Em Belém, Mangal das Garças realiza soltura de aves resgatadas do tráfico

Por terem sido criados domesticamente desde pequenos, estes animais não podem ser reintegrados a natureza

A equipe técnica do Parque Zoobotânico Mangal das Garças, administrado pela Organização Social Pará 2000, fez, nesta quinta-feira (29), a soltura de cerca de 10 pássaros de diversas espécies na Reserva José Márcio Ayres, o famoso borboletário.

Após uma análise cautelosa de qual lugar as aves poderiam viver da melhor forma, de modo a deixá-las o mais próximo possível de seus respectivos habitats naturais, chegaram à conclusão de que a Reserva seria o local ideal. Por terem sido criados domesticamente desde pequenos, estes animais não podem ser reintegrados a natureza, uma vez que desenvolveram uma dependência com relação aos cuidados humanos.

Trajetória

Os pássaros foram resgatados pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Barcarena (Semade), policiais civis lotados em Barcarena encontraram diversas gaiolas em uma residência. “Esses pássaros, que vieram para cá através da Semade, foram apreendidos, pois eram vítimas de tráfico. Eles passaram por um período de quarentena, onde fizeram diversos exames que avaliaram a saúde deles se estavam totalmente saudáveis para ingressar no espaço, de modo a não comprometer a saúde dos pássaros e nem a do resto da fauna.”, comenta Basílio Guerreiro, biólogo do Mangal das Garças.

Segundo Guerreiro, as aves passaram por uma readequação alimentar e por uma observação meticulosa da equipe técnica do Parque Zoobotânico durante a quarentena. Embora eles não possam voltar aos respectivos habitats naturais, o espaço em que vão ficar aproxima-se bastante daquilo que poderiam vivenciar na natureza. “Aqui neste espaço eles vão poder reaprender a voar e ter a vida digna que merecem. Embora a Reserva José Márcio Ayres seja conhecida como borboletário, é um local que também abriga outras espécies. Foram colocadas duas casinhas que servem de comedouros e, posteriormente, será colocado mais uma”, acrescenta o biólogo.

Dentre as inúmeras espécies de aves que foram soltas, estão: coleirinho (Sporophila caerulescens), curió (Oryzoborus angolensis), além de uma espécie atípica para a região, o canário (Serinus canaria).

Durante a soltura das aves, havia alguns visitantes que estavam no borboletário. João Henrique Dias, de 10 anos, uma criança que estava com a sua família durante este momento, teve a experiência de soltar um dos pássaros. “Foi uma experiência boa, porque eles estavam presos. É muito bom saber que agora eles poderão ser livres e não serão mais maltratados”, discorre o menino.

Basílio também conta que os comedouros foram fabricados por João Miranda Nery, o marceneiro do Mangal das Garças, e ele conseguiu adequar a estética e a utilidade destes equipamentos, ou seja, a maneira correta dos pássaros se alimentarem. “Hoje, também fizemos a introdução de periquitos-de-asa-branca (Brotogeris versicolurus) na Reserva, que estavam em situação de cativeiro e foram apreendidos. Eles estavam sem habitat para serem soltos e, como possuem um comportamento muito humanizado, precisavam de cuidados humanos”, comenta Guerreiro.

Viveiro das Aningas

Além da soltura dos pássaros na Reserva José Márcio Ayres, uma maracanã-verdadeira (Primolius maracana), espécie de visual similar ao das araras, foi solta no Viveiro das Aningas, para fazer companhia a um outro animal de mesma espécie, que estava solitário e precisava de um companheiro.

“Nós recebemos esse maracanã-verdadeiro de outra apreensão e fizemos um acompanhamento clínico com ele durante o período em que a ave ficou em quarentena. Nós conseguimos fazer um casal com o maracanã que já tínhamos no Viveiro”, comenta Ana Karoline Neves, estagiária de medicina veterinária do Mangal das Garças.

Esta é uma espécie ameaçada de extinção, o que motiva ainda mais a equipe técnica do Parque Zoobotânico a dar todo o cuidado e atenção possível para o animal. No Viveiro, estas aves têm um amplo ambiente propício para se locomoverem e recebem a alimentação adequada. “Os maracanãs se deram bem, e isso foi um sucesso. Normalmente, alguns animais demoram para conseguir adquirir afinidade, as vezes exige um longo processo de adaptação. Às vezes, demoram dias ou até semanas para que isso aconteça”, diz Basílio Guerreiro.

Segundo o biólogo, a equipe técnica do Mangal das Garças acompanhará toda a evolução da relação destas duas aves, com a devida supervisão necessária.

Curiosidades

O periquito-de-asa-branca é uma ave da família Psittacidae. Não está classificado como ameaçado de extinção, o comércio desta ave diminuiu nas últimas décadas. Mede de 21,5 a 25 cm de comprimento. Único periquito com parte amarelo e branco e ponta azul na asa, rabo verde longo e afiado. Possui uma destacada coloração verde. É uma ave encontrada apenas na Amazônia, do Amapá e Pará até a divisa com o Peru e Colômbia, países em que também ocorre. Em certas épocas do ano, este pássaro aparece com muita frequência em Belém do Pará, em busca de mangas e sementes de samaumeira, que são abundantes na cidade.

A maracanã-verdadeira é uma ave da família Psittacidae. Também é conhecida pelos nomes arara-pequena, ararinha, maracanã, mulata-maracanã, dentre outros. Essa espécie é classificada como vulnerável a extinção, ou seja, se as medidas corretas não forem tomadas, este animal pode, de fato, ser extinto. A maracanã é uma espécie de arara de coloração verde com cerca de 40 centímetros. Possui algumas características incomuns, como a parte de sua face que não possui penas e é pálida, contrastando com o bico negro. Existem poucos estudos a respeito do comportamento, reprodução e até mesmo alimentação deste animal. É uma ave encontrada na região Sudeste e Centro-Oeste, e no Nordeste ocorre no Maranhão, Pernambuco, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia; encontrada também no Paraguai e na Argentina.

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