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Portal Amazônia responde: o que é o Código Florestal?

Foto: Reprodução/Adriano Gambarini

O primeiro Código Florestal Brasileiro foi criado em 1934, através do Decreto 23.793. Desde então, passou por oito alterações e, aprovado em 2012, o atual Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/2012) é uma das principais ferramentas legais para a proteção do meio ambiente no país.

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Mais do que uma simples norma para regular o uso da terra, a legislação estabelece um pacto entre o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, com impacto direto não apenas no campo, mas em toda a sociedade.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Código Florestal define regras para a preservação da vegetação nativa em Áreas de Preservação Permanente (APPs), reservas legais, regiões de uso restrito e atividades de exploração florestal. Com isso, proprietários de terras devem seguir uma série de orientações técnicas e legais para garantir a sustentabilidade ambiental de suas propriedades.

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Entre as diretrizes estão práticas de recuperação de áreas degradadas, uso de espécies nativas no reflorestamento e adoção de boas práticas agrícolas.

Foto: Reprodução/Fernando Sette

Impacto além das cercas

Apesar de incidir diretamente sobre os produtores rurais, o Código Florestal tem efeitos que vão muito além das fronteiras das fazendas. Ele influencia o acesso à água, a qualidade do ar, a estabilidade do clima, a produção de alimentos e até mesmo a segurança energética. Isso porque a vegetação nativa desempenha um papel fundamental no ciclo hidrológico, na conservação do solo e na regulação climática.

Além disso, a legislação tem um papel estratégico no combate às mudanças climáticas. Árvores são grandes aliadas na captura de gás carbônico, o principal vilão do efeito estufa. No Brasil, a mudança de uso da terra — principalmente o desmatamento — é responsável por 44% das emissões de gases de efeito estufa, seguida pela agricultura, com 28%. Cumprir o Código Florestal, portanto, é também uma forma de o país honrar compromissos internacionais de sustentabilidade e enfrentamento do aquecimento global.

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Uma das novidades da Lei em 2012 foi a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), em que o Governo Federal e órgãos ambientais estaduais passariam a conhecer a localização de cada imóvel rural e a situação de sua adequação ambiental.

Porém, segundo informações da Agência Senado, em junho de 2024, a implementação do Código Florestal após 12 anos das modificações, ainda não foi consolidada. Um dos pontos levantados é justamente a “pequena quantidade de análises do Cadastro Ambiental Rural (CAR) efetivadas em todo o país”.

A audiência foi requerida e presidida pelo deputado federal Nilto Tatto (PT-SP). “A implementação [é necessária] não só para a proteção [de florestas], mas para o próprio setor produtivo, que vem sofrendo com as mudanças climáticas, com a redução na produtividade em algumas regiões do país”, disse o deputado na época.

Foto: Pedro Devani/Secom AC

Conscientização

O maior desafio, no entanto, ainda é a conscientização. Para muitos, especialmente nas cidades, o Código Florestal é visto como uma questão distante da vida cotidiana. No entanto, a proteção da vegetação garante benefícios como o abastecimento de água, a estabilidade dos alimentos nos mercados e o equilíbrio climático.

Quanto mais cidadãos entenderem a importância da lei, maior será a pressão por seu cumprimento — tanto por parte do poder público quanto de grandes agentes econômicos.

Potencial ornamental de folhas e frutos de espécies amazônicas é analisado em pesquisa

Foto: Denise Garcia/Acervo pessoal

Identificar espécies amazônicas com potencial ornamental que possam ser cultivadas pelas populações locais, especialmente mulheres, é o objetivo de um projeto apoiado pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), via Programa Mulheres das Águas.

O estudo ‘Nem tudo são flores: potencial ornamental de folhas e frutos de aráceas amazônicas’ é coordenado por Denise Garcia de Santana, doutora em Estatística e Experimentação Agronômica, com experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal.

A pesquisa foi realizada no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Os estudos foram feitos em Tefé (distante a 523 quilômetros da capital), Alvarães (a 531 quilômetros) e Uarini (a 565 quilômetros).

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De acordo com a pesquisa, a comercialização de plantas ornamentais no país ainda está concentrada em espécies classificadas como exóticas. A ideia do projeto é selecionar entre três e cinco espécies da família Araceae, como epífitas, hemiepífitas e terrestres, que tenham características favoráveis. O conhecimento técnico adequado para manejo, cultivo e investimento em recursos para pesquisa, produção e comercialização podem auxiliar na inserção destas no mercado.

O foco do projeto é a sustentabilidade do sistema de produção de espécies ornamentais. A pesquisadora explica que a produção de substratos, materiais que contribuem para o crescimento das plantas, feitos à base de resíduo do processamento de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa H.B.K) pode garantir um melhor desenvolvimento das espécies estudadas.

Leia também: De planta ornamental a antioxidante natural: conheça a “raiz do sangue”

A escolha deve-se ao impacto que esses resíduos têm na cadeia produtiva na região Norte do país. A casca da amêndoa (tegumento) e do ouriço (fruto) contêm nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas. Segundo o estudo, as espécies de Araceae da flora amazônica apresentaram desenvolvimento pleno, da germinação até a floração.

Foto: Denise Garcia/Acervo pessoal

“Na Amazônia, especificamente no Médio Solimões, o cultivo de espécies da flora brasileira, especialmente com potencial ornamental, deve priorizar substratos a base de resíduos vegetais, uma vez que o solo não é um recurso renovável”, descreveu Denise Garcia.

Ela afirma que o acesso ao patrimônio genético das espécies analisadas deve seguir os procedimentos exigidos pela legislação brasileira e estadual. Considerando a demanda por espécies nativas no paisagismo, a pesquisadora acredita que o interesse da sociedade por recursos naturais a partir do processo comercial pode aumentar o interesse pela conservação das espécies.

Para Denise Garcia, a contribuição deste estudo a longo prazo está na constatação de que além da casca de castanha, o caroço do açaí também pode servir como matéria-prima na formação de substratos comerciais. Crus, parcialmente compostados ou carbonizados, funcionam como fontes de nutrientes para adubos organominerais. E além disso, estão acessíveis às comunidades.

“Deve-se considerar a grande produção de resíduo vegetal de castanha e açaí em cidades amazônicas e o imenso potencial de uso de forma bruta para cultivos de espécies epífitas como as indicadas na pesquisa”, detalhou.

As espécies analisadas na pesquisa costumam ser comercializadas por mulheres em feiras e exposições de comunidades locais no Médio Solimões. Denise Garcia defende que além da geração de renda para pequenos agricultores, a identificação e a valorização de espécies nativas também fortalecem a identidade regional. Por esse motivo, é importante conhecer o potencial de cada espécie, estabelecer protocolos para o manejo e cultivo, promover estratégias para comercialização e organizar oficinas de capacitação técnica.

*Com informações da Fapeam

Amazônia concentra maior número de sítios arqueológicos do Brasil

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Sítio arqueológico Parque Calcoene. Foto: Heitor Reali

O Brasil possui atualmente 27.974 sítios arqueológicos oficialmente cadastrados e georreferenciados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com destaque para os biomas Amazônia e Caatinga, que concentram os maiores números. A Amazônia lidera com 10.197 sítios — mais de um terço do total nacional —, seguida pela Caatinga, com 7.004 sítios e o Cerrado, com 4.914. A Mata Atlântica abriga 4.832 sítios, enquanto o Pampa tem 904 e o Pantanal, 123. Entre os estados, a Bahia lidera em número de sítios arqueológicos cadastrados (2.718), seguida por Paraná (2.363) e Minas Gerais (2.029).

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De forma inédita, esses sítios arqueológicos cadastrados estão disponíveis na plataforma do MapBiomas e permitem analisar as mudanças na cobertura e uso da terra no entorno dos sítios arqueológicos nas últimas décadas. É possível analisar esses dados no entorno dos sítios com diferentes distâncias: 100m, 200m, 500m e 1000m, e identificar suas diferenças ao longo dos anos.

Em 1985, pouco mais da metade (53,5%) da área no entorno de 100m dos sítios estavam em áreas de vegetação nativa, como florestas, savanas e campos naturais, e 41,7% em áreas antrópicas. Em 2023, esse cenário se inverteu: apenas 41,5% permanecem envoltos por áreas de vegetação nativa, enquanto 49,6% já se encontram em áreas já desmatadas e ocupadas por usos antrópicos tais como pastagens, agricultura e áreas urbanas.

Leia também: Sítios arqueológicos na Amazônia: Conheça o sítio de Hatahara

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A seca revelou quatro sítios arqueológicos em diferentes pontos do estado do Amazonas. Foto: divulgação/IPHAN

Os dados também mostram mudanças no uso da terra ao redor dos sítios arqueológicos no país. Em 1985, as florestas predominavam (43,2%), enquanto a agropecuária ocupava 38%. Já em 2023, a agropecuária passou a ocupar a maior parcela, com 43,1%, e a cobertura florestal no entorno dos sítios caiu para 32,5%. Também houve um aumento de área de superfície de água no entorno dos sítios arqueológicos, em 1985 eram 4,9% da área e em 2023, 8,9%.

“Apesar da ocupação humana histórica desses sítios, agora podemos analisar as mudanças e os impactos da ocupação recente sobre essas áreas. A identificação desses sítios arqueológicos pode estar relacionada a pesquisas, obras de infraestrutura, como estradas, ou podem ter sido descobertos depois que essas áreas foram desmatadas. Além disso, ainda existem outros sítios arqueológicos que ainda não foram identificados”, explica Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do IPAM.

A Mata Atlântica é o bioma com maior proporção de sítios em áreas antrópicas (63%), seguida da Amazônia (47,5%), Cerrado (41,1%), Caatinga (39,9%), Pampa (33,2%) e Pantanal (18,5%). A Amazônia, inclusive, apresentou o maior aumento proporcional de áreas antrópicas no entorno dos sítios, passando de 19% em 1985 para 47,5% em 2023.

Leia também: Plano de proteção para sítios arqueológicos do Amazonas é lançado pelo Iphan

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Sítio arqueológico no Amazonas. Foto: divulgação/Iphan

“O crescimento de atividades antrópicas ao redor dos sítios reforça a importância de políticas de conservação e gestão do patrimônio arqueológico brasileiro, especialmente frente às crescentes pressões sobre os biomas” comenta Marina Hirota, cientista e professora da UFSC e do BrazilLAB/Princeton, que colaborou com esses dados.

Quanto à presença de áreas antrópicas no entorno dos sítios nos estados, o Acre é o estado com maior percentual (89,2%), seguido por Rio de Janeiro (76,1%) e Espírito Santo (75,4%). Em contrapartida, Roraima lidera em sítios com maiores áreas de vegetação nativa nos arredores (87,6%), seguido por Piauí (78,7%) e Amapá (69,4%). Acre, Rondônia e Pará foram os estados com maior perda de vegetação nativa ao redor dos sítios arqueológicos. No Acre, a área de vegetação nativa no entorno de 100m dos sítios arqueológicos diminuiu de 70% em 1985 para 10% em 2023.

“O cruzamento e a disponibilização destes dados abertos ao público ajudam a entender onde estes sítios estão localizados, se é numa área impactada por atividades humanas ou não, e também pode apontar para uma tendência de aumento de atividades antrópicas em alguma determinada região e a extensão desse aumento, o que pode nos gerar um alerta. Quando um sítio arqueológico está localizado em uma área antropizada, uma série de preocupações com a sua preservação e conservação devem ser observadas, e esse levantamento pode apontar para os locais onde devemos prestar mais atenção, ou tratar de maneira priorizada”, explica Thiago Berlanga Trindade, chefe do Serviço de Registro e Cadastro de Dados – SREC do CNA/IPHAN.

Sítio arqueológico Santa Terezinha. Foto: Edison Caetano

A localização dos sítios arqueológicos também foi cruzada com os alertas de desmatamento disponibilizados no MapBiomas Alerta. Entre o total de sítios arqueológicos, 122 tiveram alertas de desmatamento entre 2019 e 2024. A Caatinga foi o bioma com maior número de alertas (45), seguido do Cerrado (29), da Mata Atlântica (31) e da Amazônia (17). Os estados com maior número de alertas são Rio Grande do Norte (25), Paraná (19), Bahia (15), Tocantins (12) e Pará (9).

“A identificação dos sítios arqueológicos dentro de alertas de desmatamento permite analisar os sítios que foram descobertos e cadastrados durante o processo recente de ocupação e os que já haviam sido identificados anteriormente — distinção importante, considerando que o desmatamento pode danificar ou até destruir esses sítios. Quase dois terços (79 sítios arqueológicos) estão em áreas desmatadas para expansão das áreas agrícolas. No Rio Grande do Norte, estão 13 dos 19 sítios arqueológicos em alertas de desmatamento relacionados à expansão de projetos de energias sustentáveis (solares ou eólicas)” acrescenta Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

Leia também: Novos sítios arqueológicos no Parque Nacional de Anavilhanas são mapeados pelo ICMBio

O que são os sítios arqueológicos?

Sítio arqueológico em figuras rupestre. Foto: OGuarany

Sítios arqueológicos são locais onde se encontram vestígios materiais da atividade humana, tanto do período pré-colonial quanto histórico. Esses vestígios podem estar em superfície, enterrados ou submersos e incluem fragmentos de cerâmica, metal, vidro, rochas, entre outros. A identificação e o registro dos sítios exigem uma série de critérios técnicos e subjetivos, como a quantidade e o tipo de vestígios, sua contextualização histórica e geográfica, além de métodos variados de prospecção — de vistorias e escavações a tecnologias como radar GPR, LIDAR e sonares.

Após a identificação, os dados são encaminhados ao IPHAN, que avalia a pertinência das informações antes de incluir o sítio no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG). Uma vez registrado, o sítio pode ser alvo de projetos de escavação, conservação e socialização, como visitas monitoradas e ações educativas.

Você pode encontrar encontra um pdf com mapas e dados dos sítios arqueológicos Aqui .

Leia também: Cientistas se unem a povos da floresta amazônica para proteger sítios arqueológicos em risco

Três vezes que a cantora Lady Gaga interagiu com a Amazônia

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Foto: Reprodução/Instagram-ladygaga

Com um show confirmado para o dia 3 de maio na orla do Rio de Janeiro, no projeto ‘Todo Mundo no Rio’, a cantora Lady Gaga volta a emocionar fãs brasileiros — e, em especial, os da região Norte. Reconhecida mundialmente por sua potência vocal, versatilidade artística e engajamento social, Gaga também tem construído, ao longo dos anos, uma relação afetiva surpreendente com admiradores da Amazônia.

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Ainda que a artista nunca tenha se apresentado fisicamente na região amazônica, seus gestos e interações virtuais mostram que o carinho é mútuo. A seguir, relembre três momentos marcantes dessa conexão entre a “mother monster” e o coração verde do Brasil.

Pós Super Bowl

Logo após sua icônica apresentação no Super Bowl de 2016, em que cantou o hino nacional dos Estados Unidos, Lady Gaga surpreendeu ao compartilhar nas redes sociais um desenho feito por Alef Vernon, um jovem artista de Manaus (AM). O retrato, com traços que misturam o estilo cartoon a referências das princesas da Disney, captou a atenção da popstar e ganhou o mundo.

Na época com apenas 19 anos, Alef relatou ao Portal Amazônia o impacto da repercussão: “Foi inacreditável. Eu já tinha recebido curtidas de artistas nacionais, mas ter meu trabalho reconhecido por alguém como a Gaga foi surreal”.

O gesto reforçou a proximidade da cantora com seus fãs, valorizando o talento que brota em cada canto do Brasil, inclusive no Norte.

Foto: Divulgação/Instagram-alefvernonart

Gaga e Pabllo Vittar

Quem poderia imaginar que Lady Gaga dançaria — ainda que apenas com os ouvidos — ao som de forró? Foi exatamente isso que aconteceu quando a cantora lançou, em 2020, uma versão remixada da faixa ‘Fun Tonight’ com a brasileira Pabllo Vittar, artista com raízes no Maranhão e Pará, estados da Amazônia Legal.

A música ganhou arranjos que misturavam o arrocha ao forró, gêneros que fazem parte da identidade musical do Norte e Nordeste brasileiros.

A equipe de Gaga, inicialmente surpresa, recebeu explicações detalhadas sobre como é comum que hits internacionais recebam versões em ritmos populares no Brasil. Dias depois, veio a resposta de Gaga: “fucking awesome“, pedindo ainda mais destaque para os vocais de Pabllo. Um sinal claro de que a artista está aberta a sonoridades e culturas diferentes — inclusive aquelas com sabor amazônico.

Gaga no Carnaval de Manaus

Em fevereiro de 2025, mais um momento selou o carinho entre Lady Gaga e seus fãs amazônidas. Durante o Bloco da Fervo, tradicional evento de Carnaval em Manaus, o grupo de dança Hunter performou a música ‘Abracadabra’, o mais recente lançamento da cantora. O vídeo, publicado nas redes sociais, ganhou visibilidade nacional — e acabou sendo repostado pela própria Gaga.

“Isso é incrível”, comentou a artista em sua página, levando os fãs amazônidas ao delírio. A publicação somou mais de 140 mil visualizações e reafirmou o poder da arte regional em dialogar com o mainstream internacional.

Foto: Divulgação

Brasil tem 24 municípios totalmente localizados no Hemisfério Norte: todos da Amazônia

Oiapoque é um dos municípios do Amapá completamente acima da Linha do Equador. Foto: Maksuel Martins/GEA

Pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta a lista de municípios brasileiros situados no Hemisfério Norte. O Brasil possui uma área de 606.544.575 km² que se localiza ao norte da Linha do Equador, o equivalente a 7,13% do território nacional.

Essa porção do país é composta por 44 municípios, distribuídos pelos estados do Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Desses municípios, apenas 24 estão totalmente no Hemisfério Norte, sendo 13 pertencentes a Roraima e 11 ao Amapá. Em relação às sedes municipais, apenas 26 delas estão no Hemisfério Norte, todas em Roraima e Amapá.

Leia também: Portal Amazônia responde: por que Macapá é a capital do meio do mundo?

A Linha do Equador promove a divisão do planeta em dois hemisférios: Norte e Sul. Ela é o ponto de partida para a medida das latitudes, sendo, por isso, o paralelo de 0º.

“Apesar de grande parte do país estar no Hemisfério Sul, a Linha do Equador passa pelo Brasil. O lançamento deste novo produto busca atender a demandas de usuários externos sobre quais municípios brasileiros estão localizados acima da Linha do Equador. A intenção é disseminar exatamente as informações geográficas para conhecimento, ensino em geral e estudos de políticas públicas para aquela região do país”, observa o coordenador de Estruturas Territoriais do IBGE, Roberto Tavares.

O IBGE divulgou os Municípios Limítrofes, que consiste em uma planilha que relaciona os municípios que fazem fronteira geográfica com outros, ou seja, são os municípios vizinhos, contíguos ou confinantes.

Os produtos Municípios Limítrofes e Municípios localizados no Hemisfério Norte derivam da Malha Municipal Digital 2024, que é o produto básico utilizado pelo Instituto na tabulação de todas as suas pesquisas e como referência espacial para coleta de dados do Censo Demográfico e Agropecuário.

Quanto ao produto Alterações Toponímicas Municipais, a versão 2024 não apresenta atualizações na lista de municípios quando comparada à de 2023, ou seja, não houve modificação nas bases geográficas e estatísticas do IBGE, como a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE) e o Banco de Tabelas Estatísticas (SIDRA).  

Os topônimos refletem e perpetuam um pouco da história e cultura local, ao remeter a um fato, pessoa ou acidente geográfico de relevância durante o processo de ocupação de uma determinada área, ou ao retratar o sentimento de pertencimento e identidade com o território. A nova denominação passa a integrar todos os documentos geográficos e estatísticos elaborados pelo IBGE.  

Leia também: Você conhece os municípios na Amazônia que receberam nomes de países ou cidades internacionais?

Atualização

As informações são dos dados disponibilizados pelo IBGE no dia 29 de abril e fazem parte de uma série de atualizações relacionadas às estruturas territoriais do Brasil. Trata-se da versão 2024 de sete produtos: Malha Municipal Digital, Áreas Territoriais Brasileiras, Atualização dos Mapas Municipais, Divisão Territorial Brasileira, Alterações Toponímicas Municipais, Municípios Limítrofes e Municípios localizados no Hemisfério Norte, esse último publicado pela primeira vez.    

“As atualizações acontecem a partir de atualizações cartográficas, da publicação de nova legislação, decisão judicial e relatórios/pareceres técnicos confeccionados pelos respectivos órgãos estaduais responsáveis pela divisão político-administrativa de cada estado e encaminhados ao IBGE”, explica Tavares.

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Boa Esperança do Norte (MT) é o mais novo município do país

Na Amazônia Legal, o estado que contou com uma atualização da lista de municípios foi Mato Grosso, com a adição do município de Boa Esperança do Norte. Com população estimada em 5.772 pessoas, o município tem 4.704 km² de área territorial e foi instalado oficialmente em 1º de janeiro de 2025, embora tenha sido criado a partir da publicação da Lei Estadual nº 7.264, de 29 de março de 2000.

Boa Esperança do Norte (MT) passou a integrar a lista dos 5.569 municípios brasileiros. Foto: Reprodução/Prefeitura de Sorriso

A Divisão Territorial Brasileira (DTB) detalha a estrutura territorial do país, enumerando os municípios, distritos e subdistritos. As tabelas com as informações podem ser acessadas pelo portal do IBGE.  

Com a inclusão do município de Boa Esperança do Norte (MT), a estrutura territorial brasileira de 2024 apresenta 5.569 municípios, um a mais do que no ano anterior. Essa foi a primeira atualização no quantitativo de municípios desde 2013.

Todas as informações e atualizações podem ser consultadas no portal do IBGE.  

*Com informações do IBGE

Modo de fazer Bonecas Karajá ganha Plano de Salvaguarda do IPHAN

Foto: Telma Camargo da Silva

No ano em que a Política Nacional do Patrimônio Imaterial completa 25 anos de história, os Saberes e Práticas Associados ao Modo de Fazer Bonecas Karajá e o Ritxoko: Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá, registrados como Patrimônio Cultural do Brasil em 2012, ganharam um Plano de Salvaguarda, instrumento fundamental para a gestão dos bens registrados como Patrimônio Cultural Imaterial. 

O documento foi produzido após um extenso trabalho de mobilização coordenado conjuntamente pelas equipes técnicas das superintendências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nos estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins e do Departamento de Patrimônio Imaterial, com lideranças indígenas do povo Iny Karajá de mais de 20 aldeias da área de abrangência do bem cultural.

Leia também: Patrimônios imateriais: sete manifestações culturais da Amazônia registrados pelo Iphan

Plano de Salvaguarda  

O plano de salvaguarda apresenta as iniciativas de proteção de maneira estratégica, os objetivos e o planejamento de ações a serem desenvolvidas a curto, médio e longo prazo, a fim de promover um amplo alcance da política de salvaguarda, a qual deve, também, estar sempre articulada a outras políticas públicas.

Mas quem elabora um plano de salvaguarda? Como diagnosticar políticas públicas e ações de salvaguarda? Essas e outras perguntas são respondidas no Manual de Elaboração de Planos de Salvaguarda, publicado pelo Iphan com versões em português e espanhol.

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Saberes e Práticas Associados ao Modo de Fazer Bonecas Karajá

Denominadas na língua nativa ritxoko (na fala feminina) ou Ritxoko (na fala masculina), as bonecas Karajá são consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos. Com motivos mitológicos, de rituais, da vida cotidiana e da fauna, são importantes instrumentos de socialização das crianças indígenas que, brincando, se veem nesses objetos e aprendem a ser Karajá.

Leia também: Em Mato Grosso, artesanato indígena é fonte de renda e preservação cultural

De acordo com o parecer técnico que reconheceu o bem cultural como Patrimônio Cultural do Brasil, em 2011, e inscreveu o Ofício e Modos de Fazer as Bonecas Karajá no Livro dos Saberes e a Ritxoko: Expressão Artística e Cosmológica no Livro das Formas de Expressão, os Karajá dedicam-se à pesca, à agricultura e ao artesanato.

A cultura material Karajá abrange técnicas de construção de casas, tecelagem em algodão, madeira, palha e cerâmica, a única ou a mais importante fonte de renda familiar.

*Com informações do IPHAN

STF determina que União desaproprie terras alvo de incêndio ou desmatamento ilegal

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou no dia 28 de abril, que a União desaproprie terras que tenham sido alvo de incêndios criminosos ou de desmatamento ilegal. A medida deverá ser aplicada nos casos em que estiver comprovada a responsabilidade do proprietário na devastação do meio ambiente.

Conforme a decisão, a União e os estados terão de adotar meios para impedir a regularização de terras em que tenham ocorrido crimes ambientais. Também deverão ajuizar ações de indenização contra proprietários que sejam responsáveis por incêndios ou desmatamento ilegais.

Dino autorizou que os estados continuem a usar sistemas próprios para emitir autorizações para retirada de vegetação (as chamadas Autorizações de Supressão de Vegetação), desde que as informações estejam integradas ao Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor).

As determinações foram dadas pelo ministro em duas decisões na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 743. Nessa ação, o STF determinou a reestruturação da política de prevenção e combate aos incêndios no Pantanal e na Amazônia, com a implementação de medidas tanto pela União quanto pelos estados envolvidos. A Corte também realizou uma série de audiências em que foram discutidas e determinadas ações sobre o tema.

Prazos para informações

O ministro também abriu prazo para manifestação de órgãos e dos governos federal e estaduais. A União, por exemplo, terá que responder em 15 dias úteis sobre dados trazidos ao processo que apontam que uma “parcela significativa” de recursos para fiscalização e combate a incêndios florestais deixou de ser executada em 2024.

Na outra decisão, Dino deu prazo final de 10 dias úteis para a União apresentar uma análise sobre os recursos necessários para efetivar o cronograma de combate à criminalidade ambiental da Polícia Federal.

O Ministério do Planejamento e Orçamento terá 10 dias úteis para responder a pontos do plano de fortalecimento institucional para controle dos incêndios na Amazônia e no Pantanal. Entre os esclarecimentos, a pasta deverá dizer como vai mitigar o risco de contingenciamento da dotação orçamentária destinada a essa atividade.

Também em 10 dias úteis, os estados do Acre, Amapá, Rondônia, Maranhão, Tocantins e Pará deverão detalhar as medidas já tomadas em 2025 para prevenir e combater queimadas. Essas unidades da federação ainda terão que cumprir a ordem para instalar “salas de situação” destinadas ao monitoramento e acompanhamento dos focos de incêndio.

Em 15 dias, a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverão informar o resultado da avaliação sobre o projeto “Fortalecimento da Fiscalização Ambiental para o Controle do Desmatamento Ilegal da Amazônia”. Dados apresentados no processo anunciavam que a iniciativa estava em fase final de análise e havia sido posta à deliberação da diretoria do banco no final de março.

Leia a íntegra das decisões aqui e aqui.

*Com informações do STF

Cipó-ambé: ‘cigarro de índio’ e uma fonte de água na floresta amazônica

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Foto: Reprodução/YouTube-ReginaVolpatoOficial

Na vastidão da floresta amazônica, entre galhos altos e a sombra das copas, pende o cipó-ambé (Philodendron spp.), uma planta enigmática, multifuncional e reverenciada por povos indígenas e comunidades tradicionais. Conhecido popularmente como ‘cigarro de índio‘, esse cipó guarda saberes ancestrais, utilidades práticas e até um tipo de “água da vida”.

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O cipó-ambé é uma espécie de trepadeira que cresce em touceiras e se estende do alto das árvores até o solo. Quando cortado ainda jovem, com o talo macio, libera um líquido claro e fresco – conhecido como “água de cipó”. Os moradores da floresta posicionam recipientes para captar essas gotas lentamente. Acredita-se que essa água é pura e cristalina, perfeita para hidratar quem está em meio à selva.

Foto: Reprodução/Youtube-Nossas Histórias

“Se você se perder na mata, procure um cipó-ambé”, aconselham os mais antigos. A planta se tornou, assim, um símbolo de sobrevivência, mas também de sabedoria tradicional.

Cigarro de Índio

Além da hidratação, o cipó também é usado como um cigarro natural, sem aditivos. Popularmente chamado de “cigarro de índio”, ele é preparado de forma simples, mas precisa. Corta um pedaço do cipó, deixa secar ao sol por cerca de dois dias, e então retira-se a casca externa. O miolo, já endurecido, está pronto para ser fumado.

A jornalista Regina Volpato experimentou o ‘cigarro de índio’. Foto: Reprodução/YouTube-ReginaVolpatoOficial

A jornalista Regina Volpato foi uma das pessoas que experimentou essa tradição. Em uma visita a Alter do Chão, no Pará, ela registrou a experiência em seu canal no YouTube.

Leia também: 9 fatos curiosos sobre o “Caribe amazônico”: Alter do Chão

Auxiliada por um morador local, ela segurou o “cigarro de madeira”, acendeu com um isqueiro e deu algumas tragadas.

A cena é curiosa e autêntica. “Pode puxar, igual a um cigarro… Se quiser tragar, fique à vontade, quando traga é a melhor coisa que tem pra acalmar”, comenta o guia.

Ricardo e Tami, que viajam pelo mundo e contam suas experiências do canal Nossas Histórias, também passaram pela região e mostraram como foi fumar o “cigarro de índio”:

A cozinheira do restaurante Casa Igá (Belém/PA), Oriana Bitar, mostrou em suas redes que ficou surpresa com o cipó-ambé e deixou um registro sobre a experiência:

Tradição fitoterápica e outros usos

O uso do cipó-ambé vai além. Nas comunidades amazônicas, ele é também utilizado como fitoterápico. Receitas aprendidas com os povos indígenas são passadas de geração em geração e ainda hoje compõem os tratamentos de muitas famílias que vivem da floresta e com a floresta.

De acordo com a definição de George Duarte Ribeiro, no livro ‘Algumas espécies de plantas reunidas por famílias e suas propriedades‘, é uma planta também “muito utilizada na confecção de artesanato e utensílios domésticos, sendo também medicinal, com indicações até para minimizar problemas de picadas de cobra”.

E, em 2009, Marília J. S. Sousa (então mestranda de Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas-UFAM/ Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – Programa de Artesanato), detalhou o uso da planta no estudo ‘Etnografia da produção de artefatos e artesanatos em comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã – Médio Solimões‘.

Assim, a sabedoria popular e o conhecimento empírico fazem do cipó-ambé uma espécie de farmácia viva. E cada vez mais, pesquisadores e estudiosos voltam seus olhares para essas espécies vegetais, buscando nelas princípios ativos para a medicina moderna.


Protocolo viabiliza mudas em larga escala para cultivo sustentável de açaí-solteiro na Amazônia

Foto: Mauricilia Silva

Um novo protocolo de produção de mudas desenvolvido pela Embrapa pode transformar o cultivo do açaí-solteiro em uma atividade planejada, sustentável e rentável para a Amazônia. A tecnologia reúne conhecimentos científicos inéditos e foi elaborada especialmente para atender produtores, viveiristas e técnicos da região que enfrentam dificuldades para implantar pomares da espécie. Com a nova metodologia, é possível obter mudas com qualidade sanitária e alto padrão comercial, adaptadas ao ambiente local e resistentes a doenças, como a antracnose, a principal inimiga da cultura.

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A pesquisa foi conduzida pela Embrapa Acre, ao longo de sete anos, e responde a uma demanda crescente por frutos de açaizeiro-solteiro (Euterpe precatoria Mart.), palmeira nativa da floresta amazônica. A espécie é bastante comum em estados como Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima, mas sua exploração ainda é majoritariamente extrativista. Com o novo protocolo, o cultivo em áreas alteradas se torna uma alternativa comercial viável, contribuindo para a conservação de florestas nativas, da biodiversidade e fortalecimento da bioeconomia regional.

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Os frutos do açaizeiro são matéria-prima para agroindústrias de processamento de polpa, produto comercializado com mercados locais e de outros estados. A cultura gera trabalho e renda para centenas de famílias e representa uma das bases da bioeconomia regional, entretanto, a ausência de conhecimentos científicos para o processo de produção de mudas dificulta o cultivo e limita a produção.

Segundo a pesquisadora Aureny Lunz, a produção de mudas de açaí-solteiro ainda é baseada em técnicas recomendadas para o açaí-de-touceira. Embora essas espécies de açaizeiro pertençam ao mesmo gênero, elas se desenvolvem de maneira distinta e apresentam exigências particulares de clima e solo. O uso de técnicas inadequadas para a cultura resulta em mudas pouco vigorosas e com baixa resistência a doenças, problemas que comprometem a sobrevivência e o desenvolvimento das plantas.

“Reunimos informações técnicas genuínas para a produção de mudas, considerando necessidades e particularidades do açaí-solteiro. Bem aplicado e aliado a práticas adequadas de manejo, esse conhecimento possibilita a obtenção de plantas resistentes e capazes de manifestar todo o seu potencial produtivo, aspectos essenciais para garantir pomares sadios e rentáveis”, ressalta a pesquisadora.

Foto: Aureny Lunz

Foco da pesquisa

De acordo com o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE), Romeu Andrade Neto, que também participou do estudo, o açaí-solteiro é uma espécie de crescimento lento e bastante suscetível à antracnose (Colletotrichum spp), principal doença da cultura. Por isso, a produção de mudas é um processo demorado (leva entre 12 e 14 meses) e requer conhecimentos especializados sobre o comportamento da planta.

“A partir de demandas do setor produtivo e de programas governamentais de apoio ao cultivo comercial dessa espécie, percebemos a necessidade de disponibilizar informações científicas para garantir a oferta de mudas de qualidade, que pudessem atender a pequenas, médias e grandes propriedades”, enfatiza o pesquisador.

A elaboração do protocolo

Realizado por meio do projeto ‘Tecnologias para cultivo racional de açaizeiro (Euterpe oleracea e precatória) para a produção de frutos na região amazônica’, o estudo teve início em 2016 e avaliou o desenvolvimento de mudas em diferentes tipos de recipientes e substratos, a influência de níveis distintos de sombreamento, estratégias diferenciadas de adubação e de controle de doenças e a necessidade hídrica das plantas, em viveiro e em campo. Além disso, definiu práticas de manejo e tratamento de sementes para a produção de mudas com alto vigor e qualidade sanitária.

“Entre outros resultados, constatamos que o uso de substratos mais leves, com textura média a arenosa, para facilitar a drenagem de água, possibilita melhor crescimento e maior taxa de sobrevivência das plantas. Também atestamos que em termos de luminosidade, o ambiente ideal ocorre em níveis de sombreamento entre 65% e 75%, condição que ajuda no controle da antracnose. Além disso, o uso de fertilizantes de liberação controlada no processo de adubação garante melhor aproveitamento de nutrientes, processo que encurta o ciclo de produção das mudas e proporciona economia de mão de obra no viveiro”, explica Andrade Neto.

Os resultados da pesquisa estão disponíveis na publicação ‘Recomendações para a Produção de Mudas de Açaizeiro-Solteiro‘, que aborda desde o planejamento de viveiros, até o controle de pragas e doenças, além de detalhes sobre a obtenção, seleção e manejo adequado das sementes, único mecanismo de propagação dessa espécie.

Produção planejada

Contar com ampla oferta de mudas de qualidade permite o cultivo escalonado, estratégia que possibilita planejar a produção e pode gerar renda de forma contínua. Na propriedade do agricultor Loy Maleski, localizada em Vila Extrema, divisa com Acre e Rondônia, o açaí-solteiro, cultivado em sistema de monocultivo e em consórcio com outras espécies frutíferas, como coco e abacaxi, garante renda o ano inteiro. A área de dez hectares produz duas mil latas de frutos (com 20 litros), por safra, produção que rende 30 toneladas de polpa processada, volume todo comercializado com empresas de Rondônia e Acre.

“Quando comecei com o cultivo de açaí-solteiro não tinha conhecimento sobre a espécie, por isso, perdi um viveiro com 25 mil mudas, mas, devido ao seu potencial, busquei informações sobre a cultura. Esse açaí tem um “vinho” mais encorpado e maior rendimento de polpa em relação ao açaí-de-touceira. A nossa média de produção é 16 litros de polpa por lata de frutos, enquanto com o açaí-de-touceira, possivelmente pelas condições locais de clima e solo, não ultrapassava oito litros por lata”, relata o produtor, que acredita que os cuidados na produção das mudas e com o manejo, especialmente adubação e irrigação, contribuem para a qualidade dos frutos do açaí-solteiro.

Foto: Aureny Lunz

Vantagens do uso de mudas de qualidade

Uniformidade e produtividade: A produção de mudas selecionadas de açaí-solteiro, com qualidade agronômica e sanitária, resulta em cultivos com plantas uniformes, mais produtivas e melhor adaptadas ao ambiente de plantio.

Sustentabilidade: A oferta de mudas de qualidade de açaí-solteiro em larga escala favorece a transição do extrativismo para o cultivo comercial da espécie, com aproveitamento de áreas alteradas na Amazônia. Essa estratégia ajuda a conferir maior sustentabilidade à cultura e conserva a biodiversidade da região.

Controle de doenças e pragas: O manejo adequado nas etapas de produção de mudas de açaí-solteiro, incluindo o controle sanitário em viveiros, reduz a incidência de doenças e pragas na cultura.

Expansão da cultura: A implantação de cultivos planejados possibilita aumento na produtividade, expansão da área plantada e o fortalecimento da cultura.

Importância da seleção de sementes

Um dos aspectos indispensáveis para a obtenção de mudas de qualidade de açaí-solteiro é o uso de sementes selecionadas. Aureny Lunz explica que, por não perfilhar, essa espécie se reproduz exclusivamente por sementes.

“Essa característica torna a etapa de seleção de sementes essencial para garantir mudas saudáveis, com alta qualidade e produtividade. E investir em protocolos eficientes para a produção de mudas é outro requisito importante para assegurar o sucesso de cultivos comerciais”, afirma a pesquisadora.

Fortalecimento da bioeconomia

Os estados do Amazonas e Acre se destacam na produção de polpa processada de açaí-solteiro. A fruta responde por 93% do volume comercializado por agroindústrias na região. Na última década, programas governamentais investiram na capacitação de técnicos e produtores para o plantio comercial da espécie, mas a atividade ainda é pouco expressiva. A oferta de mudas produzidas com base em critérios científicos pode alavancar esses empreendimentos.

Foto: Vinícius Braga

Segundo o engenheiro florestal da Secretaria de Agricultura do Acre (Seagri), Vicente de Paula Simões, o desenvolvimento de tecnologias para a produção de mudas e manejo eficiente dos cultivos de açaí-solteiro é imprescindível para consolidar essa cadeia produtiva como geradora de trabalho e renda no campo e na cidade e fortalecer a bioeconomia regional.

“A adoção de conhecimentos técnicos gerados pela pesquisa vai contribuir para o atendimento de uma demanda crescente por polpa congelada, de mercados nacionais e internacionais, e fomentar o uso desse produto da biodiversidade amazônica, aliado a práticas de conservação ambiental”, ressalta.

Desafios para a pesquisa

No Amazonas, segundo maior produtor de açaí do Brasil, muitos produtores investem no cultivo comercial de açaí-solteiro, especialmente devido à qualidade e rendimento da polpa. Outra vantagem da cultura é a safra em período diferente do açaí-de-touceira, o que possibilita renda para as famílias em épocas distintas do ano. No município de Anori, principal fornecedor de frutos para Codajás, centro de produção e processamento de açaí com qualidade reconhecida por Indicação Geográfica (IG), mais de 90% dos plantios são formados com açaí-solteiro.

Para viabilizar a expansão sustentável da cultura, a Embrapa, por meio de suas Unidades do Amazonas e Acre, atua para estabelecer um programa de melhoramento genético do açaí-solteiro. Entre os objetivos da iniciativa está a realização de estudos de variabilidade genética da espécie para obtenção de cultivares com características de interesse dos produtores, como alta produtividade e qualidade de polpa, reduzido crescimento em altura e precocidade de produção. Outro desafio para a pesquisa é a recomendação de técnicas adequadas para manejo da cultura.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental (AM), Maria do Rosário Lobato Rodrigues, a produção de mudas de qualidade de açaí-solteiro pode contribuir para aumentar a produtividade e rentabilidade tanto de cultivos implantados como de áreas extrativistas, com o enriquecimento de populações nativas. Entretanto, a cultura exige estudos contínuos para aprimoramento do sistema de produção de mudas e garantia da sustentabilidade dos açaizais.

“Além da seleção do material genético a ser cultivado, para o sucesso dos plantios comerciais é fundamental contar com um sistema de produção de mudas que proporcione taxas reduzidas de replantio, menor índice de mortalidade pós-plantio e plantas com produção precoce. Essas características reduzem custos na implantação, favorecem a ampliação das áreas de cultivo e permitem a oferta de frutos de qualidade, em larga escala, para agroindústrias da região, gerando mais renda para os produtores”, defende a pesquisadora.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa

Cheia não deve superar recorde histórico em Manaus em 2025, aponta SGB

Rio Negro chega a 27,56 metros e atinge cota de inundação em Manaus. Foto: Foto: Michel Castro/Rede Amazônica AM

O nível dos rios no Amazonas não deve superar, neste ano, as marcas registradas na cheia histórica de 2021 em Manaus, Manacapuru, Itacoatiara e Parintins, municípios do estado monitorados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). A previsão foi divulgada no dia 30 de abril, durante a apresentação do 2º Alerta de Cheias da Bacia do Amazonas de 2025.

De acordo com o SGB, o segundo alerta ocorre 45 dias antes do possível pico da cheia neste ano, previsto para 14 de junho .

O levantamento aponta que a cota nas quatro localidades devem ficar entre 1,11m e 0,67m abaixo dos níveis recordes já registrados.

“A cheia para Manaus, Manacapuru , Itacoatiara e Parintins já é uma cheia de grande magnitude, já alcançou patamares que superam a cota de inundação e (superar) a cota de inundação severa, a gente tem uma probabilidade alta de acontecer”, disse o pesquisador de geociência do SGB, André Martinelli.

Confira as previsões da SGB para os municípios:

Manaus – Rio Negro

A cota do Rio Negro era de 27,63 metros no dia 30. Ele apresenta 42% de chance de alcançar a marca de inundação severa e menos de 1% para atingir a cota máxima registrada. O SGB prevê que no pico da cheia o rio atinja 28,91 metros.

Cota máxima registrada (2021): 30,02m
Cota de inundação severa: 29,00m
Cota de inundação: 27,50m
Cota de alerta: 27,00m

Manacapuru – Rio Solimões

O Rio Solimões atingiu a marca de 18,36 metros, no dia 30, com 53% de chances para uma inundação severa e menos de 1% para atingir a cota máxima registrada. O SGB prevê que no pico da cheia o rio atinja 19,63 metros.

Cota máxima registrada (2021): 20,86m
Cota de inundação severa: 19,60m
Cota de inundação: 18,20m
Cota de alerta: 17,70m

Itacoatiara – Rio Amazonas

No município, o Rio Amazonas está com a cota de 13,86 metros e apresenta 94 % de chances para uma inundação severa. O órgão aponta que há menos de 1% de chance de se atingir a cota máxima registrada. O SGB prevê que no pico da cheia o rio atinja 14,53 metros.

Cota máxima registrada (2021): 15,20m
Cota de inundação severa: 14,20m
Cota de inundação: 14,00m
Cota de alerta: 13,50m

Parintins – Rio Amazonas

Ainda no dia 30, o rio Amazonas em Parintins marcou com a cota de 8,16 metros, apresenta 83% de chances para uma inundação e menos de 1% para atingir a cota máxima registrada. O SGB prevê que no pico da cheia o rio atinja 8,64 metros.

Cota máxima registrada (2021): 9,47m
Cota de inundação severa: 9,30m
Cota de inundação: 8,43m
Cota de alerta: 8,00m

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Situação de emergência

A cheia que atinge o Amazonas avança e já atinge 144 mil pessoas, segundo o mais recente boletim da Defesa Civil do estado, divulgado no dia 29 de abril. De acordo com Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais do órgão, as nove calhas de rios no Amazonas ainda seguem em processo de cheia até o mês de junho.

Conforme dados disponibilizados pela Defesa Civil do Amazonas, 13 municípios estão em situação de emergência devido a cheia no Amazonas (dados referentes até dia 30 de abril):

Rio Madeira: Humaitá, Apuí, Manicoré, Novo Aripuanã e Borba
Rio Purus: Boca do Acre
Rio Juruá: Guajará, Ipixuna, Itamarati e Eirunepé
Rio Solimões: Benjamin Constant e Atalaia do Norte
Rio Amazonas: Tonantins

A Defesa Civil informou que outros 36 municípios estão em estado de atenção, 13 em estado de alerta e nenhum em estado de normalidade.

Segundo o meteorologista e pesquisador, Leonardo Vergasta, dois fatores contribuíram para o aumento no volume dos rios em relação a 2024: o Inverno Amazônico, que causa chuvas acima da média na Região Norte e deve seguir até o fim de maio, e o fenômeno La Ninã, que chegou ao fim em abril e resfriou as águas do Oceano Pacífico, provocando fortes pancadas de chuva no Norte do país.

Leia também: Portal Amazônia responde: como El Niño e La Niña afetam a região amazônica?

“A gente teve aí no início de 2025 a atuação do efeito La Niña, que é o resfriamento das águas do pacífico equatorial, então a gente tem um aumento das intensidades de chuva na região, e coincidiu com nosso período chuvoso, então a partir de fevereiro toda a bacia amazônica teve chuvas acima da normalidade”, explicou o pesquisador.

Situação do Rio Madeira preocupa

A cheia do Rio Madeira afeta ao menos dez cidades do Amazonas. O município de Humaitá é um dos mais impactados pelo alto nível do rio, e nesta quarta-feira atingiu a cota de 23,44 metros, e se aproxima da cota histórica de 25,63 metros.

Cota máxima registrada (2014): 25,63m
Cota de alerta: 15,00m

Na zona rural de Humaitá, a cheia está devastando plantações e afetando a rotina escolar. De acordo com a Defesa Civil, cerca de 16 mil pessoas já foram afetadas pela cheia do rio.

“A gente plantou mil pés de bananas e deu perda total (com a cheia do rio). A banana que dá para colher não chega nem a R$ 200, deu perda total”, relatou o agricultor Júlio Cézar Góes.

*Por Lucas Macedo, da Rede Amazônica AM