Portal Amazônia responde: como funcionam os processos de enchente e vazante dos rios?

Todos os anos, os fenômenos naturais de cheia e vazante ocorrem na Amazônia, de forma lenta e gradativa, chamados de ‘pulso de inundação’.

O Rio Negro, no Amazonas, começou o ano subindo aos poucos, até que começou a subir “para valer” no fim de janeiro. Foram 14 centímetros somente no dia 30 de janeiro e desde então ele continuou o processo de subida comum ao período na Amazônia

Até o momento em que esta reportagem foi produzida (07/03), o nível do Rio Negro em Manaus já passava da marca de 24 metros. Com a subida das águas, a Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social (Semseg) começou os preparativos para a ‘Operação Cheia 2023’, juntamente com representantes de secretarias do município. 

Segundo o Boletim de Monitoramento Hidrometeorológico da Amazônia Ocidental, emitido no dia 3 de março, pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em São Gabriel da Cachoeira o rio desceu 32 centímetros, enquanto nas estações de Tapuruquara e Barcelos, o rio continua subindo, apresentando um número considerado alto para o período. No medidor em Manaus, foi registrada uma subida de 55 centímetros na última semana que, segundo o órgão, apresenta cotas dentro da normalidade pelo período.

Oficialmente, o rio começou o seu processo de enchente, tendo o seu pico geralmente nos meses de junho e julho. Mas, afinal, como funcionam os processos de enchente e vazante e como os especialistas os medem?

O Portal Amazônia conversou com a pesquisadora colaboradora do Instituto Mamirauá, Alice Fassoni, para ajudar a entender como esses processos acontecem.

“O Rio Amazonas tem um processo de cheia bastante previsível, no sentido de que sabemos quando ocorre a seca e a cheia. [Isso] é chamado de pulso de inundação”, 

adiantou a pesquisadora.

Foto: Karina Pinheiro/Portal Amazônia

Segundo Alice, na bacia amazônica, o processo, quando por fatores naturais a água aumenta, é conhecido como enchente e ocorre entre dezembro e maio. O ciclo natural segue e, após atingir sua cota máxima, que muda anualmente, as águas do rio começam a descer, criando o fenômeno conhecido como vazante, entre junho e novembro.

O ciclo faz parte do dia a dia do amazônida e, de tempos em tempos, cheias e secas históricas são registradas e mudam completamente a dinâmica agrícola, social e até cultural. 

Foto: Reprodução /Estudo ‘Increased floodplain inundation in the Amazon since 1980’

O movimento da água nos processos hidrológicos ocorre de forma diferenciada. Por exemplo, no Estado do Amazonas ocorrem as inundações graduais, em espaço-tempo diferente, ou seja, no primeiro trimestre do ano, a cota de inundação ocorre nos municípios das calhas dos rios Juruá, Purus e Madeira, enquanto no segundo trimestre ocorre nos municípios das calhas do Solimões, Amazonas e Negro. As vazantes ou estiagens ocorrem no segundo semestre do ano no Estado.

Aumento da inundação de várzea na Amazônia desde 1980

Em fevereiro de 2023 foi publicado por um grupo de pesquisadores, liderados por por Ayan Fleischmann e Alice Fassoni, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), um estudo apontando que houve um aumento da inundação de várzea na Amazônia desde 1980.

Eles aponta que “a composição, produtividade e ciclos de vida da biota dos rios e planícies aluviais são adaptados aos regimes sazonais de inundação, incluindo a pesca que sustenta a alimentação humana e a segurança de renda”.

Foto: Reprodução /Estudo ‘Increased floodplain inundation in the Amazon since 1980’

Segundo o estudo, com base em medições fluviais, pesquisas recentes mostraram níveis máximos de água mais altos na Amazônia desde o final da década de 1990 ligados a um aumento de aproximadamente 17% nas chuvas da estação chuvosa na parte norte da bacia de 1981 a 2017, impulsionada por mudanças na temperatura da superfície do mar nos oceanos Pacífico e Atlântico.

“A bacia do rio Amazonas tem enfrentado vários eventos extremos na última década. Aqui, usamos dois modelos hidrológicos e múltiplos conjuntos de dados de sensoriamento remoto para investigar as mudanças na dinâmica de inundação da Amazônia desde 1980 […] Tais mudanças têm múltiplas consequências para os ecossistemas de várzea e para as pessoas que dependem deles. Governos locais a nacionais, bem como organizações internacionais, devem fortalecer as medidas de mitigação, especialmente para as populações vulneráveis em todo o sistema de várzea do rio Amazonas. Há, portanto, uma necessidade urgente de compreender as mudanças, criar resiliência aos seus impactos e mitigar os seus vetores na medida do possível”,  alertam no estudo.

 Referências

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