Candiru: especialista desmitifica ataques do ‘peixe-vampiro’ na Amazônia

O candiru é um dos principais pesadelos dos turistas que frequentam as praias da Amazônia, mas será que a sua fama é tudo isso?

Na Amazônia, existe um “peixinho” que assusta muitos banhistas que desejam nadar nos rios da região: o candiru. Ele é conhecido como ‘peixe-vampiro‘ e sua fama é de entrar nos orifícios do corpo humano, como por exemplo, o pênis. A equipe do Portal Amazônia conversou com o especialista em diversidade e biogeografia de peixes de água doce, Fernando Dagosta, que desmistificou muitas informações sobre o candiru.

Podendo medir até 30 centímetros, o peixe é da família Trichomycteridae, que engloba mais de 280 espécies, com cerca de 40 gêneros. De acordo com Dagosta, o candiru é hematólogo, ou seja, se alimenta de sangue, por esse motivo, ele recebe o apelido de ‘peixe-vampiro’.

Foto: Arquivo Pessoal/Fernando Dagosta

Do Rio Amazonas em direção ao Peru, existem muitos rios de águas brancas, que drenam parte dos Andes, como os rios Purus, Madeira e Caquetá. As águas desses rios são recheadas de candirus. A principal fonte de alimentação desses animais são os peixes.

Os candirus costumam se alojar nas brânquias dos peixes. Eles entram pelas guelras, fazem um pequeno machucado e se alimentam. Depois de saciar sua fome, os candirus esperam uma oportunidade e abandonam o hospedeiro.

“Eles funcionam como se fossem pernilongos aquáticos, ou seja, eles sugam o sangue do seu hospedeiro e fogem. Geralmente, o candiru não permanece dentro do corpo por muito tempo”, 

afirmou o especialista.

Foto: Reprodução/Youtube-João Cordeiro

Ataque em humanos 

Segundo o pesquisador, os ataques de candirus são extremamente raros e poucos registros são documentados. Existem relatos na literatura antiga, narrações em anedotas indígenas e poucos casos médicos confirmados. “Diariamente, milhares de pessoas acessam os rios da Amazônia e não acontece nada. É um evento raro, ou seja, essa informação por si só já deveria tranquilizar os banhistas”, explicou Dagosta.

Os rios da região amazônica escondem perigos mais relevantes do que o candiru, entre eles os poraquês (peixes elétricos), arraias e jacarés. “Os candirus são os bichos que menos vão afetar a vida humana, claro que acidentes podem acontecer, mas outras possibilidades apresentam um risco maior de graves acidentes”, afirmou o pesquisador. 

A urina atrai? 

Em uma pesquisa feita em 2001, pesquisadores brasileiros e norte-americanos da Universidade de Connecticut (The University of Connecticut at Avery Point, em inglês) e do Instituto Nacional de Pesquisas de Amazônia fizeram um estudo para analisar o comportamento do candiru hematófago. O artigo foi publicado no jornal acadêmico Biologia Ambiental de Peixes (Environmental Biology of Fishes, em inglês).

Durante a pesquisa, os especialistas colocaram o candiru em um ambiente controlado e observaram a resposta do animal para algumas subestâncias como a amônia, aminoácidos, muco de peixe e urina humana. Eles não conseguiram nenhum tipo de resposta que apontasse que o candiru se atraia por eles.

Com isso, os pesquisadores não sabem ao certo qual mecanismo faz com que os candirus entrem na uretra de um humano. Afinal, o principal atrativo para o ‘peixe-vampiro’ é o sangue. Segundo Degosta, o que atrai os candirus para os peixes são as substâncias nitrogenadas, que os mesmos soltam quando respiram pelas brânquias. A mesma matéria é encontrada na urina, porém, o estudo mostra que não é esse o caso.

“Acabamos em um impasse por causa deste fato. É um mito ou não? As pesquisas apontam que não, mas é sempre bom se precaver. O importante é ressaltar que o candiru é um animal tranquilo e que busca alimentos. Só que isso não significa que fatalidades possam acontecer”, 

destaca.

Como escapar? 

E tem como escapar do candiru? Para Dagosta, existem várias formas de evitar o contato direito com o ‘peixe-vampiro’. O primeiro é dar preferência para se banhar em lagos, já que os candirus preferem os rios. Eles também gostam de ficar na areia das praias.

Outro fator que pode ajudar é a vestimenta. As pessoas devem usar trajes de banho adequados. “É necessário proteger bem os órgãos genitais, além de evitar defecar ou urinar dentro dos rios”, afirmou o pesquisador.

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