Cultura milenar e tecnologia: Indígenas leiloam NFTs para proteger a floresta

O projeto tem o intuito de proteger a comunidade ‘Sete de Setembro’ do desmatamento, extração ilegal de madeira, além de reduzir emissões de carbono.

Detentores de uma cultura milenar, é inegável o conhecimento dos indígenas sobre a fauna e flora amazônica. O uso de plantas para fins medicinais, dentre outros, faz parte do cotidiano dos povos indígenas desde antes da chegada dos europeus no continente sul-americano.

Com o decorrer dos séculos e o desenvolvimento tecnológico, os povos indígenas se mantiveram fieis aos seus costumes e tradições, porém, alguns desses povos se adaptaram ao mundo de fora das aldeias, aderindo à ferramentas tecnológicas, como internet, smartphones e redes sociais.

Mais recentemente, o povo indígena Paiter Suruí lançou uma iniciativa para leiloar NFTs de obras de arte digitais, também conhecidas como criptoarte, que terão 95,5% dos ganhos revertidos para eles.

O objetivo é aliar tecnologia à cultura milenar para contribuir para o monitoramento de queimadas, preservação do meio ambiente e proteção de comunidades indígenas.

Foto: Barbara Parawara/Acervo pessoal

Povo Paiter Suruí

Os povos Suruí são um grupo indígena que habitam regiões dos Estados de Rondônia e Mato grosso. Autodenominam-se Paiter, que significa “gente de verdade, nós mesmos”.  Os paiter suruí falam uma língua do grupo Tupi e da família linguística MondéAo longo de sua história, o povo enfrentou diversas lutas, desde invasão de terras, ameaças de violência, ações de mineradoras até omissão de órgãos governamentais.

O intenso crescimento populacional em Rondônia a partir da década de 60 resultou em conflitos fundiários e pressão sobre áreas indígenas. Nesse contexto, os Paiter Suruí foram oficialmente contatados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1969, por meio dos sertanistas Francisco Meirelles e Apoena Meirelles, no então acampamento da Funai, ‘Sete de Setembro’, quando visitaram o acampamento, fundado um ano antes, no dia sete de setembro de 1968. Até hoje, o território que ocupam recebe esse nome.

Apesar das pressões que sofrem, os Paiter Suruí ainda mantêm muito das suas tradições, tanto no que diz respeito à cultura material quanto aos aspectos cosmológicos, que se relacionam, ambos, com a cultura de outros grupos Tupi Mondé.

Afinal, o que é NFT?

Imagine uma obra de arte, só que de maneira digital. Esse arquivo possui um selo digital que garante sua autenticidade. Isso é uma NFT, cuja sigla traduzida para o português significa “tokens não fungíveis”.

Por exemplo, um artista cria uma colagem digital ou até mesmo uma fotografia. Ele pode disponibilizar a obra em uma ferramenta associada. No caso das obras do povo Paiter Suruí, a plataforma utilizada foi o Mercado Bitcoin.

‘Cosmovisão Tupinambá da Amazônia’, colagem digital de Moara Tupinambá será leiloada como NFT. Foto: Moara Tupinambá

Obras

No total, 12 obras estão sendo leiloadas até o próximo dia 15 de fevereiro e 95,5% dos ganhos serão revertidos ao Projeto de Gestão e Vigilância Territorial do Povo Indígena Paiter Suruí. Um dos objetivos é proteger a comunidade ‘Sete de Setembro’ do desmatamento, extração ilegal de madeira, além de reduzir emissões de carbono. 

Na linha de frente do projeto estão lideranças como o Cacique Almir Suruí e suas filhas, Walelasoetxeige Suruí (Txai Suruí), que foi a única brasileira a discursar  na COP26, e Walelasoepilemãn Suruí, conhecida como Pí.

Leia também: Conheça Txai Suruí, a indígena que foi a única brasileira a discursar na COP26

Pí Suruí é fotógrafa e enviou imagens de seu trabalho para serem leiloadas. ‘Liberdade de Sentir’ mostra sua irmã em uma cachoeira após um dia de trabalho. Em outra obra,  retrata uma visita ao povo Uru-Eu-Wau-Wau, também de Rondônia. Confira as imagens a seguir:

Obra ‘Liberdade de Sentir’, fotografia de Pí Suruí, retrata banho de cachoeira da irmã, Txai Suruí — Foto: Walelasoepilemãn Suruí

Obra ‘Pescaria’— Foto: Walelasoepilemãn Suruí

Além de Pí, há personalidades indígenas como Moara Tupinambá, Denilson Baniwa e Barbara Parawara. Em seu  instagram, Txai Suruí fala sobre o projeto:

No momento, o  leilão está disponível na plataforma Mercado Bitcoin, acesse por aqui.

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