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Música paraense perde Tonny Brasil, pai do tecnobrega

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O tecnobrega paraense está de luto. O cantor e compositor Tonny Brasil, reconhecido por muitos artistas e pesquisadores como o criador do tecnobrega, morreu no dia 2 de junho aos 57 anos. A causa da morte não foi divulgada.

A cantora Gaby Amarantos publicou nas redes sociais uma homenagem ao amigo. Segunda ela, Tonny foi o grande precursor da fusão do brega com a música eletrônica.

Obras

A obra de Tonny Brasil foi profundamente influenciada pela música latina dos países vizinhos. Dessa mistura de ritmos, surgiram variações como o brega-calipso e o brega melody.

Ele deixa um legado de quase duas mil músicas – centenas delas gravadas por artistas de renome nacional, entre eles Banda Calypso, Reginaldo Rossi e Marília Mendonça. Entre as canções famosas do pai do tecnobrega estão ‘Dudu’, eternizada na voz de Joelma.

O projeto ‘Sampleados‘, que deu destaque para a música paraense, contou com a participação de Tony Brasil:

Rios do Amazonas seguem com baixa probabilidade de cheias severas em 2024

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O 3º Alerta de Cheias do Amazonas, realizado no dia 6 de junho, pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), segue mostrando que os rios Negro, Solimões e Amazonas continuam com baixa probabilidade de enfrentar cheias severas neste ano.

O evento visa fornecer previsões atualizadas sobre os níveis dos rios e condições climáticas, além de apoiar o planejamento de ações para o período. As previsões, feitas com antecedência de 15 dias para o pico da cheia, contemplam os municípios de Manaus, Manacapuru, Itacoatiara e Parintins, onde vivem mais de 2,3 milhões de pessoas. O evento ocorreu na Superintendência do SGB de Manaus (SUREG-MA).

A chefe do Departamento de Hidrologia do SGB, Andrea Germano, ressaltou a importância da realização do evento na Semana Mundial do Meio Ambiente, que chama atenção para as consequências das mudanças climáticas.

“Hoje, estamos anunciando uma cheia ordinária, em 2024, para os municípios do SAH do Amazonas, mas já estamos de olho na vazante e há preocupação futura com baixos níveis nos rios da Amazônia. O monitoramento de chuvas, níveis e vazões, realizado pelo SGB, é muito importante para minimização dos eventos críticos”, enfatizou.

Germano também destacou a relevância das parcerias para estudos como o realizado com a Marinha sobre o Canal do Tabocal, subsidiando decisões para a operação da hidrovia Solimões-Amazonas.

Já o superintendente Regional do SGB de Manaus (SUREG-MA), Marcelo Motta, também informou que, em relação às cotas máximas, não se espera uma cota de enchente severa, mas que é preciso ser responsável ao falar sobre a vazante. “Nossos pesquisadores podem mostrar cenários diferentes. Se a natureza colaborar, pode haver uma mudança, e não enfrentaremos uma seca tão severa como a que imaginamos”, explicou.

Motta acrescentou: “em conjunto com nossos parceiros, estamos empenhados para disponibilizar essas informações à sociedade, para que as defesas civis, municipal e estadual, possam tomar as medidas necessárias para minimizar os impactos. Sabemos que as empresas que operam no Distrito Industrial de Manaus e aquelas que trazem insumos para a Zona Franca também compartilham dessa preocupação”.

Para a pesquisadora em geociências do SGB Jussara Cury, considerando o modelo de previsão, há uma baixa probabilidade da cheia de 2024 ser de grande magnitude. “Em Manaus, a terceira previsão confirmou a tendência da cota máxima deste ano ficar abaixo da cota de inundação. Em Manacapuru pode ficar próximo da cota de inundação. Em relação a Itacoatiara e Parintins, no baixo Amazonas, o intervalo de previsão ficou abaixo da faixa que representa normalidade para a época e é muito baixa a probabilidade de superar a cota de inundação”, destacou.

Gráfico apresenta probabilidade do nível que o Rio Negro deve atingir em Manaus durante o período de cheia. Fonte: SGB

Para Manaus, a previsão é que o Rio Negro atinja um valor de aproximadamente 26,88 m, com um intervalo provável variando entre 26,63 e 27,38 m (considerando 95% de intervalo de confiança). Segundo o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio venha a atingir a cota de inundação (27,50 m) é de 52%. É muito baixa a probabilidade de que a cota de inundação severa (29 m) e a cota máxima (30,02 m) sejam atingidas.

Já em Manacapuru (AM), o Rio Solimões deve ficar na marca de 17,79 m, com possibilidade de variar a até 18,22 m. Conforme o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio alcance a cota de inundação (18,20 m) é de 85%, e a de inundação severa (19,60 m) é próxima de zero.

O alerta de cheias é uma atividade realizada pelo SGB em parceria com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), responsáveis pelas previsões climáticas. Paralelamente, as defesas civis estadual e municipais formulam estratégias preventivas.

Níveis bem abaixo da média no Rio Amazonas

Para Itacoatiara, a previsão é que o Rio Amazonas atinja aproximadamente 12,40 m, com um intervalo provável variando entre 12,30 m e 12,64 m. De acordo com a previsão, é muito baixa a probabilidade de atingir a cota de inundação (14 m) e a cota de inundação severa (14,20 m).

Em Parintins, o Amazonas deve atingir 7,17 m, com possibilidade de alcançar a máxima de 7,29 m. O alerta aponta ainda que a probabilidade de superar a inundação (8,43 m) também é muito baixa e, menor ainda, de superar inundação severa (9,3 m) e a máxima (9,47 m).

Alerta de Cheias do Amazonas

O Alerta de Cheias do Amazonas apresenta previsões geradas pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) a partir do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Amazonas (SAH Amazonas), em operação desde 1989. É parte de um sistema nacional que atualmente possui 18 sistemas que atendem a 84 municípios.

No Alerta Amazonas, são divulgadas as previsões de cotas máximas a serem atingidas nos municípios de Manaus (Rio Negro), Manacapuru (Rio Solimões), Itacoatiara e Parintins (Rio Amazonas). As informações são divulgadas em três etapas, com antecedência de 75, 45 e 15 dias para o pico das cheias, que ocorrem em meados de junho, nesses municípios.

*Com informações do SGB

Que tipo de competidor você é?

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Ouço a Mariana dizer: “estou tentando melhorar, mas eu sou muito competitiva”. Já o José declara abertamente: “uma das minhas principais forças é a competição. Sou movido a desafios”. Mariana encara a competição como algo ruim, algo que ela deveria melhorar. José, ao contrário, enxerga como algo positivo, que o impulsiona para frente. Ser competitivo, afinal, é bom ou ruim?

Alguns encaram a vitória sobre um adversário como um sinal de superioridade, uma espécie de confirmação de seu valor. Outros fogem da competição de tanto a valorizarem, pois se não forem vencedores, isto seria confundido com o seu valor. Talvez conseguissem vencer, mas se abstiveram de tentar, com medo do fracasso. Nos dois casos, o que prevalece é a insegurança e a necessidade de atender às expectativas externas. O segundo ainda poderá enganar a si mesmo e aos demais, demonstrando um comportamento mais passivo, mas a competição estará lá guardada, na verdade, escondida. Nos dois casos, podemos dizer que temos uma atitude competitiva negativa.

Timothy Gallwey, em determinado momento de seu livro O Jogo Interior do Tênis, afirma: “quando reconhecemos a importância da existência dos obstáculos, fica fácil entender os benefícios potenciais dos esportes competitivos”. E complementa mais adiante: “no tênis quem é o responsável por apresentar os obstáculos? O adversário. Então ele é um amigo ou inimigo? Desempenhando o papel de inimigo ele está sendo seu amigo. E competindo, ele coopera com a sua melhora”. Timothy procurava demonstrar que na vida, ocorre o mesmo que nos esportes.

Ao contrário dos exemplos anteriores, podemos dizer que o olhar de Gallwey sobre o adversário é uma atitude competitiva positiva. Neste olhar, o adversário, assim como as dificuldades, nos faz crescer, nos fortalece, nos faz ser melhores do que somos. Se acreditarmos assim, dentro de uma dosagem e intensidade adequadas, a competição é boa e não ruim. Não teremos por que fugir dela.

Segundo o escritor Arthur da Távola, há uma diferença radical entre o “competir com” e o “competir contra”. No “competir com”, utilizamos o adversário como um impulsionador e poderemos até desenvolver uma certa admiração e sentimento positivo por ele. É o que Adam Grant chama de “rival digno”. No “competir contra”, queremos a destruição do adversário e poderemos desenvolver sentimentos negativos que, talvez, nem o atinjam significativamente, mas que serão prejudiciais para nós mesmos. Afinal, emoções positivas são ingredientes necessários para a construção de felicidade.

Um outro ingrediente para a felicidade é a superação de metas e desafios, o que às vezes, envolve superar o concorrente ou o adversário. Isto não é ruim, não é pecado e nem significa que fizemos um mal para ele. Um bom jogo é para ser jogado. Haverá um vencedor, e que possamos ser nós, se o merecermos. E sempre haverá novos jogos. Bons jogos terão bons jogadores, como são Mariana e José. Eles sempre poderão usufruir e sair maiores, como nos ensinou Nelson Mandela quando disse: “Eu nunca perco. Ou eu ganho, ou aprendo”. Voltando a Gallwey, é dele a afirmação: “descobri que a verdadeira competição é igual a verdadeira cooperação”.

Somos todos competidores, mas não somos todos iguais. Que tipo de competidor você é?

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Ribeirinhos do Amapá vão exportar 10 toneladas de açaí em pó para os EUA

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Extrativistas do Arquipélago do Bailique, no litoral do Amapá, trabalham com o manejo florestal comunitário e têm impulsionado a produção de açaí, um dos frutos mais consumidos na Região Norte do país. A cooperativa Amazonbai, que reúne 141 ribeirinhos da região, vai realizar este mês a primeira exportação direta de açaí liofilizado (açaí em pó) para os Estados Unidos (EUA).

De acordo com a cooperativa, a contratação inicial foi de 10 toneladas do produto. A venda para os estadunidenses deve garantir um valor de até R$ 2,4 milhões por mês aos ribeirinhos.

Pacote de açaí em pó, mostrado por Amiraldo PIcanço, presidente da Amazonbai — Foto: Rafael Aleixo/g1
Foto: Rafael Aleixo/g1 Amapá

“É um produto novo que a gente tá lançando no mercado com inovação, tecnologia e buscando agregação de valor pro nosso produto. Ele é bem procurado na indústria de cosméticos e farmacêuticos como incapsulados, por exemplo”, descreveu Amiraldo Picanço, presidente da Amazonbai.

A produção é transportada do Bailique por cerca de 12 horas em uma embarcação até a cidade de Macapá. Depois, o produto é levado em um veículo até a fábrica da Amazonbai, onde ocorre o processo de branqueamento.

Açaí em pó, produzido pela Amazonbai, no Amapá — Foto: Amazonbai/Divulgação
Foto: Divulgação/Amazonbai

A extrativista Simone Lobato Calandrini, de 31 anos, é uma das cooperadas e disse estar feliz com a produção deste ano. Ele descreveu que coleta o fruto desde a adolescência e contou que o trabalho tem garantido o sustento da família.

“A produção do açaí é muito boa. No começo eu tinha bastante dificuldade de subir, porque eu me apertava muito no açaizeiro e arranhava meu braço. Mas agora consigo subir e até pegar os cachos de dois açaizeiros”, disse a extrativista.

Simone Lobato Calandrini, extrativista no Bailique  — Foto: Rafael Aleixo/g1
Foto: Rafael Aleixo/g1 Amapá

A cooperativa já possui o selo internacional FSC de Manejo Florestal e Cadeia de Custódia, que é uma certificação pioneira para a cultura do açaí.

*Por Rafael Aleixo, do g1 Amapá

Carreira indigenista agora é lei, anuncia Funai

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A carreira indigenista e o Plano Especial de Cargos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foram, oficialmente, criados. Publicada no dia 31 de maio, em edição extra do Diário Oficial da União, a Lei nº 14.875 é resultado de um acordo negociado entre representantes dos servidores e o Governo Federal. Confira na íntegra a Lei nº 14.875/2024.

A promoção e defesa dos direitos assegurados pela legislação brasileira aos povos indígenas, bem como a sua proteção e a melhoria de sua qualidade de vida, estão entre as atribuições do Especialista em Indigenismo, cargo de nível superior. Outras atribuições incluem a formulação, articulação, coordenação e implementação de políticas dirigidas aos povos indígenas e às suas comunidades; e o acompanhamento e fiscalização das ações desenvolvidas em territórios indígenas.

O planejamento, organização, execução e avaliação de atividades inerentes ao indigenismo, bem como apoio técnico e administrativo especializado a essas atividades, estão entre as atribuições do Técnico em Indigenismo, cargo de nível médio, assim como a execução de atividades de coleta, seleção e tratamento de dados e informações especializadas; entre outras atividades.

Estruturados em classes e padrões, os cargos de provimento efetivo das carreiras de Especialista em Indigenismo e de Técnico em Indigenismo, com carga horária de 40 horas semanais, constam no Anexo I da lei.

Na Funai, na qualidade de órgão supervisor das carreiras, estão lotados os ocupantes dos cargos de Especialista em Indigenismo e de Técnico em Indigenismo, podendo ter exercício descentralizado em órgãos e em entidades da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional que tenham atuação na política indigenista.

Representando um marco histórico, a criação do Plano de Carreira Indigenista evidencia o compromisso do Governo Federal com a defesa dos direitos dos povos indígenas e a valorização dos servidores da Funai, que agora passam a ocupar outra categoria na estrutura do Estado brasileiro. A proposta foi construída com ampla participação das instituições representativas dos servidores do órgão indigenista.

Diante do desmonte da Funai e da retirada dos direitos dos povos indígenas vividos nos últimos anos, os servidores deram início a uma ampla mobilização em 2022, realizando um movimento com o qual obtiveram diversas conquistas iniciais, como a recomposição das verbas indenizatórias de deslocamento a serviço, a melhoria nas escalas de trabalho por revezamento de longa duração, a composição de forças-tarefa para atuar em regiões de difícil acesso e em faixas de fronteira, entre outras.

Organizados pelos sindicatos gerais filiados à Condsef, os servidores realizaram diversas atividades de mobilização no novo governo, o que chamou a atenção do próprio presidente Lula, que afirmou, durante a plenária final do Acampamento Terra Livre de 2023, que os servidores da Funai não poderiam ser tratados como trabalhadores de segunda categoria, posição determinante para o atendimento da reivindicação histórica.

A conquista dos trabalhadores da Funai trará melhores condições de trabalho para qualificar o atendimento das populações indígenas do país e para avançar na construção de políticas públicas específicas e diferenciadas em todos os biomas brasileiros. Os servidores seguem mobilizados contra a tese jurídica do marco temporal e quaisquer iniciativas que visem desconstituir os direitos originários sobre os territórios indígenas.

A mobilização e a organização foram os instrumentos que permitiram aos trabalhadores avançar na conquista de direitos. Para a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, a aprovação da carreira indigenista, mesmo com pontos a serem aperfeiçoados, representa uma vitória.

“Há muito tempo é reivindicado um plano de carreira. Cada conquista deve ser celebrada. Nunca foi fácil para a Funai ser valorizada e, pela primeira vez, no governo Lula, essa relevância está sendo reconhecida. Persistem desafios, como a adequação de gratificações específicas para os servidores de nível auxiliar, pelas quais continuaremos em diálogo com o órgão supervisor das carreiras nos próximos dias, além de outros pontos importantes que continuaremos trabalhando para o devido reconhecimento”, afirmou.

*Com informações da Funai

Terra e água: adaptações das árvores da floresta no Interflúvio Purus-Madeira

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Os rios Madeira e Purus correm paralelamente sobre a maior parte do sudoeste da Amazônia, e a terra entre eles é conhecida como o Interflúvio Purus-Madeira. A região era esparsamente habitada por comunidades humanas desde a eliminação da maioria dos povos indígenas, antes do ano de 1700. A partir da década de 1970 o local passou por um novo ciclo de ocupação, quando a rodovia BR-319 foi construída. 

Em poucos anos a falta de manutenção deixou a estrada intransitável a maior parte do ano e, desde então, muitos projetos para recuperá-la foram feitos. A rodovia nunca foi, de fato, recuperada, mas a previsão de uma reestruturação e pavimentação causa grande preocupação com a conservação da floresta do seu entorno. 

A região abriga uma variedade de animais e plantas que precisam ser consideradas para a recuperação da BR-319, assim como o tipo de solo e o regime de chuvas. A maior parte das terras do interflúvio ficam longe dos grandes rios que inundam as florestas. As terras são baixas e a água da chuva fica acumulada, inundando grandes áreas de floresta com uma camada de água rasa durante um longo período do ano. 

O fluxo da água sobre a terra sem a presença de canais bem definidos é um processo demorado e conhecido como fluxo laminar, que faz com que o solo fique sem oxigênio, impedindo que as raízes das árvores cresçam até as camadas mais profundas da terra e exigindo que a floresta se adapte a esse tipo de situação. 

A floresta amazônica possui diversas adaptações que facilitam o desenvolvimento de plantas em áreas com solos não muito próprios para o crescimento de raízes. A maioria dos solos nas regiões baixas da Amazônia são pobres nos nutrientes necessários para o crescimento das plantas e, muitas vezes, a vegetação não consegue aproveitar os que são deixados na terra através das folhas em decomposição. Para explorar melhor o solo, a maioria das plantas buscam parcerias com outros organismos, como os fungos. 

As raízes das árvores têm minúsculos pelos, chamados de pelos radiculares, que são frágeis, curtos e pouco eficientes na busca por nutrientes. É provável que as primeiras plantas que colonizaram a superfície da terra nem tinham raízes, muito menos os pelos radiculares. Provavelmente, elas adquiriam os nutrientes do solo com a ajuda dos fungos, mas isso tinha um preço: a planta fornecia para os fungos os açúcares que eles precisavam para sobreviver que eram produzidos através do processo de fotossíntese. A maioria das pessoas somente conhece as partes dos fungos que nós chamamos cogumelos e comemos em pratos deliciosos. No entanto, a importância desses organismos invisíveis é enorme! Grande parte da floresta é feita e depende dos fungos para se manter viva.

Texto adaptado do original publicado em “O Interflúvio Purus-Madeira: lições sobre o funcionamento da floresta amazônica”, do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração no Sudoeste do Amazonas (PELDSAM).

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Observatório BR-319 

‘Maior paçoca do mundo’ servirá cerca de 20 mil pessoas em Roraima

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Não tem nada a ver com amendoim! Composta por carne seca e farinha amarela, a ‘maior paçoca do mundo‘, começou a ser feita cinco dias antes de ser servida gratuitamente para cerca de 20 mil pessoas no Boa Vista Junina 2024. Prato típico da cultura indígena, a iguaria é uma das mais populares de Roraima e, para o tradicional arraial, usa quantidades gigantes de ingredientes.

Tão ‘maceta’ quanto o amor do roraimense pela iguaria é o volume de ingredientes dela. Neste ano, a paçoca leva:

2.800 kg de carne

520 kg de farinha amarela

170 kg de cebola

42 kg de manteiga

Leia também: Confira uma receita da paçoca de Boa Vista

Tudo isso para bater o próprio recorde e se manter como a ‘maior paçoca do mundo’, título dado pela prefeitura de Boa Vista desde a primeira vez em que a paçoca foi servida gratuitamente no arraial, em 2015. A produção envolve diretamente 15 pessoas, entre auxiliares de cozinha e de açougue.

A paçoca será servida no dia 7 de junho. A meta deste ano é entrar para Guinness World Records, o livro dos recordes, e ultrapassar os 1.264 kg servidos no ano passado. No dia 5 de junho a produção do prato foi destaque no programa ‘Mais Você’, comandado por Ana Maria Braga.

“Nosso objetivo é pesar um pouco mais do que isso e, claro, depois distribuir para todo mundo saborear essa nossa iguaria regional. A paçoca se tornou um produto turístico muito forte, fortaleceu a gastronomia regional sem dúvida nenhuma. Hoje é um dos principais souvenir que os turistas e os moradores de Boa Vista compram para presentear. [A expectativa] é de que esteja oficialmente no livro”, explicou a superintende de Turismo de Boa Vista, Alda Amorim.

Tradicional prato típico em Roraima, paçoca de carne seca e farinha amarela começou a ser preparada no dia 5 de junho e será distribuída gratuitamente na sexta-feira 7 no arraial Boa Vista Junina, em Boa Vista. A meta é colocar a iguaria no Guinness, o livro dos recordes.
Foto: Yara Ramalho/g1 Roraima

O preparo iniciou no dia 3 de junho, com a desossa e a salga da carne bovina. No dia 5, a carne começou a ser frita em um forno a lenha, onde são usadas troncos de acácias. Além disso, também é feito o reaproveitamento de paletes.

Responsável pela coordenação do preparo da paçoca, a chefe de cozinha, Daiana Gomes, que é indígena do povo Macuxi, acompanha de perto para que tudo saia com a qualidade prevista.

“É um grande desafio. Primeiro a gente desossa essa carne, frita, espera ela esfriar por um dia, tritura e faz a mistura com a farinha? Depois nós temperamos tudo”, explicou ela sobre o processo que envolve o preparo.

Foto: Yara Ramalho/g1 Roraima

Este ano, a preparação ficou por conta da Fábrica Pinheiro, empresa contratada pela prefeitura. Esta é a terceira vez que a empresa faz a produção gigante. A primeira foi em 2017, e a segunda, em 2019. Alda não soube informar o valor pago à empresa. Ano passado, o custo foi de R$ 232 mil.

Segundo o proprietário, Pedro Pinheiro, de 51 anos, embora estejam acostumados a produzir grandes quantidades de paçoca, preparar a ‘maior do mundo’ é um desafio.

“É um desafio com certeza. Embora a gente saiba que tem essa quebra de recorde, a gente ainda é pego de surpresa [com a quantidade]. Tudo aumenta, a quantidade de matéria prima é maior e a gente ainda tem que atender as outras demandas nesse tempo”, explicou o empresário.

Avaliação do Guinness

A ideia o município desde que iniciou com a distribuição era para entrar para o livro dos recordes, o que nunca ocorreu em oito anos – até 2023. Mas este ano segundo a prefeitura, uma equipe do Guinness Book deve ir até o arraial para validar a iguaria.

Para isso, uma equipe de dois chefes e dois nutricionistas indicado pelo Guinness acompanha o preparo da paçoca na Fábrica Pinheiro e anota as exigências do livro que acompanha recordes mundiais.

As exigências do Guiness são: qualidade, peso e distribuição. A qualidade vai ser atestada pelo chefe, que avaliar se realmente é um item tradicional. A nutricionista confere a qualidade nutricional da paçoca. Além disso, são avaliados o peso, que vai acontecer na sexta, e a distribuição para a população. Não pode ter desperdício.

O Grupo Rede Amazônica também fez contato com a equipe do Guiness e aguarda resposta.

‘Maior paçoca do mundo’

A história da ‘maior paçoca do mundo’ começou em 2015, quando a prefeitura decidiu servir gratuitamente ao público do arraial porções do prato típico. Naquele ano, foram distribuídos 500 Kg a 20 mil pessoas.

Depois, nos anos seguintes, os recordes foram batidos. A última vez que a paçoca foi servida foi em 2023, onde a quantidade chegou a 1.264 kg.

Desde que iniciou, somente nos anos de 2020 e 2021 não teve paçoca em razão da pandemia de Covid-19, quando o arraial não foi realizado. À época, em 2015, a ideia era levar a iguaria ao Guinness Book, o livro dos recordes, o que ainda não ocorreu oito anos depois.

*Por Yara Ramalho, do g1 Roraima

Programa lança 5 cartilhas sobre cadeias de valor que incluem a região amazônica

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Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de junho, o Programa REM MT realiza o lançamento de cinco cartilhas sobre cadeias de valor apoiadas pelo programa. O babaçu, a castanha do Brasil, o cumbaru e o pequi foram os produtos destaques dessas cartilhas, que mostram toda a história, o cultivo e a importância desses produtos da sociobiodiversidade para o Mato Grosso.

A data de lançamento das cartilhas foi escolhida intencionalmente, pois as cadeias de valor dependem da preservação ambiental para sua subsistência. O Programa REM MT tem uma forte atuação na promoção de atividades que buscam conciliar o uso econômico dos recursos do ambiente com a conservação da biodiversidade e a geração de renda para as comunidades locais, que fomentam a manutenção das florestas em pé, auxiliando não só o meio ambiente como também os agricultores familiares, os povos tradicionais e originários.

A coordenadora geral do Programa REM MT, Ligia Vendramim, explica sobre a importância da valorização desses produtos.

“O fortalecimento de cadeias de valor como o pequi, o babaçu, a castanha e o cumbaru são essenciais para fomento da conservação ambiental, já que, sem floresta não temos esses produtos. Também são essenciais para as diversas comunidades que têm nessas cadeias o seu sustento, a sua história e toda a riqueza cultural e gastronômica”, diz Ligia.

Foto: Divulgação/REM MT

Conheça as cartilhas

Babaçu – Melhores práticas para o manejo sustentável

A cartilha ‘Babaçu – Melhores práticas para o manejo sustentável’, fornece orientações práticas e valiosas para a população sobre a cadeia de valor do babaçu, especialmente para as mulheres que dependem dessa atividade para sua subsistência. O babaçu, uma palmeira nativa de regiões de floresta amazônica, Cerrado e Pantanal, desempenha um papel vital na vida das comunidades rurais, gerando renda e conservação ambiental.

A cartilha reúne informações essenciais sobre técnicas eficientes de extração, manejo sustentável, boas práticas de higiene e segurança no processamento, além de estratégias de mercado.

Confira aqui

Castanha do Brasil – Segredos, usos e conservação

A cartilha ‘Castanha do Brasil – Segredos, usos e conservação’ fornece informações importantes sobre a cadeia de valor da castanha do Brasil, também conhecida como castanha-do-pará ou castanha da Amazônia. A cartilha reúne orientações práticas e valiosas sobre o cultivo, colheita, beneficiamento e comercialização da castanha do Brasil, visando fortalecer essa importante atividade econômica e promover a melhor qualidade de vida às famílias envolvidas, por meio da geração de renda.

Confira aqui

Cumbaru – Fruto rico e nativo do Cerrado

A cartilha ‘Cumbaru – Fruto rico e nativo do cerrado’ reúne informações sobre técnicas eficientes de extração, manejo sustentável e boas práticas de higiene e segurança no processamento do cumbaru, conhecido também como Baru. Muitas famílias encontram no cumbaru uma fonte essencial de sustento, por isso, esse fruto é um verdadeiro tesouro, com alto valor nutricional e apreciado pelas comunidades rurais que podem utilizar seu fruto para produção de castanhas, óleos, farinha, manteiga, tortas e biscoitos, mantendo assim a floresta em pé.

Confira aqui

Pequi – Impacto positivo na sociedade

A cartilha ‘Pequi – Impacto positivo na sociedade’ fornece orientações práticas e valiosas para a população sobre a cadeia de valor do pequi, especialmente para as famílias que dependem dessa atividade.

O pequi é encontrado principalmente na região do Cerrado, no Brasil. Ela é uma espécie fundamental para as comunidades locais, pois sua extração é uma alternativa de renda e alimento para povos tradicionais e agricultores familiares.

Confira aqui

Sosciobiodiversidade – conheça as cadeias de valor do babaçu, castanha do Brasil, cumbaru e pequi

A cartilha ‘Sociobiodiversidade – Conheça as cadeias de valor do babaçu, castanha do brasil, cumbaru e pequi’ é um apanhado geral sobre as cadeias de valor de importantes recursos naturais do solo brasileiro: Babaçu, Castanha do Brasil, Cumbaru e Pequi, mostrando o que há de comum entre essas espécies, que representam uma ecologia extrativa e, ao mesmo tempo, geram renda e mantém a floresta em pé.

Os frutos e matérias extraídas dessas plantas estabelecem práticas ecológicas que mantém a tradição e o sustento de comunidades locais, povos tradicionais e agricultores familiares sem a degradação ambiental.

Confira aqui

*Com informações do REM MT

Pesquisador do Museu Goeldi participa de pesquisa que descobriu 3 novas espécies de cobras corais

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Em estudo publicado na revista científica Systematics and Biodiversity, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, do Steinhardt Museum of Natural History e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, apresentam três novas espécies de cobras corais do gênero Micrurus, distribuídas pelas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, em partes da Mata Atlântica e da Caatinga.

Micrurus bonita, Micrurus janisrozei e Micrurus anibal foram os nomes dados pelos pesquisadores às novas espécies de cobras corais. Micrurus bonita é uma homenagem à ‘Maria Bonita’, personagem histórica do cangaço e símbolo da cultura nordestina brasileira. 

Micrurus janisrozei homenageia o biólogo e especialista em cobras corais Janis A. Roze e a Micrurus anibal faz uma homenagem em memória de Anibal Rafael Melgarejo Gimenez, herpetólogo e toxicologista uruguaio radicado no Brasil que contribuiu para os estudos das cobras brasileiras, especialmente as cobras corais.

A descoberta é resultado da pesquisa de doutorado de Lywouty Nascimento, sob a orientação da Dra. Ana Lúcia Prudente, do Laboratório de Herpetologia do Museu Goeldi.

Leia também: Entenda a diferença entre as cobras coral-verdadeira e falsa-coral

A publicação também conta com as contribuições de Roberta Graboski, que atualmente realiza suas pesquisas no Laboratório de Herpetologia no Steinhardt Museum of Natural History, na Universidade de Tel Aviv e Nelson Silva Jr., do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Saúde, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. 

Abordagem integrativa

Tradicionalmente, os estudos taxonômicos, responsáveis pela descoberta e descrição de novas espécies de seres vivos, são baseados em evidências morfológicas, isto é, a partir da análise acurada da forma e da estrutura dos organismos.

As características morfológicas desempenham um papel fundamental em diagnosticar a diversidade de espécies, como as cobras corais, todavia, para tornar ainda mais aprimorada a descrição de novas espécies, os pesquisadores do Museu Goeldi destacam a necessidade de uma abordagem integrativa, agregando outros tipos de análises para alcançar uma delimitação taxonômica mais precisa e minuciosa do gênero.

Segundo a publicação, algumas serpentes classificadas como sendo a Micrurus ibiboboca já foram confundidas com outras cobras corais do nordeste brasileiro devido às similaridades nos seus padrões de cor e no formato das suas escamas cefálicas, o que torna a identificação morfológica mais difícil e leva ao aumento de ocorrências de erros taxonômicos.

Para se ter uma ideia, atualmente o grupo de cobras Micrurus possui mais de 80 espécies reconhecidas e distribuídas geograficamente desde o sudeste dos Estados Unidos até o sul da América do Sul. No Brasil, 38 espécies já foram identificadas como sendo pertencentes a este grupo. Agora, com a nova descoberta, mais três espécies, até então confundidas com a Micrurus ibiboboca, passam a compor esse quantitativo. Como abordagem integrativa, além da análise morfológica, os pesquisadores também realizaram análises moleculares para chegar ao resultado da pesquisa.

Estudos taxonômicos incluindo conjuntos de dados moleculares são essenciais para avaliar e inferir de maneira mais acurada a diversidade do gênero Micrurus, e são uma poderosa ferramenta taxonômica para identificar e descobrir novas espécies. 

Coleções científicas

“As coleções servem de base para os estudos sistemáticos e taxonômicos. A descrição de uma nova espécie passa pelo processo de análise comparativa de espécimes preservados nas coleções científicas”, explica a Drª Ana Lúcia Prudente.

Os pesquisadores construíram um conjunto de dados geográficos com 492 amostras de 130 localidades para as espécies que fazem parte do grupo da Micrurus ibiboboca. Foram incluídos espécimes examinados em coleções científicas e utilizados apenas exemplares cuja identificação e origem foram confirmados. Para realizar este estudo, a equipe de pesquisadores visitou coleções herpetológicas de diferentes instituições científicas do Brasil, Estados Unidos, França e Reino Unido.

Ana Lúcia Prudente pontua que, “ao comparar esse material da Caatinga e da Mata Atlântica, observamos diferenças significativas no padrão de cor. Isso nos levou a uma investigação mais aprofundada de outros complexos de caracteres, incluindo as moléculas”.

Por meio de análises nas amostras das coleções, os pesquisadores descobriram que as diferenças significativas nos padrões de cores das populações de Micrurus ibiboboca estavam relacionadas à cor do focinho, número e comprimento dos anéis triadais e no padrão de cores dos primeiros anéis brancos das tríades (uma sequência de três anéis pretos, separados por dois anéis brancos e intercalados por dois anéis vermelhos).

Os resultados demonstram a importância das coleções científicas para os identificação de novas espécies e análise contínua da diversidade biológica. Além disso, evidenciam que as regiões da Mata Atlântica e Caatinga são áreas de alta biodiversidade, com incidência de espécies endêmicas e ameaçadas, o que chama a atenção para a necessidade fundamental de preservação desses biomas.

“Infelizmente não se sabe o status de conservação dessas espécies, pois a descoberta é a primeira parte desse processo. E cada espécie descoberta apresenta um potencial único, mostrando também o próprio potencial de biomas como a Mata Atlântica e a Caatinga em relação à descoberta de novas espécies”, destaca o pesquisador Lywouty Nascimento.

Muitas espécies do próprio gênero Micrurus ainda permanecem pouco conhecidas, com várias linhagens divergentes incluídas em complexos de espécies. Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento da Mata Atlântica – SAD, evidenciaram uma queda contínua no desmatamento do bioma no ano passado, mas apesar desse registro, ainda assim a área desmatada entre janeiro e agosto de 2023 foi de 9.216 hectares.

Segundo Lywouty, “em um ambiente cada vez mais degradado, a gente perde a biodiversidade. Mas a pesquisa mostra que mesmo com toda a degradação que a Mata Atlântica sofreu e ainda sofre, ainda há espécies novas a serem descobertas”. 

*Com informações do Museu Goeldi

Oito povos indígenas da área de influência da BR-319 já possuem protocolos de consulta

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Povos indígenas da área de influência da BR-319 deram um passo importante para a garantia do cumprimento na Convenção nº169 sobre Povos Indígenas e Tribais, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que é lei no Brasil desde 2004 por meio Decreto Presidencial nº 5051.

Agora, indígenas Kagwahiva do sul do Amazonas Tenharin Marmelos, Tenharin do Igarapé Preto, Tenharin do Rio Sepoti, Parintintin, Jiahui e Juma; Mura das Terras Indígenas Lago Capanã e Lago Jauari, e os Apurinã das Terras Indígenas Apurinã do Igarapé São João e do Igarapé Tawamirim de Tapauá, possuem protocolos de consulta. No total são nove protocolos de oito povos, o Kagwahiva é o protocolo coletivo que contempla os grupos Tenharin, Juma, Jiahui e Parintintin.

A iniciativa representa um marco histórico, pois esta é a primeira vez que estes povos se organizam e criam seus protocolos de consulta. Isso quer dizer que, a partir de então, os indígenas possuem um documento sistematizado onde dizem como e em que circunstâncias querem ser consultados sobre qualquer iniciativa, pública ou privada, que possa afetar seus territórios e modos de vida.

Os protocolos foram oficialmente lançados durante um grande evento realizado no dia 24 de abril, durante o 20º Acampamento Terra Livre (ATL), na tenda da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Na ocasião, o secretário-geral da Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira (Opiam), Nilcelio Jiahui, ressaltou a importância destes protocolos para o diálogo entre as comunidades, governo e empresas.

“Esses protocolos estabelecem como queremos ser consultados sobre grandes projetos que impactam diretamente nossas vidas e territórios” disse. Ele destacou a necessidade dessas ferramentas em contextos de grandes obras, como as obras de repavimentação da BR-319, que provocam intensos debates sobre seus impactos ambientais e sociais nos territórios.

Vanessa Apurinã, gerente de monitoramento territorial da Coiab, destacou a importância crítica dos protocolos de consulta para as comunidades indígenas e tradicionais.

“Os protocolos de consulta representam mais do que simples documentos; eles são os pilares fundamentais que sustentam o diálogo respeitoso e equitativo entre as comunidades, o governo e as empresas,” afirmou Vanessa. “Eles são a expressão concreta da autodeterminação e da soberania dos povos sobre seus territórios e modos de vida”, completou.

Vanessa também observou que, embora em muitos lugares esses protocolos não sejam respeitados, quando aplicados corretamente, “podem contribuir significativamente para uma gestão mais eficaz do território, garantindo a proteção dos direitos das comunidades e a preservação de suas tradições e recursos naturais”, completou.

Marcela Menezes, da coordenação colegiada do Programa Povos Indígenas do IEB, explicou que os povos impactados pela repavimentação da BR-319 desenvolveram seus protocolos de consulta em seus próprios territórios, em um processo iniciado em 2020, com a formação de pesquisadores indígenas. Desde então, técnicos dos programas de Povos Indígenas e Ordenamento Territorial do IEB vêm prestando apoio às comunidades da região para a elaboração desses protocolos de consulta.

Roberta Andrade, coordenadora do programa de Ordenamento Territorial (Ordam), destacou a função dos protocolos: “Eles atuam como ferramentas de proteção e diálogo. Quando utilizados de acordo com as normas de consulta prévia, livre e informada estabelecidas pela Convenção nº 169 da OIT, e realizadas de boa-fé, facilitam acordos benéficos entre as partes”, disse. “Aplicados corretamente, esses protocolos previnem conflitos e asseguram que os projetos desenvolvidos em territórios indígenas e tradicionais respeitem plenamente os direitos desses povos”, acrescentou Roberta.

Protocolos representam mais proteção aos territórios

O direito à consulta livre, prévia e informada tem a ver com a autodeterminação dos povos indígenas e tradicionais e está previsto não só na Convenção nº 169 da OIT, mas também na Constituição federal de 1988, que garante a estas populações o respeito a sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, além da proteção da cultura, especialmente as populares, indígenas e afro-brasileiras, nos artigos 215 e 231.

“Quanto ao aspecto jurídico, os protocolos de consulta materializam um direito posto tanto no âmbito internacional de direitos humanos, por meio da Convenção nº 169 da OIT, como no plano do direito interno, uma vez que o direito à consulta nada mais é do que forma de expressão democrática e participativa de grupos socialmente vulnerabilizados”, explicou a assessora jurídica do Programa Povos Indígenas do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Stefany Schmidt.

“Além disso, lograr o êxito de efetivamente possuir o protocolo de consulta de seu povo, cumpre o papel de preencher uma lacuna procedimental que, por vezes, é instrumentalizado como obstáculo contra os povos indígenas e tradicionais, visto que a sua ausência, frequentemente, é utilizada como impedimento intransponível para qualquer tentativa de realização de consultas prévias e informadas, bem como, de participação democrática de processos que perpassam direitos dos povos indígenas e direitos difusos de recorte ambiental”, completou.

Segundo Ministério Público Federal, a consulta é uma obrigação do Estado brasileiro de consultar, adequada e respeitosamente, povos indígenas e tradicionais, a respeito de sua posição sobre decisões administrativas e legislativas capazes de afetar suas vidas e seus direitos. É um direito dos povos indígenas de serem consultados e participarem das decisões do Estado brasileiro por meio do diálogo intercultural marcado pela boa fé. Esse diálogo deve ser amplamente participativo, ter transparência, ser livre de pressões, flexível para atender a diversidade dos povos e comunidades indígenas e ter efeito vinculante, no sentido de levar o Estado a incorporar o que se dialoga na decisão a ser tomada.

Em relação ao fortalecimento da luta por direitos dos povos indígenas da área de influência da BR-319, Stefany avalia que “os protocolos de consulta desses povos, mais do que nunca, têm finalidade de garantia e proteção territorial, e surgem num momento determinante dentro dos processos de discussão e diálogo acerca do avanço do processo de licenciamento ambiental da BR-319, de modo a garantir a efetiva participação dessas populações que, afinal, serão os maiores impactos pelo retorno da operação da rodovia”. E acrescenta: “Diante disso, o fortalecimento para esses grupos surge a partir da função de salvaguarda que o protocolo de consulta assume diante de empreendimentos dessa magnitude. Assim, seguramente, os protocolos de consulta garantem maior participação democrática desses grupos, efetiva liberdade de expressão e maior proteção de direitos territoriais”.

“Eu recomendo que os territórios que ainda não construíram seus protocolos busquem parcerias para elaborarem os seus próprios, a fim de garantir seus direitos à consulta e à autodeterminação. A consulta deve ocorrer com os parentes, da forma como cada povo determina, porque o Brasil é signatário da Convenção 169, e é obrigação do Estado nos ouvir”, afirmou Nilcelio Jiahui.

Ele ressaltou que esses protocolos também são instrumentos que possibilitam a construção de agendas com órgãos governamentais para o diálogo com os povos indígenas.

Em breve, quatro das comunidades tradicionais do Território de Uso Comum (TUC) do Rio Manicoré, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Amapá, do Lago do Capanã Grande e do Projeto de Assentamento Agroextrativista Jenipapo, todos localizados na região de Manicoré (AM), também concluirão seus protocolos de consulta.

Relembre: Em 2022, o Observatório BR-319 se manifestou por meio de uma nota de posicionamento sobre emissão de licença prévia do trecho do meio sem a realização de consultas aos povos e comunidades impactados.

Confira os protocolos:

Protocolo de consulta do povo Apurinã das TIs Apurinã do Igarapé São João e Apurinã do Igarapé Tawamirim

Protocolo de consulta do povo Tenharin do Igarapé Preto

Protocolo de consulta do povo Pain Jiahui

Protocolo de consulta da TI Juma

Protocolo de consulta dos povos Kagwahiva do sul do Amazonas

Protocolo de consulta dos povos Mura e Munduruku

Protocolo de consulta do povo Parintintin das TIs Nove de Janeiro e Ipixuna

Protocolo de consulta do povo Tenharin da TI Sepoti

Protocolo de consulta da TI Tenharim Marmelos

Texto produzido com informações do IEB e publicado pelo Observatório BR 319