Desenvolvida com apoio técnico do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a iniciativa cria uma base inédita de dados ambientais e territoriais para orientar políticas públicas voltadas ao enfrentamento da crise climática e ao desenvolvimento sustentável da região.
O governador do Pará, Helder Barbalho, participou do lançamento da plataforma CAL 2050. Foto: Marco Santos/Agência Pará
“O que é eficaz em um ambiente não necessariamente é em outro. E, a partir desse olhar de consórcio de região, estamos construindo o engajamento de todos os estados para fortalecer esse suporte, de modo que possamos escalar cada vez mais a ambição regional das políticas públicas, das ações e da missão comum de cuidar da Amazônia”, afirmou o governador Helder Barbalho, que preside o Consórcio da Amazônia Legal.
A CAL 2050
A CAL 2050 reúne dados geoespaciais, climáticos e de uso do solo, permitindo acompanhar em tempo real indicadores sobre desmatamento, regeneração florestal, emissões de gases de efeito estufa, investimentos em bioeconomia e rastreabilidade de ativos ambientais.
A plataforma conecta informações federais e estaduais e será uma ferramenta estratégica para monitorar a contribuição dos estados amazônicos às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), no âmbito do Acordo de Paris.
Floresta tropical e seu clima. Foto: Autor desconhecido/Wikimedia Commons
O diretor-executivo do Ipam, Ludovico Pereira, destacou que a ferramenta representa um salto de qualidade na gestão ambiental regional.
“O desafio da implementação exige novas formas de abordar a realidade, uma realidade que precisa ser mensurável, quantificável e traduzida em dados inteligentes. Sem smart data, não é possível sustentar decisões estratégicas. A CAL 2050 entrega uma resposta concreta à emergência climática global e mostra que a governança climática começa no território”, afirmou.
Diretrizes de longo prazo
Apresentada no mesmo painel, a Estratégia Amazônia 2050 define diretrizes de longo prazo para conciliar floresta viva, prosperidade econômica, transição energética e justiça social.
A CAL 2050 será a infraestrutura técnica que assegura transparência, rastreabilidade e integridade na execução dessas metas, em conformidade com a Lei nº 15.042/2024, que institui o mercado regulado de carbono no Brasil e abre caminho para a integração ao Artigo 6 do Acordo de Paris.
Com o lançamento, o Pará reforça seu papel como articulador político e técnico da agenda ambiental. Foto: divulgação
Com o lançamento, o Pará reforça seu papel como articulador político e técnico da agenda ambiental da Amazônia. À frente do Consórcio, Helder Barbalho conduz um esforço coletivo que ultrapassa fronteiras estaduais e projeta a região como referência global em governança climática.
Durante a COP30, Belém tem revelado uma Amazônia mais organizada, conectada e disposta a conduzir suas próprias soluções, de dentro da floresta, com dados, ciência e decisão política.
Manaus inicia conclusão da primeira célula do aterro sanitário municipal. Foto: Dhyeizo Lemos/Semcom Manaus
As obras do primeiro aterro sanitário municipal da história de Manaus (AM) é uma entrega inédita que reposiciona a capital amazonense na agenda climática, energética e ambiental do país. A primeira célula operacional, que teve conclusão prevista no dia 15 de novembro, é um marco técnico que inaugura um novo ciclo de sustentabilidade e destinação adequada de resíduos sólidos na cidade.
Localizado no quilômetro 19 da AM-010, no bairro Lago Azul, o complexo ocupa 67 hectares e foi projetado com quatro células sanitárias, cada uma com cinco hectares, totalizando 20 hectares de área operacional.
Cada célula possui 50 mil metros quadrados, construídas com rigor técnico e seguindo padrões completos de impermeabilização, drenagem, contenção, tratamento de efluentes e reaproveitamento energético.
Localizado no quilômetro 19 da AM-010, no bairro Lago Azul, o complexo ocupa 67 hectares. Foto: Dhyeizo Lemos/Semcom Manaus
Capacidade
A estrutura terá capacidade de absorver 2.600 toneladas de resíduos por dia, com vida útil estimada de 20 anos, e investimento entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões. Quando entrar em operação, prevista para fevereiro de 2026, será o primeiro aterro sanitário do Norte do Brasil totalmente adequado à Resolução 430, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), encerrando um passivo histórico de mais de três décadas de funcionamento do antigo aterro controlado.
Durante a agenda técnica, o prefeito David Almeida destacou que a cidade assumiu responsabilidade por resolver um problema estrutural ignorado por décadas.
“Recebemos a cidade de Manaus com um aterro controlado entrando em colapso. Um problema de mais de 30 anos. Coube a nós resolvermos esse problema. Estamos implementando o primeiro aterro sanitário da cidade de Manaus e resolvendo definitivamente essa questão histórica”, afirmou.
COP30
O prefeito também reforçou que a nova estrutura é um dos pilares da participação de Manaus na COP30, com resultados concretos e mensuráveis.
Anúncio do empreendimento foi realizado antes da COP30 começar em Belém (PA). “[…] a cidade de Manaus está fazendo a sua parte. Todo lixo que vier para o aterro será tratado adequadamente e vamos abrir uma usina para aproveitar o gás e produzir biometano”.
O prefeito David Almeida vistoriou, no dia (6), o andamento das obras do primeiro aterro sanitário municipal da história de Manaus. Foto: Dhyeizo Lemos/Semcom Manaus
Segundo ele, a mudança representa um avanço decisivo para a transição energética da capital. “Hoje os nossos veículos de coleta usam combustíveis fósseis, muito poluentes. Com o biometano produzido aqui, vamos mover a frota com energia limpa e reduzir as partículas poluentes. Manaus fará a sua transição energética usando o biometano gerado no próprio aterro sanitário”, completou o prefeito.
A infraestrutura foi planejada para garantir um ciclo operacional completo e de baixo impacto ambiental. O aterro conta com:
múltiplas camadas industriais de proteção e impermeabilização, evitando infiltrações no solo;
sistema de drenagem e lagoas de chorume, garantindo tratamento eficiente dos efluentes;
captação e conversão de gás metano em biometano para abastecer ônibus e caminhões coletores;
reaproveitamento da água tratada na hidrossemeadura e umectação das vias internas;
operação sustentável baseada em reaproveitamento, segurança e controle ambiental contínuo.
O secretário municipal de Limpeza Urbana, Sabá Reis, ressaltou o caráter transformador da obra: “Foi na gestão do prefeito David que o aterro controlado chegou ao fim da vida útil e que essa transição se tornou obrigatória. Ele está entregando uma estrutura moderna, ambientalmente correta e preparada para transformar o resíduo da cidade em economia”.
O prefeito David Almeida vistoriou, no dia (6), o andamento das obras do primeiro aterro sanitário municipal da história de Manaus. Foto: Dhyeizo Lemos/Semcom-Prefeitura
Sabá também destacou o impacto financeiro para o futuro de Manaus: “A usina terá capacidade de abastecer até 300 veículos por dia com biometano. Isso significa economia real para Manaus e um grande avanço na política ambiental da cidade”.
Com a conclusão da primeira célula prevista para 15 de novembro e o projeto avançando em todas as frentes técnicas, Manaus se consolida como referência amazônica em gestão moderna de resíduos, produção de energia limpa e política climática, chegando à COP30 com entregas concretas, tecnológicas e alinhadas às metas globais de redução de emissões.
A Cúpula dos Povos, evento paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), terminou neste domingo (16), com palavras de encorajamento do cacique Raoni Metuktire. Em uma mensagem aos participantes, a liderança indígena lembrou que vem chamando atenção do mundo há décadas para a destruição do meio ambiente, das florestas e dos modos de vida de povos originários e ancestrais.
“Há muito tempo, eu vinha alertando sobre o problema que, hoje, nós estamos passando, de mudanças climáticas, de guerras”, disse Raoni. “Mais uma vez, peço a todos que possamos dar continuidade a essa missão de poder defender a vida da Terra, do planeta. Eu quero que tenhamos essa continuidade de luta, para que possamos lutar contra aqueles que querem o mal, que querem destruir a nossa terra”, completou.
Raoni também criticou os conflitos e guerras ao redor do mundo e cobrou mais amor e defesa da vida. “Há muito tempo, eu venho falando para que possamos ter respeito um com o outro e possamos viver em paz nessa terra”, conclamou.
Cacique Raoni Metuktire durante encerramento da cúpula dos povos Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Após os cinco dias de debates, mobilizações e manifestações que marcaram Belém, a cúpula termina com um “banquetaço”, na Praça da República, no centro da capital paraenses, com a distribuição de comida, feita pelas cozinhas comunitárias e celebração cultural aberta ao público.
No ato encerramento da Cúpula dos Povos, foi lida uma carta final, criticando o que os participantes classificaram como “falsas soluções” para o enfrentamento da emergência climática.
“Nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade, lutas e de cooperação entre nossos povos”.
Banquetaço da Cúpula dos Povos, na Praça da República, reúne cozinhas coletivas, alimentos agroecológicos e partilha popular. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
“As verdadeiras soluções são fortalecidas por esta troca de experiências, desenvolvidas em nossos territórios e por muitas mãos. Temos o compromisso de estimular, convocar e fortalecer essas construções”, diz o documento.
O documento (leia aqui) foi entregue ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, que prometeu apresentá-lo nas reuniões de alto nível da COP, que serão realizadas a partir desta segunda-feira (17).
“Não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidado. Por isso, o feminismo é parte central do nosso projeto político. Colocamos o trabalho de reprodução da vida no centro, é isso que nos diferencia radicalmente dos que querem preservar a lógica e a dinâmica de um sistema econômico que prioriza o lucro e a acumulação privada de riquezas”, continua o documento.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago disrcusa durante encerramento da cúpula dos povos Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Capitalismo e crise climática
A carta aponta o modo de produção capitalista como causa principal da crise climática crescente e ressalta que as comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e o racismo ambiental.
O texto lembra que as empresas transnacionais, a exemplo das indústrias de mineração, energia, das armas, agronegócio e as Big Techs, são as principais responsáveis pela catástrofe climática.
A carta pede a demarcação de terras indígenas e de outros povos; reforma agrária e fomento a agroecologia; fim do uso de combustíveis fósseis; financiamento público para uma transição justa, com taxação das corporações, agronegócio e dos mais ricos; e fim das guerras. Além disso, cobra maior participação dos povos.
“Cobramos que haja participação e protagonismo dos povos na construção de soluções climáticas, reconhecendo os saberes ancestrais. A multidiversidade de culturas e de cosmovisões, carrega sabedoria e conhecimentos ancestrais que os Estados devem reconhecer como referências para soluções às múltiplas crises que assolam a humanidade e a Mãe Natureza”.
Guerras
O documento critica ainda o avanço da extrema direita, do fascismo e das guerras ao redor do mundo e faz uma defesa da Palestina e de seu povo. A carta cita os bombardeios praticados pelo Estado “sionista” de Israel, o deslocamento forçado de milhões de pessoas e as dezenas de milhares de mortes de inocentes, a maioria crianças, mulheres e idosos.
“Nosso repúdio total ao genocídio praticado contra a Palestina. Nosso apoio e abraço solidário ao povo que bravamente resiste, e ao movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS)”, diz a carta.
O texto também faz críticas à ação militar dos Estados Unidos, no mar do Caribe, com o pretexto de guerra ao narcotráfico. Os integrantes da cúpula afirmam que ações como essa têm caráter imperialista de ameaça a povos e países da região e da África.
“O imperialismo segue ameaçando a soberania dos povos, criminalizando movimentos sociais e legitimando intervenções que historicamente serviram aos interesses privados na região. Nos solidarizamos à resistência da Venezuela, Cuba, Haiti, Equador, Panamá, Colômbia, El Salvador, República Democrática do Congo, Moçambique, Nigéria, Sudão, e com os projetos de emancipação dos povos do Sahel, Nepal e de todo o mundo”, diz a carta.
Participação popular
A Cúpula dos Povos reuniu dezenas de milhares de pessoas:
de movimentos sociais locais, nacionais e internacionais,
povos originários e tradicionais,
camponeses/as,
indígenas,
quilombolas,
pescadores/as,
extrativistas,
marisqueiras,
trabalhadores/as da cidade,
sindicalistas,
população em situação de rua,
quebradeiras de coco babaçu,
povos de terreiro,
mulheres,
comunidade LGBTQIAPN+,
jovens,
afrodescendentes,
pessoas idosas,
dos povos da floresta,
do campo,
das periferias,
dos mares, rios, lagos e mangues.
Encerramento da Cúpula dos Povos. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
O evento, considerado o maior espaço de participação social da conferência climática, começou na última quarta-feira (12), em paralelo à COP30, com críticas a ausência de maior participação popular na COP30.
Para as cerca de 1,3 mil organizações e movimentos que participaram da cúpula, países e tomadores de decisão, especialmente dos países ricos, têm se omitido ou apresentado soluções absolutamente ineficientes, colocando em risco a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
Na abertura, foi realizada uma “barqueata” na orla da capital paraense, com centenas de barcos. Eles navegaram pela Baía do Guajará em defesa da Amazônia e dos povos tradicionais.
“Iniciamos nossa Cúpula dos Povos navegando pelos rios da Amazônia que, com suas águas, nutrem todo o corpo. Como o sangue, sustentam a vida e alimentam um mar de encontros e esperanças. Reconhecemos também a presença dos encantados e de outros seres fundamentais na cosmovisão dos povos originários e tradicionais, cuja força espiritual orienta caminhos, protege territórios e inspira as lutas pela vida, pela memória e por um mundo de bem viver”, diz a carta.
A COP das Baixadas é um movimento formado por 10 organizações que defendem a participação de periferias urbanas nas discussões climáticas. Foto: Hugo Chaves
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece de 10 a 21 de novembro em Belém, no Pará, tem reunido líderes de quase 200 países entre cientistas, empresários, autoridades políticas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir ações e estratégias de combate às mudanças climáticas.
Mas você sabia que existe um movimento social que dá voz e vez para a periferia no debate mundial do clima? É a COP das Baixadas, projeto social que coloca moradores, ativistas comunitários e coletivos de áreas periféricas da capital paraense nas discussões climáticas da conferência mundial.
A iniciativa popular busca fortalecer a participação das periferias urbanas nos debates e na tomada de decisões sobre o clima no evento global.
Fundada em 2023, a COP das Baixadas é uma coalizão formada por uma rede de 10 organizações de diferentes contextos e partes de território amazônico, que têm em comum a articulação e o fortalecimento de pautas relacionadas à justiça climática das periferias urbanas da Amazônia.
O termo “baixada” se refere às áreas urbanas localizadas nas regiões “baixas” de Belém, consideradas periféricas e distantes da visão do poder público.
O grupo surgiu, inclusive, dentro do bairro Coração de Jurunas, localizado em área periférica da cidade-sede da 30ª edição da maior conferência mundial do clima.
Através de ações de educação climática, atividades culturais, de lazer e esporte, a COP das Baixadas nasceu com o intuito de promover a inclusão dessas comunidades periféricas na discussão das estratégias globais acerca da crise climática.
Espaços estão instalados nas sedes das organizações sociais que foram a COP das Baixadas, em Belém. Foto: Instagram-Yellow Zones
Programação na COP 30
Em sua terceira edição, a COP das Baixadas promove em 2025 uma programação ampla e diversificada durante as duas semanas da conferência climática em Belém. O grupo criou as “Yellow Zones” (Zonas Amarelas), espaços dedicados para o envolvimento da comunidade periférica no ambiente da COP30.
Os espaços foram inspirados na estrutura oficial da conferência, denominados de Blue Zone (Zona Azul, para negociações diplomáticas) e Green Zone (Zona Verde, voltadas à sociedade civil), e visam descentralizar o tema da COP30 para as periferias e comunidades.
Nas “Yellow Zones” a programação consiste em várias atividades paralelas como oficinas, rodas de conversa, atos culturais e palestras, que funcionam como grandes polos de mobilização popular, formação e resistência amazônica.
Os espaços acontecem em territórios espalhados de Belém, Ananindeua e Castanhal, nas sedes das organizações integrantes do movimento, e visam integrar os moradores de regiões periféricas dessas cidades dentro do ambiente da COP30.
“As Yellow Zones são zonas de envolvimento comunitário, porque quando a gente começou a ter oportunidade de chegar nessas conferências internacionais, a gente viu que a população não se fazia presente porque era uma área muito restrita. Então pensamos em de que modo a gente podia fazer esse envolvimento comunitário aqui em Belém. Assim surgem as Yellow Zones”, explicou a cofundadora da COP das Baixadas, Ruth Ferreira, quando esteve na Blue Zone, nas redes sociais.
Além de dar voz e vez às populações periféricas nas decisões climáticas do planeta, a COP das Baixadas também tem como missão a defesa pelo direito à permanência desses territórios. Uma das lutas do movimento é a reivindicação pelo reconhecimento das baixadas nos censos oficiais. O IBGE, por exemplo, classifica essas regiões como “favelas e comunidades urbanas”, favorecendo uma visão marginalizada e a exclusão das periferias das políticas públicas de infraestrutura e saneamento.
Prova dessa resistência será o Ato Pela Vida e Defesa dos Territórios, manifestação que ocorre no dia 21 de novembro, último dia da COP30 e encerra a participação da COP das Baixadas na conferência popular. O evento será realizado no bairro de Jurunas, e tem como objetivo reafirmar o compromisso das comunidades amazônicas com a defesa do direito à permanência nos territórios e com a continuidade da luta por justiça climática além da COP30.
No último sábado, 15, a COP das Baixadas foi uma das organizadoras da Marcha Mundial pelo Clima, evento que reuniu mais de 70 mil pessoas nas ruas de Belém.
COP das Baixadas foi uma das organizadoras da Marcha Mundial pelo Clima, que movimentou 70 mil pessoas no sábado, 15. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Pé de mandioca com vassoura-de-bruxa. Foto: Adilson Lima/Embrapa
Encontrado pela primeira vez em março de 2023 em uma comunidade indígena do município de Oiapoque, no Amapá, o fungo Ceratobasidium theobromae, também conhecido como Rhizoctonia theobromae, espalha-se com rapidez entre as plantações de mandioca (Manihot esculenta) da região Norte.
Mobilizados, especialistas de instituições de pesquisa do Brasil, da Guiana Francesa, onde o problema foi detectado na mesma época, e da França, trabalham no campo e no laboratório para conhecer e combater o agente causador da vassoura-de-bruxa da mandioca. A doença é assim chamada por induzir a formação de brotos finos, que depois secam e lembram o formato de uma vassoura, e se soma a outras, causadas por bactérias, vírus e outras espécies de fungos.
Os estudos preliminares indicaram que a espécie de fungo que chegou à Amazônia é a mesma que nos últimos anos arruinou de 40% a 60% das plantações de mandioca no Vietnã, Filipinas, Tailândia e Laos. No Sudeste da Ásia, a planta é usada principalmente para a produção de ração animal e de biocombustíveis, enquanto na região Norte do Brasil a também chamada macaxeira ou aipim é a base da alimentação diária.
Os esporos — estruturas semelhantes a sementes — do fungo chegaram à América do Sul possivelmente em ferramentas ou plantas infectadas. Muito leves, se espalham levados pelo vento.
Rapidez prejudica plantações de mandioca
“A dispersão é muito rápida”, observa a bióloga Cristiane Ramos de Jesus, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Amapá, que tem visitado as plantações atingidas. “Em apenas dois anos, o fungo foi do norte do Amapá ao norte do Pará, ainda que as plantações estejam cercadas pela mata e separadas por rios”.
O biólogo peruano Wilmer Cuellar, com sua equipe do Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), na Colômbia, e colegas da Alemanha e do Laos, coordenou o primeiro mapeamento do genoma (o conjunto de genes) de C. theobromae, coletado de folhas e caules de plantas infectadas no Laos.
Como detalhado em um artigo publicado em agosto de 2024 na Scientific Reports, o genoma desse microrganismo é formado por 33 milhões de pares de bases (mpb) nitrogenadas, elementos básicos do DNA, e contém 8.247 genes expressos. É um tamanho médio entre os fungos causadores de doenças em plantas, cujo genoma varia de 30 a 80 mpb, com 10 mil a 20 mil genes. Nas bactérias, o genoma varia de 3 a 5 mpb e o número de genes de 3 mil a 5 mil. Os seres humanos têm um genoma com 3 bilhões de pares de bases e cerca de 45 mil genes.
Similaridades
As análises registraram várias enzimas associadas à infecção nos tecidos vegetais. Chamou a atenção a alta similaridade genética, de até 99,7%, com o genoma de uma variedade da mesma espécie que infecta cacaueiros na Ásia — veio daí um dos nomes da espécie, C. theobromae (o nome científico do cacaueiro é Theobroma cacao). Essa descoberta indica que o fungo poderia colonizar espécies diferentes de plantas, o que, no Brasil, colocaria em risco as mandiocas silvestres e o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), do mesmo gênero que o cacau.
Com especialistas de outros grupos de pesquisa da Ásia e das Américas, Cuellar investiga agora as diferenças entre as populações do fungo em cada país onde já chegou. “Queremos saber se uma população que evoluiu em ilhas das Filipinas, por exemplo, se desenvolve de forma diferente na parte continental do Sudeste Asiático ou nas Américas”, disse ele em entrevista a Pesquisa FAPESP.
O fungo C. theobromae sob o microscópio. Imagem: Juan M. Pardo / CIAT
Uma equipe da Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, na Bahia, completou o trabalho ao identificar fungos coletados no Amapá. Os resultados, publicados em fevereiro como preprint na plataforma bioRxiv, indicaram se tratar do mesmo microrganismo da Guiana Francesa e da Ásia, capaz de invadir os vasos condutores de água e sais minerais, os chamados xilemas, e bloquear a passagem de água e nutrientes, o que leva os ramos a murchar e morrer. O fungo pode também ocupar o exterior da planta, formando uma fina camada branca de micélio nas gemas (estruturas que podem originar ramos) e na base das folhas.
O engenheiro-agrônomo da Embrapa Mandioca e Fruticultura Saulo Alves Santos de Oliveira, coordenador do sequenciamento, teme que o fungo que chegou ao norte da América do Sul, por causa do clima na região, possa se mostrar mais agressivo que na Ásia.
“No Sudeste Asiático, as chuvas se concentram no verão, trazidas pelos ventos úmidos, as monções, enquanto na Amazônia o clima é constantemente úmido e quente, o que pode favorecer mais ainda a dispersão e crescimento do fungo”, diz.
A Embrapa e o Ministério da Agricutura e Pecuária (Mapa) recomendam aos agricultores uma série de medidas emergenciais para conter a doença. Entre elas estão a remoção e a queima das plantas infectadas, a limpeza rigorosa das ferramentas e a aplicação de fungicidas específicos. Também é indicada a higienização cuidadosa de roupas, calçados, chapéus e bonés usados em áreas afetadas, com o ensacamento e a lavagem imediata desses itens para evitar a disseminação dos esporos para outras regiões do país.
Para reduzir as perdas econômicas causadas pela nova doença, uma das alternativas sugeridas é substituir temporariamente os mandiocais por outras culturas, como a banana. “Estamos muito preocupados com a possibilidade de faltar renda e comida para as comunidades atingidas por esse problema”, comenta Ramos de Jesus, da Embrapa Amapá.
Em janeiro de 2025, o Mapa decretou estado de emergência fitossanitária no Amapá e no Pará, indicando o alto risco de disseminação de uma praga capaz de causar grandes prejuízos. Até outubro de 2025, mandiocais infectados já haviam sido registrados em 48 localidades do Amapá e no município paraense de Almeirim.
O biólogo Marcelo Simon, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, pesquisa a diversidade genética em variedades de mandioca. Das 160 espécies do gênero Manihot nas Américas, o Brasil abriga 116 (ver Pesquisa FAPESP nº 311). “Estamos em uma posição boa em termos de variabilidade genética da mandioca. Mas há também grande preocupação em relação à conservação dessas espécies, que já correm o risco de desaparecer por causa da perda de hábitat e não sabemos se são resistentes ao fungo”, comenta. Segundo ele, não basta encontrar uma variedade de mandioca tolerante ao fungo: é preciso também atender às exigências de gosto e sabor de quem as consumirá.
Há anos, a identificação de espécies resistentes, além do aprimoramento das técnicas agrícolas, foi o que evitou uma tragédia maior com outra vassoura-de-bruxa, a causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, que atacou as plantações de cacau (Theobroma cacao). Antes das mudanças, a praga fez a produção nacional, então ainda liderada pela Bahia, cair de 400 mil toneladas anuais (t/a) em 1980 para cerca de 100 mil t/a em 2000. Hoje o estado do Pará é o maior produtor nacional (ver Pesquisa FAPESP nº 128).
A inovação amplia o alcance da técnica de recuperação de solos com o uso de microrganismos. Foto: Sérgio Miana de Faria
Pesquisadores da Embrapa Agrobiologia (RJ) desenvolveram um insumo biológico (inoculante) de amplo espectro, capaz de atender pelo menos 31 espécies florestais leguminosas. A inovação amplia o alcance da técnica de recuperação de solos com o uso de microrganismos, reconhecida desde a década de 1990 pela capacidade de recuperar solos severamente degradados, como os afetados pela mineração, erosão ou ocupação urbana desordenada. O produto, que está em fase final de desenvolvimento, pode contribuir para fortalecer o mercado de bioinsumos no País.
Das mais de 800 estirpes de rizóbio (bactérias do solo) isoladas pela Embrapa, duas foram selecionadas pela capacidade de estabelecer simbiose eficiente com 31 espécies florestais, cobrindo assim um leque expressivo de leguminosas nativas e de valor comercial.
“Com essas estirpes, conseguiremos eliminar uma das principais barreiras à adoção dessa técnica em larga escala, que é a especificidade entre bactéria e planta hospedeira”, explica Sérgio Faria, pesquisador da Embrapa Agrobiologia.
Essas descobertas abrem caminho para o desenvolvimento de inoculantes multiespécies, de largo espectro, capazes de atender simultaneamente várias espécies florestais utilizadas em ações de reabilitação ambiental em todos os biomas brasileiros. “A indústria de inoculantes não consegue produzir uma formulação para cada espécie florestal. Ter um produto com ampla compatibilidade é um ganho técnico e econômico para todos”, ressalta Faria.
Trata-se de uma solução que reduz custos e simplifica a logística de produção e aplicação. O objetivo é oferecer aos viveiristas e restauradores um inoculante único, eficiente para diferentes espécies usadas em projetos de recomposição florestal em todos os biomas brasileiros, sem perda de eficiência na fixação de nitrogênio.
O avanço resulta de um trabalho de décadas conduzido pelos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, com apoio de instituições públicas, universidades e empresas privadas. O foco é unir ciência do solo, microbiologia e ecologia para restaurar paisagens degradadas com base em processos naturais, especialmente na interação entre plantas leguminosas, bactérias fixadoras de nitrogênio e fungos micorrízicos (foram simbioses com as raízes das plantas).
Trinta anos de pesquisa para recuperar o que parecia perdido
A técnica de recuperação com o uso de microrganismos teve início há mais de três décadas, quando a Embrapa Agrobiologia buscava alternativas para regenerar áreas que haviam perdido completamente sua estrutura e fertilidade, sobretudo em regiões mineradas. Na época, o desafio era restaurar o “chão”, transformando substratos pobres em solo vivo novamente.
Nos primeiros experimentos foram testadas menos de dez espécies de leguminosas com potencial madeireiro, como sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), gliricídia (Gliricidia sepium) e saman (Samanea saman). Hoje, a base de dados acumulada pela Embrapa já contempla centenas de espécies com potencial de uso em todos os biomas brasileiros, desde a Amazônia até o Semiárido.
“Começamos com poucos exemplos e hoje temos informações que orientam o uso de leguminosas para praticamente todas as condições de solo e clima do País”, observa o pesquisador Alexander Resende.
Recuperação de área de mineração na Região Norte do País. Foto: Liliane Bello
O papel invisível dos microrganismos
O segredo da tecnologia está na associação simbiótica entre plantas e microrganismos. As bactérias conhecidas como rizóbios colonizam as raízes das leguminosas e formam nódulos, onde capturam o nitrogênio do ar e o convertem em uma forma assimilável pela planta. Os fungos micorrízicos, por sua vez, ampliam o alcance das raízes no solo, favorecendo a absorção de água e nutrientes, especialmente o fósforo.
Essa relação de troca cria uma aliança que aumenta o crescimento vegetal mesmo em solos degradados e acelera a formação de matéria orgânica. As folhas, raízes e galhos caídos enriquecem a terra e reativam processos ecológicos essenciais, como a ciclagem de nutrientes e a retenção de água.
“O que fazemos é otimizar uma simbiose natural, selecionando as bactérias, fungos e espécies de plantas mais adaptadas para formar um sistema eficiente, capaz de reconstruir a fertilidade e preparar o terreno para o retorno da biodiversidade”, resume Eduardo Campello.
Evidências de sucesso em campo
A técnica já foi aplicada com êxito em áreas de mineração de bauxita e ferro na Amazônia e em Minas Gerais, em jazidas de piçarra no Rio Grande do Norte, e na recuperação de encostas e voçorocas no estado do Rio de Janeiro. Também há registros de uso em projetos de restauração na Caatinga e no Cerrado, sempre com resultados consistentes.
Os primeiros sinais visuais aparecem após aproximadamente 12 meses, com vegetação cobrindo o solo e controle da erosão. Em quatro a cinco anos, as áreas adquirem aspecto de “floresta jovem”. Estudos mostram ainda que, após uma década, a fauna local retorna e mais de 40 novas espécies vegetais passam a colonizar espontaneamente a área — número que chega a 70 espécies na Amazônia.
“Conseguimos estabelecer uma cobertura herbácea, arbustiva e arbórea, mesmo nos cenários mais inóspitos. A vida volta, e o solo volta a respirar”, relata Faria, que conduz os estudos com microrganismos desde os primeiros experimentos da Embrapa Agrobiologia.
Sustentabilidade e metas globais
Além de reduzir custos, o uso desses inoculantes tem impacto ambiental direto. Ao eliminar a necessidade de adubação nitrogenada mineral em viveiros e áreas em processo de restauração, a tecnologia evita perdas de nitrogênio para a atmosfera e águas subterrâneas — um problema ambiental e econômico conhecido. Estima-se que cerca de 50% do nitrogênio aplicado em adubos convencionais é perdido por volatilização e lixiviação.
O avanço também contribui para as metas de sustentabilidade assumidas pelo Brasil, como o Código Florestal, o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) e os compromissos internacionais do Acordo de Paris.
“Estamos na década da restauração, e com a COP30 acontecendo na Amazônia, é essencial mostrar soluções brasileiras baseadas em ciência e na natureza. As leguminosas inoculadas com microrganismos são uma das ferramentas mais eficazes para recuperar funções ecológicas em áreas degradadas”, complementa Resende.
Parcerias e próximos passos
O desenvolvimento da tecnologia contou com o apoio de instituições como:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (Faped),
além de parcerias com o Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes/Petrobras), o Instituto Federal de Educação do Rio de Janeiro (IFRJ), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e prefeituras locais.
A equipe da Embrapa planeja agora ampliar testes com os inoculantes multiespécies e trabalhar com a indústria de bioinsumos para viabilizar a produção em escala e o treinamento de viveiristas em todo o País.
Voçorocas, as feridas abertas do solo que podem ser curadas com ciência
Em Tupi Guarani, voçoroca significa “terra rasgada”. A tradução é precisa para descrever o que se vê em muitas paisagens rurais e urbanas do Brasil: imensas crateras formadas pela erosão acelerada do solo. Essas cicatrizes profundas destroem lavouras, ameaçam estradas, residências e rebanhos, provocam o assoreamento de rios e colocam em risco a segurança de comunidades inteiras.
O problema é antigo e disseminado. Há registros de voçorocas com mais de 50 metros de profundidade e 15 mil metros quadrados de área, formadas ao longo de dois séculos de uso inadequado do solo em regiões como o Vale do Paraíba (RJ e SP) e Tiradentes (MG). Mas também há casos recentes, em áreas abertas há menos de 50 anos, como em Alta Floresta e Alto Taquari (MT), Marabá (PA) e Loanda (PR). Onde o solo é frágil, a vegetação foi retirada e as chuvas são intensas, a erosão avança rapidamente.
Em levantamento realizado pela Embrapa Agrobiologia na bacia do rio Barra Mansa (RJ), foram identificadas 154 voçorocas apenas no trecho estudado. Cada uma delas apresentava, em média, 2 mil metros quadrados e 10 metros de profundidade, o que corresponde a cerca de 3 milhões de metros cúbicos de solo erodido, equivalente a 300 mil caminhões de aterro. Grande parte desse material foi arrastada para as baixadas e cursos d’água, alterando ecossistemas e aumentando riscos de enchentes.
“O que precisa ser feito para conter e recuperar as voçorocas já é conhecido há anos: manter o solo coberto, reintroduzir vegetação adequada e usar espécies capazes de melhorar a estrutura e a fertilidade do solo”, enfatiza Resende.
Nesse cenário, as leguminosas inoculadas com microrganismos benéficos — tecnologia desenvolvida pela Embrapa — têm se mostrado uma das estratégias mais eficazes. Elas ajudam a reconstruir a cobertura vegetal, fixam nitrogênio, aumentam a matéria orgânica e estabilizam o terreno, criando condições para que outras espécies se estabeleçam e o equilíbrio ecológico volte a se formar.
Assim, a ciência mostra que é possível reverter as “terras rasgadas” e transformá-las novamente em áreas produtivas e sustentáveis.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa
O cajuaçu (Anacardium giganteum) é um fruto menos popular que o caju e a árvore é nativa da região amazônica, conhecida por ser uma árvore que faz muita sombra e fica perto de rios e igapós. Porém, é um fruto muito consumido no estado do Pará e se tornou identidade cultural para o município de Bragança.
Árvore impressiona pelo tamanho. Foto: Reprodução/Embrapa
O fruto também é chamado de caju-bravo, caju-da-mata, cajueiro-da-mata, cajuí e cajuí-da-mata. Ele pertence à família Anacardiaceae, sua árvore é de estrutura muito densa e de grande porte, chegando a atingir cerca de 40 metros de altura, com frutificação entre os meses de novembro e fevereiro, segundo dados a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O fruto, no entanto, é menor e com sabor mais doce que o caju comum.
Sua popularidade surge também por ser muito apreciado e comercializado entre as comunidades no carnaval em Bragança. Seu suco tem reputação de ser muito saboroso e agradavelmente doce.
A bebida alcoólica cajuaçu
Mas o principal uso do cajuaçu na comunidade, principalmente durante o período festivo, é o destilado feito com a fruta. A tradição de sua produção é totalmente artesanal e transmitida de forma geracional para permanência do consumo local.
Segundo Heloíza Verema, uma das autoras do artigo “Elaboração e caracterização físico-química de uma bebida fermentada de cajuaçu (Anacardium giganteum)”, não existe período de dezembro a março sem cajuaçu para a população bragantina. Mesmo quando a safra é pequena, a população tenta fazer o possível para manter a tradição.
O pesquisador e professor Josinaldo Reis, dirigente do Bloco Urubu Cheiroso em Bragança, é uma das referências sobre a cultura local.
Segundo Reis, a bebida é de baixo custo e sazonal, e “fica melhor ainda quando misturada com mel e açúcar”. Segundo ele: “o ‘porre’ de cajuaçu vem rápido, devido ao consumo exagerado dos cidadãos e por ser de fácil acesso”.
Mas para ele a melhor parte do cajuaçu “é beber entre os amigos e ver a fermentação acontecer”.
O destilado produzido a partir desse fruto, é suave, adocicado e bem aceito, marca registrada do seu sucesso durante o carnaval e sua importância dentro da região bragantina.
Josinaldo Reis afirma que, em algum momento da história, não se sabe exatamente quando, alguém decidiu fermentar a bebida e viu que tinha um teor alcoólico considerado. Mesmo quando a bebida não fermenta, costuma-se misturá-la com outras, como cachaça e destilado de cana.
“Quando mistura com cachaça ou outras bebidas alcoólicas, não tem a mesma graça, não é o mesmo sabor e não é o mesmo porre”, explica Josinaldo.
Seu consumo em forma de bebida tornou-se muito apreciado pelos moradores locais e pelos turistas que frequentam a região do Caeté no carnaval.
Cajuaçu-vermelho. Foto: Reprodução/ Bio Diversity 4 all
Impacto cultural do fruto adocicado
A pesquisa de Heloíza Verema confirma que o cajuaçu tem um significado simbólico e cultural para os povos da região e está presente nas tradições paraenses. “Seu significado advém de suas características físicas, cajuaçu recebe esse nome por conta de sua característica ácida. É presente em épocas festivas, como o carnaval e esporadicamente no período junino”, afirma a pesquisadora.
No Pará, o fruto do cajuaçu é profundamente enraizado nas comunidades especialmente em Bragança e Augusto Corrêa.
“Ao estudar o cajuaçu, eu não analiso apenas um fruto, mas uma expressão viva da identidade amazônica, um patrimônio que une biodiversidade, tradição e potencial de desenvolvimento”, afirma Heloíza.
A partir de 1891 foi proposto a edificação do corpo central do edifício do hospital centenário. O diretor responsável pela transição foi o Irmão Eduardo Pinto Ribeiro.
Embora sem funcionamento, a enfermaria já construída, a meta do hospital completo jamais se afastou da mira dos dirigentes da sociedade, cujo, dinâmico presidente, em sessão de 17de fevereiro de 1891 propôs para que a presente diretoria durante o seu mandato empregasse todos os esforços para se edificar o corpo central do edifício da sociedade, em construção por ser de grande utilidade, tanto para o desenvolvimento da sociedade, como pelos socorros que poderia prestar visto que com a edificação daquela para que já o hospital poderia funcionar, por isso, propondo para que desde já se tratasse (sic) de arranjar meios pecuniários por meio de quermesses e subscrições.
Esta manifestação que, foi integralmente transcrita como valioso documento é mais um comprovante do não funcionamento do hospital até 1891, na Praça Uruguaiana, Estrada Epaminondas, ou Praça General Osório, como eram conhecidas as circunjacentes do atual Colégio D. Bosco e a Avenida Epaminondas e a Praça General Osório.
Foi resolvido chamar-se por 15 dias concorrentes para proceder-se a continuação das obras centrais do hospital, ficando o sr. tesoureiro autorizado de fazer as despesas conforme as contas que lhe forem apresentadas e visadas pelo Sr. Presidente.
Foram presentes (15.06.1891), as plantas e o orçamento para a edificação do corpo central do hospital, para se mandar edificar por meio de concorrentes, conforme for resolvido em sessão anterior.
As Atas não revelam o nome do engenheiro que elaborou as plantas do corpo central do hospital. Há apenas referências ao desenhista, Sando Pereira.
O Sr. Presidente propôs para que se desse uma gratificação ao desenhista Sando Pereira, pela confecção das plantas e orçamento para construção do corpo central do hospital e outros trabalhos que fez anteriormente. Foi resolvido que, em vista do Sr. Sando Pereira não querer fazer preço aos seus trabalhos e atendendo-se a precária circunstância do mesmo sr. resolveu-se dar-lhe a gratificação de duzentos mil reis.
Não se explica o silêncio em torno do nome do engenheiro e com que autoridade um desenhista, gratificado com duzentos mil reis, faz o orçamento de tão alta responsabilidade e que exige indubitável habilitação técnica e profissional.
As obras, talvez por carência financeira, não foram logo atacadas, pois adiaram várias vezes a decisão da concorrência. As subscrições pelo Rio Madeira, Rio Negro, Rio Purus, sempre eram feitas em favor do hospital, figurando em Atas o recolhimento dessas ofertas, algumas bem liberais pois alcançavam mais da vultuosa soma, para a época, de um conto de réis.
Hospital Beneficente Portuguesa – 1893 – rua Corrêa de Miranda, hoje Joaquim Nabuco. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Proposta de arrendamento e compra pelo governo
Enquanto os dirigentes lutavam pela construção do hospital completo e aparelhado, o governo observava o espaço ocioso das áreas construídas e para atender as suas necessidades prementes, sem meios também para construções imediatas.
Assim, em sessão de 20.09.1891:
“[…] Foram lidos dois oficios do exmo, Sr. Presidente do Estado pedindo para arrendar ao governoa parte já construída do nosso hospital para ali instalar um asilo de alienados e outro propondo a comprapara desapropriação de utilidade pública do terreno e benfeitorias, propriedade desta sociedade, sito aPraça General Osório. Resolveu-se oficiar a 1º parte, pondo a disposição do governo o edifício pedido semônus algum para o governo até 31.07.1892, entregando-nos naquela data o edifício em iguais circunstanciasconforme a vistoria que se há de proceder, a 2ª parte, declarando que a diretoria não pode ainda darresposta definitiva por ter de convocar a Assembleia Geral que foi convocada para o dia 7 do corrente parapedir a devida autorização.”
Temos neste importante documento o ponto de partida para a mudança da sede da sociedade para a localização em que se encontra atualmente a Rua 7 de dezembro, depois Estrada Corrêa de Miranda e hoje Avenida Joaquim Nabuco. Procuremos examinar como a Assembleia Geral encarou a requisição e a iniciativa de desapropriação do terreno fronteiro à Praça General Osório.
A reunião da Assembleia Geral ocorreu às 9 horas da noite do dia 7 de outubro de 1891, em casa do Presidente Bernardo Antônio D’Oliveira Braga, com a presença de 30 associados.
Foi lido o ofício propondo a compra amigável do terreno, edifício já construído, benfeitorias e material existentes pertencentes a esta sociedade, sito a Praça General Osório, para desapropriação de utilidade pública e embelezamento da cidade. Foi lido e considerado com muito cuidado e com certa reserva por alguns dos 30 presentes. O presidente francamente favorável a negociação, usou de todos os recursos de persuasão para alcançar a autorização e chegou a demonstrar a grande conveniência, quer pelo lado higiênico, quer pelo lado econômico que adviria a esta instituição aceitando a proposta do Exmo. Sr. Presidente do Estado.
Leu um balance que há de servir de base à negociação e declarou que a diretoria empregaria todos os seus esforços caso lhe seja concedida a devida autorização a bem dos interesses da sociedade e em harmonia como governo do estado e depois de liquidada esta transação a diretoria continuará imediatamente no terreno que for escolhido com as obras para a edificação do nosso hospital.
Houve uma proposta condicional que só se autorizasse a transação depois de governo apresentar a sua proposição e condições para serem estudadas e discutidas em nova Assembleia. Esta proposta foi apresentada e definida pelos associados Joaquim Alves da Cruz e Eduardo Pinto Ribeiro.
A proposta de plena autorização à diretoria para negociar com o Exmo. Presidente do estado a venda do terreno e benfeitorias de propriedade da sociedade da melhor forma e a bem dos interesses da mesma, apresentada pelo sócio Benjamin da Silva Lucas, submetida a votos, foi aprovada por 23 (vinte e três) votos contra 7 (sete). Não houve portanto, unanimidade, em decisão de tanta importância. Os sete dissidentes manifestaram pelo voto o seu desagrado pela alienação de um patrimônio construído em quase duas décadas de lutas.
A Ata de sete de outubro registra também mais um fato curioso de prorrogação de mandato em transação de tão alta importância jurídica.
O Sr. Presidente declarou que, sendo marcado pelos estatutos o dia 31 de outubro para a reunião da Assembleia Geral em que tem de servir, digo, de ser apresentado o relatório do corrente ano e eleita a Diretoria tem de últimas as negociações entabuladas como Exmo. Sr. Presidente do Estado.
Verificamos que a Diretoria com o seu mandato expirante aventurou-se a entabular negociações de tão alta monta, prorrogando o seu mandato até 19 de maio de 1892.
No entanto, houve bom entendimento de ambas as partes sem qualquer percalço de nulidade.
“[…] Não convoquei – justifica o Presidente em seu relatório – a Assembleia Geral no prazo em quedeterminam os nossos estatutos por motivos que todos vós sabeis, entretanto ainda diligenciei conseguir queo meu sucessor tomasse conta do timão da sociedade livre de embaraços e se não pude chegar aos nossosdesejos, a culpa não foi minha porém filha das circunstancias”.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
Ela participou no sábado (15) da Marcha Mundial pelo Clima, manifestação que percorreu as ruas de Belém com demandas dos movimentos sociais.
Txai disse que as manifestações indígenas recentes na Zona Azul da COP30, como os protestos de terça e sexta-feira, são um recado claro de que os povos tradicionais não se sentem representados da maneira como deveriam.
“Imagina ter um evento na sua casa e você não poder entrar lá, enquanto eles decidem sobre a sua vida, enquanto o seu território segue ameaçado, segue sofrendo violações, as suas pessoas seguem morrendo”, disse Txai.
“Os povos indígenas jamais permitirão que um evento como esse aconteça sem que as vozes deles sejam ouvidas, sem que grito seja dado, sem que as denúncias sejam feitas e sem que as pressões aconteçam. Nós precisamos ter espaços de decisão”, complementou.
A ativista do povo Paiter Suruí, cujos territórios ficam nos estados de Rondônia e Mato Grosso. Foto: Divulgação
A ativista do povo Paiter Suruí, cujos territórios ficam nos estados de Rondônia e Mato Grosso, celebrou a participação dos movimentos sociais e dos povos tradicionais nas ruas durante a marcha deste sábado.
“Um momento importantíssimo no qual se juntam movimentos sociais, povos indígenas, quilombolas, extrativistas, população da floresta, população da Amazônia para dizer ao mundo o que queremos”, disse Txai.
“Dizemos ao mundo que não aceitamos mais a exploração de óleo na Foz do Amazonas e que a demarcação dos territórios é um direito dos povos indígenas, que a demarcação é uma das principais soluções que o Brasil e o mundo podem tomar no combate às emergências climáticas. Se a COP não consegue nos dar respostas para a crise, a gente está aqui dizendo que a resposta somos nós”, complementou.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Brasil, escrito por Rafael Cardoso
Dados mostram que cada vez mais os rios encolhem e cidades avançam. Na foto, a cidade de Lábrea, no Amazonas. Foto: Reprodução
Nos últimos anos, o Brasil tem vivido transformações profundas em seu território, refletidas em fenômenos como rios que recuam, expansão urbana acelerada e alterações na vegetação. Essas mudanças impactam diretamente a segurança hídrica, infraestrutura, agricultura e a vida das cidades, desafiando governos, empresas e comunidades a entender a velocidade e a magnitude das transformações.
Dados mais recentes do MapBiomas mostram que as áreas urbanizadas no Brasil somavam 4,1 milhões de hectares, ou 0,5% do território nacional, em 2023. Desde 1985, o crescimento foi de 2,4 milhões de hectares a um ritmo de 2,4% ao ano.
Seca do Rio Acre. Foto: Reprodução/Defesa Civil de Rio Branco
Considerando os temas abordados na COP30, realizada em Belém (PA) neste mês, os dados de satélite se posicionam cada vez mais como aliados estratégicos, fornecendo transparência e rastreabilidade para políticas públicas, compromissos corporativos e projetos de restauração.
Do espaço, é possível verificar se rios e reservatórios estão em recuperação, se áreas de vegetação estão sendo preservadas e como a expansão urbana interage com ecossistemas e recursos hídricos.
“O grande desafio hoje não é apenas coletar imagens, mas transformar dados em decisões. A integração de satélites, inteligência artificial e informações socioambientais cria uma nova fronteira de monitoramento, permitindo agir de forma preventiva e estratégica diante de mudanças rápidas”, explica o especialista em GIS e Sensoriamento Remoto, Ph.D. em Engenharia Mecânica (Satélites), Adriano Junqueira.
Adriano explica que, hoje, os satélites nos permitem observar essas mudanças com precisão diária e em escala nacional. “Constelações capturam imagens e transformam a observação da Terra em uma ferramenta prática para medir, analisar e agir diante dessas transformações. Essa capacidade não apenas amplia a cobertura espacial, mas também fornece séries temporais contínuas, essenciais para identificar padrões sazonais, anomalias e tendências de longo prazo”.
Rios em retração e escassez hídrica: como os satélites podem ajudar?
Em 2023–2024, a seca afetou 59% do território brasileiro, provocando escassez de água e uma grave perda de meios de subsistência e de colheitas, segundo dados da ACAPS. As áreas mais atingidas incluem os estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins, que fazem parte da região Amazônica, nas porções noroeste e centro-oeste do país
Vazante dos rios. Foto: divulgação
O monitoramento por satélite permite acompanhar rios, lagos e reservatórios, detectando variações de nível, assoreamento e mudanças no regime hídrico. Índices como o NDWI (Normalized Difference Water Index) ajudam a mapear alterações na cobertura de água, revelando trechos que secam ou recuam antes mesmo que a escassez seja perceptível no solo.
“Essas informações são fundamentais para planejamento urbano e agrícola, permitindo que autoridades emitam alertas para a população sobre os níveis da água, operadores de hidrelétricas ajustem a gestão de reservatórios e produtores adaptem o manejo agrícola, para citar apenas alguns exemplos”, explica Adriano.
“Além disso, ao combinar imagens de alta frequência com modelos de evapotranspiração – parâmetro que representa toda a água perdida para o ar, que não permanece no solo nem é absorvida pelas plantas – e dados históricos de uso do solo, é possível estimar a disponibilidade hídrica com maior precisão e identificar regiões mais vulneráveis a períodos de seca prolongada”.
Vazante dos rios. Foto: divulgação
O uso de dados de satélite também viabiliza a análise integrada de bacias hidrográficas inteiras, considerando tanto a oferta de água quanto a demanda urbana e agrícola. Com isso, governos podem tomar decisões mais embasadas sobre consumo, distribuição e conservação, antecipando impactos que podem afetar milhões de pessoas.
Estudos mostram que o monitoramento de recursos hídricos permite identificar indicadores precoces de riscos relacionados à água.
“A resolução geográfica e a frequência temporal dos dados de satélite ajudam as agências a localizar onde estão ocorrendo eventos como secas repentinas, enchentes, deslizamentos e vazamentos de óleo — e a compreender as dinâmicas dessas mudanças no dia a dia, especialmente em áreas remotas e de difícil acesso”, ressalta Adriano Junqueira.
Expansão urbana e as cidades sob o olhar do espaço
Segundo o Censo 2022, 87% da população brasileira vive em áreas urbanas. Do total de 203,1 milhões de pessoas da população brasileira, 177,5 milhões (87,4%) residem em áreas urbanas, enquanto 25,6 milhões vivem em áreas rurais. Em relação a 2010, quando o grau de urbanização foi de 84,4%, houve aumento de 16,6 milhões de pessoas morando em áreas urbanas e queda de 4,3 milhões vivendo em áreas rurais.
Vazante dos rios. Foto: Michel Mello
O crescimento das cidades brasileiras pode ser observado quase em tempo real a partir do espaço, com imagens diárias mostrando novas áreas construídas e alterações no uso do solo, o que permite o acesso a dados estratégicos para planejamento, conforme pontua Adriano. “O acompanhamento contínuo permite detectar tendências, comparar com padrões históricos e apoiar políticas de desenvolvimento sustentável.
Além disso, os dados de satélite ajudam a analisar conectividade entre áreas urbanas e ecossistemas naturais, revelando pressões sobre zonas verdes, rios urbanos e habitats críticos. Isso dá recursos para auxiliar em decisões que integrem desenvolvimento urbano com estratégias de conservação, reduzindo conflitos entre crescimento das cidades e preservação ambiental”.
Vegetação e áreas naturais: dos impactos às oportunidades
A combinação de dados ópticos e índices de vegetação, como o NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, indicador de sensoriamento remoto que mede a saúde e a vitalidade da vegetação), permite mapear áreas degradadas, florestas em recuperação e pressões sobre ecossistemas sensíveis.
“Essa análise é de grande importância para iniciativas de preservação, restauração ambiental e monitoramento de emissões de carbono associadas ao uso da terra, ajudando a transformar compromissos climáticos em ações concretas”, destaca Junqueira.
Além disso, a análise temporal possibilita acompanhar a regeneração de ecossistemas e mensurar impactos de intervenções humanas, como reflorestamento, restauração de matas ciliares e manejo sustentável de áreas agrícolas. Com isso, governos, empresas e ONGs podem planejar ações com base em evidências sólidas, priorizando locais e estratégias com maior potencial de impacto positivo.
Transparência e dados para decisões estratégicas
Ao integrar diferentes camadas de informação, como cobertura de água, vegetação e uso do solo, é possível identificar correlações complexas, como a relação entre expansão urbana, consumo hídrico e pressões sobre ecossistemas.
“Essa visão integrada oferece uma compreensão mais completa do território brasileiro, permitindo não só reagir a mudanças, mas antecipá-las e mitigá-las com planejamento eficaz. O futuro do Brasil, entre rios que encolhem e cidades que avançam, pode ser visto do espaço, tornando o invisível visível e as ações necessárias mais assertivas”, conclui Adriano Junqueira.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Tribuna, escrito por Daniella Pimenta