A Tovomita cornuta já é uma espécie considerada criticamente ameaçada de extinção, encontrada em Manaus, Presidente Figueiredo e São Sebastião do Uatumã.
Durante uma pesquisa ecológica feita por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), foi encontrada uma nova espécie de planta, a Tovomita cornuta. O Portal Amazônia conversou com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Layon Demarchi, para entender mais sobre a nova planta.
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A espécie se trata de uma arvoreta, que normalmente apresenta de três a oito metros de altura e cerca de 8 cm de diâmetro em seu tronco. Pertence a um grupo de plantas com 53 espécies exclusivamente neotropicais da família Clusiaceae. A descoberta foi publicada na revista ‘Acta Botanica Brasilica‘ nesta quarta-feira (16).
Por meio da pesquisa de campo realizada pelos pesquisadores Layon Oreste Demarchi, em parceria com Maria Teresa Piedade e Lucas Marinho, executado pelo Grupo MAUA, que durou cerca de quatro anos. Os pesquisadores constataram que elas são encontrados em florestas de campinarana, no nordeste do Amazonas.
“Analisando as coletas realizadas durante nossas excursões a campo, juntamente com a verificação de coletas depositadas em herbários do INPA e outros herbários digitais nacionais e internacionais, constatamos que a espécie ocorre em quatro localidades diferentes. Nas duas áreas em que fizemos excursões [Reservas de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã e do Tupé], encontramos facilmente mais de 30 indivíduos, o que sugere que as populações destes locais são saudáveis. Já nas outras duas áreas em que a espécie foi coletada por outros pesquisadores nas décadas de 1970 e 1980, e sofrem várias pressões antrópicas, não conseguimos achar novos indivíduos”,
afirma o pesquisador.
De acordo com Layon Demarchi, os frutos não são comestíveis para humanos, porém, são apreciados pela fauna. A semente da planta é envolta em uma estrutura laranja chamada de arilo. Essa estrutura é adocicada e é produzida pela planta justamente para atrair possíveis dispersores de suas sementes. No caso da Tovomita cornuta acredita-se que os principais dispersores sejam aves frugívoras (que se alimentam principalmente de frutos, mas não causam prejuízo às sementes, facilitando a dispersão).
Onde foi encontrada?
A planta foi encontrada em Manaus e nos municípios vizinhos de Presidente Figueiredo e São Sebastião do Uatumã. A nova espécie ocorre exclusivamente nos ecossistemas de campinarana florestada no Amazonas, que ocupam aproximadamente 5% da Amazônia e ocorrem de forma fragmentada por toda a Amazônia brasileira e de países vizinhos.
Esse ecossistema se caracteriza por apresentar solos arenosos extremamente pobres em nutrientes, com uma vegetação de menor porte quando comparada a outros tipos de florestas da região, e são chamadas popularmente de “caatinga”.
Em Manaus, a arvoreta pode ser vista na praia da Ponta Negra, na Zona Oeste da cidade. Já em Presidente Figueiredo, ela pode ser encontrada no distrito de Balbina, próxima à hidrelétrica. Outras duas localidades registradas ficam nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé e de Uatumã.
Infelizmente, a espécie já é considerada ameaçada de extinção, devido à exploração humana, considerada pelos cientistas como “criticamente ameaçada”, a classificação de maior risco atribuído pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), já que as áreas de ocorrência da planta estão localizadas em regiões que sofrem com os impactos das atividades humanas, como o caso da praia da Ponta Negra, por ser um dos principais pontos turísticos de Manaus.
Mas o pesquisador afirma que ainda é possível proteger e preservar a Tovomita cornuta:
“Das quatro localidades onde a espécie é conhecida, duas são dentro de Unidades de Conservação de Uso Sustentável. As outras duas áreas possuem sérias ameaças à biodiversidade local: na primeira sofre com a perda de habitat devido ao crescimento urbano da cidade de Manaus [Ponta Negra] e a retirada de areia ilegal para a construção civil; e a segunda sofreu pela perda de habitat resultante da criação do Lago de Balbina. Considerando que a melhor forma de conservar uma espécie é conservando seu habitat, entendemos que o aprimoramento do zoneamento urbano da cidade de Manaus com a manutenção de áreas verdes pode ser uma solução adequada para esta localidade. Outras formas de proteção da espécie envolveriam investigar a sua ocorrência em outras áreas de campinarana e viabilizar a proteção dessas áreas por meio de diferentes categorias de Unidades de Conservação”, explica.