Foto: Roberto Dziura Jr/AEN
Uma pesquisa científica envolve diversos protagonistas, cada um com um papel essencial para garantir a credibilidade e o rigor do estudo. O Portal Amazônia conversou com a bióloga entomóloga e pesquisadora do Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Kátia Matiotti, sobre como funciona todo esse processo em pesquisa com insetos.
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Uma das inúmeras dúvidas que surgem quanto a esse processo é saber, por exemplo, quantas pessoas em média são envolvidas nesse tipo de pesquisa científica. De acordo com Kátia Matiotti, esse número pode variar dependendo do estudo específico escolhido.
Entre os profissionais podem estar envolvidos:
- pesquisadores entomologistas;
- taxonomistas;
- ecólogos;
- pesquisadores de bioacústica
- profissionais que trabalham com citogenética e molecular.
- alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
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Além de ter contribuição de várias áreas e profissionais, por meio de parcerias, como os parasitologistas e microbiologistas. A especialista explica o papel de cada um nas pesquisas em campo:
- Entomólogo – estuda e realiza coletas no campo em busca de insetos para análise e triagem do material em laboratório.
- Taxonomista – tem a função de identificar, classificar e descrever espécies novas.
- Ecólogo – tem a função analisar e compreender as interações dos seres vivos com o meio ambiente, buscando compreender as relações entre os diferentes componentes de um ecossistema.
- Pesquisador de bioacústica – captura e analisa sons dos insetos.
- Citogenética – realiza a análise dos cromossomos e os de molecular tem função de extrair e analisar o DNA.
Como um pesquisador escolhe o tema de seu trabalho?
A escolha de um tema de pesquisa acadêmica deve estar relacionada com algo que pode ser encontrado na literatura existente e ter um foco suficientemente restrito, para que seus objetivos sejam claros e bem integrados.
Uma das preferências, conta a doutora, é pesquisar um grupo/espécie que não tenha especialistas ainda trabalhando.
“A escolha certa impacta diretamente a qualidade da pesquisa, a viabilidade do projeto e principalmente a satisfação pessoal do pesquisador em trabalhar com o respectivo grupo”, relatou.

Após a missão de escolha do tema da pesquisa, começam os trabalhos até a publicação, que são:
Estudos preliminares: uma etapa essencial da pesquisa científica em que se faz um levantamento de questões que já foram publicadas ou não sobre o tema;
Trabalho de campo e coleta de dados: coleta no campo, triagem, montagem, tombamento em coleções registradas oficialmente;
Análise de dados: relaciona as informações coletadas com as suas primeiras hipóteses de pesquisa científica;
Avaliação: apresenta o estudo para um conjunto de especialistas na área que vão validar o que foi pesquisado.
Por fim, é necessário expor o trabalho em eventos científicos – congressos, simpósios, publicar artigos e outros tipos de materiais que divulguem o estudo.
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O trabalho de um entomologista e a descoberta de novas vacinas
De modo geral, os entomologistas estudam os insetos e sua relação com os humanos, outros organismos e o meio ambiente. Kátia explica que o estudo dos insetos abre o caminho para desenvolvimentos em controle químico e biológico de pragas, produção de alimentos, diversidade biológica e uma variedade de outros campos da ciência.
Segundo a entomóloga, estes especialistas frequentemente trabalham com outros cientistas em projetos conjuntos. Vale mencionar que esses profissionais também podem trabalhar com outras áreas como os parasitologistas ou outros microbiologistas para desenvolver novas vacinas – como a da dengue – e medicamentos que combatam os insetos que espalham doenças. Para tal, eles investigam maneiras de controlar pragas de insetos, parasitas e predadores.
O estudo dos insetos tem ajudado muitos cientistas a resolverem problemas relacionados com hereditariedade, evolução e outras questões. Ela lembre que muitos insetos são importantes por fazerem parte da ‘teia trófica’ de outros animais de interesse para a sociedade, como aves, peixes e alguns mamíferos.
Desafios da pesquisa científica
O custo elevado da pesquisa, segundo a doutora, é um dos fatores de bastante relevância quando se fala em desafios, sendo um ponto crucial e necessário obter apoio financeiro de bolsas de pesquisas, que servem para custear as viagens das coletas, gasolina, materiais de coleta e de laboratório, hospedagem e visitas a museus.
O financiamento de pesquisa científica no Brasil é realizado por diferentes instituições de fomento, incluindo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e agências estaduais.
Essas agências oferecem apoio financeiro e estrutural para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no país. Mas, segundo Kátia, esses apoios apenas são possíveis se estiver ligado a uma Instituição de pesquisa ou universidade.
Além dos recursos financeiros, estão também as questões regulatórias; burocracias do poder público; legislação de importação; comércio internacional; investimento na carreira de pesquisador; valorização do profissional cientista e incentivo.
*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar