Líder indígena brasileiro e ambientalista, Raoni Metuktire é conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas.
Na democracia brasileira, existem alguns rituais burocráticos e outros não obrigatórios. A passagem da faixa presidencial, por exemplo, é um gesto simbólico e não tem impacto de fato na transição de poder.
Na cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada no dia 1° de janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro optou por não comparecer ao evento de passagem da faixa. Até então, o último ocupante do cargo que não havia realizado o ato foi João Figueiredo, em 1985, com José Sarney, que se tornaria o primeiro presidente civil após a ditadura militar.
Com isso, 8 representantes da sociedade civil realizaram a simbólica entrega da faixa. Dentre eles, o Cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças indígenas do país e membro honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
De acordo com a ONG francesa Planète Amazone que mantém parceria com o cacique através da Aliança dos Guardiões da Mãe Natureza, Raoni Metuktire nasceu no início da década de 1930, na aldeia Krajmopyjakare, no nordeste do Mato Grosso, na Amazônia Legal.
Até meados da década de 1950, o povo Kayapó (autodenominado mebêngôkre) não tinha contato com o mundo exterior e era nômade. Em 1954, os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas conheceram o cacique, em uma expedição pela região para identificar áreas onde pretendiam instalar núcleos habitacionais. Foi com eles que o líder kayapó ampliou suas noções sobre a língua portuguesa e sobre o mundo do “homem branco”.
Uma das características culturais que chama bastante atenção quando se observa o cacique é um grande alargador em sua boca, cuja simbologia representa um guerreiro disposto a morrer pela sua tribo. O cacique também costuma usar um cocar de penas amarelas.
Demarcação e reconhecimento internacional
Na década de 60, o cacique acompanhou os irmãos Villas-Bôas para demarcar o centro geográfico do Brasil, às margens do rio Xingu, local onde o povo kayapó vive até hoje.
A partir de 1964, passou a ser reconhecido mundialmente pela sua atuação ambiental, em um momento que a mineração e o agronegócio passaram a crescer exponencialmente no País. Raoni conheceu o então rei Leopoldo 3º da Bélgica e dezenas de outros líderes estrangeiros.
A fama se consolidou quando o cineasta belga Jean-Pierre Dutilleu fez um documentário sobre o cacique e seu povo. Nos anos 1980, o cineasta apresentou Raoni ao cantor britânico Sting. Anos antes da popularização das marchas pelo clima e das conferências globais sobre meio ambiente, a dupla rodou o mundo pedindo apoio à preservação das florestas e aos direitos dos povos indígenas. A partir daí, foram décadas de luta contra as ameaças aos povos indígenas por conta de fatores como desmatamento, mineração e garimpo ilegal.
No site do Instituto Raoni, que reúne informações sobre sua história, descrevem: “Teve forte atuação na Assembleia Constituinte em 1987 e 1988 junto ao movimento indígena, a qual resultou na inclusão dos direitos fundamentais dos povos indígenas na Constituição Federal de 1988. Em 1989, conseguiu mobilizar a imprensa mundial para a cobertura do “Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu”, em Altamira (PA), contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Xingu (que incluía a usina Kararaô, que retornaria anos depois como Usina Hidrelétrica de Belo Monte), resultando no abandono do projeto”.
“Na década de 90 e a partir do ano 2000, Cacique Raoni realizou inúmeras viagens pelo mundo e conquistou o apoio de importantes lideranças e personalidades internacionais, que resultaram no levantamento de fundos internacionais para a demarcação de terras indígenas brasileiras, bem como na tomada de consciência do público em geral sobre a necessidade de proteger a floresta amazônica e suas populações nativas”.
Trecho de apresentação do Instituto Raoni.
Defensor dos direitos dos povos indígenas, nos últimos quatro anos o cacique manteve o ativismo e fez várias críticas ao governo em relação ao aumento das taxas de desmatamento. O clímax ocorreu quando Raoni solicitou que o Tribunal Penal Internacional investigasse o governo de Jair Bolsonaro por “crimes contra a humanidade” por perseguir os povos indígenas e infringir seus direitos.
Outros representantes do povo na posse
Além do Cacique Raoni, outras sete pessoas foram escolhidas para representar o povo brasileiro na entrega da faixa presidencial:
- Francisco Carlos do Nascimento, uma criança negra de 10 anos, moradora de Itaquera, periferia de São Paulo.
- Aline Sousa, de 33 anos, catadora de recicláveis desde os 14 anos, terceira geração de catadores na família.
- Weslley Viesba Rodrigues Rocha, de 36 anos, é metalúrgico do ABC Paulista desde os 18 anos.
- Murilo de Quadros Jesus, de 28 anos, é professor, formado em letras português e inglês e mora em Curitiba.
- Jucimara Fausto dos Santos, cozinheira e paranaense nascida em Palotina, dedicou sua vida à cozinha e contribuiu voluntariamente na Vigília Lula Livre.
- Ivan Baron é um jovem influencer potiguar que tem paralisia cerebral. É referência na luta anticapacitista e considerado um dos embaixadores da inclusão.