Cobras possuem ouvidos? Saiba como as cobras percebem o ambiente

Com a audição e visão quase ineficazes, as cobras conseguem ser animais extremamente rápidos. As serpentes podem usar quimiorreceptores, calor e até a própria cauda para reconhecer presas e parceiros.

Com sistemas de audição e visão na maioria das vezes ineficazes, as cobras conseguem ser animais extremamente rápidos.  A aceleração imposta pela força muscular das cobras é maior do que 30 vezes a aceleração da gravidade, por exemplo.

Para se ter uma ideia, pilotos de caça bem treinados perdem o controle de seus membros em acelerações oito vezes superiores à gravidade.

Leia também: As cobras também “soltam pum”?

Mas, se cobras possuem audições ineficientes, como elas percebem o ambiente ao seu redor, seja para caçar ou até mesmo se comunicar? O Portal Amazônia explica:

Foto: Reprodução/A. P. Lima

Afinal, cobras possuem ouvidos?

A resposta é: não. Diferentemente dos humanos e outros seres, as serpentes não possuem ouvido “externo”. Contudo, conseguem perceber sons de baixa frequência e, para compensar, são capazes de perceber movimentos muitas vezes despercebidos por nós.

As cobras possuem as estruturas internas do ouvido e os sons do ambiente são conduzidos ao osso quadrado (que conecta a maxila à mandíbula), e transmite o som a outros ossos localizados na estrutura mais interna do corpo.

O osso quadrado das serpentes auxiliam na transmissão do som. Foto: Reprodução/How Stuff Works

O mestre e doutor em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (Inpa), com foco em répteis, Patrick Viana, explica que devido as cobras não vocalizarem, também não houve necessidade de evolução da audição:

“As serpentes não vocalizam, não se comunicam por meio de sons, ou seja, não houve uma necessidade evolutiva de se manter estruturas refinadas para a captação, interpretação  e reconhecimento de frequências sonoras. Dessa forma, essas estruturas mais simples que elas possuem, atuam apenas captando pequenas vibrações que auxiliam na percepção do ambiente”. 

informou Viana.

Percepção química 

Uma das maneiras das cobras perceberem e interagirem com o ambiente é por meio da percepção química. As cobras possuem uma língua bífida (que apresenta bifurcação) que capta micropartículas no ar que são interpretadas pelo órgão de Jacobson. 

Com isso, a cobra consegue identificar odores de presas e predadores e inclusive identificar parceiros sexuais. Por essa razão as cobras estão sempre “dardejando”, que é o costume de colocar a língua para fora e capturar partículas e processar as informações do ambiente. 

Língua bífida das cobras capta micropartículas do ambiente, interpretadas pelo órgão de Jacobson, de forma muito semelhante aos cheiros interpretados pelo nosso nariz. Foto: Igor Fernandes/Projeto Suaçuboia

Percepção térmica

Outras serpentes, como as víboras neotropicais,  representadas por jararacas, surucucus e cascavéis, possuem um sistema de percepção térmica constituído pelas fossetas loreais, localizadas entre as narinas e os olhos.

Se caracterizam por estruturas muito sensíveis à radiação infravermelha emitida pelo corpo das presas. quando é mais alta do que a temperatura do ambiente. 

Essa característica é uma poderosa ferramenta utilizada por víboras que caçam durante a noite, na região de Manaus.

A fosseta loreal da jararaca ajuda o animal a perceber o ambiente através do calor. Foto: Bruna Paino/Museu Biológico Instituto Butantan

Dia ou noite?

O biólogo Patrick Viana ressalta que dependendo do estilo de vida da serpente, elas podem “perceber” melhor o ambiente de dia ou de noite:

“Imagine, uma serpente que se alimenta apenas de morcegos [animais que são noturnos/crepusculares em sua grande maioria], não faz muito sentido para essa serpente estar ativa durante boa parte do dia, sendo que seu alimento é mais ativo pela noite. Da mesma forma uma serpente que se alimenta de passarinhos diurnos, consequentemente elas serão mais ativas de noite. E assim funciona na busca de parceiros, comida, uso do ambiente, cada uma com seu estilo próprio de aproveitar as melhores condições do ambiente onde elas se encontram”.

exemplificou.

Uso da cauda como forma de percepção

Um pouco mais distante da região amazônica, a serpente-marinha-oliva (Aipysurus laevis) utiliza receptores de luz na cauda para localizar a superfície da água nos oceanos.

Esta foi uma adaptação importante para a sobrevivência da espécie no ambiente marinho, porque nem sempre é fácil determinar o caminho para a superfície quando se está dentro da água.

Serpente-marinha-oliva. Foto: Reprodução/BioDiversity4All


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