Pesquisador de Tocantins contribui com descoberta de quatro novas espécies de plantas brasileiras

Duas das quatro espécies catalogadas são endêmicas do Tocantins e pertencem ao gênero Symphyllophyton.

O pesquisador e coordenador do Herbário da Universidade Estadual do Tocantins (Huto), professor mestre Eduardo Ribeiro, participou de um estudo que contribuiu com a descoberta de quatro novas espécies de plantas nativas da flora do Brasil pertencentes ao gênero Symphyllophyton, sendo que duas dessas, a Symphyllophyton gradatum e Symphyllophyton strictifolium são consideradas endêmicas no Tocantins e estão depositadas no Huto. 

Symphyllophyton é um gênero botânico pertencente à família Gentianaceae, sendo caracterizado por ervas autotróficas, com flores tetrâmeras, estames didínamosos, filamentos presos à porção distal do tubo da corola e folhas connate-perfoliadas ou livres. O resultado do trabalho foi publicado no artigo “Synopsis of the Brazilian genus Symphyllophyton (Gentianaceae) with four new species“, publicado no Phytotaxa, um jornal de taxonomia botânica.

Também participaram do estudo a pesquisadora Elsie Franklin Guimarães, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico (RJ), e os pesquisadores Ruy José Válka Alves e Nílber Gonçalves da Silva, ambos do Museu Nacional (UFRJ).

Foto: Divulgação/Unitins

O pesquisador da Unitins destacou que: “esse trabalho é graças a uma parceria da Unitins, por meio do Huto, com pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que foram as pessoas que fizeram a descrição dessas espécies, que nos acompanharam em campo, em coletas no Tocantins e em outros estados. Essa parceria foi fundamental, pois eles são especialistas e fizeram a descrição de todas essas espécies. Quero também destacar a importância do nosso herbário, o Huto, pois temos procurado ampliar nossos esforços de coleta e isso tem resultado na descoberta de novas espécies”.

“Uma curiosidade sobre uma dessas espécies novas, que é endêmica do Tocantins, é que foi coletada numa localidade bem próxima ao Centro de Palmas, e isso demonstra o quanto precisamos ampliar esses esforços de coleta, ter olhares mais atentos à nossa flora. Eu nem imaginava, ao estar coletando essa planta, que pudesse ser uma espécie nova. Em pequenas expedições que temos feito, temos encontrado novidades taxonômicas, ou seja, temos encontrado plantas que ainda não eram conhecidas pela ciência. Precisamos ter um olhar diferenciado, ampliar esses esforços de amostragem, de coleta e catalogação dessas plantas no herbário”,

destacou Eduardo Ribeiro.

O pesquisador do Museu Nacional (UFRJ), professor doutor Nílber Gonçalves da Silva, afirma que não é surpresa, mas vale notar que a quantidade de lugares que permanecem inexplorados do ponto de vista científico no Brasil é ainda relevante. “Quando se fala do estado do Tocantins e seus vizinhos, se torna mais notório. Isso ressalta a importância acadêmica, educacional e principalmente ecológica visando a conservação, das instituições de ensino e pesquisa enraizadas nesses estados. Acervos científicos recentes e por consequência ainda pequenos, como o Huto, são joias modernas. Estas coleções reúnem amostras únicas e raras de coletores que conhecem seus próprios estados como ninguém. Entre esses conhecedores estão os membros da família Lira, do Rio Sono, que nos levaram a descobrir e localizar diversas populações de plantas raras”, disse. 

Ameaçadas de extinsão

O coordenador do Huto, Eduardo Ribeiro, alerta que, “ao mesmo tempo em que celebramos a alegria de encontrar novas espécies e apresentá-las para a comunidade científica, nós destacamos a preocupação que todas essas espécies identificadas e descritas neste momento estão ameaçadas de extinção, sendo que as endêmicas do estado do Tocantins são classificadas como criticamente em perigo de extinção”.

“Quais os fatores tornam essa espécie ameaçada de extinção?”, questiona Ribeiro. “Primeiro, são plantas que ocorrem com baixa densidade populacional. Por outro lado, elas ocorrem, principalmente, dentro do bioma Cerrado, e sabemos que o bioma Cerrado apresenta áreas altamente favoráveis ao desenvolvimento da agricultura e, com isso, extensas áreas tem sua vegetação suprimida, com muitas dessas espécies se tornam ameaçadas. E isso pode contribuir para que muitas espécies que ainda nem foram conhecidas pela ciência possam ser extintas”, explica.

O pesquisador Nílber Gonçalves da Silva também expressou sua preocupação com a degradação do Cerrado. “Há algo alarmante nesta história: grande parte destas áreas estão rapidamente sendo devastadas e engolidas principalmente por monoculturas. Os acervos locais podem já estar se tornando o testemunho daquilo que resiste. Ainda há muito o que descobrir, e tais descobertas invariavelmente enriquecem o conhecimento acerca do nosso patrimônio natural, único, e inestimável, em prol da conservação de nossa biodiversidade. Para descobrir ainda mais, resta ‘corajosamente ir aonde nenhum homem jamais esteve’, antes que seja tarde”.

Huto

O Herbário da Universidade Estadual do Tocantins (Huto) foi fundado em 2005 e, no ano seguinte, foi integrado à Rede Brasileira de Herbários (RBH) ligada à Sociedade de Botânica do Brasil (SBB). Em 2011 aderiu ao Projeto Herbário Virtual da Flora e Fungos do Brasil (INCT), coordenado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e financiado pelo CNPq. 

Em 2012, por meio do INCT, o Huto passou a disponibilizar os seus dados e imagens através da rede Spcieslink. Em 2015 foi registrado no Index Herbariorum (IH) gerenciado pelo New York Botanical Garden (NYBG), nos Estados Unidos.

O acervo possui mais de 8 mil exemplares da flora e pode ser acessado no sítio Species Link, sendo que 30% do acervo já está digitalizado com imagem. O Huto está instalado no Complexo de Ciências Agrárias da Unitins (CCA), no Parque Agrotecnológico de Palmas. 

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