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Banzeiro da Esperança na COP30: o que é a ‘Amazônia Urbana’?

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Foto de capa: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O processo de colonização europeia na Amazônia, iniciado por volta do século XIX, trouxe mudanças significativas para o modo de vida dos povos originários e comunidades tradicionais da região. E uma dessas transformações foi o avanço da urbanização, motivada pelas cidades desenvolvidas do “Velho Continente”, que impactou profundamente nas questões estruturantes, sociais e econômicas da região amazônica.

É justamente essa reparação histórica que defende a Amazônia Urbana, conceito que visa resgatar e reconhecer a existência das relações humanas entre pequenos grupos antes da chegada dos europeus. O termo foi um dos assuntos discutidos durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro.

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Banzeiro da Esperança na COP30: o que é a 'Amazônia Urbana'?
Comunidades indígenas pré-coloniais já praticavam formas de urbanismo como, por exemplo, as relações humanas. Foto: Costa Rabelo

A professora de Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ana Cláudia Duarte, explica que o entendimento da aglomeração, trazido pela urbanização europeia, acabou criando a dicotomia entre urbano e rural, algo que não existia entre os povos da região amazônica, que já se relacionavam de maneira interligada entres redes comunitárias.

“Sempre houve um nível de urbanização, no sentido de aglomeração, entre as pessoas que viviam na floresta. É o que entendemos hoje como aldeias e vilas, as pessoas viviam na floresta e trabalhavam no entorno, pescando o peixe no rio, manejando a floresta, e cinco quilômetros depois tinha uma outra localidade. Ou seja, nós já tínhamos uma cidade-floresta, então não faz sentido falar em urbano e rural para esses assentamentos humanos, que sempre estiveram aglomerados”, explicou a professora, que atua em defesa da ‘Amazônia Urbana’.

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Desvalorização da Amazônia

A docente reforça que a implantação das cidades por parte dos europeus também contribuiu para o apagamento dos saberes tradicionais dos povos originários. Segundo Ana, tal movimentação tinha o intuito de desvalorizar as práticas, costumes e produtos oriundos da Amazônia.

“Durante o decorrer da colonização, tudo que era ligado à Amazônia era visto como ruim. A região era vista como uma página em branco, aqui tinha minérios, potencial hidrelétrico, mas para eles, quem vivia aqui não era humanos, não eram dignos desse status. Então, houve uma grande campanha de desvalorização muito grande no século 20, e aquele saber fazer que era nativo foi deixado de lado”, pontuou Ana.

Cidade de Altamira, no Pará. Foto: Reprodução/Prefeitura de Altamira
Cidade de Altamira, no Pará. Foto: Reprodução/Prefeitura de Altamira

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Para a professora, o debate da Amazônia urbana é fundamental para eliminar estereótipos e valorizar que os povos indígenas e comunidades tradicionais pré-coloniais já praticavam formas de urbanismo.

“A discussão ambiental sobre a importância da Amazônia para o mundo precisa iluminar esse processo histórico para que a gente possa fazer correções e revalorizar esses grupos que sempre souberam trabalhar com a floresta. Precisamos reverter isso, porque infelizmente esse processo está indo para as cidades. Por exemplo, hoje tem pessoas que não querem um quintal com vegetação, não querem uma árvore na frente de casa e porque preferem cimentar, isso veio da colonização e acabou se espalhando”, explicou.

Especial COP30

A entrevista da professora Ana Cláudia Duarte faz parte de uma sequência especial dedicada à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – Conferência das Partes (COP30) do programa ‘Bate-papo na CBN’, da rádio CBN Amazônia Belém (102,3 FM ).

Com o olhar de quem vive na região, o programa reuniu informações e entrevistas sobre toda a movimentação da 30ª edição do encontro mundial realizado em Belém (PA), realizado entre os dias 10 e 22 de novembro.

🌱💻 Saiba mais sobre a COP30 aqui

Professora Ana Cláudia Duarte, no programa especial Bate Papo na CBN, na COP30. Foto: Reprodução/Youtube-CBN Amazônia

Outra convidada do programa foi Marcela Vecchione Gonçalves, professora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da Universidade Federal do Amazonas (UFPA), que comentou sobre os impactos dos debates sobre as mudanças climáticas da conferência para os povos originários da Amazônia.

Para a convidada, as discussões acerca dos debates climáticos da COP30 já são um grande avanço para a execução das soluções diante da crise climática.

Marcela Vecchione Gonçalves, professora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da UFPA. Foto: Reprodução/Youtube-CBN Amazônia

“Essas decisões já impactam nas nossas vidas, principalmente para os mais vulneráveis, pois o que vemos aqui é uma conexão muito forte e planejada para o cumprimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável da agenda 2030 da ONU”, explicou Marcela.

Com oito episódios, os programas da rádio, apresentados pela jornalista Brenda Freitas, também ganharam versões especiais no canal Amazon Sat e no Portal Amazônia.

Você pode assistir as entrevistas completas das especialistas no oitavo episódio da edição especial do programa:

Veja outras matérias da série:

Banzeiro da Esperança

A iniciativa Banzeiro da Esperança é uma parceria entre Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Fundação Rede Amazônica (FRAM) e Virada Sustentável, com patrocínio do Banco da Amazônia (BASA). Esta edição do Banzeiro da Esperança é uma jornada de conexão, troca de saberes e transformação com foco na COP30.

Projeto inovador busca estabelecer o cultivo sustentável do pau-rosa na Amazônia

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Projeto busca estabelecer o cultivo sustentável do pau-rosa na Amazônia. Foto: Maria José Tupinambá

Embrapa Amazônia Ocidental conduz uma pesquisa inovadora para superar entraves e impulsionar a recuperação e o cultivo comercial do pau-rosa (Aniba rosaeodora), árvore nativa da Amazônia historicamente explorada de forma predatória. Valorizada por seu óleo essencial rico em linalol — composto muito usado nas indústrias de cosméticos e perfumaria fina — a espécie teve sua produção drasticamente reduzida, de 500 toneladas por ano na década de 1970 para apenas 1.480 quilos em 2021.

Saiba mais: Pau-rosa: o fixador de perfume da floresta amazônica

O projeto tem como foco a seleção de matrizes de alta qualidade e o desenvolvimento e validação de protocolos de clonagem por estaquia, definição de práticas agronômicas para redução de perdas no plantio e maior uniformidade nos cultivos. Será estabelecida também uma coleção de trabalho, com materiais genéticos de diversas procedências, de forma a oferecer uma ampla base genética para apoiar as atividades de seleção e melhoramento da espécie.

cultivo sustentável do pau-rosa
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Edson Barcelos, líder da iniciativa de cultivo de pau-rosa. Foto: Edson Barcelos

A pesquisa parte de uma população inicial de 80 árvores-matrizes localizadas na propriedade da empresa parceira Litiara/Agroflora, em Rio Preto da Eva (AM). Entre essas, foram escolhidas, inicialmente, as 10 com maior vigor e teor de óleo na biomassa superior a 1,5%, reproduzidas por sementes. Em novembro de 2025, foi iniciada a retirada dos galhos dessas plantas para a produção dos clones, por enraizamento de miniestacas (processo que usa pequenos pedaços de plantas (miniestacas) para que criem raízes e se desenvolvam em novas mudas idênticas à planta mãe), como informa o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Edson Barcelos, líder da iniciativa.

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A reprodução do pau-rosa já foi estudada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), porém ainda não foi aplicada em escala comercial. A meta da Embrapa é aprimorar o método de enraizamento para viabilizar a produção em larga escala de mudas clonadas, como já ocorre com culturas consolidadas como café, eucalipto e erva-mate.

A proposta é estabelecer um modelo completo de cultivo, que abranja desde a seleção genética até o manejo no campo, fortalecendo a cadeia produtiva regional. Isso inclui a escolha das melhores matrizes (com alto desempenho), clonagem eficiente para geração de mudas em grande quantidade e implantação com técnicas que garantam uniformidade nos plantios.

Ainda serão avaliados diversos parâmetros agronômicos para consolidar um sistema de produção robusto e sustentável, tais como: época ideal e altura da poda, espaçamento entre plantas, tipos e doses de adubação e estratégias para controle de pragas e doenças. “Para plantar cinco hectares, são necessárias cinco mil mudas. Mas não há sementes suficientes e, quando há, o material genético é muito heterogêneo. As plantas crescem de forma desigual e o teor de óleo varia drasticamente”, explica Barcelos.

A essência do pau-rosa — seu óleo essencial — é valorizada principalmente por ser uma fonte natural de linalol, composto químico que representa mais de 80% do óleo e possui diversas aplicações comerciais e potenciais. A pesquisa da Embrapa tem como foco a produção sustentável voltada para esses usos, extraindo o óleo de folhas e galhos, e mantendo a árvore viva.

cultivo sustentável do pau-rosa
O projeto de pau-rosa tem como foco a seleção de matrizes de alta qualidade. Foto: Edson Barcelos

Durante décadas, o pau-rosa foi explorado sem critérios técnicos: as árvores eram cortadas rente ao solo para extração do óleo, sem replantio ou manejo adequado. Após sua inclusão na lista de espécies ameaçadas de extinção, essa prática foi proibida. No entanto, o Brasil ainda não desenvolveu tecnologia suficiente para o cultivo comercial da espécie, cuja área plantada hoje não ultrapassa 50 hectares, e está concentrada nos municípios amazonenses de Maués, Novo Aripuanã e Itacoatiara.

Um dos principais obstáculos é a escassez de mudas de qualidade. Plantios realizados a partir de sementes apresentam alta taxa de mortalidade — entre 70% e 90% — além de grande variabilidade genética, o que compromete a uniformidade das plantas e o teor de óleo, que pode variar de 0,5% a 2,0%. Soma-se a isso a limitada experiência com sistemas de plantio e manejo adequados.

Infraestrutura e próximos passos

Com apoio de uma emenda parlamentar no valor de R$ 250 mil, foram construídas estufas, adquiridos vasos e equipamentos para um laboratório de extração de óleo. A casa de vegetação já está em funcionamento, e nos próximos meses, começarão os testes de enraizamento com diferentes substratos — como terriço, fibra de coco e vermiculita (mineral que se expande com o calor, transformando-se em um material leve e com excelente capacidade de absorver água e reter nutriente)  e hormônios vegetais.

Sistema de produção integrado

O projeto também investiga o uso da banana como cultura de sombreamento nos primeiros anos do pau-rosa, oferecendo sombra ideal e retorno econômico para ajudar a custear o plantio. A pesquisa busca definir o melhor espaçamento, época e altura de poda, adubação e controle de pragas, com o objetivo de validar um sistema de produção eficiente e sustentável. “Vamos criar um sistema de produção validado”, acrescenta o pesquisador.

Agricultura familiar: conservação e renda

Pau-Rosa na sombra da bananeira. Foto: Edson Barcelos

Paralelamente, agricultores familiares da zona rural de Manaus vêm testando o cultivo do pau-rosa como alternativa à extração em florestas nativas. Em 2012, agricultores familiares dos assentamentos no ramal ZF 4 e a Embrapa iniciaram o plantio de 230 mudas em áreas de roçado de mandioca e capoeira. As mudas foram consorciadas com frutíferas perenes e, em 2020, as primeiras florações foram observadas.

Leia também: ‘Queridinho’ dos perfumes: produção do óleo essencial de pau-rosa é foco de estudo na Amazônia

Apesar da taxa de mortalidade de 47%, atribuída a pragas, sombreamento e estresse hídrico, as plantas consorciadas apresentaram sobrevivência 50% superior em comparação às cultivadas em capoeira e 60% menos mortalidade. A poda das plantas sombreadoras foi recomendada para estimular a biomassa e a reprodução, visando a coleta de sementes e a extração de óleo em agroindústrias familiares.

Desafios e perspectivas

Além da escassez de mudas de qualidade e a alta mortalidade de plantios, outro entrave da cultura é a burocracia excessiva na comercialização do óleo essencial de pau-rosa. Durante o Simpósio de Óleos Essenciais realizado em Manaus, em outubro de 2025, especialistas e empresários propuseram a “Carta do Pau-Rosa”, iniciativa que busca sensibilizar autoridades a destravar processos que dificultam o avanço da cadeia produtiva. As muitas exigências estão afastando os compradores que preferem substituir o pau-rosa por outros óleos.

Óleos essenciais extraídos do pau-rosa. Foto: Maria José Tupinambá

Com a consolidação do sistema de produção, a expectativa é fortalecer a cadeia produtiva regional, promover a conservação da espécie e gerar novas oportunidades econômicas para comunidades amazônicas e empreendedors.

“Estamos construindo um modelo que alia ciência, conservação e desenvolvimento regional. O pau-rosa pode voltar a ser símbolo de riqueza — desta vez, com sustentabilidade”, conclui Barcelos.

*Com informação da Agência Embrapa de Notícias

Comunidades ribeirinhas de Rondônia recebem primeiro núcleo comunitário da Defesa Civil

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Comunidades ribeirinhas recebem núcleo comunitário da Defesa Civil. Foto: José Carlos

Quem vive às margens do rio Madeira aprende cedo que a vida muda com as águas. Elizete Mota, moradora da comunidade Bom Será, em Rondônia, lembra que a seca não é apenas um período do ano, é um tempo de aperto no coração. Ela conta que, quando o rio começa a baixar, a água fica escassa, os peixes desaparecem e a comunidade se vê obrigada a mudar a rotina para conseguir o básico. Já na cheia, o medo vem com a força da correnteza, que pode subir de um dia para o outro e tomar casas, plantações e principalmente histórias.

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“A gente fica sempre com o coração apertado. Eu sou moradora da comunidade há 20 anos e nossa maior dificuldade é no inverno, porque a gente perde as plantações, perde nossos animais e tudo que construímos com suor do nosso trabalho. Mesmo sabendo que não podemos controlar a força da natureza, esse é um local que escolhemos para viver”, disse a moradora.

Comunidades ribeirinhas de Rondônia recebem primeiro núcleo comunitário da Defesa Civil
Comunidades ribeirinhas recebem núcleo comunitário da Defesa Civil. Foto: José Carlos

A realidade dos moradores de comunidades que convivem com a dureza da seca e o temor da cheia do rio Madeira começa a ganhar um novo horizonte com o apoio da Prefeitura de Porto Velho, por meio da Superintendência Municipal de Defesa Civil (SMDC), com a criação do Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil (Nupdec). A iniciativa representa não apenas um reforço na segurança, mas a sensação de que, finalmente, não enfrentarão esses desafios sozinhos.

Leia também: Ciclos da água têm impacto direto na segurança alimentar de comunidades ribeirinhas da Amazônia

“Essa é uma iniciativa inédita em Porto Velho. Estamos montando a primeira equipe do Nupdec aqui no médio madeira. Por exemplo se acontecer alguma situação de perigo, esses voluntários serão nossos olhos nessas comunidades. Ou seja, a partir de agora estão mais perto da Defesa Civil e ajudando nosso trabalho”, disse o superintendente da SMDC, Marcos Berti.

Capacitação

Moradores voluntários das comunidades ribeirinhas participaram de uma capacitação na Escola Municipal Professora Maria Angélica Queiroz, na comunidade Nova Aliança, para integrar o núcleo. Durante o treinamento, eles receberam orientações sobre prevenção de desastres, primeiros atendimentos, percepção de risco, papel da comunidade, primeiros socorros, prevenção de queimadas e procedimentos de segurança em situações de emergência.

Marcos Berti disse que se acontecer alguma situação de perigo, esses voluntários serão olhos da Defesa Civil Minicipal nessas comunidades ribeirinhas. Foto: José Carlos

Participaram representantes de diversas localidades, entre elas, Brasileira, Ramal 45, Caldeirita e Aliança. A formação fortaleceu o vínculo entre a Defesa Civil e a população, preparando os voluntários para atuar como pontos de apoio e informação dentro de suas localidades, capacitando voluntários para identificar riscos, atuar em situações de emergência e disseminar informações de segurança.

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Multiplicadores de informações

Para muitos moradores, o curso oferecido pela Defesa Civil proporcionou algo totalmente novo: pela primeira vez, tiveram a oportunidade de aprender de forma prática como agir em situações de risco e organizar a própria comunidade.

“Eu fiquei surpresa em saber, porque nunca tinha acontecido isso aqui pra gente e isso é muito satisfatório. Eu sei o que minha comunidade realmente precisa e agora posso passar todas as informações para a Defesa Civil”, disse Simone Alves moradora da comunidade de Brasileira.

Comunidades ribeirinhas recebem núcleo comunitário da Defesa Civil. Foto: José Carlos

Após a formação, os voluntários atuarão como multiplicadores de informações, auxiliando tanto na prevenção quanto no atendimento inicial em situações de emergência. Para a voluntária Elkes Monteiro, que vive na comunidade Vila do Jacú, a formação oferecida pela Defesa Civil foi uma experiência inédita e transformadora.

“Acho que vai melhorar muito, porque vamos ter esse apoio e sabemos que podemos contar com a defesa civil. Antigamente era uma comunidade ajudando a outra e a agora a partir da gestão do prefeito Léo Moraes estamos tendo esse apoio”, finaliza a moradora.

Comunidades ribeirinhas recebem núcleo comunitário da Defesa Civil. Foto: José Carlos

Com a criação do Nupdec, o município de Porto Velho dá um passo importante para tornar as comunidades mais preparadas, seguras e organizadas, reforçando o compromisso com a proteção e a defesa civil. A expectativa é que a capacitação também aconteça em outras localidades do alto e baixo madeira. Os voluntários receberão certificados e coletes com identificação da Defesa Civil Municipal.

*Com informação da Secretaria Municipal de Comunicação de Porto Velho

Lista Verde: Reserva do Rio Iratapuru no Amapá conquista certificação inédita de conservação ambiental

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A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, no Sul do Amapá, foi incluída na Lista Verde da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Foto:

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, no Sul do Amapá, foi incluída na Lista Verde da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). O selo reconhece a proteção da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais em uma área de mais de 800 mil hectares.

É a primeira reserva estadual do Brasil a receber a certificação. O processo foi coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema), com apoio de comunidades e organizações sociais. A área abrange os municípios de Laranjal do Jari, Mazagão e Pedra Branca do Amapari.

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Marcos Almeida, diretor de Desenvolvimento Ambiental da Sema, destaca a certificação como um ‘Oscar’ da gestão ambiental. A avaliação durou três anos, com auditorias e análise do plano de gestão da unidade

“É uma analogia realmente a um Oscar ambiental de gestão, onde é avaliado desde o seu plano de gestão, seu plano de gestor, o plano de aplicação do fundo da biodiversidade, que também ele direciona e dá recursos anuais para as populações daquela região”, disse Marcos.

O manejo sustentável foi um dos principais critérios avaliados. A região se destaca pela produção da castanha-do-Brasil, que valoriza saberes tradicionais e fortalece a sociobiodiversidade.

A Sema também fez consulta pública com as comunidades para avaliar a relação de gestão com o Estado.

“Temos apoiado as comunidades para que mantenham seu modo de vida e o extrativismo da castanha, conhecida mundialmente. É uma participação social real, em que o Estado faz a gestão, mas as comunidades também atuam na proteção, no monitoramento e na preservação da cultura e dos saberes locais”, relembrou o diretor.

Para os extrativistas, a certificação confirma que estão no caminho certo. Márcio André Furtado, representante da comunidade, disse que o selo deve orientar a gestão da reserva nos próximos anos.

Expedição coleta plantas arbóreas na Reserva do Rio Iratapuru, em Laranjal do Jari, no Amapá. Foto: Israel Cardoso/GEA
Expedição coleta plantas arbóreas na Reserva do Rio Iratapuru, em Laranjal do Jari, no Amapá. Foto: Israel Cardoso/GEA

“Ainda temos muito a aprender sobre como a certificação vai ajudar as comunidades. Mas já temos certeza de que estamos no caminho da preservação ambiental junto com o desenvolvimento socioeconômico. O plano de gestão para os próximos anos deve orientar e melhorar a administração da unidade”, disse Márcio.

A produção de castanha é a base da economia local. A coleta é manual e sustentável, sem derrubar árvores. Além da venda da castanha, há produção de óleo usado em alimentos e cosméticos.

Os moradores atuam por meio da Cooperativa Comaru, criada em 1992 para dar autonomia aos castanheiros e evitar a exploração por atravessadores.

Leia também: Amapá tem 21 unidades de conservação, que correspondem a cerca de 50% da área do estado; entenda diferença entre elas

RDS do Rio Iratapuru

A reserva foi criada em 1997 e é formada por floresta tropical úmida, com árvores de grande porte e alto valor econômico.

Recentemente, pesquisadores localizaram árvores gigantes com mais de 70 metros de altura na reserva. As espécies são conhecidas como angelim-vermelho e equivalem a um prédio de 24 andares.

Em 2021, a reserva também foi palco da descoberta da maior castanheira já registrada no Brasil, com 66 metros de altura.

Entenda o que é a Lista Verde

A Lista Verde da UICN é uma certificação internacional que reconhece áreas protegidas que funcionam de forma eficaz, garantindo conservação da natureza e benefícios sociais.

A expectativa é que a certificação atraia novos investimentos para o Amapá. O selo não é definitivo e depende da continuidade das ações de conservação. Técnicos da UICN seguirão monitorando a área.

Por Mariana Ferreira, da Rede Amazônica AP

Biomas amazônicos: fornecedores de carnes de animais silvestres, ricas em valor nutricional, como fonte de alimentos dos povos da floresta

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Foto: André Antunes/Rede Fauna

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

Informes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) abordam uma questão que jamais imaginaria fazer parte da programação de trabalhos de pesquisas de renomados cientistas vinculados à instituição. Morrendo e aprendendo, ou, como em Hamlet, “a todos ofereçam o ouvido, a poucos a língua”, crucial na dieta e tradições, “a carne de animais silvestres representa uma rica diversidade biológica e cultural dos sistemas alimentares tradicionais de povos indígenas, tradicionais e de pequenos agricultores do interior de nove países da Amazônia”.

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Estudos com participação de pesquisadores do Inpa divulgados na revista científica Nature (uma das publicações científicas mais importantes e citadas do mundo) revelam que a preservação da floresta garante acesso à carne de caça ajustada aos modos de vida dos povos amazônicos. Para sua maior legitimação, o trabalho conta com a coparticipação de pesquisadores indígenas de dez povos amazônicos: Surui, Paumari, Katukina, Baniwa, Waurá, Apurinã, Tikuna, Kaxinawá, Kuikuro e Kaixana, além de extrativistas.

Impactante e inédita, a pesquisa procedeu a um levantamento sobre a caça de animais silvestres na Amazônia, a maior e mais diversa região de floresta tropical do planeta, avaliando seu valor nutricional como fonte de alimento. Mostrou surpreendente diversidade de animais consumidos, envolvendo 490 espécies, com dominância de 20 grupos que respondem a 72% dos indivíduos caçados, com destaque para queixada, anta e paca – essa última, a espécie mais caçada na Amazônia.

Na fase de levantamentos de campo foram coletados e analisados dados de quase 60 anos – entre 1965 e 2024 – em 625 localidades. Em conclusão, estimou-se “que a carne de tetrápodes selvagens (mamíferos, aves, répteis e anfíbios) produzida é suficiente para suprir quase metade das necessidades diárias de proteína alimentar e ferro dos 11 milhões de habitantes das áreas rurais da Amazônia, além de uma parcela significativa de vitaminas do complexo B e zinco, nutrientes fundamentais para a saúde humana”.

pirarucu da Amazônia
Pirarucu. Foto: Siglia Souza/Embrapa

As análises prermitem inferir que uma “riqueza invisível” sustenta a segurança nutricional dos povos da Amazônia, bioma com 8 milhões de quilômetros quadrados (km2). Por ano, ressalta, são extraídas da Amazônia mais de meio milhão de toneladas de biomassa animal (indivíduo inteiro), o que corresponde a 0,37 milhão de toneladas de carne silvestre efetivamente comestível. Em comparação com os preços atuais da carne bovina, a produção teria um valor econômico aproximado de US$ 2,2 bilhões ao ano”. Valiosas conclusões podem-se extrair destas pesquisas. A primeira e mais contundente: por que não desenvolver localmente sistemas agropecuários produtivos de criação para abate dessas extraordinárias fontes de proteínas animais?

No início do século XIX, convém salientar, quando a pecuária ainda não chegara à região, carnes de animais silvestres, além de pescados, eram fontes primárias de alimentos das populações locais. Resquício daqueles tempos, ainda se consome em zonas rurais peixe boi, jacaré, quelônios (tracajá, tartaruga, iaçá), caças ou pescados. A disseminação de fazendas de criação viriam, além de contribuir para a preservação ambiental, atender consideráveis segmentos de mercado, hoje dependentes exclusivamente da produção agropecuária, avícolas e pescados.

O estado do Tocantins cria com muito sucesso pirarucu em açudes e o Mato Grosso, jacarés, pelo valor de suas carnes e couro. O Amazonas, adotando políticas públicas ajustadas às idiossincrasias do bioma tem tudo para desenvolver este setor, inclusive gerando excedentes exportáveis. A China, saliente-se, já é o maior produtor mundial de tambaqui. Uma questão de governança do sistema de pesquisa, da assistência técnica e do crédito especializado. Com a palavra o próprio Inpa, Embrapa, CBA, a Universidade, os governos estaduais.

Leia também: Embrapa divulga estudo sobre o papel fundamental dos produtores rurais na preservação ambiental

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Zogue-zogue: espécie de macaco que habita o norte do Mato Grosso está ameaçada de extinção

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Foto: Miguel Rangel Júnior/ Wikimedia Commons

Em uma propriedade rural da Gleba Mercedes, no município de Sinop (MT), um agricultor se surpreendeu ao encontrar um macaco no telhado de sua casa. O episódio, ocorrido durante a seca, expôs o cenário que envolve os zogue-zogues que vivem na região: a busca por sobrevivência diante de um território cada vez mais restrito.

Cinco indivíduos circulam no fragmento florestal da fazenda, isolados entre áreas desmatadas e o lago formado pelo represamento de uma usina hidrelétrica nas proximidades.

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A espécie, identificada cientificamente como Plecturocebus grovesi, existe apenas no norte do Mato Grosso e foi inserida entre os 25 primatas mais ameaçados do planeta.

Com peso inferior ao de um gato doméstico e pelagem marcada por tons alaranjados na barba, o zogue-zogue perdeu mais de 40% de seu habitat original. Estudos apontam que, caso o ritmo de degradação permaneça, a redução pode alcançar 80% em poucas décadas.

Macacos zogue-zogue vivem isolados em pequenos fragmentos de floresta no norte do Mato Grosso e a espécie enfrenta perda acelerada de habitat. Entre a pressão do desmatamento e o avanço de um grande reservatório hidrelétrico, grupos de primatas permanecem encurralados.

Moradores e organizações ambientais iniciaram um projeto de reflorestamento em áreas degradadas próximas aos fragmentos onde os primatas vivem. A ação busca criar corredores naturais que permitam a migração entre diferentes trechos de mata, ampliando o espaço disponível e reduzindo o isolamento dos grupos.

Dados sobre o zogue-zogue

O primatólogo Gustavo Canale, professor associado da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), é um dos 20 autores do artigo que apresentou o zogue-zogue para o mundo científico. Ele conta que, no momento, parte dos esforços é para confirmar a distribuição da espécie e qual o seu limite ao sul.

“Nós já confirmamos a espécie aqui no município de Sinop e tem algumas populações que a gente sabe que ocorrem ali mais ou menos na região de Lucas do Rio Verde. E aí vamos descer mais na transição, entrando verdadeiramente no Cerrado do estado, para ver se o limite sul dessa espécie, como a gente imagina, é essa transição Amazônia e Cerrado. Então onde ocorre Cerrado propriamente dito, a espécie não ocorreria”, explica no artigo.

A distribuição do zogue-zogue está delimitada por barreiras naturais formadas pelos rios Juruena, Teles Pires e Arinos. Essas fronteiras, aliadas ao avanço da agropecuária, ao fogo e à fragmentação florestal, resultam em manchas isoladas de habitat. Em municípios como Alta Floresta, dados ambientais mostram forte expansão do uso agropecuário e retração equivalente da cobertura florestal ao longo das últimas décadas.

Pesquisadores relatam que a perda de vegetação é acelerada no norte mato-grossense, área inserida no chamado “arco do desmatamento”. Fragmentos pequenos tendem a não sustentar populações viáveis no longo prazo, e incêndios florestais — comuns na região — aumentam a vulnerabilidade dos primatas. Barreiras como hidrelétricas e a abertura de estradas também dificultam a circulação dos grupos, ampliando o isolamento genético e espacial.

Leia também: Portal Amazônia responde: qual a nova fronteira do desmatamento?

A barreira formada pelo reservatório

Na Gleba Mercedes, além do desmatamento, a família de cinco zogue-zogues vive limitada pela elevação do nível da água causada pela barragem de uma usina hidrelétrica. Moradores relatam que a formação do lago transformou um antigo riacho em uma área alagada de cerca de 300 metros, que os primatas não conseguem atravessar. A alteração na paisagem reduziu ainda mais o habitat acessível e separou grupos que antes compartilhavam um mesmo conjunto contínuo de floresta.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Mato Grosso fez, em 2023, imagens desses animais na Gleba Mercedes. As imagens ajudam a organização a adquirir recursos para os moradores da região reflorestarem a região e assim manter a espécie desses macacos protegida.

Pesquisadores e organizações locais seguem mobilizados para reconectar áreas fragmentadas. Projetos de reflorestamento comunitário, plantio de espécies nativas e monitoramento de grupos isolados dos macacos avançam como alternativas para ampliar o habitat do zogue-zogue e reduzir o risco de desaparecimento em longo prazo no Mato Grosso.

Mesmo com duas grandes porções de floresta ainda existentes na região, o isolamento entre fragmentos menores é apontado por especialistas como um desafio crítico para a continuidade da espécie. Por isso, a criação de corredores florestais e esse acompanhamento das populações se tornaram ações essenciais para garantir a sobrevivência do primata.

Justiça Federal do Amapá mantém autorização para testes de perfuração de petróleo na Foz do Amazonas

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Foz do Amazonas. Imagem: Reprodução/Google Maps

A Justiça Federal do Amapá rejeitou a ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Petrobras. A decisão, divulgada na sexta-feira (12), manteve a autorização para a Avaliação Pré-Operacional (APO) no bloco FZA-M-59, localizado na Bacia da Foz do Amazonas.

Leia também: Licença para pesquisa da Petrobras na Bacia da Foz do Amazonas é aprovada pelo Ibama

O juiz Anselmo Gonçalves da Silva, da 1ª Vara Federal Cível, considerou improcedentes os pedidos do MPF e reconheceu a legalidade do despacho do Ibama que permitiu os testes. A sentença também validou os atos seguintes, como a realização da APO e a emissão da licença para perfuração.

Segundo o magistrado, decisões técnicas devem ser avaliadas pelos órgãos ambientais especializados, sem substituição pelo Judiciário. Ele destacou a importância de garantir segurança jurídica nos processos e respeitar a separação dos poderes.

Na análise do mérito, o juiz afirmou que o despacho do Ibama tem validade técnica e jurídica. Explicou que a APO é uma etapa experimental, usada para verificar, em ambiente controlado, a eficácia dos planos ambientais antes da perfuração.

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O magistrado considerou que havia justificativas técnicas suficientes para autorizar a APO, incluindo medidas corretivas apresentadas pela Petrobras. Ressaltou ainda que divergências internas no Ibama não configuram irregularidade, desde que a decisão final esteja fundamentada.

Sobre a ausência da Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), o juiz afirmou que o instrumento não é obrigatório para este tipo de licenciamento, conforme precedentes do Supremo Tribunal Federal. Também considerou correta a delimitação da área de influência, feita com base em impactos reais, sem incluir regiões que só seriam atingidas em caso de acidentes de baixa probabilidade.

Sonda de perfuração NS-42, no Amapá. Foto: Divulgação/Foresea
Sonda de perfuração NS-42, no Amapá. Foto: Divulgação/Foresea

Consulta prévia a povos indígenas no Amapá

A sentença reconheceu a importância da consulta prévia aos povos indígenas do Amapá, prevista na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e na Constituição. Porém, o juiz entendeu que, na fase atual do licenciamento, não havia impacto direto sobre comunidades indígenas ou tradicionais e, por isso, a consulta não era obrigatória.

De acordo com a decisão, a consulta só deve ocorrer quando houver medidas capazes de afetar diretamente essas comunidades. Como a APO é apenas uma simulação pré-operacional, anterior à perfuração, não havia essa exigência.

O magistrado também ressaltou que o processo já contou com audiências públicas e reuniões em municípios do Amapá, com participação de representantes indígenas. Para ele, a consulta será obrigatória apenas em fases futuras, quando houver impactos concretos sobre territórios ou modos de vida. Caso isso não ocorra, a questão poderá ser reavaliada judicialmente.

*Por Rafael Aleixo, da Rede Amazônica AP

3 locais que protegem documentos históricos do Amazonas

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Foto: Walter Mendes/Acervo Jornal do Commercio

Documentos são registros que guardam informações sobre o passado e ajudam a compreender como sociedades, instituições e pessoas atuaram ao longo do tempo. No Amazonas, esses materiais estão espalhados em diferentes arquivos e acervos, formando fontes de pesquisa fundamentais para historiadores, estudantes e cidadãos que buscam entender a memória regional.

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A produção e a conservação de documentos no Amazonas remontam ao século XIX, período no qual as instituições públicas começaram a registrar informações administrativas, legais e sociais de maneira mais sistemática. Esses documentos variam de decretos, legislações, registros administrativos, até periódicos e atas oficiais.

O acesso a esses materiais, em muitos casos, depende de políticas de preservação e digitalização desenvolvidas por órgãos públicos e iniciativas de pesquisa. A organização desses acervos, no entanto, é trabalhosa e demanda recursos técnicos para que os papéis antigos possam ser consultados sem risco de dano físico, sendo digitalizados quando possível.

Neste contexto, alguns dos documentos mais antigos do Amazonas foram identificados em três localidades: Manaus, Tefé e Parintins. Conheça:

Manaus: arquivos centenários e documentos do período imperial às primeiras décadas republicanas

Em Manaus, a capital do estado, o Arquivo Público do Estado do Amazonas é uma das principais instituições que guarda documentos antigos referentes à administração e à história do Amazonas. Criado em 1897, esse arquivo tem como missão coletar, organizar, armazenar e recuperar documentos que preservam a atividade pública estadual desde o período imperial brasileiro até os anos iniciais da República.

Entre os documentos mais antigos estão peças datadas do início do século XIX, incluindo materiais do período imperial que abrangem leis, decretos e registros administrativos que datam de 1821 e 1852, conforme relatado em iniciativas de reorganização do acervo.

Além disso, o acervo público em Manaus conta com edições históricas do Diário Oficial do Estado que remontam à década de 1890, antes mesmo da formalização do próprio Arquivo Público, evidenciando séries documentais contínuas que registram atos oficiais do governo estadual ao longo de mais de um século.

Tefé: registros históricos e organização de acervos paroquiais e municipais

Os documentos do Acervo de Tefé estão sob a guarda da prelazia de Tefé, no prédio da Rádio Rural. Foto: Divulgação/ Fapeam

No município de Tefé, no interior do Amazonas, projetos de pesquisa e programas de organização de acervos têm resgatado documentos que remontam ao século XIX, integrando fontes que compõem a memória local. A pesquisa sobre o acervo bibliográfico e documental dessa região inclui materiais que registram eventos e informações históricas importantes para a compreensão das transformações sociais e econômicas.

Livro de batismo da Vila de Ega em 1800, nome atigo dado ao município de Tefé é umas das obras presentes no acervo de Tefé. Foto: Revista Confluências – Luciano Teles, Tenner de Abreu e Alcemir Teixeira

Esses documentos, muitos deles ligados a instituições locais tais como igrejas e órgãos municipais, incluem registros de natureza civil e paroquial, que foram sendo reunidos e organizados ao longo do tempo por meio de iniciativas que visam higienizar, catalogar e disponibilizar o acervo para consulta pública e acadêmica.

Um dos documentos é o Livro de Batismo da Vila de Ega (1800) — Vila de Ega sendo a Tefé colonial — um registro paroquial conservado no acervo da Prelazia de Tefé e frequentemente citado por pesquisadores como fonte primária para a reconstrução da história local; esses livros documentais contêm nomes, datas, filiação e informações sociais essenciais que ajudam a mapear famílias, vínculos sociais e até aspectos da escravidão e da demografia regional nos séculos XVIII–XIX, por isso são usados em estudos históricos e genealógicos sobre a região.

O acervo de Tefé não se limita aos arquivos oficiais, pois documentos relacionados à vida cotidiana, atividades comunitárias e descrições de eventos importantes da região também fazem parte das coleções que estão em processo de preservação.

Os documentos estão sob a guarda da prelazia de Tefé, no prédio da Rádio Rural. O projeto de intervenção do acervo está sob a direção de uma equipe composta por três professores da área de História e estudantes de graduação do curso de Licenciatura em História, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Parintins: museu eterniza a história da cidade

Foto: Centro de Cultura e Memoria de Parintins (CCMP) – Divulgação

O Museu da Cidade de Parintins, instalado no Palácio Cordovil — um dos mais importantes patrimônios públicos do município, é um dos espaços mais modernos dedicado à preservação e à apresentação da memória local. O prédio, que já sediou o Poder Executivo em 1969, compõe um conjunto arquitetônico histórico ao lado da Praça Eduardo Ribeiro, reunindo elementos que auxiliam na compreensão da trajetória política e cultural da cidade.

O acervo do Museu da Cidade de Parintins reúne peças que preservam a história e a identidade cultural da ilha Tupinambarana, com destaque para fotografias, objetos, indumentárias e artesanatos relacionados ao folclore dos bois-bumbás muito além dos bois que competem em junho, mas especialmente do Caprichoso e do Garantido, que simbolizam a tradição local e a memória coletiva da cidade. Entre os itens do acervo estão peças doadas pelas próprias agremiações Boi Campineiro, VeludinhoAz de OuroDiamante NegroEstrela de Fogo e Marronzinho.

De acordo com a historiadora e administradora do museu, Larice Butel, o espaço reúne dois ambientes estruturados a partir de áreas distintas do antigo prédio público. O Paço Municipal, tombado e oficializado em 1968, integra a área mais recente, enquanto o setor correspondente ao antigo fórum de Parintins preserva detalhes arquitetônicos ecléticos que foram mantidos durante o processo de adaptação do imóvel. Essa combinação permite que o visitante tenha contato tanto com documentos e materiais históricos quanto com aspectos estruturais que representam períodos diferentes da construção da cidade.

Ao todo, o museu possui sete salas organizadas por temas, como cultura popular, história do município, influência de grupos estrangeiros e uma sala audiovisual com capacidade para 25 pessoas. O funcionamento ocorre diariamente, com horários ampliados nos fins de semana, especialmente para atender o aumento do fluxo turístico durante o Festival de Parintins. A primeira sala, destinada a exposições provisórias, apresenta obras do artista visual parintinense Evanil Marciel, que retrata elementos do cotidiano local por meio de técnicas como a pintura com espátula e o hiper-realismo. As obras expostas, que permanecem por seis meses antes de serem substituídas por novas mostras, destacam situações da vida tradicional de bairros como a Francesa e representações religiosas, como o milagre da multiplicação dos peixes.

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A exposição também aborda a presença dos povos indígenas que compõem a origem histórica de Parintins. Artefatos dos Sateré-Mawé, como porantins, inhanbés, luvas e formigas do ritual da Tucandeira, ocupam a segunda sala e permitem ao visitante conhecer elementos da cosmogonia e tradições desse povo. Em outra seção, os bois-mirins Estrelinha, Tupi e Mineirinho dividem o espaço com os bois Garantido e Caprichoso, exibindo fantasias utilizadas por artistas como Paulinho Farias e Arlindo Júnior. Entre os itens expostos, destacam-se o boi Caprichoso utilizado em visitas a torcedores durante o período de isolamento na pandemia e o boi Garantido que evoluiu no centenário do festival.

A história multicultural de Parintins também está representada no museu por meio dos objetos e documentos de famílias estrangeiras que contribuíram para o desenvolvimento local. Entre eles, itens pertencentes às famílias Minami e Sato, figuras influentes na cidade em décadas passadas. O acervo inclui ainda peças relacionadas ao promotor público Marcos Salomão Zagury (1883–1938), cuja sala reúne objetos pessoais organizados sob curadoria de Leão Azulai. Com essa diversidade de materiais, o Museu da Cidade de Parintins se consolida como um espaço onde diferentes épocas e influências socioculturais são preservadas, oferecendo ao público acesso a importantes referências sobre a formação do município.

Livro celebra mulheres negras da história de Mato Grosso

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Livro enaltece a história de mulheres negras de Mato Grosso. Foto: Divulgação / UFMT

Obra escrita e ilustrada por Cristina Soares, com roteiro organizado por Everson Constantino, e publicada pela Editora KOFA, o livro ‘Mulheres na História Africana em Mato Grosso‘ foi lançado em Cuiabá no dia 9 de dezembro. O livro reúne, por meio de pesquisa histórica, texto e arte visual, as trajetórias de três mulheres essenciais para a história do estado: Tereza de Benguela, Mãe Bonifácia e Maria Taquara.

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O livro convida o público a valorizar memória, ancestralidade e protagonismo feminino negro em Mato Grosso. A primeira edição, lançada digitalmente pela UFMT em 2022, alcançou ampla circulação na mídia local e nacional, atraindo leitores, educadores e pesquisadoras da história afro-mato-grossense.

O lançamento ocorreu no Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado de Mato Grosso (SINTUF-MT).

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Livro impresso

A chegada da versão impressa celebra um ciclo de criação que integra arte, pesquisa e ancestralidade. A escolha da UFMT como espaço do lançamento reforçou sua importância institucional, já que a obra nasce de pesquisa realizada no âmbito do Mestrado Profissional em História – ProfHistória.

Em 2025, o livro recebeu o Prêmio Marília Beatriz Figueiredo, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT), que reconhece obras que fortalecem a literatura e a memória cultural do estado.

*Com informações da Universidade Federal do Mato Grosso

Brasil lidera número de povos isolados, mas há lacunas na proteção

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Brasil lidera número de povos isolados. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) registra 115 povos indígenas isolados em todo o país, mas o Estado brasileiro só confirma a existência de 29 desses grupos, uma vez que 86, o equivalente a 75%, ainda estão em fase de validação ou em etapas anteriores de análise. 

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“Existe um passivo gigantesco em relação ao reconhecimento da existência desses povos isolados. São registros que constam no banco de dados da Funai, mas não foram confirmados pelo Estado. Isso é muito grave”, diz o antropólogo e coordenador executivo do Observatório de Povos Indígenas Isolados, Fábio Ribeiro. 

Um levantamento da organização não governamental Survival International aponta que em todo o globo existem 196 povos isolados. O Brasil está no topo do ranking, com 115 desses povos isolados. Para Fábio Ribeiro, entretanto, a lacuna entre registros e confirmações aumenta a vulnerabilidade dos indígenas.

povos isolados
Estado brasileiro só confirma a existência de 29 desses grupos. Foto: Reprodução/Funai

“A gente sabe que a política de proteção desses territórios chega na medida em que a Funai consegue gerar provas suficientes para falar ‘tem um povo indígena isolado ali, a gente precisa proteger aquele território’, explica Fábio Ribeiro, que antes de coordenar a OPI, já foi funcionário da Funai.

Políticas de proteção

Entre as políticas de proteção, ele cita ações como a construção de postos e bases de vigilância em locais estratégicos, sobrevoos, articulações institucionais e a presença da própria Funai e da Secretária de Saúde Indígena (Sesai). 

O coordenador geral de Povos Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai, Marco Aurélio Milken Costa, reconhece a lacuna. “Há sim um passivo do Estado brasileiro com relação a esses registros. Há registros que precisam ser trabalhados e as limitações institucionais fazem com que a gente não consiga trabalhar com todos os registros que a gente precisa trabalhar”. 

No entanto, ele discorda que a ausência de confirmações torne esses grupos mais vulneráveis. “Não são somente os registros na categoria de referência confirmada que estão dentro de áreas protegidas. Nós temos vários registros que estão dentro de áreas protegidas, sejam elas restrição de uso, sejam elas unidades de conservação ou terras indígenas. Quando tem algum tipo de empreendimento, alguma exploração que afete esses territórios, o registro já se encontra em um nível adequado de proteção”, explica.

indígenas isolados
Povos isolados do Brasil. Foto: divulgação

No Brasil

No Brasil, o Vale do Javari, onde atuava o indigenista Bruno Pereira, assassinado junto com o jornalista britânico Dom Philips em 2022, concentra a maior parte dos povos indígenas isolados do país, além das fronteiras com o Peru e com as Guianas. 

Fábio Ribeiro, no entanto, alerta que “os povos isolados mais vulneráveis não são esses, porque esses ainda vivem em áreas contínuas de florestas monumentais”. 

“Os mais vulneráveis são os povos que vivem no Arco do Desmatamento, porque esses territórios já foram totalmente fragmentados, vivem em ilhas de floresta. Então, esse pessoal vive cercado por estradas, empreendimentos,  mineração, cidades, rodovias, fazendas, projetos de concessão florestal, então é uma situação muito complicada”, afirma.

Leia também: Portal Amazônia responde: qual a nova fronteira do desmatamento?

O caso dos Ituna-Itatá, no Pará, é um exemplo. Apesar da restrição de uso, o território enfrentou uma escalada de invasões entre 2016 e 2019 e chegou a ser a terra indígena mais desmatada do país, segundo relatório produzido pela Coiab e Opi. 

Indígenas isolados do Brasil. Foto: Reprodução/Funai

E em 2022, só teve a portaria de restrição de uso renovada depois de uma decisão do ministro e atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, que determinou que todas as áreas indígenas onde vivem grupos isolados sejam protegidas por restrições de uso. 

Para o diretor da Funai Aurélio Milken, “a pressão sobre os territórios ocupados por [povos] isolados vai aumentar exponencialmente, tendo em vista a alteração climática e também o avanço das frentes de exploração, porque onde estão esses povos são os redutos derradeiros de recursos naturais”.

Quando Milken fala em recursos derradeiros não é qualquer coisa. Um levantamento do telejornal Repórter Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), mostra que dos 55 registros de povos isolados já confirmados ou em estudo, 80% estão cercados por pedidos de autorização para mineração de terras raras e minerais críticos. 

“A instituição [Funai] precisa estar fortalecida e preparada para enfrentar o aumento desses desafios”, defende. Povos isolados são grupos que sabem da existência de outros povos, indígenas ou não indígenas, e optam pelo isolamento, geralmente, em função de experiências de extrema violência. 

Indígenas isolados do Brasil. Foto: Divulgação

“Eles não aceitam uma relação permanente com o Estado brasileiro. Por várias razões, mas principalmente porque são sobreviventes de massacres, correrias, chacinas. Ou seja, o isolamento está estritamente ligado à ideia do genocídio”, explica Fábio Ribeiro. 

Por isso também, a confirmação da existência de povos isolados é um processo complexo. Como o princípio é o do não contato, essa confirmação costuma ser feita por meio de evidências como a presença de malocas, roças, ferramentas, pegadas em trilhas, avistamentos visuais e, com sorte, registro de imagens.

“É muito assimétrica a carga probatória entre você demarcar uma terra e você liberar essa terra para o empreendimento. Se de um lado, exige que a Funai quase tire uma foto ao lado dos indígenas isolados para provar [que eles existem], basta um despacho afirmando que em determinado lugar não tem indígenas isolados para essa terra [ser liberada para empreendimentos]”, explica Fábio Ribeiro. 

Saiba mais: Entenda as etapas de demarcação de terras indígenas

“Tem uma questão de experiência, de formação, que requer essa capacidade de leitura dos vestígios dos indígenas isolados e também as condições físicas para um deslocamento terrestre que é extenuante”, diz Aurélio Milken, para explicar porque o maior desafio no trabalho com povos isolados não está apenas na restrição orçamentária, mas principalmente na formação de profissionais habilitados para atividade. 

Hi Merimã – Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato. Foto: divulgação

“A gente está falando de expedições, monitoramentos, deslocamentos terrestres, por muitos dias em regime de selva, regime de floresta, sem acesso a qualquer tipo de conforto, e enfrentando as mais diversas dificuldades logísticas e também os perigos inerentes a esse tipo de atividade dentro da floresta”. 

Hoje, a Funai conta com 12 equipes de campo de frente de proteção etnoambiental. Mas segundo Aurélio Milken, nem todos os profissionais têm condições de executar atividades junto a povos isolados. 

Segundo ainda Aurélio Milken, neste momento, a Funai está no processo de contratação de 1 mil servidores temporários. A promessa é de que a maioria dos contratos será de servidores indígenas. Na primeira edição do Concurso Nacional Unificado (CNU), em 2024, foram oferecidas 502 vagas na Funai para cargos de nível médio e superior. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Radioagência Nacional, escrito por Eliane Gonçalves