Turismo no Estado do Pará tem vários componentes essenciais: gastronomia, mais de 560 quilômetros de litoral, vasta rede hidrográfica, cultura diversa, mais de 55 etnias indígenas e paisagens que vão dos campos marajoaras, das praias fluviais e oceânicas, às formações rochosas milenares de Monte Alegre, na região oeste.
Quem visita o imenso território paraense tem ainda a oportunidade de vivenciar o “diálogo” da floresta amazônica com os centros urbanos, ao som de uma música própria, com farta influência indígena, negra e caribenha – vertentes que aprimoram a chamada “economia da experiência”.
Diante da importância econômica, social e cultural do setor turístico – alimentada também por eventos de relevância internacional realizados no Estado, como a COP 30 (conferência mundial sobre mudanças climáticas) -, a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) lançou o “Boletim do turismo paraense 2024”, que reúne aspectos da economia turística e sua evolução histórica.
O levantamento é um trabalho da Diretoria de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas e Análise Conjuntural (Diepsac), com base em dados oficiais do Ministério do Turismo e de outras instituições.
“O turismo é um instrumento de interculturalidade, além de ser uma eficiente forma de educação e um eficaz viés de acesso aos bens naturais da Nação, por meio do intercâmbio cultural. A economia de experiência é um dos pontos fortes do turismo paraense, além de ser um propulsor importante da economia criativa. Temos características únicas e memoráveis, sobretudo pelos elementos que reforçam as atividades turísticas como alternativa ao desmatamento e como fomentadores da preservação ecológica e, consequentemente, do desenvolvimento sustentável”, avalia Marcio Ponte, titular da Diepsac.
Ele ressalta que, “num momento em que Belém sediará uma COP em 2025, não restam dúvidas de que o turismo, em suas mais diversas modalidades, é um dos principais elementos para somar-se a uma política de economia da floresta, com foco na preservação com desenvolvimento local, integrado e sustentável”.
Potencialidades
A pandemia de Covid-19 gerou uma forte crise no setor, que agora começa a se recuperar dos impactos negativos da crise sanitária mundial. No Pará, essa recuperação fica acima da média brasileira em diversos aspectos, pois quanto maior diversidade, mais possibilidades de estratégias para atrair e potencializar o consumo de bens e serviços.
O Pará é referência em diversidade, despontando como o nono estado mais procurado em viagens nacionais, em 2021, por 700 mil turistas, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Turismo (Setur). Os maiores destaques são a Região Turística do Guajará – que tem Belém entre os municípios, recebendo 60,7% dos turistas que vêm ao Estado, e o Baixo Amazonas, onde fica o município de Santarém e a Vila de Alter do Chão, com participação de 15,9% no volume de turistas no último ano analisado na pesquisa.
Hospedagem
Entre 2017 e 2022, o Pará registrou um aumento significativo no número de unidades habitacionais de hospedagem, que passou de 9,2 mil para 12,2 mil, representando um aumento de 33,2% no período.
A análise das estatísticas de hospedagem no Pará em 2022 revela predominância significativa de hotéis como o principal tipo de hospedagem na região. Em comparação a outros tipos, os hotéis representaram 91,8% dis meios de hospedagem registrados. O crescimento indica uma demanda crescente desses empreendimentos na região, possivelmente impulsionada pelo aumento do turismo e do desenvolvimento econômico.
A diversificação do mercado de hospedagem fica por conta das pousadas, com 4,7% do total geral de meios de hospedagem, seguidas pelos albergues/hostels, que representaram 0,9%, e pelos hotéis fazenda, com 0,5%. O número de leitos acompanhou o aumento das unidades disponíveis, passando de 17,5 mil, em 2017, para 23,9 mil, em 2022, o que resultou em um crescimento absoluto de 6,3 mil leitos e uma taxa de crescimento percentual de 36,3% no período analisado.
Os municípios de Salinópolis, na região nordeste, e Parauapebas, no sudeste, ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente, em termos de participação nesses números, contribuindo com 13,3% e 11,3%, mostrando que essas áreas também são importantes destinos turísticos ou centros econômicos regionais, com uma demanda significativa por acomodações.
Crescimento
Em relação a 2017, sete municípios apresentaram aumento no número de leitos. Salinópolis se destaca por quase atingir o dobro, com um aumento absoluto de 1,5 mil unidades, o que representa um crescimento de 92,2%. No topo da lista está também Parauapebas, com mais 58,5%, e Santarém, com mais 57%.
A taxa de ocupação dos meios de hospedagem em Belém revela uma tendência geral de crescimento ao longo do período observado. Entre 2018 e 2023, a taxa de ocupação passou de 57,4% para 63,4%, indicando melhoria na utilização da hospedaria na cidade. O índice ficou acima da média brasileira, que fechou com crescimento de 60,4%.
Nesse mesmo período, cresceu também o valor das diárias: de R$ 263,00, em 2018, para R$ 291,00, em 2023, representando um aumento percentual de 10,9%. Isso indica uma valorização dos serviços na cidade, possivelmente refletindo investimentos em infraestrutura, melhorias na qualidade dos serviços e uma crescente demanda por acomodações.
Restaurantes, cafeterias e bares – A gastronomia, autêntica e de múltiplos sabores, é um dos maiores orgulhos da população paraense, que valoriza todos os alimentos. O número de restaurantes, cafeterias e bares com certificados ativos no Pará cresceu de 66, em 2017, para 703 empreendimentos, em 2022. É um crescimento significativo ao longo desse período de cinco anos. Esse aumento de mais de dez vezes indica uma expansão substancial do setor de serviços alimentícios na região.
Entre 2021 e 2022, os restaurantes lideraram esse crescimento com um aumento de 37%, um impacto significativo para o Estado. Em 2022, esses empreendimentos representaram a maioria dos prestadores de serviços turísticos, com 60% do total. Os bares e cafeterias também registraram aumentos no número de estabelecimentos certificados, embora em menor proporção. Os bares representaram 12,8% dos prestadores de serviços turísticos, e as cafeterias 3,1%.
Analisando a especialidade culinária, a predominância é pela cozinha brasileira, representando 74,1% dos estabelecimentos que prestaram serviços turísticos no Pará em 2022. Em comparação a 2021, a especialidade brasileira registrou o maior crescimento absoluto, com percentual positivo de 18,9%. Isso indica uma demanda contínua por comida brasileira e um investimento adicional nessa área pelos proprietários de estabelecimentos. A cozinha regional também é uma especialidade significativa, representando 12,8% dos estabelecimentos. Isso reflete o interesse em promover os sabores e tradições culinárias específicas da região amazônica, em especial do Pará.
Infraestrutura e apoio a eventos
O aumento no número de estabelecimentos certificados para prestar infraestrutura de apoio a eventos no Pará também é bastante significativo. De 2017 a 2022 houve um aumento absoluto de 115 unidades, passando de 13 para 128 estabelecimentos certificados. Essa disponibilidade sugere uma resposta à crescente demanda por espaços e serviços para conferências, festivais, congressos e outras atividades. Esse crescimento também pode ser impulsionado pelo aumento do interesse em eventos culturais, esportivos, corporativos e outros tipos que ocorrem no Pará.
Há três tipos de serviços para infraestrutura de apoio a eventos. O serviço predominante no Pará é o de “organização, promotores e prestadores de serviços de infraestrutura”, que representou 79,7% do total em 2022. Esse tipo de serviço é fundamental para a organização, planejamento e execução de eventos de diversos tipos e tamanhos.
Em segundo lugar estão os serviços de “locação de equipamentos”, que representaram 11,7%. Por fim, aparecem os serviços de “montadoras de feiras e negócios, exposição e eventos”, com participação de 8,6% do total no Estado, com empresas responsáveis pela montagem de estandes, cenografia e estruturas temporárias para feiras, exposições e outros eventos similares.
O município de Barcarena, na Região Metropolitana de Belém, destaca-se como o principal centro de prestação de serviços turísticos para infraestrutura de apoio a eventos no Pará. Em 2022, Barcarena contou com 67 estabelecimentos desse tipo, o que representa uma participação significativa de 52,3% do total estadual. Esse dado indica forte concentração de atividades relacionadas a eventos no local, possivelmente influenciada por fatores como localização estratégica, infraestrutura disponível e demanda regional por serviços de eventos.
Os municípios de Belém e Marabá, no sudeste paraense, ocupam o segundo e terceiro lugar, em número de estabelecimentos, representando 11,7% e 5,5% do total estadual, respectivamente.
Locação de veículos
Segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), a frota de automóveis para locação foi de 9,2 mil unidades em 2022. No mesmo ano, foram registradas 69 unidades de locadoras de veículos, um aumento de seis vezes nesse empreendimento em cinco anos.
Há dois tipos de veículos para locação no Pará: aquáticos e terrestres. A maior parte dos veículos registrados para locação é terrestre, o que reflete as necessidades de mobilidade e transporte predominantemente terrestres na região. Belém é o município com o maior número de locadoras em 2022, totalizando 21 locadoras, o que representa 30,4% do total no Estado. Os municípios de Parauapebas e Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, ocupam o segundo e terceiro lugares em número de locadoras, representando 11,6% e 8,7% do total estadual, respectivamente.
Visitantes
Em 2022, desembarcaram no Pará 10.694 turistas internacionais. Por continente, foi possível identificar que a maior parte vem da Europa, representando 47,5% do total de turistas de outros países no ano analisado. A América do Sul aparece na sequência, com participação de 41,4% no mesmo ano. Na análise por país, o maior quantitativo, em 2022, foi do Suriname, que obteve uma participação de 38,6% no total de turistas estrangeiros recebidos no Estado. Em seguida, desponta Portugal, com participação de 13,5%.
Dos turistas que chegaram ao Pará, em 2022, 93,5% realizaram seus deslocamentos por via aérea, enquanto 6,5% utilizaram vias fluviais. A quantidade de desembarques rodoviários interestaduais no Pará foi de 158.010 em 2021. Um interessante parâmetro para avaliar o fluxo turístico no Estado é o desembarque rodoviário, o que pode auxiliar a mensurar o potencial do setor local de turismo, bem como as estratégias a serem tomadas em termos de infraestrutura e equipamentos turísticos.
Mercado de trabalho
Os números comprovam: turismo aquecido, mercado em efervescência. Do total de 55 categorias relacionadas ao turismo da Classificação Nacional de Atividades Econômicas, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 51 registraram presença no Pará, sendo destaques os restaurantes e similares, com participação de 34,6% no total de vínculos empregatícios dos serviços turísticos em 2021; seguido pelas lanchonetes, casas de chá, sucos e similares, com participação de 14,7% dos empregos, e pelos hotéis, responsáveis por 13,7% dos empregos no turismo no último ano analisado. O maior crescimento de empregos, entre 2016 e 2021 foi registrado nas atividades de albergues, com aumento de 214,3% no período.
Entre os anos de 2016 e 2021, o setor de serviços cresceu 20,3%, com participação de 9,1% no serviço especializado em turismo. Neste panorama, considerando o estoque de 30.268 vínculos empregatícios em 2021, o setor de turismo induziu a geração de 76.578 empregos indiretos no mesmo ano, totalizando 106.846 empregos induzidos pelo setor no Pará. Deste total, 50,3% foram ligados às atividades de alimentação, 20,3% aos alojamentos e 6,9% ao aluguel de transportes.
“O estudo mostra dados positivos, que já são frutos de ações que estão sendo feitas. Neste momento em que Belém sediará uma COP, em 2025, não restam dúvidas de que o turismo, em suas mais diversas modalidades, é um dos principais elementos para se somar uma política de economia da floresta, com ênfase na preservação com desenvolvimento local, integrado e sustentável. O turismo será um dos grandes legados para nossa cidade”, destaca o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.
*Com informações da FAPESPA