Literatura amazônica: conheça livros que ajudam a desbravar a região sem sair de casa

Quem costuma ler desenvolve uma série de habilidades como a criatividade, vocabulário e escrita, além de ficar por dentro dos mais diversos assuntos. E que tal saber mais sobre a Amazônia?

“E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”: esse é um trecho de João 8:32, encontrado na Bíblia, o livro mais vendido e lido do mundo. Por isso, o ato da leitura é imprescindível para quem deseja conhecimento. Quem costuma ler desenvolve uma série de habilidades como a criatividade, vocabulário e escrita, além de ficar por dentro dos mais diversos assuntos.

E entre esses assuntos: o quanto você conhece da Amazônia? Será que você se daria bem em um debate sobre a região amazônica? Pensando nisso, o Portal Amazônia reuniu em uma lista 10 livros que falam sobre a Amazônia sobre os mais diversos olhares. Confira:

‘Amazônia: Por uma economia do conhecimento da natureza’, de Ricardo Abramovay 

O atual modelo de desenvolvimento, produtivista-consumista, levará muito provavelmente a humanidade à autodestruição. Precisamos denunciar o processo de degradação em curso e construir uma outra forma de organização social e econômica que nos permita viver e conviver harmoniosamente com a natureza, da qual fazemos parte.

A Amazônia está no centro do debate sobre a crise ambiental, não apenas para o nosso país, mas para todo o mundo. O estudo aqui publicado, apoiado nas pesquisas mais recentes sobre a região, oferece dados e análises preciosos para interrompermos a “economia de destruição da natureza” e possibilitarmos a emergência de uma “economia do conhecimento da natureza”.

O estudo mostra, entre outras coisas, que, até 1960, apenas 1% do território da Amazônia havia sido desmatado, e hoje são 20%. Entre 2004 e 2012, houve significativa redução do desmatamento, mas, depois, voltou a crescer. Em 2016, o Brasil foi o sétimo emissor mundial de gases de efeito estufa: deste total, 51% foram causados pelo desmatamento.

Nos últimos meses, tem havido um verdadeiro descontrole por parte do governo em favor de um processo que corre o risco de levar à savanização e desertificação da Amazônia. É possível, demonstra o autor, com apoio em práticas que já ocorrem na Amazônia, mudar a situação, reverter o quadro negativo, valorizar a experiência e a vida dos povos tradicionais, combinar a sua cultura com os avanços da ciência e da tecnologia, apoiar e ampliar as unidades de conservação.

Dando o devido valor à maior área de biodiversidade do Planeta, o Brasil tem condições de oferecer uma contribuição global fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Esperemos que este trabalho ajude a tomar consciência da gravidade da situação em que nos encontramos, com riscos tanto para o Brasil como para o mundo, e que enveredemos com urgência na mudança de rumo da qual necessitamos.

‘Em busca da Amazônia esquecida’, Laure Garancher (2022) 

O que está sob a copa das árvores da maior floresta do mundo? Uma vez densamente povoada, a Amazônia é uma floresta “virgem” somente no nome. Em um ambiente em que os sinais arqueológicos são discretos, onde é preciso saber aventurar-se por horas de caminhada e canoagem, e onde você pode rapidamente se perder, cada pista se torna importante. 

Ao lado de uma equipe de pesquisadores, Laure Garancher se aventurou entre as lianas da Amazônia. Além das profissões científicas pouco conhecidas, ela ajuda a descobrir os mistérios das chamadas “montanhas coroadas”.

‘Além da Conquista’, Scotty Wallace (2013)

Dez anos atrás, Scott Wallace surpreendeu o mundo com seu relato em primeira mão, publicado pela National Geographic, sobre a existência de tribos isoladas na floresta Amazônica. Em Além da conquista, Wallace relata essa extraordinária jornada no território indígena do vale do Javari em busca dos misteriosos flecheiros – uma tribo raramente avistada e conhecida por afastar todos os invasores com uma chuva de flechas mortais.

À frente da expedição de 34 homens está o sertanista veterano Sydney Possuelo, o carismático fundador da Coordenação Geral de Índios Isolados, um departamento da FUNAI, responsável por proteger as últimas tribos isoladas das doenças e da violência trazidas pela sociedade.

Mas, para proteger a tribo, Possuelo precisa de informações que só podem ser coletadas entrando no submundo da floresta, lugar de permanente penumbra. O perigo acompanha a expedição a cada passo enquanto Possuelo e sua equipe, ao mesmo tempo, procuram pelos flecheiros e tentam evitar contato com eles.

Rico em detalhes sobre a conturbada história da Amazônia e apresentando um elenco de personagens inesquecíveis – todos conduzidos pela paixão por preservar a natureza -, Além da conquista revela esse crítico campo de batalha na forma de uma cativante aventura.

‘Rondon: uma biografia’, de Larry Rohter (2019) 

No início da tarde de 26 de abril de 1914, um grupo de dezenove homens chegou à confluência de dois rios no coração da selva amazônica. Durante meses eles enfrentaram uma sucessão de dificuldades e privações para realizar um feito notável: navegar e mapear um rio ainda desconhecido, chamado rio da Dúvida, porque seu curso e comprimento eram um mistério. Os líderes dessa expedição eram Theodore Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos, e o brasileiro Cândido Mariano da Silva Rondon, que há mais de vinte anos explorava a região.

Depois que a jornada com Roosevelt chegou ao fim, Rondon continuaria por muitos anos seu importante trabalho, que incluiu o levantamento de rios, montanhas e vales até então ignorados, a instalação de quilômetros de linhas telegráficas, a construção de estradas, pontes e a fundação de povoamentos. Foi também Rondon quem primeiro estabeleceu contatos pacíficos com dezenas de etnias indígenas. Em 1910, fundou o Serviço de Proteção aos Índios, em um esforço de inclusão dos índios ao Estado nacional brasileiro.

Hoje Rondon empresta seu nome a ruas, museus, cidades e até a um estado, Rondônia. O lema que norteou suas expedições e contatos com os povos indígenas ― “Morrer se preciso for, matar nunca” ―, porém, se perdeu no tempo, e muitos de seus incríveis feitos como explorador permanecem ignorados.

A grandiosidade de seus feitos inspirou o jornalista Larry Rohter a mergulhar por mais de cinco anos em sua trajetória, oferecendo agora ao leitor brasileiro um livro que redimensiona o lugar de Rondon na história do Brasil.

‘A Amazônia no século XXI: novas formas de desenvolvimento’, de Violeta Refkalefsky Loureiro (2009)

Apontar saídas interrogar os problemas atuais e analisar a Amazônia brasileira são os pontos centrais deste livro que procura avaliar os desafios que a região enfrenta em pleno século XXI. 

A autora analisa e critica os modelos utilizados no passado e no presente discute vários temas que simbolizam a região amazônica – do agro-negócio à siderurgia da pecuária à exploração dos minerais e a realidade dos ribeirinhos índios caboclos e negros – mas propõe fundamentalmente vias para que não se perpetuem os erros cometidos demonstrando que há um futuro para a maior floresta tropical do planeta.

‘Um outro olhar para a Amazônia’, Moema Pinheiro Veloso (2019) 

Frequentemente se fala sobre as muitas riquezas, a biodiversidade e a “devastação” da Amazônia. Mas quantos conhecem a sua realidade? Ainda vista como o El Dorado, considerável parte de suas riquezas são exportadas, deixando pouca contribuição para melhorar a vida de seus habitantes. No geral, o que permanece são impactos sociais e ambientais negativos.

A Amazônia não é só floresta, não é um vazio e tampouco é inculta. Sob seu “manto verde” há uma rica sociodiversidade com cerca de 13 mil anos de história. Porém, poucos se lembram dos povos amazônicos, de suas lutas, aspirações e conquistas.São eles os verdadeiros guardiães daquele imenso território. É valorizando os amazônidas que se protegerá a região, não significando com isto floresta intocada, mas desenvolvimento que respeite sua complexidade.

‘A queda do céu’, de Davi Kopenawa e Bruce Albert (2015) 

Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica.

Publicada originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. A queda do céu foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade – foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador.

A vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam este livro. O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo.

Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami – com intuição profética e precisão sociológica – chamam de “povo da mercadoria”.

‘Histórias da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI’, de Márcio Souza (2019) 

O livro definitivo sobre a história da Amazônia do período pré-colombiano aos dias atuais, de um dos autores que melhor interpretou a região. A Amazônia, que desde sempre atraiu viajantes e exploradores como um local desconhecido e misterioso, ocupa um lugar privilegiado na obra de Márcio Souza. 

Unindo suas perspectivas de sociólogo, historiador e crítico literário, ele se dedicou à tarefa de registrar esta História da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI, abrangendo a totalidade de um território geográfico e histórico entrecortado pelas relações sociais e de poder político de nove Estados-Nação e centenas de etnias, sem esquecer os diversos grupos sociais de interesse, de todos os tamanhos, nacionais e internacionais.

Até agora foi uma história contada, de forma fragmentária, por gente da metrópole, por cientistas da América do Norte e da Europa, por professores oriundos das universidades nacionais, marcando para sempre a forma de ler os fenômenos sociais da região. Mas a história da Amazônia é algo que interessa a todos que decidiram se envolver na sua construção, sejam intérpretes, coadjuvantes ou protagonistas. A região não é apenas uma geografia, e sua história é muito mais que um viveiro de criaturas exóticas de futuro incerto. É a história de uma parte do planeta habitada por seres humanos, que, sendo território geográfico, é também espaço em que a humanidade pode aprender um pouco mais sobre si mesma.

Cobrindo desde o período pré-colombiano até os dias atuais, a obra trata de aspectos geográficos e antropológicos, valoriza a pluralidade étnica e vai além de favorecer a compreensão de um povo em sua dimensão geopolítica e cultural. Ao analisar os ataques constantemente perpetrados ao meio ambiente, muitas vezes com aval e incentivo das máquinas governamentais, incentiva uma reflexão sobre o que seria uma economia sustentável e a necessidade de buscar alternativas.

Com esta História da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI, o autor não apenas preenche uma lacuna bibliográfica, mas reafirma a importância do resgate da memória da Amazônia, buscando aguçar o pensamento crítico dos leitores.

‘Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo’, de Eliane Brum (2021) 

Escritora, jornalista e documentarista, Eliane Brum faz um mergulho profundo nas múltiplas realidades da maior floresta tropical do planeta. Com quase 35 anos de experiência como repórter, há mais de vinte ela percorre diferentes Amazônias. Em 2017, adotou a floresta como casa ao se mudar de São Paulo para Altamira, epicentro de destruição e uma das mais violentas cidades do Brasil desde que a hidrelétrica de Belo Monte foi implantada.

A partir de rigorosa pesquisa, Brum denuncia a escalada de devastação que leva a floresta aceleradamente ao ponto de não retorno. E vai mais além ao refletir sobre o impacto das ações da minoria dominante que levaram o mundo ao colapso climático e à sexta extinção em massa de espécies. Neste percurso às vezes fascinante, às vezes aterrador, a autora cruza com vários seres da floresta e mostra como raça, classe e gênero estão implicados no destino da Amazônia e da Terra.

Um livro imprescindível para quem tem a coragem de buscar respostas para o tempo de urgência que vivemos, escrito por quem não teme se arriscar para buscá-las.

‘Povos Originários: Guerreiros do Tempo’, de Ricardo Stuckert (2022) 

Na primeira viagem que fez à Amazônia, em 1997, a imagem de uma mulher Yanomami ficou gravada na memória do fotojornalista Ricardo Stuckert. Quase 20 anos depois, quando voltou à aldeia para fotografá-la outra vez, decidiu assumir a missão de registrar de forma mais ampla a vida dos indígenas brasileiros – uma maneira de prestar-lhes um tributo e ao mesmo tempo torná-los mais conhecidos ao redor do país. O resultado desse tributo é o livro Povos originários.

Com o olhar amoroso e a habilidade técnica de sempre, Stuckert capturou a beleza e a alma dos povos originários do Brasil em imagens grandiosas, de forte impacto: a mãe que amamenta o filho; as crianças que brincam no rio; o ritual da ayahuasca; o arco e a flecha do caçador; o pajé majestoso; a canoa entalhada no tronco; o Kuarup, homenagem anual aos mortos; o jovem casal grávido; o velho cacique Raoni.

Dividido em capítulos que retratam 10 etnias – Yanomami, Ashaninka, Yawanawá, Kalapalo, Kayapó, Pataxó, Kaxinawá, Xukuru-Kariri, Korubo e povos isolados – Stuckert destaca a importância daqueles que estão na linha de frente da luta pela preservação dos nossos recursos naturais. Entre tudo e todos, onipresente, a floresta. “A fotografia é minha forma de vida, é a maneira como eu vejo o mundo”, ele diz. E Povos originários é a sua visão dos homens e das mulheres que estão na linha de frente da preservação de recursos naturais de importância capital para a vida em todo o planeta.  

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Cartilha reúne pesquisa botânica de 30 espécies arbóreas da trilha principal da Funbosque

O objetivo é a preservação desse fragmento de floresta secundária e o desenvolvimento sustentável, a partir da proteção e da conservação de atributos bióticos, abióticos, estéticos e culturais.

Leia também

Publicidade