Saiba quais são as diferenças entre os tipos de candirus que vivem na Bacia Amazônica

Quando se fala “candiru” parece que se está mencionando uma única espécie, o que não é verdade. O pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Jansen Zuanon, explica as diferenças.

O candiru é peixe conhecido por ser pequeno e que pode ser encontrado na bacia Amazônica. Mas sua fama vem mesmo é por ser considerado o peixe mais temido da Amazônia por ser capaz de entrar nos orifícios das pessoas, em lugares como uretra, ânus e vagina.

Além disso, existem diversos vídeos espalhados pela internet que mostram cardumes de candirus capazes de comer em minutos carcaças de animais e histórias de pessoas que morrem afogadas e acabam sendo comidas por essa espécie.

Entretanto, quando se fala de apenas “candiru”, parece que se está mencionando uma única espécie, o que não é verdade. Você sabia que existem duas famílias de bagres que são conhecidas como candirus?

Foto: William Costa / Portal Amazônia

O Portal Amazônia conversou com o pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e professor do Programa de Pós-graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior do INPA, Jansen Zuanon, para saber quais são as diferenças.

“Em primeiro lugar, é preciso esclarecer uma questão relacionada ao uso do nome “candiru”. Embora as pessoas geralmente usem esse nome de forma genérica, há duas famílias de bagres que são chamados de candirus. Os candirus verdadeiros pertencem à família Trichomycteridae (em português, podemos chamar de tricomicterídeos). Essa família abriga algumas espécies de candirus que se alimentam de sangue e muco de suas vítimas. Já os candirus que consomem carcaças de outros animais pertencem à família Cetopsidae (em português, cetopsídeos), e são chamados de candiru-açu”, 

explica o professor.

Conhecidos como “peixe-vampiro”, os candirus da família tricomicterídeos reúnem cerca de 200 espécies de pequenos bagres, geralmente de corpo alongado, cabeça pequena e medindo até 15 cm quando adultos. Esses peixes possuem dois tufos de espinhos curtos (chamados de odontódeos, porque são semelhantes a pequenos dentes) nos lados da cabeça, que usam para se agarrar ao corpo das vítimas e para ajudá-los a rastejar sobre pedras molhadas e até subir corredeiras e cachoeiras.

Enquanto os cetopsídeos reúnem cerca de 41 espécies de bagres de corpo liso (sem espinhos ou odontódeos) e roliço, com a cabeça proporcionalmente grande e com musculatura muito forte. O tamanho adulto desses peixes pode variar de 3 cm em espécies do gênero Cetopsidium até cerca de 30 cm em espécies do gênero Cetopsis.

Foto: Reprodução/Ben Cantrell

Candirus verdadeiros (tricomicterídoes) e candirus-açu (cetopsídeos) podem ser encontrados em todos os tipos de água (clara, branca, preta) e em diversos tipos de ambientes, desde pequenos igarapés até grandes rios. Segundo o pesquisador, algumas espécies podem ocorrer até em lagos, mas a maioria prefere águas correntes.

“Os candirus habitam desde pequenos igarapés até grandes rios, e a maior diversidade de espécies ocorre na Bacia Amazônica. Alguns pequenos candirus verdadeiros (tricomicterídeos) passam o dia enterrados na areia ou lama do fundo de igarapés, saindo à noite para se alimentar. Certas espécies de tricomicterídeos passam a vida toda enterrados na areia, onde se alimentam de pequenas larvas de insetos aquáticos e microcrustáceos. Outras espécies de tricomicterídeos preferem as águas rasas de praias arenosas e lamacentas, especialmente as espécies que se alimentam de muco, escamas e sangue de outros peixes. Entretanto, a maioria das espécies de tricomicterídeos se alimenta de insetos aquáticos e outros pequenos animais que são capturados entre as pedras e seixos do fundo de rios e igarapés, ou entre as folhas mortas submersas depositadas no fundo desses ambientes aquáticos”, explica Zuanon,

Espécies podem ser encontradas nos rios da Amazônia. Foto: Murilo Valente-Aguiar et al/Forensic Science Medicine and Pathology

De acordo com o pesquisador, os pequenos cetopsídeos também vivem em igarapés ou rios maiores, onde passam o dia escondidos em frestas de troncos submersos e entre pedras do fundo (gêneros Cetopsidium e Denticetopsis). Esses pequenos bagres se alimentam de pequenos insetos e outros animais aquáticos e terrestres (que caem na superfície da água). 

Já os bagres-folha, do gênero Helogenes (que também são um tipo de candiru-açu), passam o dia descansando entre folhas submersas nos igarapés e saem à noite para capturar pequenos invertebrados. E os candirus-açus maiores (Cetopsis coecutiens e Cetopsis candiru) vivem em grandes rios e se alimentam de carcaças de animais aquáticos e semiaquáticos (peixes, botos, jacarés) e terrestres (que morreram afogados ou caíram na água após a morte). Assim, cada espécie de candiru tem o seu habitat de preferência, onde pode ser encontrada em maior quantidade. 

Existem candirus-verdadeiros hematófagos (que se alimentam de sangue) em todos esses ambientes, mas geralmente os que vivem em igarapés são de pequeno porte (até 3 cm quando adultos), enquanto que as espécies que habitam grandes rios podem chegar a 15 cm. De forma semelhante, os candirus-açus de maior tamanho e que consomem carcaças também são mais abundantes em grandes rios, especialmente em rios de águas brancas como o Solimões/Amazonas, Madeira e Purus.


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