Pesquisas revelam identidade amazônica em objetos arqueológicos

As pesquisas interpretam o que populações ancestrais queriam comunicar nas representações de elementos físicos e visuais encontradas em objetos diversos.

Pesquisadores revelam a complexidade amazônica através dos tempos. O dossiê divulgado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi de Ciência Humanas contempla análises de uma estética amazônica, que, encontrada em objetos arqueológicos, persiste.

As pesquisas interpretam o que populações ancestrais queriam comunicar nas representações de elementos físicos e visuais encontradas em objetos diversos.

Autores no dossiê “Arte, arqueologia e agência na Amazônia” se valem de elementos figurativos e imagens presentes em objetos arqueológicos como elementos de fundamento na interpretação do modus vivendi e das visões de mundo de populações pretéritas. Exercício inerente à arqueologia, nesse conjunto de artigos, no entanto, as interpretações se pautam nos elementos estéticos.

Do Marajó ao rio Napo que nasce nos Andes equatorianos, com uma proposta de integração da arqueologia com a antropologia da arte e a etnologia, as contribuições exploram diversos suportes desde peças de vestuário como as tangas e outros adornos até urnas funerárias.

Para esses pesquisadores e pesquisadoras, lançar mão dos elementos físicos e dos recursos de imagem presentes nos objetos arqueológicos é revelador de “práticas cotidianas e rituais que envolvem a produção, a utilização e o descarte destes materiais”, dizem os organizadores Erêndira Oliveira, Emerson Nobre e Cristiana Barreto no texto de apresentação.

Em onze artigos, autores discutem a produção material em várias proposições estéticas que em seu conjunto apontam identidade. De acordo com os organizadores, eles e outros autores, com contribuições no volume, se utilizaram de: “universos estéticos da Amazônia antiga em diferentes contextos e a partir de distintos materiais”.

Nessa contribuição, os cientistas buscaram na cultura material inspiração para expor “a circulação dos artefatos arqueológicos no presente e suas formas de ressignificação,” informam. De acordo com o referencial por que se pautaram, os objetos são “veículos de comunicação, negociação e reprodução cultural” e, ao se constituírem em arte, são capazes de mobilizar socialmente de acordo com o pensamento de Alfred Gell. É desse antropólogo britânico o conceito de “tecnologia do encanto”, um sistema técnico composto pelas diversas artes. “Nessa perspectiva, objetos de arte seriam fruto de uma atividade técnica de transubstanciação engenhosa de materiais e das ideias a eles associados,” informam Hélio Menezes e Rafael Hupsel no verbete Arte – Alfred Gell na Enciclopédia de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP).

Contribuições indígenas e uma abordagem decolonial constam dos artigos que compõem o dossiê, em interpretações sobre os processos de manufatura e aspectos utilitários de objetos. Ao final, três artigos tratam das apropriações e ressignificações de objetos e imagens na atualidade. 

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