Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia
Na maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, experiências locais mostram que a tecnologia pode ser uma aliada poderosa na preservação ambiental. Durante o sexto painel do Amazon On 2025, ‘Da Amazônia para o Mundo 2: experiências locais em conectividade e sustentabilidade influenciando o planeta’, especialistas apresentaram iniciativas que levam internet a regiões remotas e transformam realidades sociais, econômicas e ambientais.
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Samuel Possebon, diretor editorial da Teletime e moderador do painel, destacou que sua missão no encontro foi integrar as diferentes experiências apresentadas, buscando pontos em comum que possam gerar aprendizados e soluções replicáveis.
“Na verdade, eu, como moderador do evento, estou aqui para tentar fazer com que as histórias contadas possam ser conectadas. Temos casos do Nordeste, da Amazônia, de organizações consolidadas e de iniciativas que estão começando agora. O objetivo é identificar lições, desafios e transformá-los em projetos que possam inspirar outras regiões”, afirmou.
Para ele, a importância de um evento do porte do Amazon On, realizado em Manaus (AM) entre os dias 20 e 21 de agosto, está justamente em unir sustentabilidade e tecnologia em uma agenda inédita e inovadora, colocando a Amazônia no centro das discussões globais.
“Não tem como pensar no futuro da Amazônia sem discutir conectividade. Qualquer atividade humana, seja econômica ou social, depende disso. O que estamos fazendo aqui é mostrar como a região pode estar mais conectada e, ao mesmo tempo, servir de exemplo para o mundo”, afirmou.
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Participaram do painel, além de Possebon: José Roberto Nogueira, diretor presidente da Brisanet Telecomunicações S.A.; Patricia de Oliveira Abreu, diretora de Sustentabilidade e Projetos na Entidade Administradora da Faixa de 3,5GHz (EAF/Siga Antenado); Izi Caterine Paiva Alves, representante do Projeto Conexão Povos da Floresta; Daniel Gryndberg, diretor executivo da +Unidos; e Virgílio Viana, superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

Durante o painel, o diretor presidente da Brisanet, José Roberto Nogueira, contou sobre a criação da empresa e seu foco na comunicação. “A BrisaNet é um projeto que começou em 1998, exatamente pela extrema necessidade de conectividade. Não existia telefone na região, então eu fui para São Paulo, por 21 anos, e tentava me comunicar com a minha região, e tinha um déficit muito grande de comunicação”, destacou.
Com essa dificuldade, Nogueira buscou soluções e fez seu primeiro experimento no Nordeste. Ele conta que transformou um equipamento que foi projetado para um alcance de 30 metros, que é o Wi-Fi, ser adaptado.
“Eu fabriquei antenas, desenvolvendo um sistema de comunicação, e consegui chegar de 30 metros a 90 quilômetros de alcance. Então eu fiz a primeira operação internet via Radio, no Brasil, e investi 10 mil dólares. E com esses 10 mil dólares eu conectei mais de seis cidades, conectando as comunidades em um raio de 90 quilômetros”, contou.
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A diretora de sustentabilidade e projetos da EAF/Siga Antenado, Patrícia Abreu, falou sobre outro projeto que também olha para a conectividade. Neste projeto a estrutura é diferente, pois conta com seis infovias com mais de 9 mil quilômetros de cabos subaquáticos.
“Queremos conectar escolas, hospitais, postos de saúde e forças de segurança de maneira estruturada. Mas conectividade não basta: é preciso ensinar as pessoas a usar a rede com consciência. O projeto Terra Preta leva habilidades digitais para que cidadãos saibam identificar notícias falsas, acessar programas governamentais e gerar informação de qualidade a partir da própria Amazônia”, exemplificou.
Vivências com a falta de conectividade são motivadoras de investimentos na Amazônia
Quem trouxe a vivência da dificuldade de conectividade na floresta amazônica foi Izi Caterini, representante da ‘Rede Conexão Povos da Floresta’. Ela ressaltou que a iniciativa nasceu de demandas das próprias comunidades.
“Nosso objetivo é conectar mais de oito mil comunidades e beneficiar mais de um milhão de pessoas. Não se trata apenas de internet: conectividade significa acesso a direitos, proteção do território e fortalecimento cultural. Já chegamos a 800 comunidades na Amazônia Legal, com infraestrutura de energia e gestão comunitária da rede”, afirmou.
Daniel Grynberg, da +Unidos, também mostrou um projeto criado para a conectividade na região amazônica. Ele apresentou os resultados do programa ‘Rede Amazônia Mais Conectada’.
“Em apenas seis meses, mais de 600 famílias no oeste do Pará viram sua renda crescer 45%. Pessoas que nunca usaram Pix hoje vendem seus produtos online e fazem cursos sem sair de casa. O desafio não é só levar internet para perto, mas fazer com que ela chegue à casa das pessoas”, disse.
Para finalizar, Virgílio Viana, da FAS, destacou que a tecnologia de ponta pode ser uma aliada decisiva na superação da pobreza e dos desafios sociais na região amazônica. Segundo ele, a estratégia da FAS é “cuidar das pessoas que cuidam da floresta”, promovendo prosperidade para comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas.
“Por meio da rede Conexões Povos da Floresta, a fundação já leva internet a cerca de 1.900 comunidades, utilizando antenas que viabilizam não apenas a comunicação, mas também serviços essenciais, como telesaúde, educação, empreendedorismo e combate a crimes ambientais, transformando a conectividade em ferramenta concreta para o desenvolvimento sustentável”, falou.
O consenso entre os participantes do painel foi unânime: integrar tecnologia, conectividade e conhecimento local não é apenas uma oportunidade para a Amazônia, mas um modelo de desenvolvimento sustentável que pode inspirar o mundo inteiro.
