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Roraima possui ao menos 24% da energia produzida por biocombustível

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Ao menos 24% da energia produzida em Roraima é fornecida por meio de biocombustível gerado por termelétricas localizadas em cinco municípios do estado. Fora do Sistema Integrado Nacional (SIN), o estado tem, predominantemente, o fornecimento nos 15 municípios feito por termelétricas da empresa Roraima Energia.

Capaz de alimentar a casa de 40,6 mil dos 166 mil consumidores atendidos pela Roraima Energia, a bioenergia gerada no estado vem de sete usinas que produzem biocombustível a partir de resíduos de madeira, o chamado cavaco, óleos vegetais e resíduos do óleo de palma, extraído da planta do dendê.

É neste contexto que atua a empresa Brasil BioFuels, do grupo BBF. Localizada em São João da Baliza, no Sul de Roraima, a usina atua há 15 anos com a extração do óleo da palma.

A equipe de reportagem do Grupo Rede Amazônica esteve na companhia para entender o ciclo completo da palma que envolve a operação: plantar, colher, esmagar o fruto, produzir biocombustível e gerar energia elétrica limpa aos consumidores de Roraima.

Além dos 24% de energia via biocombustível, Roraima tem o restante do fornecimento gerado por óleo diesel de 14 termelétricas, considerada cara e poluente ao meio ambiente. Os dados são da Roraima Energia, responsável por toda geração elétrica do estado, incluindo a de biocombustível.

Como é a energia da BBF

Ao todo, o grupo BBF tem mais de 15 mil hectares da plantação da palma no estado. De acordo com o diretor industrial do grupo, Cláudio Cavalcante, o grupo envia para a Roraima Energia 14 megawatts de energia por dia – é a partir daí que ocorre o fornecimento aos consumidores.

Por dia, a empresa extrai o óleo de mais de 300 toneladas de materiais do dendê. “Para produzir essa energia, utilizamos uma variedade de materiais do dendê, como fibras, cascas, nozes e palhas, totalizando cerca de 300 toneladas por dia”, disse o diretor.

Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica

A energia produzida pelas usinas, de forma geral, é injetada no sistema elétrico de Roraima, sem ser direcionada a clientes ou grupos específicos, conforme a Roraima Energia.

No total, a Roraima Energia atende todo o estado, um total de 207.891 consumidores.

Energia do óleo da palma

O Grupo BBF é responsável por plantar, extrair e produzir a energia em um processo que envolve quase mil funcionários, entre eles, mulheres migrantes que atuam diretamente na plantação. Desde o plantio até a colheita, tudo é dividido em etapas.

A semente do dendê é adquirida de outros países. Em Roraima, ela é plantada em um local de 5 mil hectares chamado de pré-viveiro, protegido para a semente germinar. Depois, na fase de muda, é transportada para o viveiro em um lugar que ocupa 45 hectares.

Plantação de dendê para a extração de biocombustível no Sul de Roraima ocupa mais de 15 hectares. Foto: Oseias Martins/Rede Amazônica

Após isso, a planta é colocada em uma área de 15 mil hectares onde deve produzir frutos por mais de 30 anos. Todos esse processo é comandado pelo gerente agrícola da empresa, Bruno Barcelos, de 37 anos. Ele trabalha com dendê há 13 anos, sendo três deles em Roraima.

“Atualmente, temos 2 milhões e 350 mil mudas no projeto. Elas ficam em um ambiente protegido por cerca de 3 a 4 meses, antes de serem transferidas para o viveiro. Após 8 a 10 meses no viveiro, as mudas são plantadas no campo, onde permanecem por 25 a 30 anos”, explicou.

Fruto do dendê maduro colhido na plantação da empresa BBF, no Sul de Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

Todo o cultivo do dendê, de acordo com Bruno, é manual e possui uma média de cinco a seis toneladas de óleo por hectare.

“O solo é descompactado para permitir um crescimento adequado das raízes. Também realizamos a nutrição das covas onde as mudas serão plantadas. A colheita é feita manualmente ao longo do ano. Cortamos apenas os cachos maduros, que são identificados visualmente, em ciclos contínuos de 12 dias”.

Após a colheita de todo o material, tem início a parte industrial, comandada por Claudio. De acordo com ele, os frutos são debulhados, macerados e, em seguida, prensados para extrair o óleo de palma. Antes disso, ocorre a esterilização que dura uma hora e meia, enquanto as etapas seguintes levam cerca de 30 minutos, totalizando duas horas para extrair o óleo.

“Após a extração, o óleo passa por um processo de clarificação e é classificado antes de ser utilizado como combustível”.

“O uso desse óleo como fonte de energia é vantajoso devido à sua capacidade de ser utilizado imediatamente após a extração, contribuindo para a produção de energia limpa”,

explica ao diretor.

Além disso, todos os produtos derivados do dendê, incluindo o óleo, são aproveitados. A polpa é utilizada como ração animal, a fibra é queimada na caldeira para produção de energia elétrica, e os resíduos são usados como biomassa. “Desde 2018 a indústria de óleo está em operação, com a geração de energia iniciada em 2023”.

Envio de energia para Roraima

Há um acordo firmado entre as usinas de produção de biocombustível e a Roraima Energia. Conforme Claudio, o óleo produzido pela BBF é entregue à Roraima Energia, que distribui para os consumidores em um contrato firmado com o Governo Federal.

“O valor pago pela energia é determinado por um contrato estabelecido em leilões, e a tarifa oferecida é aceita pela empresa, garantindo a geração e o pagamento da energia produzida”.

A energia a fornecida pelos geradores na Roraima Energia que utilizam como fonte de geração o biocombustível/biomassa por sua vez, é distribuída ao subsistema no qual estão conectados, ou seja, o subsistema Boa Vista, que possui um total de 199.410 unidades consumidoras.

A bioenergia de Roraima é fornecida pelas seguintes usinas termelétricas:

– Usina Bonfim, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada no município de Bonfim, Norte de Roraima;
– Usina Pau Rainha, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada em Boa Vista;
– Usina Santa Luz, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada em Boa Vista;
– Usina Cantá, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada no município de Cantá, Norte de Roraima;
– Usina BBF Baliza, que produz biocombustível por resíduos de óleos de palma, localizada no município de São João da Baliza, Sul de Roraima;
– Usina BBF Forte São Joaquim, que produz biocombustível por meio de óleos vegetais, localizada em Boa Vista
– Usina Palmaplan, que produz biocombustível por meio de óleos vegetais, localizada em Rorainópolis, Sul de Roraima.

Amazônia Que Eu Quero

Projeto da Fundação Rede Amazônica, o Amazônia Que eu Quero chegou a mais uma temporada e tem como tema a bioeconomia. Na última semana, o CEO do Grupo Rede Amazônica Phelippe Daou Jr visitou a usina da BBF no Sul de Roraima, na expectativa de fechar parcerias..

“Há um grande potencial de crescimento na região de Roraima, que antes era pouco aproveitada, e estamos comprometidos em promover parcerias para impulsionar o desenvolvimento do estado, garantindo segurança jurídica em operações como esta”,

disse o CEO, enquanto conhecia as operações da empresa.
Phelippe Daou Jr, CEO da Rede Amazônica, visita usina de óleo de palma no Sul de Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

Isolamento energético

Roraima é o único estado do país que não é ligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e, durante anos, dependeu da energia fornecida pela Venezuela. No entanto, o país parou de enviar energia ao estado em março de 2019 e, desde então, o trabalho é feito por quatro termelétricas da Roraima Energia.

O parque térmico do estado é formado pelas usinas termelétricas de Monte Cristo, na zona Rural de Boa Vista, Jardim Floresta e Distrito, ambas na zona Oeste, e Novo Paraíso, em Caracaraí, região Sul do estado.

Estrada que dá acesso a reserva indígena Waimiri-Atroari. Foto: Valéria Oliveira/Arquivo g1 Roraima

Atualmente, duas turbinas da Usina Termoelétrica Jaguatirica II já estão em operação e ajudam a reduzir o consumo da usina termelétrica do Monte Cristo, que funciona a óleo diesel.

Os 715 km do Linhão de Tucuruí são apontados como o fim do isolamento elétrico e dos constantes blecautes. O início da obra foi foco de um impasse por 11 anos, já que 122 km de torres vão atravessar a reserva Waimiri Atroari.

Sem a energia importada, o custo para fornecimento elétrico estado é de R$ 8 bilhões por ano — conta que é dividida entre todos os consumidores de energia elétrica do país. E, para reverter esta situação, a solução é construção do Linhão de Tucuruí.

*Por Caíque Rodrigues, do g1 Roraima

Rede social indígena demarca tempos, espaços e sentidos nas origens do Brasil

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Detalhe de mapa de igarapés com nomes em Kubeo, elaborado por representantes das etnias yuremawa, yúriwawa e betówa. Foto: Diego Pedroso, 2014

O primeiro número da revista científica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) em 2024 apresenta a vida das populações originárias que habitam porção mais a oeste da Amazônia: trata-se de um mapa de igarapés elaborado por representantes das etnias yuremawa, yúriwawa e betówa, apresenta em detalhe os cursos d’água, com os nomes na língua do povo Kubeo.

Isso porque para se ver no contexto dos sentidos das nomenclaturas, da flora e da fauna e do imaginário desses povos, é preciso mergulhar no imaginário dos povos originários da Amazônia. E esse mergulho foi dado pelo etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg há 120 anos em expedição pioneira no noroeste da região, em diálogo com o também pesquisador Emílio Goeldi.

Goeldi foi responsável pela criação e publicação do Boletim da instituição e o primeiro fascículo data de 1894. Com 130 anos de existência, o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi é uma das publicações científicas mais antigas da América Latina em circulação. Acesse o primeiro boletim de 2024.

O dossiê ‘Temporalidades e interações socioambientais no noroeste amazônico’, publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi – Ciências Humanas, volume 19, nº 1, proporciona uma imersão na vida de indígenas e não indígenas naquela porção da Amazônia. O conjunto de artigos é organizado pelos pesquisadores Geraldo Andrello e Pedro Lolli, da Universidade Federal de São Carlos (SP), e Márcio Meira, do Museu Goeldi (PA).

Theodor Koch-Grünberg, 1924 (Familienarchiv Koch-Grünberg). Foto: Reprodução/Research Gate

Esse dossiê, dividido em dois números (o segundo sairá no último quadrimestre deste ano), é dedicado a Sueg–u Dagoberto Lima Azevedo e Ahk–uto Gabriel Sodré Maia, in memoriam, traz um compêndio de vinte artigos inéditos, resultantes de pesquisas realizadas na última década na região do noroeste amazônico, sob olhares diferenciados da etnologia indígena, antropologia, história, e cruzando fronteiras de disciplinas.

Como destacam Geraldo Andrello, Pedro Lolli e Márcio Meira, o foco desse dossiê está voltado aos aspectos variados da constituição da extensa rede social indígena na região do noroeste da Amazônia, bem como os impactos e as influências decorrentes do processo colonial ali iniciado no século XVII. Essa publicação celebra “os 120 anos da expedição do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg pela região do noroeste amazônico, cuja realização se deu sob forte influência do então diretor do Museu Paraense, o suíço Emílio Goeldi”. Em outubro de 2024, se celebra o centenário da morte de Koch-Grünberg.

Rumos

Os pesquisadores informam que, no começo do ano de 1903, Koch-Grünberg, então pesquisador do Real Museu de Etnologia de Berlin, iniciava sua permanência no rio Negro pelos dois anos seguintes. No preâmbulo ao livro publicado com os resultados de suas pioneiras investigações etnológicas (Koch-Grünberg, 1995 [1909-1910], p. 35, 2005 [1909-1910], p. 7), afirmava que havia “escolhi[do] o noroeste do Brasil, na fronteira com a Colômbia e Venezuela, por apresentar problemas importantes e interessantes, do ponto de vista geográfico e etnográfico”.

“Há que se registrar, no entanto, que a intenção inicial de Koch-Grünberg era seguir rumo aos rios Purus e Ucayali, e quem o fez rumar para o rio Negro foi o diretor do Museu Paraense, Emílio Goeldi, com o argumento de que a região do Acre vivia então graves conturbações”,

relatam os pesquisadores acerca do material disponível no dossiê.

Essa iniciativa de Koch-Grünberg e a organização de uma coleção de 500 objetos etnográficos dos povos indígenas do rio Negro, salvaguardados na Reserva Técnica Curt Nimuendaju, e documentos essenciais da epopeia dos cientistas no noroeste amazônico estão sob a guarda do Arquivo do Museu Goeldi, em Belém.

Nos dois números do dossiê, o público vai poder conferir boa parte das localidades em que o etnólogo alemão foi recebido pelos povos Tukano, Arawak e Naduhup ao longo dos rios Negro, Içana, Aiari, Uaupés, Tiquié, Cuduiari, Pirá-Paraná e Apapóris.

Pioneirismo

“O legado mais importante da obra de Koch-Grunberg, produzida a partir de sua longa permanência em campo no noroeste Amazônico entre 1903 e 1904, foi certamente o estudo etnográfico primoroso que realizou entre os povos da família linguística Tukano oriental, ao longo do rio Uaupés. O etnólogo alemão foi um dos primeiros antropólogos profissionais a fazer pesquisas na Amazônia, no início do século XX. Por isso sua obra é pioneira em vários domínios, incluindo temas relacionados à arqueologia e à história indígena daquela região. Os estudos sobre organização social, cosmologia e de cultura material constituem uma das bases sólidas dos estudos que seguiriam seu caminho na etnologia da região, inclusive o de Curt Nimuendaju, feito em 1927. Um legado relevante foi, também, a imensa coleção de objetos etnográficos que reuniu, uma parte dela adquirida pelo governo do Pará e salvaguardada no Museu Goeldi desde 1904”, destaca Márcio Meira.

Acerca da importância decisiva da pesquisa científica sobre povos indígenas para a coexistência desses próprios grupos com os chamados homens brancos, Márcio ressalta que as pesquisas antropológicas têm como pressuposto fundamental o respeito à diversidade dos povos e de suas culturas.

“Nesse sentido, o conhecimento que é produzido pelos antropólogos é valioso para a garantia dos direitos dos povos indígenas, inclusive territoriais, diante dos desafios e da violência do chamado “mundo dos brancos”. Nos dias de hoje, os próprios indígenas têm se tornado antropólogos, ocupando espaços nas universidades e trazendo novos olhares e contribuições críticas para o conhecimento antropológico. Com esses avanços, oxalá o ensino de história e cultura indígenas, garantido pela Lei 11.645, venha a despertar entre os jovens de todo o Brasil um maior conhecimento da riqueza das culturas indígenas e de seu imenso patrimônio, que em muitos casos é compartilhado por toda a população do Brasil, e que nem sempre é reconhecido”, completa o pesquisador.

Rede

O levantamento de informações feito pelo conjunto de pesquisadores no dossiê indica que a região do noroeste amazônico é uma área de grande diversidade cultural e linguística que conforma uma vasta rede de relações sociais, integradas através de trocas matrimoniais, rituais e de bens.

É habitado atualmente, no território brasileiro, por 22 povos indígenas, agrupados em três grandes famílias linguísticas:

Tukano oriental (Cubeo, Desana, Tukano, Miriti-Tapuia, Arapasso, Tuyuka, Makuna, Bará, Barasana, Siriano, Carapanã, Wanano e Pira-Tapuia);

Arawak (Tariano, Baniwa, Kuripako, Warekena e Baré);

Naduhup (Hup, Yuhup, Nadëb e Däw).

Esses grupos ocupam cerca de 750 povoados de tamanhos variáveis, estabelecidos ao longo dos rios Negro, Uaupés, Tiquié, Papuri, Içana, Aiari, Xié, Curicuriari, Téa, Jurubaxi, Enuixi, Padauiri e vários outros afluentes menores, perfazendo, segundo o IBGE (2012), uma população indígena total de cerca de 48 mil pessoas, nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. As bacias desses rios são incluídas em um conjunto de nove terras indígenas, sendo oito delas contíguas, cuja extensão ultrapassa os 12 milhões de hectares.

A rede social dos povos indígenas da região tem sido estratégica para a perpetuação da identidade das etnias, ao possibilitar, entre eles próprios, a troca de bens materiais e imateriais (inclusive, narrativas míticas), entre outras referências sociais. Essa rede desafia pesquisadores indígenas e não indígenas, dada a sua complexidade e as mutações sofridas e em andamento em sua trajetória com seus respectivos formatos e significados, no sentido de garantir a (re)existência desses grupos sociais originários do país.

Resistência

Sobre essa rede preciosa no noroeste amazônico, o pesquisador Geraldo Andrello observa: “Desde os trabalhos pioneiros de T. Koch-Grunberg e Curt Nimuendaju, sabemos que a região do noroeste amazônico abriga um extenso complexo de povos indígenas, classificados em três famílias linguísticas, possivelmente distribuídos em mais de 300 comunidades ribeirinhas e interfluviais localizadas na bacia dos formadores do rio Negro (Uaupés, Içana, Xié e outros). Trata-se talvez do mais conhecido “sistema regional” na Amazônia indígena. A complexidade das relações entre os diferentes povos que participam dessa extensa rede expressa-se em vários níveis, do plano da organização e das trocas sociais (mais de 20 povos inter-relacionados por exogamia de clãs e línguas) a uma intrincada mitocosmologia elaborada em um sem número de versões. Esses planos implicam-se mutuamente, de modo que – e isto é um dos pontos que mais me chama a atenção nessa região – é impossível tratar-se exaustivamente desses temas de modo isolado”.

Um aspecto fundamental, como frisa Andrello, é que, não obstante a longa e violenta história da colonização da região (iniciada já na segunda metade do século XVII), seus povos puderam manter-se em seus territórios tradicionais, apesar dos dramáticos e sucessivos processos de escravização e descimentos (as tropas de resgate e os aldeamentos do século XVIII) e deslocamentos forçados para os seringais do baixo rio Negro (o recrutamento violento da mão de obra indígena durante o período da borracha).

“O século XX assistiu à implantação de uma das maiores estruturas missionárias da Amazônia, levada a cabo pelos salesianos, cujo trabalho de ‘catequese e civilização de índios’ baseou-se na instalação de enormes internatos escolares. Apesar dessa avassaladora experiência histórica, a grande vitalidade da extensa rede social indígena do noroeste amazônico no presente demonstra uma capacidade impressionante de resistência. Tal capacidade não poderia se originar de outra fonte senão da multiplicidade de povos e sua habilidade em reproduzir suas relações nas mais variadas e adversas situações. A vitalidade de seu modo de vida hoje e no passado é uma demonstração cabal da criatividade dos povos indígenas da Amazônia”,

arremata Geraldo Andrello.

Impactos

Para o pesquisador Pedro Lolli, é difícil sintetizar os principais impactos da chegada do colonizador branco na região. Isso porque as primeiras frentes pioneiras coloniais datam do século XVI e se intensificam a partir do século XVIII em diante. Há, portanto, muitas camadas históricas de uma sucessão de impactos no sistema social regional do noroeste amazônico. Mas de maneira esquemática e geral é possível destacar algumas ondas que marcaram épocas e que ainda se fazem sentir atualmente.

A primeira grande onda, como revela Lolli, veio com o avanço da indústria extrativista e a instauração de um sistema de dívidas – conhecido também como aviamento, instauração do sistema do aviamento – no qual os indígenas foram ora atraídos, ora capturados como escravos para servirem de mão-de-obra. Nesse período, o sistema regional sofreu uma grande perda populacional (como decorrência da violência colonial), ao mesmo tempo que uma grande dispersão populacional (seja empreendida por aquelas pessoas que fugiam das frentes pioneiras, seja por aquelas pessoas que eram capturadas e levadas para Manaus ou mesmo Belém).

Uma segunda grande onda de impacto coincide com o boom da exploração da borracha na passagem do século XIX para o XX e a instalação das missões salesianas na região. A chegada dos missionários salesianos introduziu um novo capítulo na violência colonial. Enquanto procuravam conter a sede de sangue dos grandes patrões da região, que matavam indígenas por esporte, os salesianos iniciaram um processo educacional que obrigava aos indígenas a mudarem radicalmente seu modo de vida. Isso incluía a proibição de falar a língua materna nas escolas, o abandono de importantes rituais, a demonização do conhecimento indígena, a incorporação de roupas e de casas nucleares. Houve, portanto, um profundo impacto cultural que se estendeu ao longo do século XX, tendo seu apogeu entre meados da década de 1950 até 1980, como repassa o pesquisador.

Uma terceira grande onda de impacto ocorre a partir da década de 1970, quando o governo da ditadura militar colocou em prática um novo projeto de ocupação para a Amazônia, onde o plano era levar o desenvolvimento econômico para a região. É um período de megaobras realizadas em nome de um desenvolvimento predatório (muitas das quais apodreceram na floresta sem sequer ter a funcionalidade pretendida), que atraiu significativa migração para a região da Amazônia. Os principais impactos nesse período foram a ameaça e a perda territorial por parte dos povos indígenas. Além disso, é uma época em que o impacto ambiental é avassalador e sem precedentes.

Acerca dos conteúdos publicados no dossiê do MPEG sobre o noroeste amazônico, Pedro Lolli destaca que os artigos reunidos no Boletim do MPEG expressam também um conjunto de pesquisas que se fundamentam em um trabalho colaborativo entre pesquisadores(as) brancos(as), sábios(as) indígenas e pesquisadores(as) indígenas e que vem trazendo importantes compreensões sobre o processo colonial que ocorreu na Amazônia. Uma das contribuições desses trabalhos é que o processo colonial na Amazônia não pode ser compreendido apenas numa chave histórica e que devemos levar em consideração as várias historicidades indígenas que se entrecruzam no processo histórico colonial. Não é mais possível pensarmos sobre os rumos da Amazônia sem levar em consideração essa diversidade de historicidades, que implica também em trazer para o centro da discussão os (as) próprios (as) indígenas.

“Devemos abrir nossos ouvidos a essas historicidades (ainda que saibamos, como bem nos chama a atenção Davi Kopenawa, sejamos resistentes em escutar), pois elas se confundem com a própria floresta amazônica. Lembro apenas, como poderão verificar na leitura do dossiê, que no noroeste amazônico a paisagem não são apenas árvores e plantas, mas casas de ancestrais e lugares onde eventos importantes aconteceram. Em suma, o que se pode entrever ao longo do dossiê é que não há floresta Amazônica em pé, sem os povos indígenas, e que não podemos entender a devastação da floresta sem trazer as perspectivas históricas dos povos indígenas sobre essa destruição”, conclui Pedro Lolli.

*Com informações do Museu Paraense Emílio Goeldi

Pesquisa analisa impactos de mudanças climáticas na mortalidade das árvores do Acre

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Pesquisa avalia impacto das mudanças climáticas na mortalidade de árvores e emissão de carbono. Foto: Marcos Vicentti/Secom AC

A doutora em Biodiversidade e Biotecnologia, Simone Matias, está desenvolvendo uma pesquisa voltada para entender o impacto das mudanças climáticas na mortalidade das árvores da região e, consequentemente o acúmulo de carbono em área do Acre. O projeto foi submetido e aprovado no Programa Primeiros Projetos (PPP), financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapac), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Simone explica que o objetivo é entender como as mudanças climáticas estão impactando na emissão e absorção de carbono nas florestas do estado.

Um artigo elaborado por pesquisadores do Acre, intitulado “Extremos Climáticos na Amazônia: aumento das secas e inundações no estado brasileiro do Acre”, foi publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation, em dezembro do ano passado, e atesta que o estado do Acre é uma das regiões brasileiras mais afetadas por eventos climáticos extremos, o que tem se tornado recorrente, principalmente a partir de 2010.

A pesquisa de Simone pretende justamente avaliar parte desses impactos. “Essas mudanças têm contribuindo cada vez mais para a fragmentação de árvores, o que deixa essa floresta mais aberta, sujeita à entrada de fogo, por exemplo. Com isso, essas árvores acabam morrendo e, com essa maior mortalidade de árvores, vai diminuir a quantidade de carbono. Ou seja, aumenta a quantidade de carbono na atmosfera porque a floresta vai perdendo um pouco do serviço, que é essa absorção do carbono”, explica.

Como será a pesquisa?

O estudo vai avaliar áreas como Humaitá (que faz fronteira com o estado acreano); Fazenda Experimental Catuaba, em Senador Guiomard, e Parque Zoobotânico, em Rio Branco. Algumas dessas áreas já foram limitadas em outras pesquisas pela Universidade Federal do Acre (Ufac).

“Alguns pesquisadores já vinham analisando essas parcelas, que chamamos de parcelas permanentes, porque já é uma área marcada. Então, vamos naquela área, identificamos as árvores, é colocada uma placa e aí podemos acompanhar, no decorrer dos anos, se ela cresceu, se está viva ou morta e quantidade de carbono que está acumulando”,

explica.

A ideia de delinear uma área no Parque Zoobotânico dentro da Ufac é poder acompanhar mais de perto, já que as outras áreas ficam em locais mais distantes. Já dentro da universidade, esse deslocamento é facilitado e pode ser feito mensalmente.

Para ter os detalhes desse cenário, cestos são colocados na base das árvores para que todas as folhas caiam nesse espaço delimitado. A partir disso, é feito a pesagem desse material e é calculada a biomassa desses orgânicos.

“Esse cesto vai pegar tudo de folha que cair ali naquela área. Com isso, a gente sabe quanto que as copas das árvores estão liberando de carbono. No Acre, não temos muitos estudos que falem da deciduidade das florestas, então agora a gente consegue acompanhar os meses, de agosto, setembro, avaliando se está caindo poucas ou muitas folhas, considerando esse volume de acordo com a sazonalidade”, esclarece.

Nesse processo, quanto mais a árvore perde folhas, mas ela emite gás carbônico, o que é ruim para o meio ambiente.

Além dos cestos, a pesquisa envolve equipamentos como paquímetro, balança de precisão e estufas. Todo o material coletado no período do levantamento também será disponibilizado para outras pesquisas dentro ou fora do ambiente acadêmico.

“Outro dado importante que vamos obter é saber qual espécie de árvore é mais resistente às mudanças climáticas, o que vai nos possibilitar sugerir esse tipo de árvore para os trabalhos de recuperação e reflorestamento que já existem em todo o estado”, relata.

Incentivo à pesquisa

Entre os seis projetos que tiveram o investimento de R$ 420 mil, Simone é a única mulher entre os aprovados. Ela disse que se sente honrada em ser a representante feminina, mas destacou que queria ver mais mulheres desenvolvendo trabalhos importantes para a ciência.

“Minha presença como única mulher também é uma forma de tentar fortalecer mais o público feminino na área da pesquisa no estado”, reforça.

A secretária do Meio Ambiente, Julie Messias, afirmou que o incentivo ao ambiente científico é fundamental para a geração de conhecimento, pois quando aplicado fortalece a gestão pública: “Na área ambiental, a pesquisa científica tem o potencial de orientar as políticas públicas, gerando instrumentos que podem garantir maior eficiência da execução de ações de preservação, conservação, alternativas sustentáveis para a produção e outros”.

*Com informações de Fapac 

‘Reahu na UFRR’: livros escritos por indígenas Yanomami são lançados em Roraima

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O Centro Amazônico de Fronteiras (CAF) da Universidade Federal de Roraima (UFRR) receberá, no dia 24 de maio, a partir das 18h30, o lançamento dos livros: ‘O Espírito da Floresta’, do xamã e líder político Davi Kopenawa Yanomami e o antropólogo Bruce Albert; e ‘Diários Yanomami’, escrito por cinco pesquisadores indígenas da Terra Yanomami.

O evento de lançamento das obras literárias foi intitulado ‘Reahu na UFRR’ pois, na língua Yanomae, Reahu significa festa ou celebração, considerado o principal ritual dos Yanomami.

Dos mesmos autores de ‘A queda do céu’, ‘O Espírito da Floresta’ reúne reflexões e diálogos que, a partir do saber xamânico dos Yanomami, evocam, sob diversas perspectivas, as imagens e os sons da floresta, a complexidade de sua biodiversidade e as implicações trágicas de sua destruição.

“Quando meus pensamentos estão tristes, às vezes pergunto a mim mesmo se mais tarde haverá xamãs, talvez não”, diz em seu mais novo livro o presidente da Hutukara Associação Yanomami, maior liderança da Terra Yanomami. “Mas, se acontecer, nossos filhos terão o espírito tão emaranhado que já não verão os espíritos e já não poderão ouvir seus cantos. Sem xamãs, ficarão desprotegidos e a escuridão tomará conta do pensamento deles”, reforça Davi.

Segundo o líder Yanomani é preciso preservar e passar adiante as sábias palavras que os antigos líderes espirituais transmitiram aos xamãs. ‘O Espírito da Floresta’ reúne textos originalmente publicados entre 2002 e 2021 em inúmeras exposições realizadas em Paris pela Fundação Cartier.

A obra é dividida em 16 capítulos com textos intercalados entre os autores e está à venda online na Companhia das Letras, na livraria Boa Vista e estará à disposição no dia do evento, na entrada do CAF. Para o lançamento dos livros, o público terá a presença do escritor Davi Kopenawa que fará uma palestra sobre o tema.

‘Diários Yanomami’

Os autores do ‘Diários Yanomami’ são os pesquisadores Mozarildo Yanomami, Darysa Yanomami, Josimar Palimitheli Yanomami, Alfredo Himotona Yanomama e Marcio Hesina. Na obra os escritores apresentam sua percepção de seu povo sobre os impactos do garimpo na Terra Indígena Yanomami durante os quatro anos (2019 até 2022) da gestão Jair Bolsonaro (PL).

A publicação conta com relatos em formato de diários, registro de depoimentos e entrevistas feitas pelos indígenas. O livro é bilíngue e sempre apresenta a primeira versão do texto em Yanomami com a tradução para português na página seguinte.

“Eu quero que vocês, brancos que nos defendem à distância, ouçam estas minhas palavras”, inicia o capítulo ‘Diários’, escrito por Mozarildo Yanomami, que estará presente no lançamento. A reflexão de Mozarildo passa pela violência dos garimpeiros contra as mulheres, sobre o desconhecimento dos não indígenas às violações que os Yanomami sofrem e o desejo de que esta publicação jogue luz sobre o tema e ajude a salvar o povo dele.

‘Diários Yanomami’ também estará à venda no local do evento, no dia 24 de maio, e no site da loja do Instituto Socioambiental (ISA).

O evento ‘Reahu na UFRR’ é uma realização da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Instituto Socioambiental (ISA) e Universidade Federal de Roraima (UFRR).

*Com informações da UFRR

Estudo aponta que mulheres indígenas têm maior ocorrência de morte durante gravidez

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Mortalidade materna indica falhas no atendimento pré-natal de indígenas; na foto, mulher indígena yanomami em Boa Vista (RR). Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

As mulheres indígenas morrem mais durante a gravidez e o puerpério que mulheres de outras etnias. Elas tiveram uma maior quantidade de mortes maternas em comparação a de mulheres não indígenas, no período de 2015 a 2021. Os dados são de estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) publicado no dia 15 de maio na revista científica ‘International Journal of Gynecology and Obstetrics‘.

O grupo avaliou os 13.023 casos de morte materna de 2015 a 2021 registrados na base de dados DataSUS, do Ministério da Saúde (MS). Deste total, 1,6% eram mortes de indígenas. Para comparar mortes maternas de mulheres indígenas e não indígenas, os pesquisadores calcularam a razão de morte materna, índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que divide o número de mortes pelo número total de 100 mil nascidos vivos de determinado grupo.

Segundo os resultados, entre as indígenas, a razão de morte materna foi de 115 mortes a cada 100 mil nascidos vivos – muito mais alta que a taxa observada entre não indígenas, de 67 por 100 mil nascidos vivos. O número está bem acima da meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de chegar a menos de 30 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos no Brasil até 2030. A mortalidade de mães indígenas se manteve estável durante todo o período, acima de 100 mortes por ano na maior parte dos anos avaliados.

O trabalho aponta, ainda, que a maior parte das mortes maternas entre indígenas aconteceu após o parto. “Isso evidencia que o cuidado às mulheres indígenas no pós-parto está sendo negligenciado”, afirma o coautor do estudo, José Paulo Guida, da Unicamp.

Segundo os dados, a principal causa dessas mortes foi a hemorragia, diferente dos dados gerais de morte materna no Brasil, causados por hipertensão. A hemorragia após o parto é uma causa comum de mortalidade de mulheres em países da África subsaariana, apontam os especialistas. “Tanto a hemorragia quanto a hipertensão são potencialmente tratáveis e evitáveis com medidas de vigilância do sangramento após o parto, uso de medicações para controle de pressão arterial e identificação precoce e oferta de antibióticos nos casos de infecção”, destaca Guida.

Os resultados mostram o contexto de vulnerabilidade da população indígena, que se traduzem em mais perdas de vidas neste grupo, com consequências para o contexto familiar e comunitário. “Uma morte materna provoca desestruturação familiar, perda de confiança da comunidade no sistema de saúde”, comenta o pesquisador. Além disso, elas evidenciam falhas nos sistemas de saúde e nas políticas públicas, incapazes de preservar vidas maternas de indígenas.

*Com informações Agência Bori

Previsão de seca severa: Defesa Civil recomenda estoque de comida e água no Amazonas

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O Amazonas ainda vive o período de cheia de seus rios. Apesar disso, os órgãos de monitoramento estão atentos à previsão de uma seca severa para 2024 e a Defesa Civil do Estado fez um alerta à população que mora em áreas que costumam ser afetadas para que comecem a guardar água, alimentos e remédios.

A previsão de que 2024 tenha uma seca severa foi feita devido aos rios do estado estarem com níveis abaixo do esperado para época, segundo a Defesa Civil do Amazonas.

Ainda faltam alguns meses para que os impactos da seca comecem a ser sentidos, mas o secretário da Defesa Civil, coronel Francisco Máximo, antecipou em entrevista para a Rede Amazônica, recomendações para a população.

Uma delas é para as pessoas que moram em áreas onde o acesso é feito apenas por embarcações e que foram afetadas na seca do ano passado, para que sofram o mínimo possível este ano.

“Eu sei que é muito difícil abandonar o seu lar. Você precisa cuidar, mas que fique o mínimo de pessoas possíveis, para evitar o isolamento. Você que decidir permanecer, porque vai continuar cuidando da sua propriedade, você deve fazer uma estocagem de água, alimento e medicamentos para enfrentar o período de risco”,

disse o secretário.

Ainda segundo o secretário, a recomendação é que as pessoas que morem em áreas que costumam ser afetadas durante a estiagem busquem locais para se abrigar em municípios.

“Essas famílias, recomendamos que vão para casas de familiares nas sedes de municípios e aquelas que não tiverem condições de ficar na casa de familiares, que procurem o poder público. Tanto a prefeitura, quanto o governo, pois iremos disponibilizar locais para poder recepcionar”, finalizou.

*Com informações de g1 Amazonas

Além da solidariedade, a responsabilidade

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Somos todos solidários com os nossos irmãos do Rio Grande do Sul. Não há como não nos sentirmos conectados com as pessoas que passam pelo que passam e cujas imagens acompanhamos pela mídia e redes sociais. Por mais fria que seja uma pessoa, não há como não sentir um pouco daquela dor de quem perdeu tudo, de vida de pessoas que amavam, as suas casas e bens materiais que tinham. Alguns já possuíam muito pouco e o tudo aqui ganha uma dimensão ainda maior. Sentimos ainda mais por serem pessoas próximas, parecidas com a gente.

Não são imagens de uma guerra que se passa no outro lado do mundo, com gente de culturas diferentes das nossas. Não, são pessoas que falam a nossa língua, possuem valores e um estilo de vida parecido com os nossos. Possuem nomes, sobrenomes, endereço e em muita coisa se parecem conosco. Pode estar acontecendo com alguém que conhecemos, um amigo, um parente. Tudo isto nos faz lembrar que poderia ser com a gente mesmo.

Um pouco de dor, nós sentimos. Não a dor destas pessoas, mas alguma dor por elas. Somos mais humanos nestas horas e sentimos alguma dor. Alguns sentem na hora, fazem algum tipo de contribuição e seguem a vida. Outros sentem mais profundamente, podem chegar a chorar e absorvem um tipo de tristeza, que perdura por mais tempo. Seguem os dias conectados com o sentimento destas pessoas, interiorizando a dor, muito mais do que expressando externamente. São capazes de passar por insensíveis, em uma sociedade que valoriza mais o que é mostrado do que é sentido, mais a imagem do que a realidade.

Não é relevante destacar que, no meio de um quadro tão sofrido, há os que buscam tirar alguma vantagem econômica, política ou de qualquer tipo. De certa maneira, estes seres se aproximam de bichos selvagens. É o caso dos que estupraram mulheres nos abrigos e nas ruas cobertas de água e de lama e dos que saquearam casas abandonadas às pressas para o salvamento de vidas. Vale mencionar, mas não vale nos prendermos a este lado sombrio que sempre acompanha o ser humano, e que é exatamente isso, o lado sombrio de nossa espécie.

Vale ressaltar, sim, que de uma maneira quase absoluta, somos todos solidários. Fazemos doações materiais que serão imprescindíveis. Somos quase todos do bem. Mas isto seria suficiente?

Podemos e devemos dar um passo além, assumindo o que poderíamos chamar de uma compreensão mais adulta do que acontece. Somos responsáveis pelo que ocorre no Rio Grande do Sul e por todos os acontecimentos que envolvem uma reação dura da Grande Natureza, que emite sinais antes, de vários tipos.
Nossas ações ou a ausência delas, nossas palavras e nossos sentimentos poluem uma atmosfera que não é apenas física e que acumula impurezas que, atingindo determinado nível, precisarão ser eliminadas.
Igualmente ao processo de acúmulo, nossas ações, pensamentos e sentimentos poderiam provocar tal purificação. Não ocorrendo isso, a mãe natureza, dentro de suas próprias leis, se manifesta, fazendo o que precisa ser feito.

Somos todos nós responsáveis pelas causas e seremos responsáveis pelo que virá depois. Há ações concretas e urgentes que precisam ser tomadas pelo poder público federal, estadual e municipal e há o que ser feito por cada um de nós, indo além da solidariedade, por mais importante que ela seja. É essencial que assumamos a responsabilidade, pelo que veio antes e pelo que virá depois.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Ofício, saberes e práticas das parteiras tradicionais são declarados Patrimônio brasileiro

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Um patrimônio ao qual milhões de brasileiros, há inúmeras gerações, devem literalmente a vida. Esse foi um dos temas centrais durante o segundo dia da 104ª Reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no dia 9 de maio, quando o grupo reconheceu o “Ofício, Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais do Brasil” como Patrimônio Cultural do País.

Após aprovação unânime dos conselheiros presentes à reunião, o Instituto deve proceder com a inscrição do novo patrimônio no Livro de Registro dos Saberes, ao lado de outros bens culturais imateriais já patrimonializados, como o Ofício das Baianas de Acarajé, os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal ou o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira.

Ao contrário dessas manifestações características de regiões específicas do País, porém, os Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais do Brasil correspondem a uma realidade presente em todo o território nacional. Compõem um repertório transmitido de geração a geração, mas que não deixa de se atualizar, mesclando conhecimentos tradicionais e religiosos com conhecimentos biomédicos, pelas mãos de mulheres que dão continuidade a uma história ancestral, mas ainda viva e fundamental – sobretudo em zonas rurais ou urbanas periféricas e entre grupos da população historicamente desassistidos pelo Estado, como quilombolas e comunidades indígenas.

Leia também: “Partejar”: prática milenar ajuda mulheres em locais de difícil acesso na Amazônia

Atuação além do parto

Em dossiê produzido por pesquisadores do Iphan e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2021, para instrução do processo de registro do bem como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, as parteiras tradicionais são descritas como “mestras do ofício do partejar, detentoras de um repertório de saberes e práticas acerca de todas as etapas da gestação (pré-natal, parto e pós-parto)”. Limitar seu papel à assistência no nascimento de crianças, portanto, seria reducionista.

Segundo o documento, as parteiras atuam com uma ideia de atendimento contínuo, integral e holístico, que cobre “processos fitoterapêuticos, prescrições alimentares preventivas e curativas, mediação religiosa e regimes de conduta social”. Mas – e isso é o mais importante – remédios, banhos, chás, garrafadas, rezas e conselhos não são direcionados apenas às gestantes, puérperas e crianças, como também a outros membros da comunidade.

“Elas ainda estendem o cuidado para a família da gestante, trabalhando no aconselhamento, resoluções de conflitos e produção de rede de apoio necessária para o bem-estar da mulher, ajudando a melhorar a dinâmica doméstica e as relações da vizinhança”,

afirma o dossiê.

As parteiras atuam com uma ideia de atendimento contínuo, integral e holístico, que cobre “processos fitoterapêuticos, prescrições alimentares preventivas e curativas, mediação religiosa e regimes de conduta social”.

Nesse sentido, explica a coordenadora de Registro e Revalidação do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan, Marina Lacerda, “muitas vezes as parteiras se tornam verdadeiras lideranças comunitárias, cuja palavra carrega peso e autoridade”.

É nesse aspecto, diz ela, que reside o maior valor das parteiras como representantes de uma expressão cultural que merece reconhecimento do Estado. Mais até do que em sua atuação como agentes efetivas de saúde pública – que, na década anterior, havia sido uma das razões para o Iphan indeferir um primeiro pedido de registro do bem como Patrimônio Cultural do Brasil.

Interface com a saúde pública

O pedido original havia sido encaminhado à Superintendência do Iphan em Pernambuco, em 2011, por quatro instituições da sociedade civil ligadas ao segmento: Instituto Nômades, Grupo Curumim, Associação das Parteiras Tradicionais de Caruaru e Associação das Parteiras Tradicionais e Hospitalares de Jaboatão dos Guararapes. Contudo, a Câmara do Patrimônio Imaterial do Iphan deliberou que, “tendo em vista a grande interface com a área da saúde pública e as práticas médicas, considerou-se que o registro não é o instrumento mais adequado para salvaguardar essa prática e esses saberes”.

“À época, levantou-se a questão de possíveis conflitos do saber das parteiras com o saber médico”, diz Marina Lacerda.

Em 2015, motivado por novo pedido de registro feito pela então deputada federal amapaense Janete Capiberibe, o DPI reconsiderou a questão, entendendo que os valores patrimoniais representados pelas parteiras tradicionais não estão no campo da saúde pública, mas no “sistema de valores, visão de mundo e práticas culturais dessas comunidades brasileiras tão disseminadas por todo o território nacional”.

Segundo a nova argumentação, caberia ao Iphan “se ater [às] características culturais e de eficácia simbólica” do trabalho das parteiras, o que terminou por convencer a Câmara do Patrimônio Imaterial quanto à pertinência do processo de registro do bem, que seguiu para a fase de instrução técnica (pesquisas e elaboração de dossiês).

Foto: Eduardo Queiroga para Dossiê “Parteiras Tradicionais do Brasil” (Iphan/UFPE)

Reparação histórica

Mesmo em termos puramente sanitários, porém, o fato é que o ofício das parteiras tem sido cada vez mais valorizado por instituições e órgãos oficiais de saúde, nos últimos anos, por sua relevância real – e não apenas simbólica – para inúmeras mães e crianças pelo Brasil.

“Nas diferentes regiões do País, foram implementadas leis de amparo e promoção do ofício de parteira, o que mostra as manifestações legais de reconhecimento do poder público para com esse ofício”, relatam os autores do dossiê de registro elaborado por Iphan e UFPE, citando programas e políticas públicas em Pernambuco, São Paulo e Amazonas como exemplos recentes de uma parceria entre parteiras tradicionais e o Sistema Único de Saúde (SUS).

Trata-se de um reconhecimento, por parte do Estado, de que os saberes e práticas das parteiras tradicionais estão longe de ser um apanhado de crenças e superstições arcaicas sem valor efetivo. Pelo contrário: são um “cruzamento de matrizes culturais e epistemologias distintas”, na definição dada pelo dossiê de registro, e aberto para “absorver novos e atuais elementos e referências”.

Como um aprendizado de mão dupla, o que se vê hoje é uma mescla de rezas e óleos fitoterápicos com estetoscópios e técnicas sofisticadas de toques e massagens, além da aplicação de premissas que as parteiras seguem há séculos, às quais a medicina oficial tem prestado atenção crescente, como o respeito à subjetividade da parturiente ou à preferência por procedimentos poucos invasivos.

E tudo isso em regiões do País em que a assistência do Estado à população é insuficiente ou inexistente, como nota a educadora quilombola Givânia Maria da Silva, conselheira que ficou encarregada de elaborar o parecer técnico que foi aprovado, nesta quinta-feira, pelos membros do Conselho Consultivo do Iphan.

“Em uma combinação de continuidades ancestrais com, em muitos casos, ausência total de políticas públicas, as parteiras foram e continuam sendo os únicos suportes à vida de centenas de mulheres e seus filhos e filhas”.
Oriunda da comunidade de Conceição das Crioulas, interior de Pernambuco – ela própria nascida pelas mãos de uma parteira, como quase todos seus conterrâneos –, Givânia conclamou os colegas de Conselho para que registrassem o novo patrimônio “dentro da chave de uma reparação histórica às parteiras tradicionais do Brasil, por tudo que representam, sobretudo em territórios tradicionais indígenas, quilombolas e de terreiros”.

“Em uma combinação de continuidades ancestrais com, em muitos casos, ausência total de políticas públicas, as parteiras foram e continuam sendo os únicos suportes à vida de centenas de mulheres e seus filhos e filhas”, afirmou a conselheira.

É para essas mulheres que, após a aprovação do parecer, o Iphan passará a dedicar esforços, segundo a diretora substituta do DPI, Diana Dianovsky, “na valorização e promoção desse patrimônio cultural”. “Um dos primeiros passos é ampliar a mobilização para a construção de um plano de salvaguarda que dê conta da diversidade da realidade do ofício das parteiras tradicionais do Brasil. Dessa forma, o Iphan poderá agir de forma coordenada, incluindo parceiros das esferas governamentais e da sociedade civil”, diz a diretora.

*Com informações do Iphan

Festival Sicoob Sabor: o encontro do empreendedorismo com a gastronomia em Vilhena

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Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

Vilhena, o coração econômico do sul de Rondônia, se prepara para a sétima edição do Sicoob Sabor, um festival gastronômico que faz parte do calendário turístico do estado. De 2 a 23 de julho, o evento promete agitar a cena culinária local, envolvendo 27 estabelecimentos, desde restaurantes e pizzarias até confeitarias e cafeterias. Durante este período, os clientes terão a oportunidade de votar em seus pratos favoritos, culminando em um encerramento festivo no Centro de Treinamento da instituição, repleto de palestras, atrações culturais, recreação e a cerimônia de premiação.

Concebido em 2017 pela gerente de comunicação, marketing e investimento social, Adevânia Silveira, e adotado pela diretoria da Credisul, o Sicoob Sabor nasceu da visão empreendedora de utilizar o espaço gourmet e cultural do centro de treinamento recém-construído, na época, para dinamizar a economia de Vilhena. “A ideia era criar um evento que refletisse a diversidade e a riqueza de nossa cultura gastronômica, ao mesmo tempo em que estimulasse o desenvolvimento econômico e o empreendedorismo locais”, explica Adevânia.

Premiação é aberta à população com atrativos culturais.Foto: Divulgação

Segundo Thiago Dal Cortivo — graduado em gastronomia e dono de um tradicional restaurante que funciona há 32 anos — “o festival traz benefícios para cidade”. Ele avalia que não apenas os comerciantes lucram. “Os clientes se permitem conhecer novos sabores e experiências, mais gente sai de casa para comer fora e isso aumenta o movimento e nos estimula a investir nos ambientes, no atendimento e em novas tecnologias na cozinha”, informa Dal Cortivo.

O festival não apenas fomenta a competição saudável e eleva a qualidade dos serviços, mas também inclui empreendedores de áreas correlatas à gastronomia: feirantes e agricultores participam de treinamentos e recebem suportes para projetos sociais. “A proposta é dar visibilidade e valorizar a cadeia produtiva os seus elos vilhenenses”, esclarece a idealizadora.

Há um ‘cinturão verde’ envolvendo a zona urbana com cerca de 4.500 produtores de hortaliças e legumes. Ano passado, vários deles passaram por treinamentos para adquirir conceitos sobre empreendedorismo e marketing, e puderam expor seus produtos durante o festival. Além disso, a Credisul promoveu a websérie “Do campo à mesa”, dirigida pelo cineasta rondoniense Lucas Oliver, contando o dia a dia de 12 agricultores, os cuidados com a terra, a cultura repassada de geração a geração e todo o processo de produção até que os produtos cheguem aos consumidores.

Evento estimula a criatividade e a educação financeira dos participante. Foto: Divulgação

Do genuíno ao internacional

Este ano, o tema ‘Amazônia Fusion’ desafia os participantes a mesclar sabores amazônicos com influências culinárias internacionais. Vilhena, conhecida como o portal da Amazônia Ocidental com cerca de 100 mil habitantes, é um mosaico de culturas, abrigando comunidades de alemães, italianos, árabes, japoneses e peruanos, entre outros.

Essa diversidade se reflete na gastronomia local, que nos últimos anos viu o surgimento de bistrôs elegantes e chefs como Thiago Dal Cortivo e Pedro Bagattoli, bastante conhecidos na cidade, que se mantêm atualizados com as tendências globais, sem deixar de lado as influências amazônicas.

“A oportunidade de desfrutar de pratos elaborados e deliciosos não se limita aos grandes estabelecimentos; ela se estende até os cantos mais modestos da cidade, como aqueles que frequento”, afirma a professora Cíntia de Lourdes Agnello, 29 anos. “A competição e os treinamentos oferecidos são importantes. Pelo que percebo, eles transformaram a culinária local, graças à iniciativa do Festival Gastronômico”, garante Cíntia.

Além de celebrar a cultura culinária, a Credisul enfatiza o empreendedorismo e a cooperação. “Desde o início, a educação financeira tem sido um pilar dos treinamentos oferecidos, beneficiando todos os envolvidos”, destaca Edevânia. O resultado é uma melhoria tangível na qualidade dos serviços e valorização da identidade.

A gente não quer só comida

O festival se tornou, ainda, um palco para a expressão de cultura em geral, com exposições de artes plásticas, esculturas, fotografia, artesanato indígena e apresentações musicais que ressoam com a essência nativista do projeto.

A Credisul até estabeleceu uma loja no centro de treinamento, onde produtos artesanais dos indígenas mamaindês são vendidos, com todos os lucros revertidos para a comunidade que produz as peças. A cooperativa de crédito também contribuiu com projetos de visitações turísticas, apresentações culturais dos habitantes originários e, ainda, com a ajuda de custos para a produção de pinturas em telas.

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Projeto avança na implementação de sistema para monitoramento na Bacia do Rio Madeira

Foto: Reprodução/OTCA

O Projeto Amazonas, uma parceria entre a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE), está atingindo um marco significativo na implementação de um sistema de monitoramento hidrometeorológico crucial na Bacia do Rio Madeira.

Atualmente, as Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) estão em fase de montagem pela empresa vencedora DualBase. Após um longo trabalho da equipe do Projeto Amazonas, esse esforço está se concretizando com a montagem dos equipamentos, os quais em breve serão transportados para a Bolívia para a fase de instalação.

Esses dispositivos desempenharão um papel fundamental no aprimoramento do monitoramento da Bacia do Rio Madeira, uma área suscetível às variações extremas de nível dos rios. Além dos cinco equipamentos destinados à Bolívia, o Projeto Amazonas está em processo de licitação para doar mais cinco unidades ao Peru, ampliando assim a rede de monitoramento na sub-bacia do Rio Madeira, que é um afluente vital do Rio Amazonas.

A Bacia do Rio Madeira é compartilhada por três países fronteiriços: Bolívia, Brasil e Peru, com 51,20%, 39,45% e 7,9% de sua extensão, respectivamente.

A Sala de Situação de Recursos Hídricos da OTCA, que já recebe dados dos países da bacia amazônica, agora integrará informações desses novos equipamentos. Essa integração garantirá um monitoramento mais abrangente e eficaz da região, incorporando dados das PCDs instaladas na Bolívia e no Peru.

O Rio Madeira, formado pela união dos rios Mamoré e Beni na Bolívia, e pelo rio Madre de Dios, no Peru, tem mais de 3.000 km de extensão e é um dos principais afluentes do Rio Amazonas. Sua importância na regulação do regime de chuvas na região é indiscutível.

O Projeto Amazonas tem como objetivo primordial contribuir para a gestão compartilhada e sustentável dos recursos hídricos na Bacia Amazônica. Além disso, busca fortalecer a cooperação entre os países membros da OTCA, capacitando técnicos e promovendo o intercâmbio de conhecimentos sobre a realidade amazônica.

Com esses avanços, a Sala de Situação do Observatório Regional Amazônico (ORA) da OTCA estará mais preparada para monitorar a situação hidrológica e meteorológica da Bacia do Rio Madeira, identificar ocorrências e fornecer subsídios para a tomada de decisões visando a adoção antecipada de medidas mitigadoras dos impactos de secas e inundações. 

*Com informações da OTCA