A Versão Temas ODS 2024 premiou diferentes trabalhos em desenvolvimento na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) durante o IV Seminário de Sustentabilidade. Em primeiro lugar ficou Hellyda Sacal de Queiroz Teixeira, do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação (PROFNIT), com o trabalho intitulado “Desenvolvimento e prototipagem de sistema de vedação vertical em solo-cimento autoadensável”.
A pesquisadora destacou a alegria que foi vencer o prêmio como reconhecimento do trabalho em curso.
“É muito gratificante ganhar um prêmio de reconhecimento de todo o esforço que foi demandado nessa pesquisa que se relaciona com a temática da sustentabilidade porque ela busca a utilização de materiais mais sustentáveis na indústria da construção civil”, explicou Hellyda Sacal de Queiroz Teixeira a respeito da pesquisa que tem vantagens ambientais como utilizar menos cimento.
Atualmente a UFMT já dispõe de um protótipo de ambiente construído em sistema de solo-cimento autoadensável, pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Tecnologia e Conforto Ambiental (Lateca).
“A pesquisa busca otimizar o processo construtivo através desse empréstimo da tecnologia já utilizada no concreto autoadensável, que é a utilização de formas para moldar as paredes, então ela validou esse sistema já utilizado para, com o fim de otimizar o processo construtivo, então com isso”, conta a pesquisadora.
O composto como cimento auto adensável utiliza 80% solo e 20% de cimento, ambos em massa, eliminando a brita e a areia lavada de rio. Trata-se de uma economia expressiva porque em geral o concreto é composto por 40% de cimento. Além disso, é possível utilizar o próprio solo da região de implantação das edificações, material que usualmente precisa ser removido e enviado para aterros. Outra vantagem do cimento autoadensável é o conforto térmico para o ambiente na comparação com o concreto usualmente utilizado em construções.
A pesquisadora do Profnit é também técnica de laboratório de materiais do IFMT e destaca que o solo-cimento autoadensável também permite mudar outras etapas do processo de construção.
“Isso emprega menos energia, menos mão de obra em todo o processo, que é feito também de uma maneira mais rápida do que a construção de paredes com alvenaria convencional, com os tijolos”, finaliza Hellyda Sacal de Queiroz Teixeira.
*Com informações da Universidade Federal do Mato Grosso.
Da esquerda para direita: Marcelo Trevisan, representante do MMA; Lívia Laureto, pesquisadora do IPAM; o deputado Nilto Tatto (PT); e Marcos Woortmann, do IDS. Foto: Bibiana Garrido/IPAM
As florestas públicas não destinadas concentraram 36,5% do desmatamento na Amazônia em 2023, segundo dados do PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), analisados pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e apresentados em audiência pública no Senado Federal no dia 11 de dezembro. No ano passado, foram 187,3 mil hectares desmatados nestas áreas.
“O desmatamento dessas florestas públicas vêm aumentando desde 2012, alcançando seu ápice em 2022 com um total de 327,7 mil hectares desmatados (valor quase quatro vezes maior que o registrado em 2012). Apesar da recente redução no desmatamento entre os anos de 2022 e 2023 no bioma, e consequentemente nas não destinadas, observamos que, quando comparamos diferentes categorias fundiárias, ainda há uma tendência de maior concentração dos desmatamentos em área de florestas públicas não destinadas”, explicou Lívia Laureto, pesquisadora do IPAM presente na reunião.
A audiência pública foi realizada pela Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas em parceria com o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) e o IPAM. O objetivo envolveu o debate de soluções legislativas e administrativas visando a garantia da proteção e do uso sustentável das florestas públicas.
O que são as florestas públicas não destinadas
Florestas públicas não destinadas ocupam hoje 56,5 milhões de hectares na Amazônia brasileira – o equivalente ao tamanho da Espanha. Estas áreas, sob domínio estadual ou federal, ainda não receberam uma definição de uso, à luz da lei de gestão de florestas públicas de 2006, para terra indígena ou unidade de conservação, por exemplo, e são frequentes alvos da grilagem, do desmatamento e da extração ilegal de madeira.
Observatório com dados abertos
A pesquisadora lembrou o Observatório de Florestas Públicas, plataforma criada pelo IPAM e pela iniciativa Amazônia de Pé para oferecer a consulta livre de dados como a localização das florestas não destinadas e o avanço dos registros de CAR (Cadastro Ambiental Rural) sobrepostos a estas áreas.
“Perder florestas públicas não destinadas significa muito mais do que perder cobertura florestal. Significa perder grande parte da nossa biodiversidade, com toda sua importância ecológica, climática, social e econômica. Perder estes maciços de floresta amazônica impacta de forma significativa na emissão de mais gases do efeito estufa, piorando a crise climática que já sentimos todos os dias, no mundo todo”, frisou.
O desmatamento acumulado nas não destinadas até 2024 soma mais de 4,3 milhões de hectares, conforme os dados do PRODES analisados pelo Instituto e apresentados na reunião. Se fosse um município, essa área desmatada seria a 21a maior cidade do Brasil.
De maneira a contribuir também com a redução de registros fraudulentos de CAR, como ferramenta para grilagem e desmatamento em terras públicas, o IPAM vem atuando ao lado de Ministérios Públicos, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e da Abrampa (Associação Brasileira de Membros do Ministério Público de Meio Ambiente) para consolidar o cálculo do dano climático do desmatamento ilegal em termos de emissões de gases do efeito estufa.
“Ainda assim, precisamos ir além da penalização pelos crimes ambientais em florestas públicas. Precisamos concentrar esforços em um passo anterior, na prevenção do desmatamento”, comentou Laureto.
Ponto-chave para o Estado de Direito
Marcos Woortmann, diretor adjunto do IDS, afirmou a destinação como ponto-chave em diversos aspectos para o país.
“É um ponto-chave não somente no que tange a políticas públicas, mas a todo o funcionamento do Estado de Direito. Como sabemos, inclusive por dados do IPAM, 51% do desmatamento ilegal que ocorreu na Amazônia foi em florestas públicas não destinadas”. E citou a influência do crime ambiental organizado: “É algo muito vinculado à inserção do crime organizado nestes ambientes. Antigamente, o Estado tinha uma primazia logística sobre o crime organizado, de comunicações, acesso a internet, coisa que hoje já não existe”.
O deputado Nilto Tatto (PT) presidiu a reunião e destacou o desafio de destinar as florestas públicas: “É um desafio enorme o Brasil dar uma destinação para estas áreas. A gente tem exemplos de destinação dessas áreas públicas que ajudam nessa estratégia, do ponto de vista da conservação e dos compromissos assumidos internacionalmente, mas também da melhoria da qualidade de vida das populações que sobrevivem dos recursos das florestas não destinadas. Há uma importância fundamental em fazer este debate e procurar a saída”.
“Um novo olhar sobre as florestas públicas é essencial para ter um percentual de áreas preservadas no território nacional”, disse Leandro Mitidieri Figueiredo, Coordenador do Grupo de Trabalho Unidades de Conservação da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.
Representando o Procurador-Geral da República Paulo Gonet, ele acrescentou uma reflexão sobre a remuneração “de quem mantém a floresta em pé”: Temos várias críticas ao mercado de carbono, principalmente em experiências que vêm sendo questionadas pelo MPF, mas não se pode descartar algum tipo de remuneração para quem mantém a floresta em pé”, afirmou.
“É um entendimento coletivo que a gente vive uma crise climática, que a gente imaginava que chegaria a médio prazo, mas já estamos sofrendo eventos climáticos extremos a todo momento. Temos vários exemplos que nos demonstram a condição urgente de tratar do clima e, quando a gente fala de floresta, temos que lembrar das florestas públicas já destinadas, das ainda não destinadas e outras áreas fundamentais também em outros biomas, além de florestas, todas muito importantes para a conservação”, complementou Marcelo Trevisan, diretor do Departamento de Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
O Leite de Colônia é um produto popular no Brasil e queridinho entre muitas pessoas, considerado um potente adstringente que remove a oleosidade do rosto. É um daqueles produtos que atravessam gerações.
A invenção desse cosmético é atribuída ao médico e farmacêutico cearense Arthur Pereira Studart, em 1948. A data é considerada confusa pelos historiadores, visto que o produto foi criado pelo pai de Arthur, Carlos Guilherme Gordon Studart, que era formado em Farmácia.
Porém, segundo consta em alguns anúncios, propagandas, jornais e revistas da época, provavelmente o produto tem um tempo de existência um pouco maior. Mas que relação este produto teria com a Amazônia?
Carlos Studart. Foto: Reprodução/Arquivo da família
Acredita-se que 1948 tenha sido o ano de registro do produto. Segundo relata o bisneto de Carlos Studart, o escritor Jorge de Franco, a farmácia/laboratório do Leite de Colônia funcionava na esquina da Avenida Eduardo Ribeiro com a Sete de setembro, no Centro de Manaus.
Propaganda 19 de abril de 1934 – Foto: Reprodução / memoriaviva
“Minha mãe trabalhou na fábrica ajudando seu avô, ela contava a história. Eu sei que a fábrica era em Manaus, ele criou a fábrica em Manaus. Eles exportavam para a Europa e depois que acabou a época áurea da borracha, eles foram para o Rio de Janeiro. O filho, que seria meu tio-avô, foi para o Rio de Janeiro, levou a fábrica para lá, funcionou por anos e depois eles venderam para uma multinacional”, explicou o escritor ao Portal Amazônia.
Foto: Reprodução / Jornal da Tarde
Ainda em Manaus, Carlos Studart exerceu o cargo de Mordomo e Provedor da Santa Casa, foi também Coronel da Guarda Nacional, proprietário e redator chefe do jornal Comércio do Amazonas.
Jorge afirma que após cerca de 50 anos no Amazonas e transferir a fábrica de Leite de Colônia, Carlos obteve grande sucesso nacionalmente. Com parte de seu ganho, construiu dois prédios de apartamentos no Rio de Janeiro e, não esquecendo a terra que o acolheu, deu o nome de ‘Manaus’ a um deles, e ao outro chamou de ‘Studart’.
*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
O Eco-festival do Peixe-Boi é uma manifestação cultural do município de Novo Airão, no interior do Amazonas. Trata-se de um evento que une a cultura e a valorização das suas tradições a uma causa emergencial de preservação ambiental, que luta contra a extinção do peixe-boi. O festival foi criado em em 1989, com o intuito de dar destaque ao mamífero.
Ele se destaca também por ser um evento cultural de iniciativa popular voltado exclusivamente para a necessidade da preservação do meio ambiente com suas canções, encenações e lendas retratadas.
De acordo com as agremiações que competem o título do festival – Peixe-Boi Anavilhanas e Peixe-Boi Jaú -, em 2024 foi realizada a sua 25ª edição, no entanto, a festa já completou 30 anos. O “palco da festa” é a Lagoa do Peixe Boi, Centro Cultural de Novo Airão.
Inspiradas pelos parques nacionais Jaú e Anavilhanas, o evento é uma explosão de cores, ritmos, histórias e tradição.
Jaú
Representa o Parque Nacional do Jaú, uma das maiores áreas protegidas de floresta tropical do mundo. Nas noites dos espetáculos ele é conhecido pela grandiosidade e conexão profunda com a natureza. É representado pelas cores verde e preto.
Retrata o Parque Nacional de Anavilhanas, famoso pelo arquipélago fluvial, que traz para o festival uma celebração das águas do Rio Negro e das criaturas que habitam essa região, refletindo a fluidez das águas e a serenidade das paisagens aquáticas. É representado pelas cores verde e branco.
De acordo com o Grêmio Recreativo Folclórico e Cultural Peixe-boi Jaú, o festival boi possui na sua história dois momentos. O primeiro ocorreu de 1989 até 1992, quando ainda não existiam as agremiações que hoje disputam o Eco-festival.
Nesse período acontecia apenas a encenação da Lenda do Peixe-boi por um grupo teatral de jovens da época, com a participação de várias danças folclóricas, ocorrendo sempre no mês de junho.
A partir de 1993, criaram um novo modelo de evento, que ganhou o nome de Ecoifestival, sempre no mês de outubro, surgindo assim as duas agremiações, cujo nomes homenageiam as duas unidades de conservação federais que estão no território do município.
Assim surge a agremiação Peixe-boi Jaú, oriunda de um sorteio dos membros das danças folclóricas que participavam do antigo formato do festival, sendo estes os primeiros organizadores da agremiação. O peixe-boi Jaú tem sua data de fundação no dia 14 de novembro de 1993 e se declara um profundo conhecedor e grande contribuinte da causa e da história dessa tradição.
“Podemos dizer que o Jaú, possui mais de 80% dos seus artistas e brincantes moradores de Novo Airão, e vez e outra, descobre novos talentos locais. O Jaú, sempre busca falar e deixar em evidência, as mensagens de ecologia e preservação sobre Novo Airão, a fauna e flora regional e principalmente o clamor pelo peixe-boi da Amazônia. Acreditamos que as mensagens que ficam a cada apresentação, tudo isso faz com que nossa agremiação contribua para essa tradição”, informou a assessoria da agremiação.
Competição
O Grêmio Recreativo Folclórico e Cultural Peixe-boi Anavilhanas venceu o Eco-festival nove vezes, já o Grêmio Recreativo Folclórico e Cultural Peixe-boi Jaú, consagrou-se campeão 11 vezes.
No festival, nove jurados avaliam as agremiações por 17 itens obrigatórios, de forma artística, coreográfica, cênica, comum e musical. Confira:
Item 1: Apresentador
Item 2: Cantor
Item 3: Ala Temática
Item 4: Garota Encanto da Batucada
Item 5: Mensagem Ecológica
Item 6: Batucada
Item 7: Deusa da Canção
Item 8: Porta-Estandarte
Item 9: Deus Mauá
Item 10: Canção, letra e música
Item 11: Mãe Natureza Item 12: Coreografia
Item 13: Fauna e Flora
Item 14: Galera
Item 15: Indumentária Geral
Item 16: Conjunto
Item 17: Lenda do Peixe-Boi
Segundo a prefeitura de Novo Airão, as agremiações Peixes-Boi Anavilhanas e Jaú levaram em 2024, o público estimado em 15 mil pessoas à participar da festa.
A equipe do Portal Amazônia entrou em contato com o Grêmio Recreativo Folclórico e Cultural Peixe-boi Anavilhanas, mas até a publicação desta matéria não obtivemos respostas. A matéria pode receber atualizações futuras.
*Por Karleandria Aráujo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
Sorino Yanomami recebe imagem de José Allamano neste domingo (20), dia em que o padre foi canonizado. Foto: Maria da Silva/Arquivo pessoal
Quem vê Sorino Yanomami hoje em dia, trabalhando na lavoura, plantando, colhendo e até caçando junto com indígenas da comunidade em Catrimani, na Terra Yanomami, não imagina que a sua sobrevivência é resultado do que o Vaticano reconheceu como um ‘milagre’ do padre José Allamano.
Em fevereiro de 1996, à época com cerca de 40 anos, Sorino foi atacado por uma onça, que lhe arrancou parte da cabeça. Desacreditado pela equipe médica, sobreviveu após ser cuidado por missionárias que pediram sua recuperação em orações ao então padre José Allamano.
Sorino, hoje com cerca de 68 anos (o povo Yanomami não costuma contar idades e anos), vive sem sequelas do ataque.
O Grupo Rede Amazônica, conversou com uma das missionárias que socorreu Sorino após o ataque. A portuguesa Maria da Silva, de 77 anos, estava em Boa Vista e foi responsável por receber e acompanhar Sorino no hospital depois do ataque na comunidade Catrimani.
Foto: Reprodução/Diocese de Roraima Foto: Arquivo Pessoal/Maria da Silva
O indígena não fala português e vive numa região de difícil acesso na Terra Yanomami. Mesmo com as barreiras linguísticas, Maria encontra com Sorino sempre que possível. Ela reencontrou com ele em fevereiro deste ano, 28 anos após o ataque da onça.
“Ele é casado, tem esposa, mas não tem filhos. Mora na maloca comunitária, junto com outros parentes, com a irmã e a cunhada. Eles trabalham com agricultura e sempre cuidaram muito bem da roça. A roça dele era muito bonita. Além disso, também vive da pesca e da caça, mesmo após o acidente”, contou a missionária.
Allamano nasceu em 21 de janeiro de 1851 em Castelnuovo D’Asti, Itália e morreu em fevereiro de 1926. Embora nunca tenha pisado em Roraima, o milagre foi atribuído a José Allamano por conta das preces das missionárias da Consolata – congregação fundada por ele que socorreu o indígena e o transportou para o hospital em Boa Vista.
No dia em que Allamano foi canonizado, Sorino ganhou uma imagem do padre que, por conta da sua cura, agora é santo.
Ataque da onça e ‘milagre’
Sorino caçava na floresta quando se deparou com uma onça que estava com filhotes. O ataque aconteceu por trás, arrancou o couro cabeludo e abriu o crânio do indígena expondo ‘grande parte do cérebro’, segundo testemunhas.
O grupo de caçadores Yanomami tentou socorrê-lo e, devido à gravidade dos ferimentos, pediu ajuda às religiosas que estavam nas proximidades em missão da igreja. Sorino foi socorrido pelas enfermeiras Felicita Muthoni, que é queniana, Maria Silva, e Rosáuria, que faziam parte da congregação de Missionários da Consolata, onde eram conhecidas como Irmãs Missionárias da Consolata.
Foto: Reprodução/Diocese de Roraima
Felicita notou que Sorino estava com parte da massa cerebral fora da cabeça — desprendida do restante. Ela chegou a lavar a parte que estava para fora e empurrou para dentro da cabeça novamente e enrolou com uma camisa.
“Sorino sempre falou, sempre andou, sempre ficou acordado depois do ataque”, relembra a missionária.
Após os primeiros socorros, as enfermeiras ligaram solicitando ajuda e pedindo para levar o indígena ao hospital em Boa Vista, mas a Terra Yanomami é um local que só pode ser acessado de avião. O veículo foi enviado na tarde daquele dia. Já em Boa Vista, o indígena foi atendido pela equipe médica, que chegou a avaliar não haver chances de sobrevivência sem graves sequelas devido ao dano no cérebro causado pelo ataque. Foi em Boa Vista que Maria da Silva teve contato com a história de Sorino.
Durante todo o processo que começou no ataque da onça e durou três meses até o retorno de Sorino à comunidade as missionárias, incluindo a irmã Maria, oravam e pediam para Allamano que intercedesse pela cura do indígena acreditando que o milagre seria possível.
Sorino foi atacado pela onça no dia 7 de fevereiro de 1996 data que coincidiu com o início da novena dedicada a Allamano pratica católica que consiste em rezar uma série de orações durante nove dias. Para Maria, o milagre começou logo após o ataque, já que Sorino não desmaiou mesmo com parte do cérebro arrancado e teve forças para afugentar a onça.
“Tudo o que vivi nesse milagre é motivo de profunda gratidão. Mesmo com todos dizendo que ele iria morrer, eu sentia uma certeza profunda de que ele sobreviveria. Foi uma experiência de fé muito intensa. Eu rezava todos os dias pedindo pela cura. Quando as pessoas diziam que ele não tinha chance, eu respondia com convicção: ‘Ele não vai morrer!'”, relembrou a missionária em entrevista ao Grupo Rede Amazônica.
Maria da Silva relembra que, no Hospital Geral de Roraima, a cirurgia durou cerca de quatro horas, e ele ficou na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). As irmãs se revezavam para cuidar dele. Durante o dia, uma delas o acompanhava, e, à noite, Maria assumia.
Sorino se alimentava por sonda e, sempre que podia, tentava arrancá-la. Por isso, as irmãs precisaram amarrá-lo para evitar que se machucasse ainda mais.
“Lembro que um dia, ao chegar ao hospital, o mau cheiro da cabeça dele era insuportável. A enfermeira precisou fazer uma limpeza profunda nas feridas. Eu me sentia impotente, vendo tanto sofrimento, mas continuava rezando pela cura dele. Coloquei uma medalha do nosso fundador [Allamano] debaixo do colchão e intensifiquei minhas orações”.
“Os médicos estavam certos de que ele ia morrer e diziam que não havia esperança, mas eu sentia, no fundo do coração, que ele iria sobreviver”, relembra a missionária portuguesa.
Para o médico neurocirurgião Mario Santacruz, que atendeu Sorino, não há explicação científica para esta recuperação do indígena, pois considerando a perda da substância cerebral, “ele teria um déficit muito grande com danos motores, paralisia e problemas intelectuais”.
Reconhecimento do milagre
Foto: Divulgação/Diocese de Roraima
Embora Allamano tenho sido canonizado no dia 20 deste mês, o milagre da cura de Sorino foi reconhecido pela Diocese de Roraima em 2021 em um processo chamado de “Tribunal da Causa Para Santos”. O processo envolve a coleta de provas, depoimentos de testemunhas e um depoimento de Sorino, juntamente com uma avaliação médica.
Na época, o tribunal que durou nove dias, foi composto por oito membros, incluindo Dom Mário Antônio da Silva, bispo diocesano de Roraima à época; Padre Lúcio Nicoletto, vigário geral da Diocese de Roraima; Padre Raimundo Vantuir Neto, chanceler da Cúria da Diocese de Roraima à época; Padre Michelangelo Piovano, missão da Consolata e notário; Elizabete Sales de Lucena Vida, secretária da Cúria diocesana; e o Dr. Augusto Affonso Botelho Neto, médico.
Após a conclusão das investigações, os documentos foram entregues ao Vaticano para a revisão e assinatura pelo Papa. O Vaticano reconheceu o “Milagre Amazônico” em setembro de 2023.
Sorino atualmente
Foto: Divulgação/Diocese de Roraima
Sorino hoje em dia é considerado um ancião na comunidade. Não tem filhos mas vive com a esposa. De acordo com Maria, eles não conversam muito pelas barreiras linguísticas mas ele sempre demonstra gratidão e felicidade pelo trabalho das missionárias e pela cura atribuída ao milagre.
“Quando o reencontrei, muitos anos depois, ele estava bem, vivendo sua vida na comunidade. Sorino não fala muito, mas sorri e demonstra gratidão. Certa vez, ele fez questão de mostrar aos outros Yanomami onde havia sido ferido, apontando para a cabeça enquanto contava o que aconteceu e apontando para a imagem de Allamano”.
Canonização de José Allamano
Foto: Divulgação/Diocese de Roraima
O papa Francisco proclamou 14 novos santos no último domingo 20 de outubro, durante a Missa na Praça de São Pedro. Entre eles, está o italiano José Allamano. Nascido em 21 de janeiro de 1851 em Castelnuovo D’Asti, Itália, foi um notável sacerdote católico que dedicou a vida ao serviço religioso e à expansão do trabalho missionário.
Allamano era reconhecido pelo trabalho missionário e fundou o Instituto Missões Consolata dos padres e irmãos em 1900, seguido pelo Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata em 1910. Essas iniciativas expandiram o trabalho para várias regiões africanas e outros países ao redor do mundo como o território Yanomami. Allamano morreu em fevereiro de 1926.
Na apresentação da canonização de José Allamano no sábado 19 de outubro, na sala de imprensa do Vaticano, também estava presente Júlio Ye’kwana, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduunme) e líder indígena do território Yanomami em Roraima.
Missão na Terra Yanomami
A Missão Catrimani com os missionários de Consolata na Terra Yanomami, que leva o nome do rio brasileiro ao oeste do estado de Roraima, foi criada pelo Concílio Vaticano II durante a década de 1960.
O bispo de Roraima e presidente da rede Eclesial Pan-Amazônica, dom Evaristo Spengler que está em Roma para acompanhar a canonização de Allamano destacou a importância da missão na crise sanitária vivida pelos Yanomami causada pela invasão do garimpo ilegal.
“Especificamente na Terra Yanomami, a missão não é de anúncio explícito do evangelho. Foi criada para o diálogo, valorização da cultura e do respeito à forma religiosa que o povo indígena vive, sem fazer proselitismo”, afirmou.
A maturação é o período que os queijos ficam armazenados em câmaras específicas com temperatura e umidade controladas. Período que ocorre modificações físicas, bioquímicas e microbiológicas, e tais processos alteram a composição química destes queijos, principalmente nos lipídeos, açúcares e proteínas.
No Amazonas, um curso foi ofertado para produtores rurais e empresários de bovinocultura de leite e essa foi a primeira vez que uma regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) realizou este tipo de treinamento.
Foto: Reprodução/ Youtube/ Amazon Sat
A instrutora do curso, Íris Parizotto, relata que o conhecimento compartilhado com os empresários e produtores amazonenses é essencial para a melhoria da produção local.
“Até hoje, no Senar Brasil, ainda não tinha sido ofertado esse tipo de curso. Isso vem enriquecer o conhecimento aqui da região. Acredito que teremos sucesso e bons resultados”, afirma.
Foto: Reprodução/ Youtube/Amazon Sat
A equipe técnica do Senar Amazonas esclarece que o processo de maturação pode ser realizado por qualquer produtor, desde que tenha cuidados com a higiene local e que entenda o passo a passo da maturação, levando em consideração o cuidado com a temperatura, umidade, com a ‘viragem’ do queijo, aromas, características organolépticas e características visuais para um bom resultado.
Foto: Reprodução/ Youtube/ Amazon Sat
De acordo com a equipe técnica, a maturação modifica a textura, o sabor e a cor. Assim, geralmente, ele terá um valor agregado maior do que os queijos comuns, coalho ou minas (queijos frescos). “Quanto mais maturado for esse queijo, melhor valor agregado ele vai ter”.
Foto: Reprodução/ Youtube/Amazon Sat
A técnica de campo da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Amazonas, Francymari Gomes, explica quais são principais benefícios que um produtor pode ter em participar em cursos como o de prática de análises e maturação.
“Trilhar um caminho de capacitação, onde o produtor terá conhecimento sobre o negócio que ele vai estar desenvolvendo, é seguir uma trilha mais tranquila, mais assertiva, para que não venha cometer falhas durante o processo. Buscando essa capacitação e analisando esses produtos, ele vai conseguir trilhar um caminho de sucesso evoluindo para o melhor, tendo maior capacidade de decisões para seu negócio”, disse Francymari.
Quem nunca usou ou já ouviu falar em alguns dos produtos ‘Leite de Rosas’? Seja a água de limpeza corporal, sabonetes ou o talco, os produtos são famosos no Brasil. Mas você sabia que o criador do cosmético já foi prefeito em uma cidade do estado do Amazonas? Ou que a fórmula foi inicialmente desenvolvida quando ele ainda morava no Estado?
Francisco Olympio de Oliveira nasceu em 1878, em uma fazenda na serra cearense. Órfão aos nove anos, ficou responsável por cinco irmãos mais novos até um tio ficar com a guarda deles.
No site oficial do Leite de Rosas, conta a história que Olympio teve uma educação severa, usual naquela época. Quando adolescente, fugiu para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar em um escritório, estudou e finalmente, foi para o Espírito Santo na virada do século XX.
A história no Amazonas
Francisco começa a trabalhar fornecendo materiais e desenvolvendo negócios no Amazonas, em pleno ciclo da borracha, quando Manaus atinge o ápice sendo chamada de “Paris dos Trópicos”. O jovem entrou no ramo da borracha e chegou a comprar seringais. Neste período ele começou a perceber que a sociedade, cada vez mais sofisticada, necessitava de um empurrãozinho no ramo da cosmética e das fórmulas de higiene e beleza.
Com o declínio da indústria da borracha, em 1912, o seringalista vai morar na cidade amazonense de Itacoatiara, onde começa sua etapa de pecuarista e fazendeiro. Alguns anos depois é eleito prefeito da cidade.
O empresário, com mais de 50 anos de idade, decidiu vender tudo que lhe restava e embarcar em um navio com a esposa rumo à capital da República, o Rio de Janeiro.
Fórmula do Leite de Rosas foi idealizada em Manaus
Foto: Divulgação / Pag-Oficial Leite de Rosas
Em uma pequena pensão, já no Rio de Janeiro, a família Oliveira começou seu projeto de criação da fórmula cosmética, ideia que Francisco Olympio, com sua intuição e olhar aguçado, vinha amadurecendo desde os tempos que viveu em Manaus.
Com a ajuda da esposa e de um amigo farmacêutico, produziram as primeiras unidades do produto em um dos quartos da pensão.
Francisco Olympio tinha uma grande visão de marketing e divulgou o Leite de Rosas colando cartazes pelas ruas do bairro, e arredores, durante as madrugadas. A empresa foi registrada em 29 de julho de 1929 como F. O. de Oliveira Ltda.
Alguns anos depois, a empresa, já conhecida como Laboratórios Leite de Rosas, multiplicou seu alcance pelo Brasil, conquistando um público cada vez maior. A empresa celebra quase um século e tem a Amazônia em sua história.
Fonte: site oficial Leite de Rosas e Prefeitura de Itacoatiara
*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
Segundo o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), o setor primário em Autazes, tem uma grande produção agropecuária, baseada na criação de gado leiteiro, bovinos e bubalinos, o que rende o título de cidade do leite e do queijo. Entre os mais produzidos destacam-se o coalho e a manteiga. O cultivo de mandioca (farinha), cupuaçu, guaraná, laranja, feijão e hortaliças fornecem boa parte dos alimentos à população local.
O produtor Rubervan Paiva é do ramo da agroindústria, que é um conjunto de atividades relacionadas à transformação de matérias-primas agropecuárias provenientes da agricultura, pecuária, aquicultura ou silvicultura realizadas de forma sistemática.
Rubervan é da quarta geração da sua família no seguimento e fala com entusiasmo da referência que se tornou no município.
“Hoje, 70% do turista que vem até a cidade vem nos conhecer, comprar nosso produto. Antes íamos até a cidade, hoje as pessoas que vem até aqui”, relatou o produtor.
Foto: Reprodução/ YouTube – Amazon Sat
Mesmo com o grande reconhecimento em Autazes, Rubervan conta que não tinha controle com os gastos de produção, mas que a partir dos conhecimentos ofertados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) os lucros aumentaram.
“Eu era muito desorganizado, não notava minhas despesas, minha produção, o quanto eu gastava, o quanto lucrava. Com assistência técnica aumentei minhas vendas. O que produzo eu vendo, ganhei até prêmio”, disse o produtor Rubervan Paiva.
Senar Amazonas: três frentes de trabalho
Assistência Técnica e Gerencial, Formação Profissional Rural e Promoção Social. Essas são as três frentes de trabalho que o Senar, no Amazonas, desenvolve suas ações, de acordo com o potencial produtivo e econômico da região.
Foto: Reprodução/ YouTube/ Amazon Sat
Segundo a equipe técnica do Senar Amazonas, no município de Autazes a sua linha de ação de maior destaque e de grande referência é a cadeia produtiva do leite, que vai desde a produção, a criação (bovinocultura de leite), até a parte de derivados do leite, ou seja, todo o ciclo produtivo, onde se desenvolve a parte de agroindústria de laticínio.
“Nessas ações, o Senar vem contribuindo para o município Autazes através das suas frentes de trabalho, tanto com cursos para capacitar a mão de obra, desde a manipulação correta do leite, quanto a parte da criação animal que é a parte de nutrição, a parte de pastagem e a parte do ciclo de manejo do gado leiteiro”, relataram os técnicos.
A equipe contou ainda, que contribui com as ações de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), um programa através do qual os técnicos de campo, passam um ciclo de dois anos visitando a propriedade, deixando orientações técnicas para a produção, e também para a gestão da propriedade, onde o diferencial é o ‘G’, de gestão.
Ou seja, além das orientações técnicas, trabalham junto ao produtor para que ele veja a sua propriedade como um negócio.
Foto: Reprodução / YouTube / Amazon Sat
Dentro da Assistência Técnica e Gerencial, o Senar Amazonas trabalha atualmente em duas cadeias dentro do município de Autazes, uma delas é a bovinocultura de leite e a outra é a agroindústria.
Desafios
Um dos principais desafios encontrados dentro da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) é a questão das anotações. A equipe técnica informa que os produtores recebem um caderno onde fazem um controle e o técnico de campo, todo mês, verifica.
É onde ele descreve receita, lucro, o que ele aplicou na propriedade, onde o técnico também deixa as anotações de recomendações e, dentro das recomendações, o que ele seguiu, o controle de rebanho, anotando o peso. O Senar Amazonas diz que é difícil fazer com que as anotações vire rotina para o produtor, mas o trabalho é necessário.
“Acontece que, muitas vezes, o produtor está muito mais voltado para a parte da produção dele, da propriedade, do manejo e pouco para a parte do gerencial. É aí que está o diferencial da nossa ATeG. Trabalhamos com foco educativo, ou seja, o técnico orienta, explica, solicita essas anotações para que o produtor, a partir do final do segundo ano, possa ter essas informações para essa própria gestão da propriedade”.
O superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Amazonas, Jeyn’s Martins Alves, explica sobre a nova tecnologia de anotações.
“Nós também temos um aplicativo, a nível nacional, que é disponibilizado para os produtores onde eles podem ter acesso também a essas informações tanto no caderno quanto no aplicativo”.
Você notou que recentemente os vagalumes tem sumido das grandes metrópoles? Os vagalumes ou pirilampos são pequenos besouros pertencentes a ordem Coleoptera, Família Lampyridae. No Brasil, existem três famílias de vagalumes – elaterídeos, lampirídeos e fengodídeos – conhecidas pela luminescência branca esverdeada de que são dotados.
Com o passar dos anos, esses “seres iluminados” foram desaparecendo dos centros urbanos, como as grandes cidades da Amazônia. Mas você já se perguntou há quanto tempo está sem ver um vagalume? Ou se seus filhos irão ter a oportunidade de vê-los?
O Portal Amazônia conversou com o biólogo, mestre em entomologia e doutorando do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI), Leandro Zeballos, que esclareceu sobre esse possível desaparecimento dos vagalumes e revelou algumas curiosidades.
“Até o momento a gente não tem nenhuma evidência científica que populações de vagalumes estão diminuindo, especialmente aqui na Amazônia onde existem muitas espécies. Os especialistas e as pessoas no geral, dizem que veem cada vez menos vagalumes. Isso não é uma evidência científica, mas todos esses relatos pessoais somados as crises ambientais apontam para possível desaparecimentos desses insetos”, explicou.
Zeballos pontuou que mesmo sem muitos dados e estudos no geral, há possíveis indícios de causas para o declínio das espécies de vagalumes.
“Um estudo realizado por pesquisadores do Rio de Janeiro mostrou que a poluição luminosa é um dos principais perigos para as espécies, pois tem a tendência de avançar muito mais rápido que outros fatores, como o desmatamento. Na Amazônia não temos dados para afirmar qual é a maior ameaça, mas os vagalumes de modo geral sofrem muito com a perda do habitat que é derivada de desmatamento, queimadas e da crescente urbanização. Além disso, o intenso uso de pesticidas e a contaminação das águas são outros fatores bem preocupantes porque a maior parte da vida desses besouros é em contato com plantas e locais úmidos, lugares que tenham disponibilidade de água”, exemplificou.
O entomólogo enfatizou como a poluição luminosa afeta o comportamento e a reprodução dos vagalumes:
“A luz artificial está chegando cada vez mais próximo das florestas. O que é um perigo porque interfere diretamente na comunicação das espécies de vagalumes, pois a luz destes insetos é usada para comunicação, para que o macho consiga rastrear a fêmea em busca do acasalamento. Essa luz artificial chegando e iluminando partes anteriormente escuras das florestas, ofusca essa comunicação entre os casais de vagalumes e impossibilita a formação desses pares entre machos e fêmeas”.
Diversidade
Leandro Zeballos comentou uma curiosidade sobre esses bichinhos na Amazônia: das seis novas espécies descobertas por seu grupo de estudo, uma herdou o nome de um cantor famoso.
“Descobrimos oito espécies novas para a ciência, sendo cinco delas aqui da Amazônia e publicamos em 2023. Uma das espécies ocorre no Mato Grosso e foi nomeada em homenagem a um cantor famoso, o Ney Matogrosso. Há muito mais espécies a serem descobertas ainda e estudos que precisam ser realizados, temos que conseguir entender e saber cada vez mais sobre as espécies que existem aqui antes que elas sejam extintas [na Amazônia]. Então é interessante que a gente atraia mais pesquisadores e consiga levar os resultados obtidos para o público em geral, o que aumenta a conscientização pública e nos ajuda a caminhar para conservação das espécies”.
Scissicauda neyi. Foto: Reprodução/’Haplocauda, a New Genus of Fireflies Endemic to the Amazon Rainforest’
Confira as espécies descobertas pelo grupo de pesquisa do entomólogo:
Scissicauda antennata – Zeballos, Roza e Silveira, 2023 (AM)
Scissicauda aurata – Zeballos, Roza e Silveira, 2023 (AM)
Scissicauda jamari – Zeballos, Roza e Silveira, 2023 (RO e AM)
Scissicauda gomesi – Zeballos, Roza e Silveira, 2023 (MT)
Scissicauda neyi – Zeballos, Roza e Silveira, 2023 (MT)
“O vagalume adulto praticamente não come, na verdade ele é só para reprodução. Ele come mesmo é na fase da larva, nessa fase é um predador muito voraz. Ele come outros invertebrados maiores do que ele, como alguns caracóis, minhocas e outros invertebrados pequenos. Assim como suas presas, eles gostam de áreas úmidas, locais que tem disponibilidade de água, isso vai afetar diretamente a vida dos vagalumes”, comentou o biólogo.
Importância dos vagalumes se estende ao aspecto cultural
Para alguns povos indígenas os vagalumes são espíritos de seus ancestrais. Em outras culturas eles são vistos como amuletos de sorte.
Além disso, também se tornaram importantes para o turismo de algumas regiões mundo afora, como o Japão, Taiwan e Tailândia, onde a observação da espécie é um atrativo turístico bastante popular.
E ainda existem festivais e eventos dedicados à observação desses insetos, tornando-os estimados tanto do ponto de vista ecológico como cultural.
*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
A representatividade dos povos indígenas nos espaços de poder e a participação nas discussões sobre política, economia, saúde, educação e meio ambiente devem ser garantidas pelo Estado na construção da política indigenista. Foi o que defendeu a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, em cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no último dia 13.
No evento, ela foi homenageada e destacou a sabedoria dos povos indígenas, que sempre aconselharam a cuidar do meio ambiente para evitar as catástrofes ambientais cada vez mais recorrentes, e defendeu a demarcação de terras e a proteção dos territórios tradicionalmente ocupados para a preservação da identidade e cultura indígena.
“Quero estender esse colar, essa honra de mérito a todos os povos indígenas do Brasil que tem lutado todos os dias para continuarem a existir como povos indígenas, detentores de cultura, línguas, conhecimentos, crenças, organizações sociais e que tem lutado para reconhecimento dos seus territórios pela demarcação, proteção e gestão de suas terras. Essa é uma luta não só de hoje, mas dessa geração e das futuras, porque nós trabalhamos muito para que a nossa existência continue”, disse Joenia Wapichana ao agradecer a homenagem.
A deputada estadual Maria Helou é a autora do requerimento para homenagear a presidenta da Funai que, para ela, abriu portas para outras mulheres indígenas ocuparem espaços de poder. Joenia Wapichana recebeu o Colar de Honra ao Mérito Legislativo por seu trabalho em defesa dos direitos indígenas.
Joenia, do povo Wapichana de Roraima, é pioneira na representatividade das mulheres indígenas em espaços de poder, sendo a primeira a se tornar advogada, deputada federal e presidenta da Funai — autarquia responsável pela promoção e proteção aos direitos dos povos indígenas.
A cerimônia foi aberta pelo coral kyre’ymba do povo Guarani, da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo, e contou com a participação do ativista indígena Ailton Krenak, primeiro indígena a se tornar ‘imortal’ pela Academia Brasileira de Letras.
Foto: Lohana Chaves/Funai
Ele celebrou a homenagem feita à Joenia Wapichana, classificou o Marco Temporal para demarcação de terras indígenas como uma “excrescência jurídica que afronta a Constituição Federal” e criticou a cobiça humana em extrair minerais preciosos da terra, devastando o meio ambiente e causando as mudanças climáticas que afetam todo o mundo atualmente.
“Agora nós estamos horrorizados com o fogo, mas quantos de vocês se horrorizaram quando viram as pessoas andando por aí, exibindo ouro? Culturalmente, nós brasileiros, em geral, aceitamos que o ouro é uma coisa bonita. O ouro fura a terra, tira do chão, usa mercúrio, envenena as águas, destrói a paisagem e a vida das pessoas também. O ouro não deveria ser exibido, não deveria ser ostentado como um atributo especial, uma riqueza”, criticou Krenak, em referência aos incêndios que assolam os principais biomas brasileiros.
Foto: Lohana Chaves/Funai
O coordenador regional da Funai no Litoral Sudeste, Ubiratã Gomes, e servidores da autarquia indigenista também participaram da cerimônia.