A sigla vem sendo aplicada como uma nova demanda para os profissionais e para as empresas, mas tem muita gente vendendo gato como lebre.
Provavelmente, em alguma reunião virtual ou presencial ao longo dos últimos meses, a sigla ESG surgiu como um novo “projeto” na sua organização para mostrar que a empresa é amiga do meio ambiente, ao mesmo tempo em que busca atender os requisitos de mercado e deixar os acionistas felizes.
Se você fizer uma pesquisa no Google, vai encontrar diversas explicações sobre o que é ESG. Mas, afinal, o que NÃO é ESG?
Ponto 1: ESG não é modismo!
A sigla que, em inglês, significa “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), teve sua primeira aparição em 2005 quando 20 instituições financeiras de 9 países – entre elas, algumas brasileiras – desenvolveram um relatório intitulado “Who Cares Wins” (ganha quem se importa, numa tradução livre).
Ou seja, ela não surgiu na pandemia e nem é uma ideia do seu gestor. O conceito vem se aprimorando ao longo dos anos e está se tornando decisivo nas práticas empresariais para análises dos índices financeiros e como parâmetro para novos investimentos.
Ponto 2: ESG não é só plantar árvores e dizer que a empresa está diminuindo a pegada de carbono.
Plantar árvores é importante, mas esta é apenas uma parte na busca para desenvolver premissas e requisitos na criação de mercados mais sustentáveis.
Do que adianta plantar árvores para zerar a pegada de carbono se a organização continua enviando resíduos sólidos sem qualquer tratamento para o aterro sanitário, lançando resíduos líquidos poluentes nos igarapés, utilizando equipamentos que fazem uso excessivo de energia elétrica (no Amazonas, a matriz elétrica é gerada em 99,99% do tempo por termelétricas), ou seja, queimamos óleo diesel para termos energia na indústria e etc.
Ponto 3: ESG não é transferir o seu resíduo para o consumidor.
Um dos maiores desafios do mercado é como lidar com os resíduos (sólidos, líquidos, químicos, eletrônicos, materiais radioativos, etc.). Você já parou para imaginar o quanto de papelão foi utilizado neste período de pandemia? Você sabia que o aterro sanitário de Manaus tem seu licenciamento de operação válido só até janeiro de 2024? O que vai acontecer depois?
Em 2020, foram registrados 194 milhões de pedidos on-line, somente no Brasil, ou seja, foram necessárias toneladas e toneladas de papelão (caixas, sacos e embalagens) para dar conta de tantos pedidos na Amazon, no Mercado Livre, na Estante Virtual, no eBay, na Americanas, no Submarino, na Magalu, no iFood, no 99Food e etc.)
Nesta busca, a Samsung teve a ideia “genial” de transformar as embalagens de TV em casinhas para gatos, vasos de plantas, porta-revistas e mais algumas soluções criativas. Num primeiro momento, você pode até achar uma ideia sensacional, mas a verdade nua e crua, é que o problema não foi resolvido.
Porque seja lá o quê você for montar com a embalagem, em algum momento ela vai para o aterro sanitário. Mas, para a empresa, ela acredita que resolveu o problema porque o que está indo para o lixo não é a embalagem de TV, mas sim a SUA casinha de gatos – SUA responsabilidade.
Infelizmente, ainda são poucas as empresas que entenderam a relevância da sustentabilidade dentro da estratégia dos negócios. Muitas que declaram nas 10 direções que são líderes em ESG, não possuem nem os temas de sustentabilidade importantes para a empresa identificados (matriz de materialidade).
A ideia através destes 3 pontos foi trazer pontos de reflexão sobre o nosso poder de decisão no momento da compra ao buscarmos empresas que realmente estão contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e ambientalmente responsável.
Lembre-se, o poder emana do consumidor. Como dizia o Tio Ben (personagem no Homem-Aranha):
“Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.
Até a próxima!
Vitor Kurahayashi é mentor e consultor, fundador da Hayashi Consultoria , diretor no grupo Travel Corp, professor em MBA nos cursos de Gerenciamento de Projetos e Gestão Estratégica de Negócios, atua como voluntário no Instituto Soka Amazonas e no Capítulo Amazônia do Project Management Institute (PMI-AM). Administrador pela Universidade Católica de Brasília – UCB, Master in Business Administration em Gerenciamento de Projetos pela FGV e em Gestão Estratégica de Negócios pela UCB; doutorando em Educação Superior pela Universidade Nacional de Rosario – UNR, na Argentina.