Um boto cor-de-rosa espera para ser alimentado por moradores ribeirinhos na região do Rio Negro em Manaus, no Amazonas — Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP
Um é exímio caçador e o outro é amigável e solitário. Os botos tucuxi e o cor-de-rosa são conhecidos na Amazônia pela inteligência e por manterem certo nível de interação com os seres humanos. Ao compartilharem hábitos e características, muitos podem pensar que são animais da mesma família, mas você sabia que eles pertencem a grupos diferentes?
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Segundo a bióloga Fábia Luna, que coordena o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para entender quais são as característica que diferenciam os dois mamíferos aquáticos. Ela explica que:
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- O boto-cor-de-rosa [também chamado cor-de-vermelho], faz parte da família Iniidae, formada por golfinhos exclusivamente de rios sul-americanos.
- Já o tucuxi (Sotalia fluviatilis) é membro da família Delphinidae, que inclui golfinhos marinhos e o boto-cinza (Sotalia guianensis).
Mas como bons golfinhos, os animais também compartilham semelhanças. Por exemplo:
- território, já que vivem nos rios da Amazônia, principalmente na região Norte do Brasil,
- utilizam a ecolocalização para se orientar, ou seja, emitem sons para perceber obstáculos ao redor, localizar presas e navegar nos rios turvos da região.
- Além disso, se alimentam de peixes e outros animais aquáticos.
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Parecidos… mas nem tanto
Segundo Fábio Luna, entre as características que distinguem os botos estão tanto a aparência física: cor, tamanho do focinho e até o nado. Além disso, o comportamento dos dois são distintos, já que esses animais evoluíram de forma diferente.

Aparência
- Boto-cor-de-rosa: tende a ser mais robusto, com rosto ou focinho mais alongado e pode apresentar uma coloração mais rosada, principalmente machos adultos.
- Tucuxi: é menor, com corpo mais hidrodinâmico e coloração cinza, semelhante aos golfinhos marinhos.
Comportamento
- Boto-cor-de-rosa: costuma a ser solitário ou membro de pequenos grupos;
- Tucuxi: é mais social, podendo ser encontrado em grupos maiores, além de ser comparativamente mais rápido e ágil em relação ao boto-vermelho.
Evolução
- Boto-cor-de-rosa: pertence a um grupo de animais evolutivamente mais antigos, com características mais primitivas.
- Tucuxi: é mais recente evolutivamente e diretamente relacionado aos golfinhos marinhos que adentraram nos rios há milhares de anos.
Enquanto os botos tucuxi e cor-de-rosa são abundantes nos rios amazônicos no Brasil, há outras espécies semelhantes em regiões próximas, como explica a bióloga.
Quando nos referimos aos botos-vermelhos estamos abordando as três espécies do gênero:
- Inia geoffrensis – o boto-vermelho-amazônico, mais conhecido, ocupa grande parte da bacia amazônica (AC, AM, AP, PA e RR);
- Inia boliviensis – o boto-da-Bolívia, ocorre em rios da Bolívia e marginalmente no Brasil (RO, MT e AM); e
- Inia araguaiaensis – o boto-do-Araguaia, vive na bacia dos rios Araguaia e Tocantins (GO, MA, MT, PA e TO)”.
Este último foi reconhecido como espécie em 2014, contudo ainda há muitas discussões entre os estudiosos e pesquisadores do grupo quanto ao tema, explica a bióloga.
Mesmo com uma população relevativamente grande, a caça ilegal, a poluição dos rios, além das ruídos provocados pelas embarcações representam ameaças à saúde e à existência das espécies.
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Botos na cultura popular

Figuras importantes no imaginário popular, o tucuxi é visto pelos ribeirinhos como um animal arredio, que costuma fugir do contato humano, enquanto o vermelho é brincalhão e até mesmo agressivo com as pessoas. No entanto, diante da ameaça do vermelho, os tucuxis se unem para proteger a vítima.
A lenda do boto é um dos mitos mais conhecidos da região amazônica e faz parte do folclore brasileiro. Segundo a tradição, o boto-cor-de-rosa se transforma em um homem elegante e, vestido de branco e usando um chapéu (para esconder o furo no topo da cabeça, marca de sua forma animal), ele encanta as mulheres, dança com elas e as seduz.
Diz a lenda que, depois do amanhecer, ele retorna às águas do rio, voltando à forma de boto. Muitas vezes, essa história era usada para explicar gestações inesperadas, dizendo que o pai do bebê era “o boto”.
*Por Agaminon Sales, g1 RO