Feira do Afroempreendedor reúne moda, gastronomia, artesanato no Amapá

Com 258 comunidades quilombolas, o Amapá é um Estado de raízes negras, o que se reflete em seu povo, sua cultura e sua gastronomia. Parte dessa diversidade pode ser vista na Feira do Afroempreendedor, uma das atrações da Virada Afro, um corredor artístico que acontece neste final de semana na orla de Macapá e visa valorizar a identidade cultural da comunidade negra do Estado.

A Feira do Afroempreendedor reúne 60 quiosques onde são comercializados produtos relacionados à cultura negra, além te uma tenda mística. No local, é possível encontrar roupas, artesanato, bonecas de pano, comidas típicas, entre outros produtos relacionados a temática. Alguns dos empreendedores pertencem à comunidades quilombolas como o Distrito do Curiaú e do Maruanum, na zona rural de Macapá.

Foto: Divulgação
“Nosso objetivo é mostrar à sociedade aquilo que os afrodescendentes produzem em suas comunidades, são coisas bonitas e de qualidade e a população em geral precisa conhecer esse trabalho”, explica a assessora técnica da Secretaria Extraordinária dos Povos Afrodescendentes (Seafro), Tatiane Maciel.

A técnica em farmácia Marlene Costa visitou a feira e considerou o evento grandioso. “É a primeira vez que vejo em nosso Estado um evento com essa magnitude voltado para a cultura afro. Acho muito relevante e é uma forma de valorização”, destacou Marlene, acompanhada da filha, Laura, de 9 anos. “Trouxe minha filha para que ela possa conhecer um pouco mais sobre nossa cultura”, afirmou.

Uma das empreendedoras presentes da feira é a empresária Irene Silva, 51, que trabalha há mais de 35 anos no ramo da confecção de roupas e artesanatos. Em seu quiosque é possível encontrar roupas de tecido leve e cores vibrantes, além de acessórios produzidos com semente como pulseiras e cintos. Irene acredita que a Feira do Afroempreendedor é uma excelente oportunidade de gerar renda e divulgar seu trabalho. “Esse evento me traz visibilidade”, destaca a empresária que atualmente monta uma loja virtual. “Quando o cliente chega aqui eu entrego meu cartão para que ele conheça o novo empreendimento”, acrescenta.
O público que visita a Virada Afro pode, ainda, conhecer a adquirir obras de arte e trabalhos fotográficos que retratam paisagens e cenários relacionados à comunidade negra do Amapá. Os itens estão disponíveis em um dos quiosques que reúne obras de artistas locais integrantes das galerias Samaúma e Arte Amazon. “Trouxemos obras e fotografias que fazem parte da cultura afro. Tem muito a ver com a identificação das pessoas que estão presentes nesse evento. Ainda há pouco alguém chegou aqui e identificou uma igreja do Curiaú retratada em um quadro do pintor Wagner Ribeiro. Isso é muito interessante”, frisou o idealizador do projeto Arte Amazon, Gilberto Almeida.

Gastronomia

A Feira do Afroempreendendor trouxe também gastronomia ligada à comunidade negra. Os visitantes podem consumir comidas como acarajé, tapioca e vatapá, além de experimentar a gengibirra, uma tradicional bebida do Amapá que é produzida com cachaça e gengibre.

Nascida em Feira de Santana, a cozinheira Ana Gleide Santos é uma típica baiana que adotou o Amapá como Estado há 12 anos. Ela trabalha na feira comercializando canjica, cocada, bolos, mingau milho e o tradicional acarajé – bolinho produzido com feijão, cebola, sal e frito em azeite de dendê. 

Ana acredita que participar da Virada Afro lhe proporcionará uma renda extra, além disso, a cozinheira reforça a relevância do evento para sensibilizar à população em relação a valorização da cultura negra. “A Virada Afro dá evidência ao trabalho da população negra e nos deixa orgulhosos. Espero que as pessoas venham não apenas comercializar, mas também para aprender sobre nossa cultura”, destaca.

Tenda Mística

Outra atração da Feira do Empreendedor é a Tenda Mística. Trata-se de um conjunto de quiosques onde é possível conhecer um pouco sobre as religiões de matriz africana, além de adquirir adereços religiosos.
O pai de santo Ricardo Santos, 25, é um dos empreendedores que trabalha na Tenda Mística oferecendo ao público a possibilidade de conhecer o futuro por meio de jogos de cartas. “É um oráculo em que as pessoas fazem perguntas e as entidades irão responder, a medida de suas possibilidades”, explica. O empreendedor acredita que a oportunidade vem reforçar algo que ele já visualiza no Estado, a força da cultura negra. “O Amapá respira cultura negra e isso é muito importante para a valorização da nossa religião de matriz africana. Espero que essa seja a primeira de muitas outras edições da Virada Afro”, frisa.
O público também pode visitar o quiosque da Mãe Kátia de Obaluê, 43, que ajuda os clientes a descobrirem o futuro por meio dos búzios e das cartas há mais de 30 anos. “Nas cartas as pessoas podem conhecer o que vai acontecer em suas vidas, já os búzios servem para que elas descubram quem é seu orixá. O orixá é uma entidade que traz proteção a pessoa, por isso é importante que a pessoa saiba qual é o seu”, detalha a mãe de santo que tem grandes expectativas em relação ao evento. “Estou muito feliz em estar aqui. As religiões de matriz africana são muito discriminadas, por isso acho importante mostrar nosso trabalho à sociedade para que o preconceito diminua.”, acrescenta.

Virada Afro

O evento é fruto de uma parceria entre o Governo do Estado do Amapá – por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e a Secretaria Extraordinária dos Povos Afrodescendentes (Seafro) –  e a Fundação Cultural Palmares. Os recursos financeiros são provenientes de emenda do deputado federal Marcos Reátegui.

A Virada Afro tem como intuito valorizar a cultura negra amapaense em um circuito que envolve música, arte, gastronomia e moda. O evento é, ainda, alusivo à Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de garantir a participação plena e igualitária dos afrodescendentes em todos os aspectos.

A gestora da Seafro, Núbia Souza, destaca que o evento tem como objetivo reunir um único espaço todas as linguagens artísticas da cultura afro e mostrar para a sociedade o que está sendo produzido pelas comunidades negras. “Estamos unindo cultura e comercializando de produtos afroétnicos em uma grande celebração”, frisou.
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