Pesquisador teme extinção do açaí branco, espécie menos consumida do fruto

Muitas árvores do açaí branco foram substituídas pelas do tipo roxo. Embrapa busca popularizar espécie.

Muitas pessoas do Amapá são consumidoras assíduas do açaí. O suco do fruto de cor roxa é um alimento tradicional na Amazônia, consumido muitas vezes como prato principal no almoço e no jantar, e levado para as demais regiões em outras texturas. Mas existe uma variedade que é pouco explorada: o açaí branco (que na verdade tem tom esverdeado). Um grupo que estuda a espécie há mais de 20 anos indica que, se não for preservada, ela pode ser extinta.

Além da aparência, o sabor desse outro açaí é diferente do mais escuro. Na tentativa de popularizar o alimento, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estuda, há 23 anos, como preservar a espécie, já que os locais onde o açaí branco tinha muitas árvores originais na floresta, hoje foram substituídas por árvores do açaí roxo

O estudo é realizado no Banco Ativo de Germoplasma de Açaí Branco da Embrapa, em uma área de várzea localizada no município de Mazagão, distante cerca de 35 quilômetros de Macapá onde 50 mudas do açaí branco foram cultivadas no campo experimental.

Açaí branco é um alimento pouco conhecido, diferente do tradicional açaí roxo. Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Gilberto Yokomizo, pesquisador da Embrapa e responsável pelo estudo no Amapá, diz que a preocupação é de que a espécie desapareça. 

“Nós estamos observando que a espécie está sumindo das áreas originais, pois as pessoas têm preferido o açaí roxo por causa do valor econômico, do consumo e das exportações do fruto. Então a Embrapa tem receio que esse material, que é um material genético diferenciado, se perca”,

explicou o pesquisador.

Foto: Reprodução/Embrapa Amazônia Oriental

Nesse estudo, mesmo as mudas sendo de açaí branco, algumas árvores acabaram gerando açaí roxo e isso é explicado cientificamente pelo pesquisador.

“Quando vem junto o pólen do açaí roxo, a planta acaba adquirindo as características desse açaí, perdendo assim as características do açaí branco. Por isso estamos fazendo um estudo para verificar se realmente foi perdido esse material genético do açaí branco, ou não. Infelizmente aqui [área de várzea de Mazagão], o açaí roxo já está se aproximando da área que era isolada”, explicou Yokomizo.

Os pesquisadores tentam isolar o material genético do açaí-branco em outro campo de pesquisa experimental, que fica no cerrado da Rodovia BR-210, na Zona Rural de Macapá. Nessa área, a estratégia é que somente as árvores de açaí branco sejam cultivadas. Para isso, foram feitos cruzamentos conduzidos somente de material genético da espécie do açaí branco.

Pesquisador Gilberto Yokomizo e a acadêmica Sônia Nunes realizam estudo estudo para preservar a espécie do açaí branco. Foto: Albenir Sousa/ Rede Amazônica

Todo esse trabalho é acompanhado por Sônia Nunes, acadêmica de engenharia florestal que conseguiu uma bolsa no Programa de Iniciação Científica da Embrapa e em outubro, apresentou esses estudos no 11º Congresso Amapaense de Iniciação Científica, evento vinculado à programação local da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Sônia estuda sobre a variabilidade genética do fruto que, segundo ela, ajudará futuros trabalhos na seleção de materiais superiores e servirá como forma de ampliar o conhecimento da existência da etnovariedade branca ao público em geral.

“Pra gente que está em sala de aula é muito interessante vir para campo, pois temos poucas oportunidades de ver tudo isso na prática. Participar de um projeto assim, iniciar na pesquisa é o sonho realmente do engenheiro florestal que ainda está se formando”, disse a estudante. 

*Por Marcelle Corrêa e Kelison Neves, Rede Amazônica e g1 Amapá

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