Semana Nacional dos Museus promove resgate da história do Pará

A Semana Nacional dos Museus é a oportunidade para visitar locais ricos em cultura e história que, por vezes, são esquecidos pelo grande público. Foto:Divulgação/Agência Pará

É preciso falar sobre aquilo que incomoda. Um dos papéis da arte, de provocar e gerar inquietude, é o mote da 15ª Semana Nacional dos Museus, que será comemorada desta segunda-feira (15) até o próximo domingo (21) em todo o país. No Pará o evento é coordenado pelo Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM), da Secretaria de Estado de Cultura (Secult). Exposições, mostras de documentários, atividades educativas e exibição de filmes fazem parte da programação, que é gratuita e celebra o Dia Internacional dos Museus, comemorado na quinta-feira (18).

O tema da semana é “Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus”, que tem o objetivo de levantar questões que movimentam a sociedade. “O debate proposto pelo Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram) pretende revelar algumas feridas nas quais, em geral, não tocamos. O local onde hoje funciona a Casa das Onze Janelas, por exemplo, já foi ocupado pelos militares na época da ditadura no Brasil. Foi um lugar de depoimento dos presos políticos e de tortura. Esse fato não é muito mencionado, mas vai ser durante a semana especial”, explica a diretora do SIM, Mariana Sampaio.

A Semana Nacional dos Museus é a oportunidade para visitar locais ricos em cultura e história que, por vezes, são esquecidos pelo grande público. No Museu do Forte do Presépio, por exemplo, está a linha do tempo que conta a pré-história da ocupação da Amazônia. Nele estão relíquias arqueológicas como os objetos que eram usados pelos povos tradicionais antes da colonização portuguesa – como lanças e facas de pedras –, muiraquitãs esculpidos pelos índios e vasos de cerâmica. “Os objetos ajudam a construir uma narrativa sobre as nossas origens e mostram o momento em que essas populações foram subjugadas pelos colonizadores”, detalha Mariana Sampaio.

Os muiraquitãs esculpidos pelos índios ajudam a construir uma narrativa sobre as origens da cultura regional e marcam o período de ocupação da Amazônia, quando esses povos foram subjugados. Foto:Divulgação/Agência Pará 
Destaques

Os museus do Estado promovem eventos constantemente, para movimentar os espaços e atrair público. Na Galeria Fidanza, que fica no Museu de Arte Sacra (MAS), no Complexo Feliz Lusitânia, é possível ver, até o fim deste mês, a exposição “Santas Mulheres”, montada com imagens do acervo próprio para homenagear as mães. A rara estátua de Nossa Senhora do Leite, que mostra o seio ao amamentar o menino Jesus, pode ser vista nessa mostra.

A programação inclui ainda a exibição de três filmes, no dia 17, a partir das 10h, no MAS. “Visagem”, “Matintaperera” e “A Moça do Táxi” trazem as narrativas míticas que estão no imaginário urbano e que, ao mesmo tempo problematizam a relação entre fantasia e realidade na cultura do homem amazônida. O Museu do Círio, por sua vez, terá mostras de vídeos e documentários, sempre nos horários de 10h ao meio-dia e das 14h às 16h. No programa estão os vídeos “Outubros de Tantas Marias” e “Círio de Nazaré de 1950”, entre outros.

No MIS e no MAS, de terça (15) a domingo (21), o público poderá ver a exposição “Imaginário urbano e visagismo: imagens e histórias indizíveis no museu”, com desenhos sobre papel do artista Rafael Fernandes. Na quarta (17), às 9h, ocorre a ação educativa “Quando as janelas se fecham e a voz se cala”, que fará um percurso patrimonial contextualizando o cenário histórico do museu durante a ditadura militar. Durante toda a Semana dos Museus, a entrada nos espaços será de graça.

Atualização

Prédios tombados como patrimônio público – como o Palácio Antônio Lemos, onde funciona o Museu do Estado do Pará (MEP) –, corredores cheios de história e símbolos da identidade de um povo. Os espaços gerenciados pelo SIM comungam da filosofia moderna dos principais museus do mundo. “Eles deixaram de ser aqueles espaços considerados velhos, mofados e cheios de histórias esquecidas. Os museus foram se modernizando de tal maneira que hoje são espaços democráticos, vivos e interativos. Nosso papel enquanto gestores é criar essa afetividade entre os museus e as pessoas”, diz o diretor do MEP, Sérgio Melo.

No Museu do Encontro, que funciona no Forte do Presépio, na Cidade Velha, a Secult desenvolve um projeto de educação que usa a mais moderna tecnologia da informação para recontar a pré-história da ocupação da Amazônia antes da colonização portuguesa. A equipe de educadores recebe estudantes de escolas públicas e privadas de Belém e do interior e também leva o museu para dentro da sala de aula, em videoconferências.

No Museu do Forte do Presépio estão relíquias arqueológicas que contam a pré-história da ocupação da Amazônia, como os objetos que eram usados pelos povos tradicionais antes da colonização portuguesa. Foto:Divulgação/Agência Pará 
“Esse trabalho é um dos únicos existentes no Brasil nesse molde. Além de fazermos o acolhimento desses estudantes nos museus, apresentamos os espaços museológicos por meio de uma câmera para escolas do interior, em videoconferência. Enquanto um educador mostra, por exemplo, a vitrine onde estão os muiraquitãs do acervo arqueológico, outro está na sala de aula detalhando tudo sobre aquelas peças, com ênfase, é claro, na história delas. A aceitação é muito boa. Os estudantes ficam maravilhados e muito empolgados”, conta o educador Saint-Clair Gonçalves Dias, que integra o projeto.

História

Na opinião do diretor do MEP, Sérgio Melo, esse diálogo do museu com a sociedade é a própria razão de ser dos espaços. “Os museus deixaram de ser espaços elitistas, como eram na época do Império, e passaram a olhar mais para o homem e menos para o objeto. É claro que os acervos são importantes – e temos no Pará um dos mais ricos do Brasil sobre a história da Amazônia –, mas hoje trabalhamos a afetividade com o público. O museu tem que ser aberto, acessível e promover sempre uma convivência democrática”, defende.

Com média de sete mil visitantes por mês – incluindo o público flutuante e os agendamentos feitos pelo setor educativo –, os museus do Estado guardam verdadeiras riquezas da história e cultura amazônidas. Uma delas é o quadro “Conquista do Amazonas” (1907), que fica no MEP. Encomendada pelo então governador Augusto Montenegro ao pintor brasileiro Antônio Parreiras, a pintura mostra o processo de colonização portuguesa na região. Imponente com seus 11 metros de altura, a obra é uma das dez mais importantes da pinacoteca brasileira, segundo o diretor do museu.

A variedade do acervo dos museus paraenses encantou a enfermeira Izabel Dalazen e o pecuarista João Carlos Boff. Natural de Curitiba (PR), o casal estava em Belém pela primeira vez. “Estou maravilhada com a riqueza do acervo aqui do Museu do Forte do Presépio. Conhecer a origem da nossa história é fundamental para saber quem somos e como devemos nos ver enquanto sociedade. Não imaginei que havia esses tesouros sobre essa terra linda guardados de maneira tão especial. Saio daqui com outro olhar sobre a cidade”, disse ela.

Serviço:

Horário de funcionamento dos museus do Estado:

Terça a sexta-feira, das 10h às 16h; Sábado, domingo e feriado, das 9h às 13h

Telefone para agendamento: 4009-8695

Ingressos:

Museu de Gemas: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Demais unidades museológicas: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia)

O Museu de Arte Sacra tem gratuidade em todos os dias de visitação

Na terça-feira todos os espaços têm entrada gratuita. Crianças até sete anos, maiores de 60 anos e pessoas com deficiência com acompanhantes não pagam. A gratuidade também é assegurada para grupos agendados de educação formal e não formal.

Espaços do SIM:

Museu do Estado do Pará (MEP)

Museu de Arte Sacra (MAS)

Museu do Forte do Presépio

Museu do Círio

Museu de Gemas do Pará

Museu da Imagem e do Som (MIS)

Espaço Cultural Casa das Onze Janelas

Museu Corveta Solimões

Memorial Amazônico da Navegação (no Mangal das Garças)

Memorial do Porto (na Estação das Docas)

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