimiú, é usado como rota pelos garimpeiros para chegar às áreas de garimpo através de barcos. Em 2021, comunidades da região foram atacadas a tiros. Confrontos entre invasores e agentes federais também foram registrados na região.

A Terra Yanomami está em emergência de saúde pública desde janeiro de 2023. Desde então, o governo tem realizado ações para melhorar o atendimento aos indígenas e combater o garimpo ilegal.

Em outubro, lideranças elaboraram a Carta de Surucucu durante o VI Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana. O documento reconhece os esforços do governo federal contra o garimpo e na recuperação da saúde, mas cobra medidas urgentes, como:

  • A implementação Bases de Proteção Etnoambiental e apoio ao Plano de Vigilância Indígena da TIY;
  • Manutenção da Casa de Governo e das operações de desintrusão até que todos os garimpeiros sejam retirados;
  • Criação de Forças-Tarefa Judiciais para garantir que o Poder Judiciário conclua tanto inquéritos de investigação quanto processos abertos de garimpeiros e financiadores do garimpo;
  • Aprovação do Projeto de Lei 3.776/2024, que prevê aumento de penas para o crime de garimpo ilegal.

O documento também cobra que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) transforme os recursos aplicados no território em resultados concretos. As lideranças pedem ainda uma educação diferenciada, com Territórios Etnoeducacionais que garantam o acesso a escolas bilíngues e interculturais.

“A gente espera a pós-desintrusão. Isso significa que não há mais retorno dos garimpeiros, é isso que o governo federal tem que decretar. E quando você fala desintrusão, você pede licença, isso significa que vai voltar. Então, como nós, Yanomami, precisamos, é fato: os invasores não podem voltar mais na Terra Yanomami”, disse Dário Kopenawa.

“É uma pós-desintrusão, é isso que o governo federal tem que fazer, outro plano rígido, bem forte, para os garimpeiros não entrarem mais na Terra Yanomami”, ressaltou Kopenawa.

O que dizem os órgãos

A Casa de Governo informou que as ações de combate ao garimpo ilegal coordenadas pelo órgão no território são permanentes e “não há qualquer previsão de que sejam interrompidas”. Segundo o órgão, o plano integrado envolve atividades de comando e controle, monitoramento aéreo e atuação conjunta com órgãos federais de segurança, defesa e proteção territorial.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que os números das ações de assistência à saúde indígena “são robustos e demonstram uma transformação estrutural”. Segundo a pasta, deste a decretação da emergência, foram investidos mais de R$ 596 milhões na recuperação e melhoria da infraestrutura de saúde.

O número de profissionais atuando no território aumentou de 600 para 1.855, elevando em 72,6% os atendimentos médicos. O ministério destacou ainda a reabertura de polos de saúde, o aumento de testes de malária e a inauguração do primeiro Centro de Referência em Saúde Indígena do país, em Surucucu.

Comunidade indígena na Terra Yanomami. Foto: Bruno Mancinelle/Arquivo/Casa de Governo

O Senado informou que o projeto de lei que aumenta as penas para crimes relacionados ao garimpo ilegal recebeu parecer favorável do relator, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), na forma de substitutivo, na Comissão de Meio Ambiente (CMA). O texto agora segue para decisão final na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), onde aguarda a designação de relator.

Em nota, o Ministério da Educação informou que lançou, em julho deste ano, a Política Nacional de Educação Escolar Indígena nos Territórios Etnoeducacionais (PNEEI-TEE), que busca garantir uma educação indígena de qualidade, multilíngue e intercultural.

A iniciativa estabelece 52 Territórios Etnoeducacionais em todo o país e será executada de forma descentralizada, com comissões gestoras formadas por representantes das próprias comunidades indígenas.

Ressaltou ainda que estados e municípios têm autonomia sobre a oferta do ensino e que mantém diálogo com os povos Yanomami e Ye’kwana, e com demais povos indígenas, “em prol da construção coletiva de uma educação que respeite e valorize suas identidades, línguas e saberes”.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério da Justiça também foram procurados sobre os pedidos e o Grupo Rede Amazônica aguarda o retorno.

Relembre: Os Yanomamis e a Guerra contra os garimpeiros: Saiba tudo o que está acontecendo na maior Terra Indígena do Brasil

Terra Indígena Yanomami

Com quase 10 milhões de hectares, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial. Localizado no Amazonas e em Roraima, o território abriga cerca de 32 mil indígenas, que vivem em 392 comunidades.

O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não indígena e se divide em seis subgrupos de línguas da mesma família, designados como: 

  • Yanomam,
  • Yanomamɨ,
  • Sanöma,
  • Ninam,
  • Ỹaroamë
  • e Yãnoma.

A região está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal, a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), começou a criar ações para atender os indígenas.

Por Marcelo Marques, Lucas Wilame e Yara Ramalho, da Rede Amazônica RR

Massacre dos Akroá-Gamella: o maior ataque contra indígenas maranhenses

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Indígena Akroá-Gamella segurando projétil. Foto: Ana Mendes

No dia 30 de abril de 2017, o povoado de Bahias, localizado no município de Viana, interior do Maranhão, foi cenário de um dos ataques mais violentos daqueles que buscam o lucro contra aqueles que lutam por identidade: “O Massacre dos Akroá-Gamella”.

O conflito entre indígenas dessa etnia e fazendeiros daquela região resultou em mais de 20 feridos, alguns em estado grave, e deixou uma ferida histórica nesse povo que segue aberta até hoje.

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Quem são os Akroá-Gamella?

O povo Akroá-Gamella é um grupo indígena que habita, historicamente, a região da baixada maranhense que envolve os municípios de Viana, Matinha e Penalva. Documentos datados do século XVIII, pertencentes à Coroa Portuguesa, apontam que os indígenas Gamella são donos legítimos de uma área correspondente a 14 mil hectares.

Atualmente, eles ocupam apenas 552 hectares dessa área e essa perda territorial começou na década de 1970, quando fazendeiros e grupos empresariais locais iniciaram um forte processo de invasão, grilagem e degradação daquele povo. Uma dessas ações foi a fraude na escritura do registro de posse dessas terras em favor de empresários locais no cartório da cidade.

Mapa identifica a “Terra dos Índios”, do povo Akroá-Gamella, de 1765, na região de Viana, no Maranhão. Foto: Domínio Público do Acervo da Biblioteca Nacional

Outra medida contra o povo Akroá-Gamella foi a tentativa de extinguir o grupo da sociedade. No final do século XX, eles chegaram a ser classificados como extintos, sob argumento de que já teriam se misturado com brancos e negros, passando a ser chamados de “descendentes de índios”. Tal iniciativa tinha o objetivo de tornar o povo invisível, consequentemente, o grupo não teria direito a terras.

Leia também: Ritual de Bilibeu: indígenas maranhenses celebram a luta pela terra

Retomada

Buscando o reconhecimento étnico e a remarcação do seu território tradicional, o povo Gamella tomou, em 2013, duas decisões importantes: a luta pela existência do “Povo Akroá Gamella” e o início do processo de demarcação de sua área junto à então Fundação Nacional do Índio (Funai).

O primeiro objetivo foi conquistado logo no ano seguinte, quando 1.200 indígenas da etnia se autodeclararam como Povo Akroá-Gamella. Hoje, estão distribuídos em seis aldeias da zona rural de Viana: Taquaritiua, Centro do Antero, Nova Vila, Tabocal, Ribeiro e Cajueiro-Piraí.

Já no final de 2015, o povo Gamela iniciou uma série de retomadas pelo município, voltando a ocupar áreas tradicionais e propriedades instaladas dentro do seu território original. Em dois anos, foram oito ocupações recuperadas, sendo quatro fazendas, cujos donos, segundo os indígenas, seriam empresários ligados à autoridades políticas do Maranhão.

Quando se preparavam para a nona retomada, o grupo foi surpreendido com um dos ataques mais violentos da sua história.

Leia também: Teia de Povos e Comunidades Tradicionais: carta lembra massacre dos Akroá Gamella e destaca retomada do território

O Massacre

Era por volta das 16h daquele domingo – 30 de abril de 2017. Um grupo de indígenas da etnia Gamella acabara de retomar uma propriedade rural instalada dentro de Taquaritiua. A alguns metros dali, acontecia paralelamente uma manifestação de donos de terras nas regiões de Viana, Penalva e Matinha. Eles protestavam sobre as ações de retomadas do povo indígena, num evento intitulado “Marcha Pela Paz”.

Relatos da época contam que o caseiro da propriedade retomada pelos Gamella, ao se deparar com a ocupação, saiu rapidamente do local e foi até aquela reunião, que contava com a presença de um deputado federal. Com ânimos exaltados e falas inflamadas, segundo testemunhas, uma multidão marchou em direção ao grupo.

Portando armas de fogo, pedaços de pau e facões, um grupo de aproximadamente 200 pessoas atacaram cerca de 30 indígenas Akroá-Gamella, ato que resultou em 22 feridos. Dois indígenas tiveram as mãos quase decepadas e outros tiveram as peles rasgadas por tiros. O episódio violento repercutiu na imprensa mundial, marcando aquele 30 de abril de 2017 como o dia do “Massacre dos Akroá-Gamella”.

Indígenas do povo Akroá-Gamella. Foto: Ana Mendes

Desdobramentos

Após a tragédia, o povo Akroá-Gamella ocupou o prédio da Funai por quase um mês para cobrar o início do processo de demarcação de sua área, algo solicitado desde 2014. A pressão deu certo e, em 2017, a autarquia instaurou um grupo de trabalho para dar início aos estudos, porém, o procedimento segue tramitando a passos lentos.

Indígenas do povo Akroá-Gamella em ocupação à sede da Funai, em São Luís (MA). Foto: Andressa Zumpano

Em nota, a Funai afirmou que os estudos ainda estão na primeira fase do procedimento demarcatório e que ainda deverão passar pelas etapas de delimitação, declaração, homologação e regularização.

“A reivindicação fundiária do povo indígena Akroá-Gamella encontra-se em fase de estudos de identificação e delimitação. Houve progressos recentes nos estudos, com a apresentação de uma versão preliminar do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID). Atualmente, está em planejamento a realização do levantamento fundiário das ocupações não indígenas incidentes sobre a área de estudo”, cita a autarquia.

Já sobre a barbárie, as responsabilizações acerca dos ataques ainda seguem indefinidas. Até 2019, dois anos após o conflito, o inquérito policial aberto para investigar a autoria e circunstâncias ainda não havia sido finalizado, de acordo com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal no Maranhão.

O Portal Amazônia entrou em contato com órgãos para saber atualizações sobre o caso, mas até o momento desta publicação não obteve retorno e mantém o espaço aberto para esclarecimentos.

*Por Dayson Valente, para o Portal Amazônia

Área de Livre Comércio impulsiona economia de duas cidades no Amapá

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Vista aérea da Companhia Docas de Santana, que pertencia a ALC de Macapá-Santana. Foto: Reprodução/Arquivo/CDSA

A região de Macapá-Santana, no Amapá, desempenha papel estratégico no cenário econômico do estado. Instituída como Área de Livre Comércio (ALC), a localidade foi criada com o objetivo de fortalecer a integração da Amazônia Oriental ao restante do país, incentivar a permanência da população e atrair investimentos produtivos.

Macapá concentra a maior parte da atividade empresarial cadastrada na ALC, enquanto Santana se destaca por sua posição geográfica, abrigando o principal porto do estado. Juntos, os dois municípios respondem por mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) do Amapá.

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Santana, localizada a cerca de 20 quilômetros da capital, é considerada a segunda maior cidade do estado. Sua economia é fortalecida por setores de comércio, serviços e exportações, com destaque para o Porto de Santana, que possibilita o escoamento de grãos e outros produtos para diferentes mercados.

Apesar do potencial, desafios como infraestrutura deficiente, gargalos logísticos e necessidade de maior divulgação dos incentivos fiscais ainda limitam o pleno aproveitamento das oportunidades na região de Macapá-Santana.

Macapá concentra empresas e comércio ativo

Área de Livre Comércio impulsiona economia de duas cidades no Amapá
Foto: Divulgação/Prefeitura de Macapá

Na parte voltada a Macapá, o levantamento mostra que havia 1.189 empresas cadastradas até 2013. Destas, 87% atuavam no setor de comércio, 10% em serviços e apenas 1,77% na indústria sem projeto aprovado. Esse cenário confirma a predominância das atividades comerciais na capital, sustentadas pela demanda interna e pelo papel de centro administrativo do estado.

Leia também: 13 pontos turísticos gratuitos para curtir em Macapá

As compras no mercado nacional por empresas da capital reforçam essa concentração da área de Macapá-Santana. Em 2012 e 2013, mais de 95% do volume total foi direcionado ao comércio. Já a indústria sem projeto aprovado representou menos de 1% do total, revelando a pouca participação do setor industrial na economia de Macapá.

Em relação às exportações da região, Macapá aparece com menor representatividade. Em 2012, o município respondeu por 3,9% do total exportado pelo estado. Em 2013, essa participação subiu para 6,75%, ainda com baixo impacto diante do volume movimentado por Santana.

Santana: logística e exportações em destaque

Santana possui cerca de 109 mil habitantes e apresentou um PIB de R$ 1,2 bilhão em 2010, equivalente a 15% do PIB estadual. O município abriga o Distrito Industrial do Amapá e o Porto Público da Companhia Docas de Santana, considerado estratégico para exportações.

A vocação logística da cidade se confirma nos números das exportações. Nos três primeiros trimestres de 2013, Santana exportou mais de US$ 58 milhões, quase o dobro do registrado no ano anterior. Entre os principais produtos enviados ao exterior estão madeira em partículas, óleo de soja, bagaços da extração de soja e derivados do açaí.

Outro destaque é a atuação de empresas voltadas exclusivamente à exportação, como a Sambazon, que trabalha com produtos oriundos do açaí. Além disso, companhias de fora do estado, especialmente de Mato Grosso, já investem na instalação de silos no porto, visando ao escoamento de grãos.

Desafios estruturais e perspectivas do comércio

Apesar dos avanços, a ALC de Macapá-Santana enfrenta entraves. Entre os principais estão a precariedade da infraestrutura portuária, deficiências no abastecimento de energia elétrica e limitações de internet. Também são apontadas questões fundiárias e a ausência de políticas consistentes de divulgação dos incentivos fiscais disponíveis.

No caso de Santana, há ainda o abandono de áreas destinadas ao Distrito Industrial e a necessidade de regulamentação da chamada Zona Franca Verde, que prevê incentivos para produtos com matérias-primas regionais.

As propostas em discussão incluem a criação de fóruns empresariais, ampliação da parceria entre Suframa, governos locais e entidades como o Sebrae, além da melhoria logística no porto e no distrito industrial. Tais medidas visam transformar o potencial estratégico da região em desenvolvimento efetivo e comércio seguro.

Papel estratégico para o Amapá

O conjunto Macapá-Santana permanece como eixo central da economia amapaense. Com participação majoritária no PIB estadual e localização privilegiada às margens do Rio Amazonas, os dois municípios reúnem condições de expandir atividades industriais, comerciais e logísticas.

Se superados os gargalos de infraestrutura, a região poderá consolidar-se como porta de entrada e saída de produtos amazônicos para mercados internacionais, além de fortalecer o comércio local. A continuidade de políticas públicas voltadas à ALC é decisiva para garantir que os benefícios se traduzam em crescimento sustentável e oportunidades para a população.

FRAM promove ‘Juventude na Expoferr’: ação aproxima estudantes do empreendedorismo e da inovação

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Foto: Willame Sousa

A Fundação Rede Amazônica (FRAM), por meio do projeto ‘Expofeira na Rede’, promove a iniciativa ‘Juventude na Expoferr’, durante a Expoferr Show 2025, maior feira agropecuária e de negócios de Roraima.

O projeto tem como principal objetivo aproximar e estimular o interesse dos estudantes da rede pública estadual no universo econômico, social e cultural do Estado, além de proporcionar uma visão empreendedora para as diversas oportunidades apresentadas durante a Expoferr. 

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Realizada em parceria com a Secretaria de Educação e Desporto de Roraima (SEED-RR), a ‘Juventude na Expoferr’ foi realizada durante toda a semana sempre das 13h30 às 17h, reunindo cerca de 240 alunos.

Além disso, a ação conta ainda com o apoio de dois produtores culturais, responsáveis por coordenar as visitas guiadas e promover atividades de integração e aprendizado.

Foto: Willame Sousa

“A proposta é proporcionar uma imersão prática e inspiradora no ambiente da feira, permitindo que os alunos compreendam, de forma vivencial, como funcionam os setores produtivos do estado, como agricultura, pecuária, inovação tecnológica e economia criativa”, explicou o especialista em projetos na FRAM, Denis Carvalho. 

De acordo com Carvalho, os estudantes tiveran a oportunidade de interagir com os empreendedores para que compreender os processos de produção e comercialização e refletir sobre as possibilidades de carreira com o empreendedorismo local.

Programação da Juventude na Expoferr

5 de novembro

Duas turmas do Colégio Estadual Militarizado Professor Camilo Dias, localizado na Rua Tenente Guimarães, 382, bairro Liberdade.

Foto: Willame Sousa

6 de novembro

Duas turmas da Escola Antônio Carlos da Silva Natalino, situada na Rua José Francisco, 1339, bairro Jóquei Clube, Boa Vista.

Foto: Willame Sousa

7 de novembro

Uma turma do Colégio Camilo Dias e uma da Escola Antônio Carlos, encerrando o ciclo de visitas. 

Expofeira na Rede

O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.

Estudo aponta fatores por trás de expansão de febre Oropouche para fora da Amazônia

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Ilustração do Orthobunyavirus oropoucheense, que transmite a febre Oropouche. Imagem: Ademildo Mendes/SVSA

A febre Oropouche alarmou o Brasil em 2024 ao se expandir além de sua abrangência típica, limitada à Amazônia, e alcançar estados das cinco regiões do país: 22 das 27 unidades federativas já registraram pelo menos um caso confirmado em laboratório. O Espírito Santo liderou o ranking, com 6,3 mil testes positivos só no ano passado — número que equivale a 45% dos 13,8 mil casos registrados no Brasil em 2024 e 39% do total de 16,2 mil pessoas infectadas nas Américas como um todo nesse mesmo período.

Leia também: Professor da UFMA explica o que é e os principais cuidados contra a febre do oropouche

Em 2025, o vírus não diminuiu o ritmo. De acordo com o boletim epidemiológico mais recente da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), publicado em 13 de agosto, já houve 12,7 mil casos confirmados desde janeiro. Destes, 11,8 mil ocorreram no Brasil, com 6,3 mil no Espírito Santo, e os demais distribuídos por outros países latino-americanos e caribenhos. Além do próprio Brasil, os países mais afetados são Panamá (501 casos) e Peru (330). Segundo os dados do Ministério da Saúde até 30 de outubro, foram 11.930 casos, cinco óbitos confirmados e dois sob investigação.

No estado de São Paulo, o crescimento foi significativo, passando de 8 casos em 2024 para 161 até setembro deste ano, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.

A expansão da doença, que é causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), para fora da região amazônica intrigou infectologistas e epidemiologistas. Um novo estudo, conduzido por pesquisadores da Unesp, da USP e do Instituto Butantan, identificou os principais fatores que favoreceram essa movimentação, e estão empregando esses dados para prever, na medida do possível, seus próximos passos.

O artigo publicado no periódico PLOS One em julho explica que a infecção pelo vírus tem se mostrado mais comum em lugares que registram temperaturas e índices de precipitação acima da média. Essas condições favorecem a reprodução tanto do vírus quanto de seu vetor Culicoides paraensis, um inseto conhecido popularmente como mosquito-pólvora ou maruim. O aumento das chuvas e do calor se deveu, em parte, ao fenômeno de aquecimento global e ao fenômeno El Niño, que ocorreu entre 2023 e 2024.

Um dos autores do artigo é Tiago Salomão, pós-doutorando no Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Unesp, no câmpus de Rio Claro, que pesquisa a interação entre mudanças climáticas e doenças com potencial epidêmico. Ele diz que as chamadas mudanças no uso da terra constituem outro fator que contribuiu para a explosão de casos a partir de 2024.

Conforme a mata nativa é removida para dar lugar a pastagens, plantações de soja e outras monoculturas, a biodiversidade diminui. Isso representa menos predadores e competidores capazes de interagir com a população de maruins, que se beneficia desse contexto e se expande.

“Em biomas preservados, há mais concorrência com outros insetos e os Culicoides não conseguem se multiplicar no mesmo ritmo”, diz ele.

A nova pesquisa sustenta que alguns cultivos, como banana, dendê e algodão, se mostram especialmente benéficos para a subsistência dos Culicoides, devido ao acúmulo de matéria orgânica em decomposição no solo, que serve de alimento às larvas. Os dados também mostram que regiões denominadas “periurbanas”, de transição entre campo e cidade, são mais afetadas do que ambientes exclusivamente rurais ou urbanos, e que a existência de indicadores socioeconômicos menos favoráveis também se reflete em uma quantidade maior de casos.

Além dessas variáveis ambientais, é provável que uma mudança no genoma tenha aumentado a transmissibilidade do vírus OROV. Experimentos de laboratório com células de mamíferos isoladas mostram que uma cepa recente atinge concentrações até cem vezes mais altas que a versão comum ao se multiplicar em laboratório –- e pode ser que essa variante consiga driblar a memória imunológica de pessoas que já haviam contraído a doença no passado.

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Mapa prevê áreas de risco de incidência da febre Oropouche

Determinar quais características tornam uma região mais ou menos suscetível à oropouche ajuda a prever onde novos surtos ocorrerão em um futuro próximo. Os pesquisadores incluíram no estudo um mapa de zonas suscetíveis [veja abaixo] — que previu corretamente, por exemplo, a chegada recente do OROV às praias paulistas.

“Em 2024, houve sete casos de febre Oropouche no litoral sul de São Paulo, na região do Vale do Ribeira”, conta Salomão. “Este ano, até junho, o número já tinha chegado a 130. E a doença apareceu em Ubatuba, no litoral norte, com 30 casos registrados”, diz. “Essa foi uma contribuição importante do trabalho: por meio de análise preditiva, conseguimos verificar as áreas de maior suscetibilidade”.

Camila Lorenz, pesquisadora no Departamento de Parasitologia do Instituto Butantan e primeira autora do artigo, já havia aplicado a mesma metodologia no passado para entender a distribuição geográfica do vírus do Nilo Ocidental, outra doença tropical negligenciada.

“Nos dois casos, Nilo Ocidental e Oropouche, identificamos os lugares em que a doença foi reportada e inserimos no software”, explica Lorenz. “A seguir, acrescentamos informações sobre o clima, o uso do solo e dados socioambientais. O programa então apontou quais variáveis estavam mais relacionadas com a distribuição dos casos”, diz ela.

Essa análise permite identificar sutilezas como a temperatura ambiente ideal para o vetor e o vírus. “Quando está muito frio, os insetos ficam inativos, letárgicos. A temperatura ótima está por volta dos 27 °C”, explica Lorenz.

“Uma temperatura acima disso não é favorável, porque afeta o comportamento das pessoas, além do próprio vetor. Por exemplo: sabe-se que, no caso do Aedes aegypti, que transmite a dengue, nos dias muito quentes a tendência é ficarmos mais em casa, em lugares com ar-condicionado, e evitamos atividades ao ar livre. Isso reduz o contato com o mosquito”, explica.

Conhecimento sobre febre oropouche ainda tem lacunas importantes

A febre Oropouche apresenta sintomas similares aos da dengue: febre de até 40 °C e dores características atrás dos olhos, nos músculos e nas juntas. Náuseas, vômitos, fotofobia e irritação na pele são outros sinais comuns. Ela é causada por um arbovírus do gênero Orthobunyavirus, isolado e descrito em 1955 a partir do sangue de um silvicultor em um vilarejo às margens do Rio Oropouche, em Trinidad e Tobago, um país insular caribenho localizado a apenas 15 km do litoral venezuelano.

Aves e primatas não humanos são hospedeiros comuns, bem como a preguiça-de-bentinho, um mamífero amazônico. É normal que um mosquito transmita a doença de um animal infectado para um humano saudável, ainda que, nas cidades, predomine o contágio de humano para humano.

Trata-se da segunda arbovirose mais comum do Brasil, atrás apenas da própria dengue. Belém registrou 11 mil casos durante um surto particularmente grave em 1961. Entre 1978 e 1980, anos em que houve um pico de disseminação, houve 130 mil infectados confirmados nas Américas, a maioria no Brasil. Estima-se que, ao todo, meio milhão de casos tenham ocorrido país afora durante a segunda metade do século 20.

Porém, como a febre Oropouche raramente é fatal, os sintomas não costumam durar mais de uma semana e muitas vítimas habitam assentamentos inacessíveis por via terrestre, a testagem deixa a desejar, e a febre é severamente subnotificada. Hoje, na Amazônia, 60% da população vive a mais de 10 km de distância da UBS mais próxima. Esse problema de infraestrutura dificulta a análise da série histórica: não sabemos até que ponto a doença realmente aumentou no Norte do país ou se, na verdade, ela permanece estável e o crescimento que testemunhamos ocorreu simplesmente porque hoje é possível diagnosticar mais pessoas.

Leia também: Semelhante à dengue: estudo busca caracterização genômica e epidemiológica dos casos de Febre Oropouche na região amazônica

Esse não é o único mistério no caminho das pesquisas sobre a febre Oropouche. Por exemplo: sabe-se que há lugares em que a doença já apareceu sem que houvesse registro da presença do vetor principal. Por isso, “especula-se que outros mosquitos além do maruim, como o Culex quinquefasciatus [nome científico do pernilongo ou muriçoca comum em todo o Brasil] e o próprio Aedes aegypti, sejam vetores, mas não há nada comprovado ainda”, diz Salomão. “Essa incerteza, por si só, dificulta bastante a determinação de todos os fatores-chave causadores do surto de 2024. Algum vetor ali está exercendo esse papel”.

De acordo com Salomão e Lorenz, os dados não permitem cravar se a febre Oropouche se tornará endêmica no Centro-Sul brasileiro ou se haverá novas ondas nos próximos meses. Uma coisa, porém, é certa: com o aumento na temperatura média da atmosfera e das águas, causado pelas emissões de gases de efeito estufa, e a destruição de fatias enormes do Cerrado e da Amazônia para dar lugar à agropecuária, as variáveis associadas à disseminação do OROV não tendem a melhorar em um futuro próximo.

“Se a temperatura muda em 1 °C ou 2 °C, já mudam uma série de outros fatores por trás da transmissão”, diz Lorenz. “É por isso que o pessoal está tão preocupado com o aquecimento global. O que vai acontecer? Não sabemos. Pode ser que o vírus se adapte ou pode ser que não haja transmissão”.

Para a pesquisadora, é importante que as autoridades caprichem cada vez mais na testagem dessa e de outras doenças tropicais tradicionalmente negligenciadas, de modo a gerar dados epidemiológicos precisos — e manter os pesquisadores um passo à frente dos vírus.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unesp, escrito por Bruno Vaiano

O que é a damurida? Conheça o prato destaque na Expoferr Show 2025

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A tradicional damurida, prato típico das etnias Wapichana e Macuxi, é um dos destaques culturais da Expoferr Show 2025, principal feira agropecuária de Roraima. O evento, que ocorre de 4 a 8 de novembro no Parque de Exposições Dandãezinho, em Boa Vista, reúne mais de 300 expositores e espera atrair cerca de 550 mil visitantes durante cinco dias de programação voltada ao agronegócio, tecnologia e cultura regional.

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A distribuição da damurida na Expoferr Show 2025 simboliza a valorização da gastronomia indígena dentro de um dos maiores eventos do Norte brasileiro. A feira, que já se consolidou como vitrine do agronegócio, incorpora cada vez mais elementos culturais, transformando-se também em um espaço de celebração das identidades regionais.

O que é a damurida? Conheça o prato destaque na Expoferr Show 2025

Leia também: Expoferr Show 2025: maior feira agropecuária de Roraima chega à 44ª edição

Expofeira na Rede

O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.

Alimentação ‘industrializada’ ameaça saúde de ribeirinhos na Amazônia, aponta pesquisa

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Pesquisadora viajou até a região para conhecer e conversar com a população sobre a realidade vivida por ela e os impactos na saúde. Fotos: Mariana Inglez/Acervo pessoal

Comunidades ribeirinhas da Amazônia localizadas na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, estão trocando alimentos tradicionais por produtos industrializados, aumentando risco de doenças graves e perda de qualidade de vida, como mostra um estudo realizado no Instituto de Biociências (IB) da USP. A pesquisa, que tem como autora a bioantropóloga Mariana Inglez, foi premiada na categoria Inclusão Social e Cultural e Redução das Desigualdades da 14ª edição do Prêmio Tese Destaque USP.

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O estudo analisa esse fenômeno de transição nutricional como um processo de nutricídio, termo criado pelo médico Llaila O Afrika, em 1993, para descrever a perda nutricional caracterizada pela dificuldade ou total falta de acesso a uma alimentação saudável em populações à margem da sociedade, o que influencia a saúde e continuidade de culturas alimentares tradicionais.

Entre 2019 e 2023 a pesquisadora acompanhou de perto as comunidades. Os dados coletados por Mariana mostram que, em duas décadas, o consumo de alimentos industrializados cresceu de forma significativa. Na dieta, a participação de carboidratos provindos de alimentos comprados passou de 14% para 33%, a de proteínas de 13% para 33%, e a de gorduras de 21% para 71%. Esse avanço reflete uma substituição de dietas tradicionais por produtos industrializados ricos em energia e pobres em nutrientes.

“Quando falo nessa transição nutricional, estou falando da substituição de alimentos que fazem parte da identidade de um povo, que têm uma relação com o ambiente e uma relação com aspectos simbólicos, culturais e afetivos. Geralmente são alimentos muito mais saudáveis”, diz Mariana em entrevista ao Jornal da USP.

O resultado encontrado durante a pesquisa etnográfica — abordagem que implica convívio e imersão na rotina das pessoas que colaboraram com o estudo — mostra que a dieta antes baseada em farinha, peixe e frutas locais tem sido substituída por produtos comprados, como arroz branco, açúcar, óleo vegetal, refrigerantes e macarrão instantâneo.

Alimentação 'industrializada' ameaça saúde de ribeirinhos na Amazônia, aponta pesquisa
Mapa retirado da tese indica a região do estudo em que se buscou entender o estado de saúde da população.

Leia também: Livro sobre frutas amazônicas pode ajudar no combate à desnutrição

“Esse processo já era percebido pela população”, afirma Mara, habitante de uma das comunidades visitadas em Caxiuanã. A reportagem optou por não identificar o sobrenome da moradora e o nome da comunidade para preservar sua segurança e privacidade, em acordo com a escolha da pesquisadora.

“Antes a gente consumia basicamente alimentos naturais, por exemplo, o peixe que a gente pescava, a caça, a farinha que produzimos aqui mesmo. No café da manhã, tomava com uma farinha de tapioca ou uma tapioquinha. Hoje em dia, houve um avanço na questão da alimentação industrializada”, afirma.

Evolução na saúde

A tese Transição nutricional em comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira: “escolhas” entre alimentos tradicionais e industrializados na região de Caxiuanã, Pará, Brasil, foi defendida em 2024, sob a orientação do professor Rui Sérgio Sereni Murrieta, no Programa de Pós-Graduação em Ciências (Genética e Biologia Evolutiva) do IB.  

Através de dados quantitativos, a bioantropóloga comparou seus resultados com informações coletadas nos mesmos locais, entre 2002 e 2009, por Bárbara Piperata, uma das principais referências em antropologia nutricional na Amazônia, que foi orientadora de Mariana quando ela esteve fora do Brasil, na The Ohio State University (EUA) durante o doutorado sanduíche.

Com uma abordagem biocultural, o objetivo de Mariana foi conduzir uma pesquisa que integrasse dimensões biológicas, socioculturais, econômicas e ambientais para compreender a alimentação, saúde e modos de vida na região. Tudo a partir de um ponto de vista decolonial, valorizando a vivência das populações ribeirinhas. Esse é um modelo novo de pesquisa que traz as populações para dentro do estudo da alimentação e as coloca no centro do debate das relações entre saúde humana e ambiental, aspectos culturais, sociais e o enfrentamento às desigualdades.

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Mais vulneráveis desde a prática colonial

As análises, realizadas com 177 participantes, variando entre adultos, jovens e crianças, mostraram que toda a população ganhou peso nas últimas duas décadas, mas as mulheres foram as mais afetadas, o que significa que elas apresentam maior risco de doenças crônicas como hipertensão, obesidade e diabetes.

“Geralmente as mulheres deixam ‘as melhores partes’ para os parceiros e para as crianças. Então, são as primeiras que vão enfrentar a insegurança alimentar e aí, consecutivamente, as que mais vão consumir alimentos ultraprocessados, que não têm tanto poder nutritivo, mas que são mais calóricos”, afirma Mariana.

O estudo aponta que, embora programas de redistribuição de renda tenham contribuído com o combate à fome, houve um aumento na insegurança alimentar — situação em que falta acesso regular a alimentos na quantidade e qualidade necessárias para a sobrevivência. A pandemia de covid-19 agravou o problema, com a interrupção das cadeias de abastecimento e das fontes de renda nas comunidades.

Acesso a alimentação é essencial para a saúde. Foto: Mariana Inglez/Acervo pessoal

“Os povos tradicionais, negros, afro-indígenas, ribeirinhos e periféricos foram grupos mais vulneráveis durante a pandemia”, diz Mariana. Para ela, isso evidencia qual o perfil dos grupos que estão em maior fragilidade alimentar.

“É o sistema que vai influenciar quem consegue se alimentar bem e manter a sua cultura alimentar no Brasil. Um que começa desde a prática colonial”.

Outra causa do aumento do consumo de ultraprocessados é a inadequação das políticas públicas de alimentação. As cestas básicas entregues às comunidades, por exemplo, contêm mais alimentos ultraprocessados, não condizente com a cultura alimentar ribeirinha, e que também são ofertados na merenda escolar às crianças e jovens, em desacordo com as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB).

Criado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP em conjunto com o Ministério da Saúde (MS) em 2014, o guia apresenta informações e orientações sobre alimentação e nutrição para a sociedade em geral, serve de base para a atuação de profissionais de saúde e também para a formulação de políticas públicas.

As mudanças climáticas aparecem como um novo fator na piora da alimentação local. Com a diminuição das chuvas e o aumento da temperatura alterando a produção agrícola e diminuindo a disponibilidade de peixes nos rios, fica cada vez mais difícil depender exclusivamente dessas fontes. “Hoje em dia o feijão que vem é industrializado, mas antes a gente comia o feijão que plantávamos, [atualmente] raramente se planta aqui na nossa comunidade”, conta Mara.

Segundo Mariana, tendo contato direto com essas comunidades foi possível perceber que, se tiver escolha, a população ainda prefere se alimentar de maneira tradicional.

“Existe uma percepção local do que é uma comida de verdade que faz bem para a saúde, e não é comida ultraprocessada. Então, quando existe a possibilidade de escolher, vão comer um peixe cozido com farinha”, diz.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Maria Eduarda Oliveira (estagiária sob supervisão de Silvana Salles e Antonio Carlos Quinto)