Um vídeo que circulou recentemente nas redes sociais, publicado por Paula Ojeda, chamou a atenção de internautas ao mostrar uma capivara emitindo um som muito semelhante a um latido de cachorro. A gravação gerou curiosidade e dúvidas: afinal, capivaras “latem”?
O Portal Amazônia conversou com o biólogo Fernando Pinto, mestre em Ciências Biológicas, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), para esclarecer como é a vocalização desse animal típico da fauna brasileira.
Segundo Fernando, o som que muitos identificaram como um “latido” é, na verdade, uma vocalização comum entre as capivaras.
“A vocalização da capivara é muito semelhante à vocalização emitida por um cachorro. Então o que, na nossa concepção, parece um latido, na verdade, é a vocalização normal dela”, explica o biólogo.
Ele afirma que, assim como os cães, as capivaras possuem um repertório vocal variado, utilizado para expressar diferentes emoções e se comunicar com o grupo: “Provavelmente, no caso desse vídeo, esse latido aparente — que foi um som mais acelerado — foi para avisar o restante do grupo que tinha um predador perigoso nas proximidades”.
Assim, além da vocalizações da capivara servir para alertar, também pode ser usada para reunir o grupo ou até se relacionar durante o período de acasalamento. “Elas devem ter um repertório, porque os animais têm um repertório. Não emitem só um tipo de som”, destaca Fernando, comparando com o comportamento de outros mamíferos, como gatos e cães, cujos sons mudam conforme o contexto.
Embora o termo “latido” seja mais comumente associado a cachorros, Fernando explica que ele é usado nesse caso por aproximação.
“A gente pode dizer que é um latido, mas aí seria por falta de um nome melhor, né? Algumas pessoas podem chamar de esturro, outras de urro. Mas o importante é entender que esse som é algo normal para esse animal”, comenta.
E capivara pia?
Além dos sons parecidos com latidos, Fernando explica que filhotes de capivara também emitem um tipo de “piado”, que pode ser reproduzido por pesquisadores em campo com o uso de instrumentos específicos. “O pessoal que trabalha com esses bichos até tem um instrumento para imitar esse ‘piado’, para poder chamá-los e filmar de forma mais direta”, comenta.
A vocalização da capivara, segundo o biólogo, é um exemplo claro de comunicação evoluída entre mamíferos. “Nos mamíferos isso é muito mais evidente, porque os mamíferos estão numa linha evolutiva muito superior. Cada som tem um significado”, completa.
A capivara é o maior roedor do mundo. Pode medir, no caso dos machos, até 1,5 metro de comprimento, e pesar cerca de 50 quilos. São animais que habitam áreas alagadas, margens de rios e igarapés em toda a América do Sul.
Também são considerados animais sociais, vivem em grupos e possuem comportamento pacífico, o que também contribui para sua popularidade — especialmente em áreas urbanas onde se adaptaram bem à presença humana.
O vídeo viral serviu como oportunidade para divulgar mais informações sobre esse animal emblemático. E, como destacou o biólogo Fernando Pinto, o som curioso da capivara não é motivo de susto: “É apenas uma forma dela se comunicar com o grupo, e por acaso, lembra o latido de um cachorro”.
Manuscrito de ‘Vermelho’, música de Chico da Silva. Foto: Reprodução/Instagram-chicodasilvaoficial
VERMELHO.
Muito mais do que designar uma cor, esta palavra virou símbolo cultural nas vozes do povo mundo a fora e na história do compositor amazonense Chico da Silva. A canção que recebe esse nome ganhou vida própria, sendo adotada por gerações de torcedores do Boi Garantido, de Parintins, e ultrapassando os limites da arena para se tornar parte da identidade da região Norte. Mas qual foi a origem dessa música?
Recentemente, o cantor publicou em suas redes sociais uma relíquia: o manuscrito da canção. Em entrevista ao Portal Amazônia, Chico da Silva relembrou como a música surgiu, ainda nos anos 1990. “Eu não fiz ‘Vermelho’ para ser uma música de boi. Eu fiz como uma toada romântica”, contou o compositor.
A letra e melodia, inicialmente despretensiosas, logo caíram no gosto popular e começaram a ganhar espaço nos eventos ligados ao Garantido, até se consolidarem como símbolo máximo da paixão encarnada.
A canção foi eternizada nacionalmente na voz da cantora Fafá de Belém, que a gravou e ajudou a popularizá-la em todo o Brasil. No entanto, para Chico, o verdadeiro sucesso de ‘Vermelho’ veio das arquibancadas, das ruas de Parintins e dos corações vermelhos e brancos.
“O Garantido é a minha origem. É uma ligação que nunca vai se apagar. Quando ouço o povo cantar ‘Vermelho’, eu vejo ali o coração batendo da nossa cultura”, afirmou.
Apesar do sucesso com suas canções, o compositor alerta sobre o cenário atual em que muitas produções artísticas da região são avaliadas de forma superficial. Segundo ele, obras com grande profundidade cultural ou social muitas vezes não recebem o reconhecimento merecido por conta de decisões influenciadas por critérios subjetivos ou interesses pessoais.
Um exemplo citado foi a toada ‘Lamento de Raça‘, escolhida pelo Garantido em um dos festivais. A canção abordava questões sociais sensíveis e possuía forte carga emocional, mas, segundo Chico, “não recebeu o devido destaque na arena”.
O motivo, para ele, está relacionado à forma como certas decisões são tomadas nos bastidores da cultura: “Tem muita coisa que é julgada não pela qualidade, mas por quem fez”.
O compositor também destacou que, por vezes, há resistência dentro dos próprios círculos culturais quanto à inovação e à liberdade criativa. “Antigamente, já se impunham muitas ideias e limitações. Hoje ainda vemos isso, em menor escala, mas presente. Existe influência de determinadas pessoas na escolha e na valorização das toadas”, disse.
O compositor amazonense Chico da Silva. Foto: Divulgação
Ainda assim, Chico da Silva vê esperança no poder do povo. Ele acredita que canções como ‘Vermelho’ sobrevivem e crescem justamente por criarem laços diretos com as pessoas. “A música passou a ser cantada espontaneamente. O povo colocou ela no lugar que tem hoje. E isso não tem júri que apague”, afirmou.
A aceitação popular, segundo ele, é uma das maiores formas de validação artística. Mesmo diante da ausência de prêmios ou reconhecimentos institucionais, algumas músicas conseguem ganhar força por meio da conexão emocional que constroem com o público.
“O sucesso de ‘Vermelho’ veio da rua, veio do povo. É isso que dá sentido à arte que fazemos aqui”, declarou.
Por outro lado, Chico também aponta a necessidade de um investimento maior na valorização da cultura local. Ele afirma que o talento da região amazônica é vasto, mas que ainda falta apoio para garantir visibilidade e sustentabilidade a esses artistas. “O povo do Norte é criativo, é resistente, é brilhante. Mas sem apoio e sem visibilidade, essa luz não chega longe”, observou.
Ao falar sobre o futuro da cultura amazônica, Chico defende um olhar mais justo e plural. Para ele, é fundamental superar preconceitos e interesses particulares para que a produção cultural da região possa se desenvolver plenamente. “A cultura é mais do que aplauso momentâneo. Ela precisa tocar, transformar e representar o povo”, concluiu.
E, para ele, a trajetória de ‘Vermelho’ mostra exatamente isso, como uma música pode se tornar um símbolo de resistência e pertencimento. Composta inicialmente como uma canção romântica, tornou-se hino de um povo, elo entre gerações e bandeira da luta por reconhecimento artístico e cultural. Em cada verso entoado nas arquibancadas, o que se ouve é mais do que uma toada: é a afirmação da força cultural que pulsa na Amazônia.
A sigatoka-negra é uma doença que afeta inclusive a produção, reduzindo-a drasticamente. Foto: Reprodução/Embrapa
A sigatoka-negra, uma das doenças mais severas que atingem plantações de banana, tem causado impactos significativos na produção agrícola do Amazonas desde sua introdução na região. Causada pelo fungo Pseudocercospora fijiensis, a doença representa uma das principais ameaças à bananicultura mundial e chegou ao território amazonense no início dos anos 2000, provocando perdas econômicas expressivas para pequenos e médios produtores locais.
No Amazonas, a cultura da banana possui importância econômica e social, especialmente em municípios como Manacapuru, Iranduba, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo e Manaquiri, locais em que é uma das principais fontes de renda agrícola. Antes da chegada da Sigatoka-negra, o Estado figurava entre os maiores produtores da Região Norte, com destaque para a banana tipo pacovã, muito consumida em toda a região.
O primeiro registro oficial da doença no Amazonas ocorreu em 2001, quando produtores começaram a relatar manchas escuras nas folhas das bananeiras, seguidas de rápida necrose foliar e diminuição drástica na produção.
A confirmação da presença da sigatoka-negra gerou uma série de medidas de contenção e monitoramento por parte da Secretaria de Produção Rural (Sepror), da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O agrônomo e pesquisador na Embrapa, Luadir Gasparotto, fez parte da expedição que identificou a chegada da doença nos bananais em 2001. Segundo Gasparotto, a doença compromete diretamente a fotossíntese da planta ao atacar as folhas, reduzindo a capacidade de produção de cachos e afetando o desenvolvimento dos frutos.
“Com o avanço da infecção, muitos produtores viram suas lavouras serem dizimadas. Em áreas onde a doença não foi rapidamente controlada, os prejuízos chegaram a 100% da produção”, destacou em entrevista ao canal Amazon Sat.
Confira a entrevista:
A dispersão da sigatoka-negra no Amazonas ocorreu de forma acelerada por conta das condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do fungo — alta umidade, temperaturas elevadas e chuvas constantes — comuns em praticamente todo o Estado. A movimentação de mudas contaminadas também contribuiu para a propagação da doença entre municípios e comunidades rurais.
Com o agravamento da situação, o Governo do Amazonas, em parceria com instituições federais e universidades, desenvolveu ações emergenciais de contenção, como o controle químico com fungicidas, a erradicação de plantas contaminadas e a capacitação de agricultores para práticas de manejo integrado. A introdução de variedades mais resistentes ao fungo também passou a ser incentivada por meio de programas de assistência técnica.
Alternativas contra sigatoka-negra
A Embrapa desenvolveu, por exemplo, cultivares como a BRS Platina e a BRS Conquista, bananeiras mais tolerantes à sigatoka-negra e adaptadas ao clima amazônico. Apesar disso, a adesão às novas variedades ainda encontra resistência entre produtores, sobretudo pela preferência do mercado local pela tradicional banana pacovã, que é altamente suscetível à doença, destacou Gasparotto.
De acordo com relatórios da Sepror, nos anos posteriores à introdução da sigatoka-negra, houve redução significativa na área plantada com banana no Amazonas. Em muitos casos, produtores abandonaram a cultura ou migraram para outras lavouras. A cadeia produtiva da banana, que envolvia desde o cultivo até o transporte fluvial e a comercialização em feiras e mercados da capital, também sofreu retração.
Bananas são afetadas pela sigatoka-negra e produção é prejudicada no Amazonas. Estudos e pesquisas são realizados para controle da doença. Foto: Reprodução/IDAM
Além dos impactos econômicos, a crise causada pela Sigatoka-negra afetou a segurança alimentar em comunidades do interior, onde a banana é um dos principais itens da dieta diária. Muitas famílias dependiam exclusivamente do cultivo para subsistência, e a perda da produção agravou as dificuldades enfrentadas nessas localidades.
Produção de bananas no Amazonas
Atualmente, o combate à doença continua sendo um desafio constante para os agricultores e para os órgãos de assistência rural. Técnicas como a rotação de culturas, o espaçamento adequado entre plantas, a adubação equilibrada e o monitoramento frequente das lavouras são recomendadas para minimizar os danos e reduzir a pressão do fungo nas plantações. Esses trabalhos vem sendo monitorados por diversos órgãos, como a Sepror e a Embrapa, no Amazonas.
De acordo com o gerente de Produção Vegetal do Idam, Luiz Herval, o Amazonas foi prejudicado pelos problemas gerados pela sigatoka-negra desde a sua detecção. “O Amazonas não é autosuficiente em produção de banana. Saímos de uma produção em 2001 de cerca de 30 mil hectares e estamos hoje em torno de 8 mil e 600 hectares”, afirmou.
Casa Ivete Ibiapina fica no entorno do Largo São Sebastião. Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente
A história de Ivete Ibiapina, nascida em 1932, está profundamente entrelaçada com o desenvolvimento cultural do Amazonas. Considerada uma das maiores referências da música erudita na região Norte, Ivete iniciou sua trajetória artística ainda na infância, aos cinco anos de idade, sob a orientação da professora Maria Antonieta Marinho.
Em apenas dois meses de aulas, concluiu as classes preparatórias e, com apenas seis anos, já se apresentava publicamente ao piano, surpreendendo pela desenvoltura e técnica.
Ao longo da juventude, Ivete teve contato com nomes importantes da música local, como a pianista Maria Isabel Desterro, com quem aparece em registros datados de 1946.
Ivete Ibiapina em entrevista. Foto: Reprodução/Youtube-Manauscult
A educação musical sempre caminhou ao lado da formação acadêmica. Ivete formou-se professora normalista e concluiu o curso de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), atuando como educadora e pianista com a mesma dedicação.
Reconhecimento e contribuição para a cultura amazonense
Durante décadas, Ivete Ibiapina participou ativamente da vida cultural manauara, influenciando gerações por meio do ensino de piano e da promoção da música clássica. Sua atuação extrapolou as salas de aula, chegando às apresentações públicas e à formação de novos músicos.
Pelo seu trabalho e contribuição à cultura, foi agraciada, em 1998, com o título de Mulher Amazonense, concedido pelo Governo do Estado do Amazonas.
Mesmo após seu falecimento, Ivete continua sendo lembrada como uma personalidade de relevância para a memória artística do Amazonas.
Em 2023, por exemplo, a prefeitura de Manaus, por meio da Manauscult e do Concultura, realizou o projeto audiovisual ‘Videomemória – Notáveis do Amazonas’, com direção do cineasta Roberto Kahane, e, no terceiro episódio, resgatou uma entrevista com a musicista.
Sua trajetória representa não apenas o talento individual, mas também o empenho em valorizar o ensino musical e a arte como elementos transformadores da sociedade.
Seu nome é citado com frequência por professores, artistas e instituições que atuam na formação cultural da juventude amazonense. Uma página na rede social Facebook, por exemplo, também mantém o legado da artista que marcou diversas gerações, com fotos antigas, preservadas por seus descendentes.
Página dedicada à Ivete. Foto: Reprodução/Facebook – Ivete Freire Ibiapina
A Casa da Música Ivete Ibiapina e a preservação de um legado
Em reconhecimento à sua importância, foi inaugurada em 4 de novembro de 2001, no centro de Manaus, a Casa da Música Ivete Ibiapina. O espaço ocupa um casarão histórico restaurado pelo Governo do Amazonas como parte do Projeto Manaus Belle Époque. Localizado ao lado do Teatro Amazonas, o edifício tornou-se um centro de referência para atividades musicais e culturais, mantendo viva a memória da artista que lhe dá nome.
A Casa da Música abriga salas de concerto, estúdios de gravação, espaços para ensaios e oficinas. Entre os ambientes destacam-se o Teatro de Bonecos Peteleco, a Sala de Concertos Carlota Ribeiro e o Espaço Musical Lindalva Cruz. O local serve como ponto de encontro para músicos, estudantes e pesquisadores da música, oferecendo estrutura para aulas, gravações, apresentações e exposições.
Uso público e continuidade das atividades culturais
Com programação aberta ao público, a Casa da Música recebe grupos de música de câmara, concertos eruditos, espetáculos de teatro e oficinas formativas. As atividades são voltadas para todas as idades e níveis de conhecimento, promovendo acesso à cultura de forma gratuita e contínua.
Além de receber eventos artísticos, o espaço também abriga um acervo com documentos, partituras e fotografias que ajudam a contar a história da música no Amazonas.
Em 2012, o canal Amazon Sat fez um programa sobre a Casa Ivete Ibiapina:
A presença da Casa Ivete Ibiapina no circuito cultural de Manaus reafirma a importância do patrimônio imaterial da cidade e do incentivo à formação artística. A escolha de nomear o espaço com o nome da pianista reforça o compromisso com a valorização da memória de mulheres que fizeram história no cenário cultural amazonense.
O legado de Ivete permanece vivo, influenciando novas gerações de artistas e garantindo que sua contribuição à música seja lembrada, preservada e compartilhada com o público.
As ruínas de Paricatuba, localizadas no município de Iranduba, no Amazonas, estão em risco iminente de desabamento. Segundo relatório técnico da Defesa Civil no município, emitido após inspeção no local em 29 de maio, o estado de deterioração do patrimônio é classificado como “crítico”.
A vistoria contou com a presença de engenheiros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), representantes do Governo do Amazonas, da Prefeitura de Iranduba e moradores da comunidade. O relatório aponta a existência de “rachaduras profundas, muros desabando, infiltrações generalizadas e avanço da vegetação”, comprometendo gravemente a estabilidade das estruturas históricas.
De acordo com a engenheira civil Jéssyca Lever Dantas, autora do laudo técnico, a situação é agravada pela ausência de infraestrutura adequada.
“A deterioração acelerada é agravada pela ausência de drenagem e impermeabilização, além da fragilidade dos tijolos originais, que foram assentados deitados”, detalha a engenheira.
Leia na íntegra a nota sobre relatório feito pela Defesa Civil:
Ações Emergenciais para as Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio da Superintendência no Amazonas, tem acompanhado de perto a situação das Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba, em Iranduba/AM e informa que realizou vistorias técnicas e uma série de reuniões com órgãos parceiros e representantes da comunidade com o objetivo de assegurar medidas de proteção imediata ao local.
Como resultado desse processo, foram pactuadas ações emergenciais, formalizadas por meio do Ofício nº 498/2025, encaminhado às instituições envolvidas, como UGPE/SEDURB, SEC, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil do Estado, IPAAM, Defesa Civil e Secretaria de Meio Ambiente de Iranduba, e a Associação de Moradores da Vila de Paricatuba.
Entre as medidas definidas estão: • Cercamento e escoramento das estruturas; • Poda de árvores que oferecem risco às estruturas; • Inventário das espécies vegetais para subsidiar os serviços de poda; • Capina e limpeza da vegetação no entorno; • Restrição de áreas de visitação, conforme recomendação da Defesa Civil.
Além das ações emergenciais, foi instituído um grupo de trabalho responsável por acompanhar e fiscalizar a execução das medidas, fortalecendo a atuação integrada entre os órgãos públicos e a comunidade.
área externa das ruínas foi interditada pelo Iphan após visita técnica. Foto: Jacqueline Lins/ Cedida
O Iphan também informa que está em andamento a construção de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que visa garantir intervenções estruturantes no sítio, incluindo reforço estrutural, melhorias na acessibilidade e implantação de iluminação no entorno das ruínas, assegurando condições adequadas para sua preservação e uso público.
O Sítio Arqueológico de Paricatuba é protegido como Patrimônio Cultural Brasileiro, conforme a Lei Federal nº 3.924/1961. Também conta com reconhecimento como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Estado do Amazonas, pela Lei Estadual nº 4.260/2015, e proteção municipal, de acordo com o artigo 215 da Lei Orgânica do Município de Iranduba.
O Iphan reafirma seu compromisso com a preservação do patrimônio cultural e reforça que essa é uma missão coletiva, que depende da colaboração permanente entre instituições, gestores públicos e comunidade local.
Os problemas nas ruínas de Paricatuba não representam risco apenas à memória histórica, mas também à segurança dos visitantes. Árvores centenárias e suas raízes já invadiram as fundações, empurrando paredes e provocando trincas perigosas.
“Rachaduras, muros caídos e o avanço do mato colocam em risco não só as estruturas centenárias, mas também quem visita o lugar”, informa trecho do relatório da Defesa Civil.
A situação fez com que o Iphan solicitasse ao Governo do Estado a realização de medidas emergenciais, como o cercamento da área e o escoramento das estruturas mais comprometidas.
“É preciso agir antes que o pouco que resta desse patrimônio histórico seja perdido para sempre”, declarou Beatriz Evanovick, superintendente do Iphan no Amazonas.
Viva Paricatuba: mobilização comunitária em defesa da história
Enquanto os órgãos públicos avaliam intervenções, moradores da região vêm se mobilizando para tentar preservar o espaço histórico por meio do projeto ‘Viva Paricatuba’. A iniciativa reúne comunitários das seis vilas que circundam o sítio arqueológico, com apoio de instituições como Sebrae Amazonas, Bemol, Singulari Consultoria e Impact Hub Manaus.
“Eu sempre ouvi dizer que Paricatuba tem um potencial incrível. Mas falta ajuda, falta que os gestores públicos olhem para nossa comunidade”, relata Jacqueline Lins, moradora da vila e uma das lideranças do projeto.
O projeto busca transformar Paricatuba em uma rota turística de base comunitária, com foco na valorização dos recursos naturais, práticas locais e preservação do patrimônio.
“Hoje, pelo menos doze pessoas que trabalham diretamente nas ruínas estão fazendo cursos de inglês, atendimento ao público, entre outros. Também ajudamos com a sinalização de áreas perigosas e mantemos guias que explicam a história do local aos visitantes”, explicou Jacqueline ao Portal Amazônia.
Originalmente construído no final do século XIX para funcionar como hospedaria de imigrantes durante o ciclo da borracha, o edifício de Paricatuba passou a abrigar um leprosário e, mais tarde, foi utilizado como casa de detenção. Atualmente, suas paredes expostas, colunas comprometidas e telhados ausentes são retratos do abandono.
“As áreas inspecionadas do Sítio Arqueológico de Paricatuba apresentam um grau de risco crítico”, diz trecho do relatório técnico divulgado pela Defesa Civil. “Torna-se, portanto, imprescindível e emergencial a realização de uma reforma completa”, reforça a engenheira Jéssyca Lever Dantas.
Além de sua relevância arquitetônica e histórica, as ruínas de Paricatuba representam um símbolo da memória coletiva do Amazonas. Para a comunidade local, o espaço ainda tem potencial para impulsionar o desenvolvimento econômico, através do turismo sustentável.
“Sabemos que nada é para sempre, mas é possível mantermos os muros em pé e é isso que toda a comunidade está disposta a fazer”, declarou Jacqueline.
Medidas
Com risco de colapso iminente, a situação das ruínas de Paricatuba exige respostas urgentes das autoridades responsáveis.
O Iphan, por meio da Superintendência no Amazonas, anunciou no início de julho a implementação de ações emergenciais para a proteção das Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba. As medidas foram definidas após as vistorias técnicas e diversas reuniões com instituições parceiras e representantes da comunidade local.
As intervenções, segundo o Iphan, visam garantir a segurança dos visitantes e a integridade do bem tombado, classificado como Patrimônio Cultural Brasileiro. Entre as ações previstas estão o cercamento e escoramento das estruturas, poda de árvores com risco de queda, inventário da vegetação, etc.
Área externa das ruínas de Paricatuba durante visita técnica. Foto: Divulgação/ Iphan
A força-tarefa envolve órgãos estaduais e municipais, como a Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE/SEDURB), a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), o Corpo de Bombeiros do Amazonas, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), as Defesas Civis estadual e municipal, a Secretaria de Meio Ambiente de Iranduba e a Associação de Moradores da Vila de Paricatuba.
Segundo o Iphan, foi instituído um grupo de trabalho para acompanhar e fiscalizar a execução das ações emergenciais, fortalecendo a articulação entre os entes públicos e a sociedade civil. A iniciativa busca reforçar a atuação preventiva diante do estado de conservação das ruínas.
Além das medidas imediatas, o Iphan está elaborando um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que prevê intervenções estruturantes no sítio. Entre as melhorias propostas estão o reforço das estruturas remanescentes, aprimoramento da acessibilidade e instalação de iluminação, com o objetivo de garantir a preservação do local e seu uso seguro pela população.
Em nota, o Iphan destacou que a preservação do patrimônio cultural é uma responsabilidade coletiva, que exige o comprometimento contínuo das instituições públicas e da comunidade. A iniciativa em Paricatuba representa um passo decisivo para assegurar a integridade de um dos mais importantes bens culturais da região amazônica.
Foto: Reprodução/Documentário ‘Mulheres da terra’, de Anderson Mendes
A prática da benzeção, ou benzimento, um costume profundamente enraizado em diversas culturas ao redor do mundo, representa um elo com saberes ancestrais e uma forma de cuidado que transcende o convencional. No Brasil, essa tradição, frequentemente associada à figura das benzedeiras e benzedores, persiste como um importante elemento cultural e social, oferecendo acolhimento e auxílio a comunidades que buscam alívio para males físicos e espirituais.
Longe de ser apenas um resquício do passado, a benzeção se adapta e se mantém viva, transmitindo conhecimentos de geração em geração e resistindo às transformações sociais.
Um artigo científico intitulado ‘Plantas Utilizadas por Benzedores em Quilombos do Maranhão, Brasil’, publicado na Revista Etnobiología em agosto de 2022, oferece uma análise aprofundada sobre essa prática.
O estudo teve como objetivo registrar o conhecimento de especialistas locais, identificar espécies vegetais de uso litúrgico e medicinal, sistematizar indicações, formas de uso e partes utilizadas, e associar esses dados ao perfil socioeconômico dos benzedores.
A pesquisa foi realizada no município de Anajatuba, Maranhão, Nordeste do Brasil, por meio de entrevistas semiestruturadas com 13 benzedores, além de turnê guiada e coleta de material botânico.
Foram registradas 52 espécies, distribuídas em 48 gêneros e 31 famílias, com as famílias Lamiaceae (7 espécies) e Asteraceae (5 espécies) sendo as mais representativas.
As espécies mais citadas pelos benzedores foram:
pinhão roxo (Jatropha gossypiifolia L.),
vassourinha (Scoparia dulcis L.),
manjericão ou alfavaquinha (Ocimum basilicum L.)
e erva cidreira (Melissa officinalis L.).
O pinhão roxo e a vassourinha foram indicadas para benzimentos, enquanto a alfavaquinha e a erva cidreira foram citadas para fins medicinais. A maioria das espécies foi obtida em quintais ou terrenos próximos, com algumas sementes e frutas adquiridas em feiras livres da cidade.
Perfil dos benzedores e a transmissão do conhecimento
O perfil dos benzedores entrevistados valida padrões encontrados na literatura. Eles apresentavam idade entre 30 e 90 anos, sendo que 69,02% eram analfabetos, 84,06% católicos e 61,05% citavam a lavoura como principal fonte de renda.
A pesquisa, no entanto, identificou um número maior de benzedores do sexo masculino, o que pode ter relação com a cultura e a herança religiosa local, diferindo de estudos em outras regiões do Brasil que apontam a predominância feminina nesta função.
Essa predominância masculina pode estar associada à história de formação das religiões afro no Maranhão e ao diálogo entre as práticas de benzimento e a pajelança, onde a figura masculina é forte nos ritos de cura.
A transmissão do conhecimento sobre os benzimentos e suas origens pode variar. A maioria dos benzedores afirma ter recebido o “dom” desde o nascimento.
Em outros casos, o aprendizado ocorre por meio do ensinamento dos mais velhos, geralmente os pais, a partir da escuta e da observação de gestos, caracterizando uma transmissão vertical de conhecimento, comum em comunidades tradicionais.
A maioria dos entrevistados possui mais de 30 anos inseridos na prática do benzimento, com o mais jovem atuando desde os 20 anos.
Apesar da longevidade na prática, um enfraquecimento da cultura entre as novas gerações é relatado. Um dos benzedores mais jovens, de 39 anos, que não teve o nome revelado, expressou esse desafio: “Eu fiquei querendo fugir no começo, meus parentes da cidade me levaram para morar lá e eu ia nos cultos evangélicos, não queria assumir essas coisas não e nem gosto muito de falar, porque tem gente que não entende o benzimento”.
Essa mudança no estilo de vida das comunidades, a influência da internet e a facilidade de acesso ao sistema de saúde convencional são apontados como motivos para o desinteresse dos jovens, além do preconceito que envolve essas práticas.
Plantas utilizadas e sua finalidade
No que diz respeito às plantas, o estudo ressalta que as benzedeiras conhecem um número superior de espécies para o tratamento de animais e pragas em plantações, mas o foco da pesquisa foi nas plantas para males físicos e espirituais em humanos.
As famílias botânicas Lamiaceae e Asteraceae foram as mais expressivas, o que se justifica pela riqueza dessas famílias no Brasil e sua importância terapêutica.
Para tratar problemas de ordem espiritual, o pinhão roxo e a vassourinha foram as mais indicadas. Já para a saúde física, plantas como manjericão (Ocimum basilicum L.) e erva cidreira (Melissa officinalis L.) foram citadas.
O manjericão é tradicionalmente usado para tosse, diarreia, febre, gripe e disfunções renais, enquanto a erva cidreira é valorizada por suas propriedades fitoterápicas, sendo utilizada como relaxante e para o controle do sono e emoções. As doenças físicas mais destacadas foram cólicas intestinais (47%), gripe e problemas respiratórios (29%), e ansiedade ou agitação (29%).
Registros fotográficos das espécies vegetais, realizados durante visita às comunidades quilombolas de Anajatuba, Maranhão, Nordeste do Brasil. A) e B) Jatropha gossypiifolia L. (pinhão roxo); C) e D) Scoparia dulcis L. (vassourinha); E) e F) Ocimum basilicum L. (alfavaquinha). Foto: Reprodução/Artigo’Plantas Utilizadas por Benzedores em Quilombos do Maranhão, Brasil’
A pesquisa também apontou que, embora 84,06% dos benzedores entrevistados se declarem católicos, suas práticas mesclam o profano e o sagrado, refletindo a formação da sociedade brasileira, que apresenta uma aproximação simbólica entre culturas africanas, afro-brasileiras e o cristianismo católico.
Os benzedores afirmaram que, em casos de enfermidades físicas graves, recorrem e indicam serviços de saúde pública, direcionando o benzimento para doenças de fundo espiritual ou psicológico, atuando em paralelo aos tratamentos da medicina oficial.
Os dados apresentados no artigo científico reforçam a importância de promover novos estudos na área e de incentivar políticas públicas que atuem na conservação e valorização desses saberes. A benzeção é uma manifestação cultural rica que continua a desempenhar um papel vital na vida de muitas comunidades, necessitando de reconhecimento e apoio para que seus conhecimentos ancestrais possam ser preservados para as futuras gerações. Confira o artigo na íntegra clicando AQUI.