No Dia Nacional da Onça-pintada, especialistas comentam sobre a necessidade de prevenir queimadas e fortalecer as áreas de proteção.
No Dia Nacional da Onça-pintada, comemorado neste domingo (29), o animal que é considerado o maior felino das Américas trava uma batalha pela própria sobrevivência diante da devastação ambiental e das ações do homem.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a população estimada da espécie em todo o país até 2019 era de 55 mil animais, sendo a maior parte localizada na Amazônia, com um total 40 mil onças-pintadas na região.
O felino está classificado como “vulnerável” no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (ICMBio) e está ameaçado principalmente pela perda de seu habitat natural, que são as florestas.
Segundo o coordenador do Programa de pós-graduação em Ciências Florestais e Ambientais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Rogério Fonseca, que é especialista em onças, para mudar a realidade no que diz respeito à devastação e aos impactos no mundo animal torna-se necessário que haja uma reformulação no atual sistema de combate a incêndios em áreas florestais.
“A gente tem muito o que comemorar, mas ainda não é o bastante. As queimadas estão afetando as onças, e isso se deve à falta de um planejamento preventivo dos incêndios florestais na região. Não basta apenas combater, mas é necessário que haja um controle e planejamento para evitar que incêndios florestais aconteçam”, comentou.
Com o recorde de incêndios florestais em 2019 e os mais de 90 mil focos de queimadas na Amazônia, a devastação causou prejuízo também entre espécies da fauna, como a onça-pintada.
De acordo com uma pesquisa do Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza (WWF), o maior felino das Américas vem sofrendo diante do aumento das queimadas. O estudo mostrou que cerca de 500 onças-pintadas podem ter sido afetadas pelas queimadas na região, em decorrência do aumento histórico das queimadas na região, no ano passado.
O mapeamento foi feito a partir de análises de imagens de satélites das áreas queimadas, considerando o número de onças estimado no artigo da revista científica Plos One, que indica a existência de dois indivíduos a cada 100km² de área, e, com isso, chegou-se ao resultado.
Segundo o especialista em conservação do WWF Brasil, Marcelo Oliveira, e membro do grupo de estudos da Aliança Onça-Pintada, a intensificação de incêndios florestais é a maior causa da perda da população de onças.
“Qualquer atividade que reduza a floresta é um problema para as populações de onças. A Amazônia é um grande refúgio para a onça, porque ela é um grande contínuo florestal. As onças têm bastante espaço para viver lá. Se a gente pensar que as queimadas se intensificam na Amazônia, então certamente isso vai ter um impacto”, comentou.
O especialista destacou a necessidade de serem realizados programas governamentais que se comprometam com a prevenção e o controle do desmatamento, ação secundária à queimada, na Amazônia. Ele citou, ainda, a questão da segurança nas fronteiras, o garimpo ilegal e a disputa por terras indígenas como fatores interligados à situação das queimadas.
“É preciso manter parques nacionais e reservas, terras indígenas, que são os grandes refúgios das onças. Precisamos de fortalecimento das áreas protegidas, e temos uma política ambiental que vai na contramão de tudo isso”, finalizou.
De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, a onça-pintada pertence à categoria “quase ameaçada” de extinção. Esse risco resulta, principalmente, segundo especialistas, do aumento do desmatamento e das queimadas de diversas regiões, que diminuem o habitat desses animais.