Entre as figuras mais conhecidas do folclore amazônico está uma feiticeira que se transforma no pássaro rasga-mortalha e solta um grito estridente e assustador.
O dia 31 de outubro é conhecido como Halloween ou Dia das Bruxas, uma data tradicional celebrada em países como Estados Unidos, Irlanda e Canadá. A tradição consiste em se fantasiar como figuras que representam filmes de terror ou histórias de suspense.
O Halloween teve origem com o povo celta, que celebrava o festival de Samhain, em que se acreditava no retorno dos mortos à Terra. Neste caso, a festa durava três dias, com início no dia 31 de outubro, quando se agradecia a abundância das colheitas do ano e a transição para o início de um novo ano no primeiro dia de novembro.
A tradição também é celebrada no Brasil, com festas e eventos temáticos. Entretanto, foi criado em 2003 o ‘Dia do Saci’, exatamente no dia 31 de outubro – através do Projeto de Lei Federal n.º 2.762 proposto pelo Deputado Aldo Rebelo. O objetivo é divulgar uma das mais populares histórias do folclore brasileiro. O saci foi escolhido por ser o personagem que prega peças e faz travessuras, tal como é prometido na festa norte-americana.
Na Amazônia, existem diversas lendas sobre figuras que protegem a natureza, como o curupira, a Iara, o Mapinguari, entre outros seres que encantam e refletem o folclore amazônico.
Entre uma das figuras famosas, está a bruxa amazônica Matinta Perera, uma mulher idosa que se transforma no pássaro rasga-mortalha, para amedrontar as crianças e os moradores locais com o seu assobio estridente.
Lenda da Matinta Perera
Muito conhecido na Região Norte, a lenda conta que à noite é ouvido um assobio agudo que acaba assustando crianças e adultos, até que o morador da casa prometa tabaco ou fumo à bruxa.
Ao ouvir o assobio, a pessoa deve dizer: “Matinta, pode passar amanhã aqui para pegar seu tabaco”.
Já no dia seguinte, uma velha aparece na residência onde a promessa foi feita, a fim de apanhar o fumo. A senhora é a pessoa que carregaria a maldição de ‘virar’ Matinta Perera, ou seja, à noite, ela se transforma no ser indescritível que assombra as pessoas.
Caso o dono da casa não cumpra a promessa, Matinta amaldiçoa todos os moradores da casa, com doenças ou até mesmo com a morte.
Características da Matinta Perera
A Matinta Perera pode ser de dois tipos: com asa e sem asa. A que tem asa pode transformar-se em pássaro e voar nas cercanias do lugar onde mora. Enquanto, a que não tem, anda sempre com um pássaro, considerado agourento, e identificado como sendo ‘rasga-mortalha’.
Há quem conte que a sina de se transformar na Matinta é passada de mãe para filha, mas caso a mulher não tenha herdeiras, a bruxa, quando está para morrer, sai perguntando: “Quem quer? Quem quer?”.
Se alguém responder “eu quero”, pensando se tratar de alguma herança de dinheiro ou joias, recebe na verdade a maldição de se tornar a próxima Matinta Perera.
Relatos
Algumas pessoas relatam terem visto essa figura próximo a sua casa. Uma senhora moradora do bairro do Guamá, em Belém do Pará, contou que um dia, na década de 70, um vizinho que morava ao lado de sua casa, Napoleão, a viu no meio da rua por volta das 23 horas e lhe fez um pedido:
“Ei, dona Lúcia, entre! Espere seu marido dentro de casa”,
informou o senhor.
Dona Lúcia perguntou o motivo e ele falou que Matinta estava por perto. A senhora foi para sua casa, e depois de um tempo, ouviu o assobio de Matinta Perera no fundo de seu quintal.
Ela quis descobrir quem seria a bruxa agourenta daquela região, chegando a perguntar ao vizinho, quem seria. Mas Napoleão apenas disse que ela morava perto da casa deles, no canto da rua atrás.
A senhora começou a desconfiar de uma mulher que morava em sua rua, que sempre tinha unhas enormes e pretas, mas que não eram pintadas com esmalte. Dona Lúcia disse que por muito tempo isso aconteceu. Os assobios só acabaram quando a mulher, que ela desconfiava ser a Matinta, morreu.
Um site chamado Mundo Sombrio, que conta histórias de terror, traz o relato de Richard Dylan Silva. Ele havia feito uma viagem para a cidade de Vigia, também no Pará e conta que na primeira noite em que foram dormir, ele conseguiu ouvir Matinta Perera – e até mesmo vê-la entre a mata.
“[…] Após um vento frio, me espantei de madrugada, quando me levantei da rede pude sentir um clima estranho, notando que agora, o único som que eu ouvia era o que vinha da mata que nos rodeava. Entre alguns assobios de pássaros, um se destacou, demorei um pouco para notar, mas esse assobio era detalhadamente como a história que contaram.
Na hora pensei que poderia ser apenas um pássaro qualquer, mas mesmo assim fiquei relacionando com a história, enquanto tentava dormir.
O assobio era exatamente como na história e a cada vez ficava mais distante (segundo a história, significa que a Matinta estaria se aproximando), porém, não dei muita atenção, até que ouvi um grito enorme vindo do lado oposto ao que eu tinha me deitado. [..] Aquilo já não poderia ser mais minha imaginação, incrível que ninguém acordou depois daquele grito enorme. Logo, quando me levantei da rede vi um vulto muito rápido correndo para a mata à minha frente.
Decidi que não dormiria mais nessa noite e fiquei encarando a mata na minha frente até o amanhecer. Imaginação ou não, eu vi um rosto de uma mulher já de idade retribuindo o olhar da mata. Ela não tinha muitos aspectos sociáveis, era como um animal com um olhar assustado. Ela estava lá, como um animal quadrúpede apenas me olhando.”
revela um trecho da história.
É possível pegá-la
Se tiver coragem o suficiente para enfrentá-la, há quem fale que existe um jeito de capturar a bruxa. Para quem deseja testar a armadilha, vai precisar dos seguintes materiais: uma tesoura, chave comum, um terço e uma vassoura nova, nunca usada.
A chave deve ser enterrada e a tesoura fincada em cima do local, já o terço deve ser colocado por cima da tesoura. Toda Matinta que passar por ali ficará presa. Entretanto, depois que ela for libertada, a pessoa deve varrer o local com a vassoura para que a sina não se espalhe.
Outra versão diz que ela também não pode ouvir o nome de qualquer deus enquanto estiver transformada, caso contrário o feitiço acaba.
E você? Já ouviu ou viu a Matinta Perera? Conhece outras histórias de bruxas amazônicas?