Orquídeas são indicadoras de ambientes bem conservados, afirma pesquisador

De acordo com o botânico Felipe Fajardo, na Amazônia Brasileira ocorrem 134 gêneros e 784 espécies de orquídeas, segundo os dados disponíveis mais atualizados.

Apreciadas por muitas pessoas pela beleza das flores, o que faz com que elas sejam usadas em presentes e decorações, as orquídeas também podem indicar o nível de conservação de uma vegetação. Segundo o professor Felipe Fajardo, doutor em botânica e docente na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Capitão Poço, no Pará, as orquídeas ganham essa fama pois são específicas quanto aos lugares onde vivem e interagem de forma complexa com o meio ambiente em que estão inseridas.

“As orquídeas formam a família Orchidaceae, uma das maiores, com cerca de 30.000 espécies, e mais cultivadas no mundo. São reconhecidas por um conjunto de características morfológicas, como o caule espessado, formando um pseudobulbo, as pétalas em número de três, sendo uma modificada em labelo com maior destaque, funcionando como uma plataforma de pouso para insetos polinizadores e os grãos de pólen compactados, que formam uma massa denominada de polínia”, diz.

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De acordo com o professor, essas plantas ocorrem praticamente em todo o mundo e nos mais diversos habitats, sendo mais comuns em ambientes tropicais e subtropicais, fazendo parte do grupo de vegetais chamados de “cosmopolitas”, visto que estão presentes em diversas regiões do mundo.

“As orquídeas podem ocorrer como: terrícolas quando se desenvolvem no solo; rupícolas quando se desenvolvem nas rochas; epífitas quando vivem sob alguma árvore; subaquáticas desenvolvendo-se em ambientes parcialmente alagados; hemiepífitas que passam uma parte da vida no solo e outra sobre a árvore ou como micoheterotróficas obtendo alimentos através de uma associação com fungos”, explica.

Segundo ele, quando nesses habitats as condições de umidade e de disponibilidade de luz são alteradas, por exemplo, em decorrência de desmatamento, algumas espécies de orquídeas tendem a sumir.

“Elas desaparecem, pois as condições necessárias para o desenvolvimento adequado delas deixam de existir naquele local, fazendo com que elas definhem, sequem e morram”, diz o professor.

Ainda segundo o botânico, as orquídeas, assim como os outros seres vivos, desenvolvem relações ecológicas com algumas plantas, animais e até mesmo fungos, que é quando sofrem ou causam efeito sobre os outros seres do ambiente em que vivem. Essas relações podem ser harmônicas, trazendo benefícios, ou desarmônicas, quando há prejuízos para pelo menos um dos envolvidos.

“Entre as principais relações desenvolvidas por elas estão: o epifitismo no qual inúmeras espécies de orquídeas ocorrem sobre as árvores porém sem parasitá-las; o mutualismo em que duas situações merecem destaque: fungos micorrízicos favorecem a germinação das sementes de orquídeas e as flores das orquídeas são polinizadas majoritariamente por insetos; e a herbivoria em que alguns insetos se alimentam de partes das orquídeas, inclusive de suas flores”, explica o professor.

No Brasil, as orquídeas podem ser encontradas nos seis domínios fitogeográficos presentes no território (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa), porém são encontradas mais espécies na Mata Atlântica, Amazônia e Cerrado, respectivamente. Domínios fitogeográficos são conjuntos de vida vegetal e animal que possuem semelhança entre si e podem ser identificados em nível regional com condições de clima parecidas e que sofreram o mesmo processo de formação da paisagem.

De acordo com o botânico Felipe Fajardo, na Amazônia Brasileira ocorrem 134 gêneros e 784 espécies, segundo os dados disponíveis mais atualizados.

Foto: Reprodução/Ufra

Existem estudos que mostram que na cultura chinesa partes do caule de uma espécie de orquídea é utilizado para o tratamento de inflamação na garganta, febre e gastrite superficial crônica, além de ser usado também para a produção de um tônico que promete melhorar a qualidade de vida das pessoas.

De acordo com o professor, há também relatos da utilização da mucilagem, secreção extraída do caule de algumas espécies, como uma cola, sendo considerada item importante na fabricação da viola de cocho, instrumento musical de cordas. “É provável que a orquídea mais conhecida no mundo seja Vanilla planifolia, que é a principal espécie de baunilha. A vanilina, principal essência extraída dos frutos de Vanilla planifolia e de algumas outras poucas espécies de baunilhas, é bastante utilizada na produção de alimentos, como bolos e sorvetes, e na indústria de cosméticos”, complementa o professor.

Projeto ‘Orquidário: aprendendo com as flores’

O professor Felipe Fajardo também é coordenador do projeto de extensão ‘Orquidário: aprendendo com as flores’, que desde 2019 reúne alunos e docentes da Ufra Capitão Poço para trocarem informações sobre a flora amazônica com a comunidade externa à universidade.

A iniciativa é desenvolvida por meio do Núcleo de Pesquisas em Epífitas (Nupéfita) e conta com a participação de cinco docentes e de mais de vinte discentes de graduação e pós-graduação. “As atividades do Nupéfita abrangem quatro grandes linhas: Florística e Sistemática Vegetal, Ecologia e Conservação Vegetal, Etnobotânica e Análises estatísticas aplicadas à botânica, com ênfase na família das orquídeas, samambaias e licófitas, especialidades de pesquisadores do grupo”, diz o professor.

O projeto tem como objetivo atrair a atenção da comunidade interna e externa à Ufra para o ‘mundo da botânica’, difundindo o conhecimento científico e permitindo a aproximação entre ciência e sociedade. Utilizando assuntos de maior interesse das pessoas (floração e cultivo das orquídeas) como ponto de partida, o grupo consegue abordar temáticas menos disseminadas na sociedade, como: as relações ecológicas que elas estabelecem com outras espécies, as características morfológicas e as classificações das plantas.

Entre as atividades realizadas no projeto estão: a manutenção do orquidário e da coleção científica presente nele (incluindo as regas diárias das plantas e o controle de pragas); visitas guiadas ao espaço do orquidário; elaboração de guias fotográficos utilizados e distribuídos durante as visitações; divulgação de conteúdo através das redes sociais do grupo Nupéfita e o evento anual, realizado no mês de dezembro, intitulado ‘Exposição do Orquidário Nupéfita’.

Durante as visitas ao Orquidário Nupéfita, as pessoas têm a oportunidade de conhecer o espaço e observar as espécies presentes nele. De acordo com o professor Felipe Fajardo, o número de espécies e de plantas no espaço varia ao longo dos meses, pois alguns indivíduos são herborizados (prensados, secos e armazenados em um herbário) para fins científicos e outros, eventualmente, morrem.

“Em contrapartida, realizamos a produção e recebemos doações de mudas. A coleção também pode ser ampliada através da incorporação de indivíduos procedentes de coletas científicas, autorizadas pelos órgãos ambientais pertinentes. Atualmente, o Orquidário Nupéfita abriga quase 100 espécies e mais de 300 plantas de bromélias, cactos, aráceas, gesneriáceas, orquídeas e samambaias”, diz o professor.

A visita ao orquidário é gratuita e realizada para grupos a partir de cinco pessoas através de agendamento feito com no mínimo uma semana de antecedência, os interessados podem entrar em contato com o Nupéfita. Para grupos escolares, o agendamento deve ser feito por um representante da escola (professores, direção ou coordenação pedagógica).

Durante os dias 10, 11 e 12 do mês de julho deste ano, o Orquidário Nupéfita estará com um estande de exposição na 76º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), evento sediado na da Universidade Federal do Pará (UFPA), campus Belém, e irá apresentar a diversidade vegetal amazônica para o público e os projetos de pesquisa em desenvolvimento pelo Nupéfita.

*Com informações da UFRA

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