Saiba para quê serve e quais os benefícios do cumaru, a baunilha da Amazônia

Diversos estudos apontam que o potencial da planta engloba frutos, sementes, flores e tronco, o que colabora para sua fama internacional. 

O cumaru (Dipteryx odorata) é uma planta exclusiva da floresta pluvial Amazônica – do Acre até o Maranhão – e suas sementes são muito populares na gastronomia. Tanto, que ganharam fama por serem conhecidas como a “baunilha brasileira”.

E apesar de seu nome já ser bem conhecido, ainda possui diversos outros, conforme o Laboratório de Produtos Florestais:

Baru, Camaru-ferro, Cambaru, Cambaru-ferro, Catinga-de-boi, Champagne, Champanha, Combari, Coração-de-negro, Cumari, Cumaru-amarelo, Cumaru-da-folha-grande, Cumaru-de-cheiro, Cumaru-do-amazonas, Cumaru-escuro, Cumaru-ferro, Cumaru-rosa, Cumaru-roxo, Cumaru-verdadeiro, Cumarurana, Cumaruzeiro, Cumbari, Cumbaru, Cumbaru-ferro, Cumbaru-roxo, Emburama-brava, Fava-tonca, Fava tonka, Tonka beans, Faveira-tonca, Ipê-cumaru, Kumbaru, Muimapajé, Muirapapé, Muirapayé, Paru, Sacupembinha, Sapucaia, Sucupira e Sucupiramirim.

Sementes secas de cumaru. Foto: Fred Beneson/’Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial – Plantas para o Futuro – Região Norte’

Potência

Foto: Reprodução/LPF

Diversos estudos apontam que o potencial da planta engloba frutos, sementes, flores e tronco. As sementes, com cheiro adocicado, são muito apreciadas em sobremesas, deixando-as perfumadas. E é justamente seu rendimento na gastronomia que a diferencia da baunilha comum: uma fava sua pode aromatizar mais ou menos dois litros de cremes ou de leite, o que corresponde a duas favas de baunilha. Por isso, pode substituir a baunilha em receitas que levam leite, como pudins, bolos, tortas e, além de outras receitas, até mesmo cerveja.


Esse é um dos fatores que colaboraram para sua fama internacional. “A comercialização de sementes de cumaru nos municípios de Santarém e Alenquer, Estado do Pará, ocorre a mais de 30 anos, com média anual de 5700kg, sendo essa semente destinada ao mercado brasileiro, bem como Japão, Estados Unidos e Europa”, destaca a publicação ‘Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial – Plantas para o Futuro – Região Norte’, do Ministério do Meio Ambiente.

Mas seu perfume não fica somente nas receitas, pois também é possível encontrá-lo em óleos essenciais, perfumes e cosméticos.  A espécie está entre as principais da Amazônia utilizadas na indústria cosmética, sobretudo a semente, a qual fornece um extrato com odor agradável e adocicado. Além de seu perfume, a cumarina (anidrido cumarínico, princípio ativo dessa planta – essência aromática usada como narcótico e estimulante, obtido a partir das sementes) também funciona como fixadora de essências e é largamente utilizada com este propósito na perfumaria. “Alguns exemplos de perfumes reconhecidos que utilizam a cumarina ou o extrato de cumaru são ‘Dune’ de Christian Dior, ‘Armand Basi’ e ‘Pela Luz dos Olhos Teus’ da Avon, e o desodorante ‘Frescor Ekos Cumaru’, da Natura“, destaca a publicação.

“As sementes de cumaru, conhecidas como fava tonka na Europa, foram amplamente procuradas como fonte de cumarina e o Pará alcançou em 1913 uma exportação de 42.298kg, quando a mesma foi procurada para aromatizar tabaco nos Estados Unidos, porém sua importância comercial decaiu consideravelmente, após a descoberta da cumarina sintética”, informam os autores.

Outro potencial das sementes de D. odorata, que possuem entre 34% e 40% de um óleo amarelo claro que contém ácidos graxos como o ácido linoleico, entre outros componentes importantes para a saúde, também envolve medicamentos. É descrito o uso do fruto na medicina tradicional, sendo eficaz no alívio da dor de ouvido e no tratamento da pneumonia.

Também ganha destaque na medicina tradicional como um tonificante natural para o coração, ajuda a aliviar os sintomas da asma, consegue facilitar o fluxo menstrual – diminui a cólica, entre outras funções, mas é preciso frisar que pode ser tóxica se consumida em grandes quantidade e seu consumo deve ser orientado por médicos.

“Araújo et al. (2004) ressaltam que a cumarina possui um grande potencial de produção e mercado consumidor e que projetos e empresas incentivam a fabricação de produtos com matérias-primas da Amazônia, apoiando o desenvolvimento sustentável da região, mas um dos maiores obstáculos de produção de cumarina encontra-se no manuseio e cuidados com a saúde do trabalhador na fábrica de extração, uma vez que a cumarina não pode ser ingerida ou inalada”, esclarecem.

Vale destacar ainda, que a madeira da árvore de cumaru é explorada comercialmente devido a qualidade dos móveis obtidos a partir dessa matéria-prima e também nas construções navais e civil

Conservação da espécie 

De acordo com os autores, o plantio de D. odorata “é importante e deve ser estimulado, uma vez que, apesar de não ser uma espécie ameaçada em extinção, em florestas naturais a densidade de plantas não ultrapassa três indivíduos por hectare (Rêgo, 2014)”.

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia desenvolveu marcadores moleculares para espécies nativas e, em torno de 23 espécies, já possuem marcadores SSR desenvolvidos, tanto para caracterização quanto para estudo de genética de populações, incluindo a espécie D. odorata, que possui grande potencial econômico, uma vez que essa espécie possui tantas aplicações. “Dessa forma, estudos de viabilidade produtiva, assim como de conservação da espécie são importantes para o desenvolvimento regional”, afirmam.

“Pastore-Junior e Borges (1998) destacam que um estudo mais aprofundado do mercado de cumaru pode ajudar a entender como é possível estimular a demanda e agregar valor ao produto regional, com preços de mercado competitivos frente aos substitutivos já existentes no mercado”, concluem.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Quem é o Yanomami que sobreviveu ao ataque de onça e cura foi atribuída a milagre em Roraima

Quase 30 anos depois do ataque, Papa Francisco reconheceu milagre atribuído ao padre italiano José Allamano, que tratou o indígena Sorino Yanomami. Na época, Sorino perdeu parte do cérebro.

Leia também

Publicidade