​Animais e renovação: alguns animais amazônicos têm tudo a ver com novo ciclos

Novos ciclos e renovação também são aspectos comuns na biologia de alguns animais.

Mais um Ano Novo se inicia e com ele também aquele sentimento de esperança e de coisas novas por vir. Mas vocês sabiam que novos ciclos e renovação são aspectos comuns na biologia de alguns animais?

Renovação do lugar em que vivem

Alguns animais seguem quase que literalmente a frase “ano novo, casa nova”. Isso porque algumas espécies vivem parte da sua vida em um ambiente e depois mudam para outro. É o caso de algumas espécies de sapos ou mesmo algumas jacintas (também conhecidas como libélulas). Esses animais vivem uma parte inicial do seu ciclo de vida na água, na forma de girinos, no caso dos sapos, e de ninfas, no caso das libélulas. Durante a fase aquática, esses animais costumam viver em poças d’água ou em pequenos igarapés onde se alimentam de detritos e pequenos invertebrados. 

Só após a metamorfose (um processo biológico que eu vou explicar melhor daqui a pouco) é que esses animais adquirem características que permitem com que eles renovem a sua casa e vivam no habitat terrestre, na forma dos sapos como nós conhecemos ou das libélulas que vimos voando por aí. E a partir daí, o ambiente terrestre vai ser o local onde esses animais viverão até morrerem.

Girinos de sapo cururu (Rhinella marina) agregados em ambiente aquático antes da metamorfose. Foto: George Hodan

Renovação do aspecto físico

Algumas espécies animais levam a questão da renovação bem a sério e mudam completamente de forma durante a sua vida. Isso porque eles passam por uma transformação chamada metamorfose. A metamorfose é um processo biológico de desenvolvimento que se refere às mudanças que ocorrem na estrutura, na forma do corpo e até mesmo na forma de vida de alguns organismos durante seu desenvolvimento (a palavra vem do grego metabole = mudança). 

A metamorfose ocorre em diversos grupos de animais, como nos anfíbios, moluscos, peixes e insetos, mas é provavelmente no último grupo que está um dos animais mais conhecido por apresentar metamorfose e serem constantemente utilizadas para representar novos ciclos e mudanças, as borboletas. Na Amazônia uma espécie que costuma ser bastante vista nas florestas e que chama a atenção pelo colorido azul intenso é a Borboleta-azul, espécie Morpho helenor, e é possível ver o processo de metamorfose completa dessa espécie num vídeo muito legal disponibilizado pelo MUSA – Museu da Amazônia.

Borboleta azul. Foto: Reprodução/Wikipedia

Renovação na alimentação

A maior parte dos animais mudam sua alimentação de acordo com as fases da vida e acho que um dos exemplos mais conhecidos somos nós mesmos, os mamíferos, que passam de uma alimentação exclusivamente a base de leite quando somos bebês e passamos a comer carnes, vegetais etc. quando somos adultos. Mas e no caso de animais não mamíferos, como os répteis e anfíbios, vocês já pararam para pensar como ocorre essa mudança na alimentação? 

A mudança na dieta de acordo com a fase da vida, conhecida como ontogenia trófica, é comum nos diferentes grupos de animais e nos anfíbios e répteis também acontece e está relacionada com o tamanho dos animais e a capacidade em que eles têm em capturas suas presas. Por exemplo, nos anfíbios anuros, alguns girinos se alimentam de detritos que ficam presos nas rochas ou que estão no fundo das poças ou igarapés onde eles vivem, a medida em que eles vão crescendo, as presas vão mudando também e passam a ser invertebrados maiores, como aranhas e centopeias, e algumas espécies de sapos podem até mesmo comer outros vertebrados, como outros sapos, cobras e pequenos roedores. No caso dos répteis acontece também a ontogenia trófica. 

Um exemplo são os jacarés, como o jacaré-açu (espécie Melanosuchus niger) e o jacaré-tinga (Caiman crocodilus), onde os juvenis se alimentam de invertebrados como moluscos e insetos, e pequenos vertebrados como anfíbios e quando adultos passam a se alimentar principalmente de vertebrados como peixes e até mesmo mamíferos maiores.

Jacarés apresentam uma dieta diferente de filhotes para adultos, processo chamado de ontogenia trófica, que ocorre em espécies como o jacaré-tinga. Foto: Joe McDonald

Renovação da pele

E é claro que eu não poderia falar de renovação sem falar do meu grupo de animais favoritos, as cobras! E apesar de a renovação da pele ser comum em outros grupos de animais, como nos lagartos e até mesmo na gente, só que de forma diferente (quem nunca descascou depois de passar o dia todo na praia tomando sol sem protetor?), é nas cobras que provavelmente ela ocorra de uma forma que chama muito atenção das pessoas. 

A troca da pele nas cobras, também conhecida como ecdise ou muda, ocorre para que as cobras possam crescer. Nesse processo, a pele não se estica para se adaptar ao crescimento, o que dificulta o aumento de tamanho do animal, pois as escamas são bastante duras. Então as cobras “produzem” uma nova pele do tamanho que necessita e troca ela por inteira. Esse processo também ajuda as cobras a se livrarem de alguns parasitas, como carrapatos. 

A ecdise nas cobras é cercada de superstições e lendas. Em muitas culturas, as cobras estão ligadas ao processo de cura e renovação, sendo sinal de boa sorte e saúde (Já viram que no símbolo do curso de Medicina tem uma cobra enrolada em um cajado?). Na nossa região há quem diga que as peles trocadas das cobras trazem boa sorte e dinheiro para o novo ciclo! Se é verdade, não há evidências científicas, mas o fato é que essa que vos fala apoia que todas as coisas boas associadas as cobras sejam disseminadas para desmistificar a má fama (injusta) que esses animais têm!

É isso pessoal! Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre alguns aspectos biológicos de animais que ocorrem na Amazônia! Desejo um ano novo renovado, cheio de novas paixões, amor, saúde e realizações! Obrigada e continuem acompanhando a Coluna Amazônia Animal em 2023! Abraços de sucuri para vocês e até ao próximo texto com informações sobre a nossa exuberante fauna da amazônica!

Sobre a autora

Luciana Frazão é pesquisadora na Universidade de Coimbra (Portugal), onde atua em estudos relacionados as Reservas da Biosfera da UNESCO, doutora em Biodiversidade e Conservação (Universidade Federal do Amazonas) e mestre em zoologia (Universidade Federal do Pará).

*O conteúdo é de responsabilidade da colunista 

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