Adolescentes da Fasepa lançam samba-enredo de carnaval

Um dos principais pontos turísticos da capital paraense, a Estação das Docas, foi palco nesta sexta-feira (26) de uma apresentação carnavalesca diferente. Adolescentes e jovens que cumprem medidas de privação de liberdade na Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa) lançaram o samba-enredo da socioeducação, único no país, pelo segundo ano consecutivo dentro do projeto Pôr-do-Som, por meio da parceria com a Organização Social Pará 2000, buscando o exercício do protagonismo dos socioeducandos e sua formação cidadã. 

O sorriso e alegria deram o tom da festa que levou ao grande público uma mostra das ações artísticas e culturais desenvolvidas nas unidades socioeducativas do Estado. Nem mesmo a chuva que caiu no final da tarde em Belém foi capaz de fazer com que o público ‘arredasse o pé’ e deixasse de se divertir e interagir com toda a comunidade socioeducativa presente no evento. Com o tema “Família Fasepa Fortalecendo a Socioeducação. Não para, não”, o samba-enredo deste ano foi gravado nos estúdios da Rádio Cultura, graças a parceria entre a Fasepa e a Fundação Paraense de Radiodifusão (Funtelpa).

Foto: Divulgação
O fato de os jovens estarem privados de liberdade e cumprirem medidas socioeducativas na Fasepa, não significa que estejam à margem de vivenciar as datas comemorativas. Com a chegada do Carnaval, os profissionais que atuam nas unidades promovem diversas oficinas, desenvolvidas pelos arte-educadores musicais e teatrais, em busca de novos talentos e também proporcionando a oportunidade da ressocialização.

Dentre os frutos das oficinas, está o jovem Daniel da Silva, de 18 anos, que cumpriu três anos de medida socioeducativa e hoje é egresso do sistema socioeducativo. Hoje ele é um dos alunos da Fundação Carlos Gomes. O jovem não escondia a alegria de participar da programação que abriu portas para que ele seguisse na área da música. “Tocar em um espaço como esse é uma honra. Eu me sinto muito feliz por participar pelo segundo ano do carnaval aqui na Estação das Docas. É bom saber que tem pessoas de vários locais nos assistindo e reconhecendo o nosso trabalho. A música significa alegria e faz a gente refletir sobre a vida”, avaliou o jovem.

Entre as centenas de pessoas que prestigiaram o Carnaval da Socioeducação, estava a autônoma Fernanda Oliveira que, contagiada pelo ritmo da bateria formada por adolescentes da Fasepa, disse estar bastante satisfeita com o resultado do trabalho. “Foi a primeira vez que eu vi esse trabalho com jovens que cumprem medida socioeducativa e gostei muito. Eu estou muito contente em saber que eles estão sendo acompanhados e direcionados para seguir por um caminho melhor. Eu acredito que quando há oportunidade, o resultado é tão bacana como esse que nós estamos vendo aqui”, ressaltou Fernanda Oliveira.

Tanto o samba-enredo da socioeducação, como as fantasias e adereços contaram com a participação direta dos próprios jovens, sob a orientação dos arte-educadores por meio de oficinas, apresentando elementos representativos que fazem parte da cultura carnavalesca como mestre-sala e porta-bandeira, passista e porta-estandarte, entre outros.

O arte-educador musical da Fasepa, Ricardo Jardim, foi um dos responsáveis por conduzir os adolescentes na bateria da socioeducação. Ele chama a atenção para importância de mostrar esse trabalho para a sociedade, porque é uma forma de desconstruir a imagem de que esses jovens, que cometeram algum tipo de ato infracional, são incapazes de refazer seus projetos de vida e serem reinseridos socialmente. “Esse momento simboliza o novo, o recomeço. A arte e cultura se apresentam como uma das possibilidades de mudança para o jovem que está na medida socioeducativa, basta ele querer. É muito bom ver as pessoas conhecendo mais um pouco do trabalho que a Fasepa faz, compreendendo que é possível apresentar bons caminhos para os jovens a partir do momento em que você ama e acredita naquilo que faz”, disse Ricardo. 

O presidente da Fasepa, Simão Bastos, celebrou o momento destacando a boa receptividade do público e a participação ativa dos adolescentes. “A população teve a oportunidade de visualizar um trabalho socioeducativo, demonstrando que com oportunidade, é possível ter resultados positivos”, afirmou.

Segundo ele, a Fundação vem desde 2015 com ações desta natureza e a população entende como uma prática positiva a participação ativa dos adolescentes nesses eventos.

Ainda segundo Simão Bastos, as práticas socioeducativas constituem um trabalho desafiador, mas é possível reconstruir projetos de vida. “É um trabalho desafiante e que não tem limite. Nos proporciona dar cada vez mais oportunidade para aqueles que não tiveram tantas escolhas na vida. Saímos felizes com o resultado extremamente positivo de um trabalho que é único no país”, concluiu.
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