A Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) é considerada o maior quelônio do continente sul-americano e uma das espécies mais amplamente distribuídas. Chamada entre os ribeirinhos de “tartaruga”, habita os rios, lagos e igapós de grande parte da Amazônia.
As características de reprodução da tartaruga são, no mínimo, interessantes. Embora sejam animais aquáticos, utilizam o ambiente terrestre para desova, garantindo o local adequado à incubação dos ovos e o nascimento dos filhotes.
Agora imagine a cena: mais de 350 mil filhotes de tartarugas nascendo no mesmo período no mesmo lugar. Parece curioso, não? É o que ocorre no Parque Estadual Refúgio de Vida Silvestre Quelônios do Araguaia.
Nas águas do Rio das Mortes, no Mato Grosso, as tartarugas encontram segurança para reprodução da espécie. De acordo com o gerente do parque, Felisberto Alves os filhotes saem dos ovos entre os meses de novembro e dezembro.
Ele explica que o local é resguardado para a reprodução da espécie, e é chamado de reviradouro – praia em que centenas de tartarugas desovam em segurança -. As tartarugas escolhem o local de acordo com a limpeza da areia e tranquilidade da praia.
Berçários
65 dias após os ovos serem colocados, Felisberto começa a prestar auxílio no nascimento das tartarugas que estão em “berçários” ao longo das praias. Os filhotes que estão no reviradouro costumam nascer após 77 dias de postura, sem intervenção humana.
O trabalho de fiscalização é realizado durante todo o ano para impedir a caça e pesca predatória na Unidade de Conservação do estado. De setembro a dezembro, é intensificado o monitoramento.
Preservação dos quelônios
Desde a criação do Refúgio, a luta pela preservação da espécie é constante. O gerente atua há mais de três décadas neste trabalho pelo programa Quelônios da Amazônia (PQA).
O PQA promove, por meio de pesquisa e do manejo, a conservação dos quelônios de água doce na Amazônia Legal e na bacia do rio Araguaia. Estima-se que o projeto já tenha auxiliado no nascimento de mais de 8 milhões de tartarugas ao longo de sua existência.
As tartarugas de água doce são importantes na cadeia alimentar e manutenção de diversas espécies da fauna da região, como outras tartarugas, peixes, entre eles, o pirarucu, um dos maiores peixes de água doce no Brasil. Além disso, a tartaruga é o maior quelônio de água doce da América do Sul, que pode chegar a 50 kg na fase adulta.
Participação social
Conforme o gerente do Parque, a preservação da espécie beneficia diretamente a população do entorno. O excedente de peixes que nascem no Refúgio coloniza áreas fora da reserva, servindo de alimento para a subsistência dos ribeirinhos e tribos indígenas.
Diante da necessidade de envolvimento da comunidade com as Unidades de Conservação, como principais usuários dos recursos naturais, a Sema-MT faz a mobilização de moradores da região e capacitação para que possam participar dos processos de gestão das espécies e seus habitats.
Sobre o refúgio
A Unidade de Conservação está situada em uma área de 60 mil hectares de Cerrado Proteção Integral, localizada nos municípios de Ribeirão Cascalheira, Cocalinho e Novo Santo Antônio.
Foi criada a partir da Lei n.º 7520/01, em 28 de setembro de 2001, para assegurar a existência e reprodução de tartarugas, de animais e plantas de diversas espécies, contribuindo para a preservação da diversidade biológica.