Durante a mesa redonda ‘A Amazônia entre o extrativismo primitivista e desenvolvimentismo igualmente predatório: em busca de uma alternativa sustentável e inclusiva’, na 76ª Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), os pesquisadores debateram sobre quais modelos de desenvolvimento tem sido pensados e trabalhados para a Amazônia em meio às lutas contra os processos exploratórios desenvolvidos na região.
“Hoje nós temos em torno de 25% da Amazônia devastada e já sofremos as consequências dessa devastação, com desastres severos para as populações originárias e consequências severas para os biomas brasileiros, principalmente”, analisou a doutora em Ecologia e coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação do Museu Goeldi, Marlúcia Martins.
Além das ameaças impostas pelo desmatamento e a devastação causadas pelas ações humanas no bioma, Marlúcia considera importante entender a Amazônia também como uma região rica em conhecimentos tradicionais, diversidade e capacidade de adaptação e resistência.
“Não existe hoje na Amazônia a possibilidade de se ignorar os pontos de resistência a processos exógenos de desenvolvimento. A Amazônia produz conhecimento, produz filosofia sobre compreensão do que é a floresta, produz biodiversidade e estabilidade climática. Então, é interessante olhar nesse processo não apenas aquilo que nos ameaça enquanto Amazônia, mas aquele potencial que a Amazônia tem não só de resistir mas também de se readequar às conjunturas”, afirmou Marlucia.
Roberto Luiz do Carmo, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/UNICAMP), pontuou que o processo de ocupação do espaço do Brasil está associado à dinâmica secular de exploração das fronteiras litorâneas em direção ao interior, destacando alguns ciclos exploratórios, como o do pau brasil, o ciclo de mineração e, mais recentemente, a expansão da produção de soja, principalmente no Cerrado.
Do Carmo ressaltou como a perspectiva de desenvolvimento sustentável se tornou alvo de contestações, sobretudo por parte de segmentos políticos.
“Dentro dessa perspectiva ultraliberal e conservadora, a ideia de preservar os ecossistemas acaba sendo colocada como problema para o desenvolvimento. Ou seja, toda a ideia do desenvolvimento sustentável acaba sendo contestada de maneira até agressiva, fazendo com que a gente se depare com situações nas quais fica difícil se imaginar como será o futuro”, concluiu Roberto do Carmo.
*Com informações do Museu Goeldi