Profissionais da saúde enfrentam medo e distância familiar para combater o Covid-19 no AM

O Portal Amazônia ouviu profissionais da saúde que trabalham no Hospital Delphina Aziz sobre a rotina de trabalho e o trabalho contra a disseminação do coronavírus

​A palavra pandemia por si só já é bastante assustadora, vivenciá-la é milhões de vezes mais. O que passamos hoje é uma batalha contra um inimigo invisível e nossa linha de frente é composta por inúmeros jalecos brancos, mas não podemos esquecer que, por trás de cada máscara, também há seres humanos com familiares e amigos, igual a todos. Por isso, o Portal Amazônia conversou com exclusividade com alguns profissionais da saúde que trabalham no Hospital Delphina Rinaldi Abdel Aziz, local de referência para atendimento dos casos de infectados por Covid-19 no Amazonas.

Pela televisão e sites de notícias, a maioria da população assiste o mundo inteiro sofrer as consequências do COVID-19, mas a médica Marcela Menezes está assistindo isso bem de perto. “Sendo bem honesta, tem sido bem difícil. O medo é nítido no ambiente de trabalho. Todos estamos com medo, mas faz parte e não podemos deixar que ele nos paralise”, disse.

Marcela Menezes atua com pacientes diagnosticados com Covid-19 (Foto: Divulgação)

 Para a médica, a pior parte, com certeza, é ficar longe da família. Ela diz não ver avó desde que foi confirmado o primeiro caso no Amazonas, uma atitude difícil, mas necessária.

“Tenho tentando ficar mais no hospital do que em casa, pois ainda moro com minha mãe, tenho seguido as medidas de higiene e prevenção religiosamente, porém o medo permanece. Minha mãe está bem preocupada também, então me sinto muito culpada por fazer minha mãe ‘passar por isso’, mas eu preciso fazer minha parte”, afirma.

Fazer a sua parte para Marcela é muito mais do que só ajudar pessoas desconhecidas, é literalmente fazê-las enxergar que apesar dos problemas, sempre há uma luz no fim do túnel. “E isso é indiscutível. São meus pacientes. Pessoas comuns com uma história de vida, família, amigos. O COVID-19 tem cura. Diversos indivíduos que foram confirmados já estão curados ou estão em processo de cura. As pessoas estão tão preocupadas em compartilhar as notícias tristes da Pandemia, que elas esquecem das notícias felizes! E mesmo para aqueles casos que não tiverem cura, o tratamento e o cuidado serão o mesmo. Da forma mais digna e humana possível. Rezo para que todos os casos tenham um final feliz”.

Covid-19: entenda como é feito o atendimento em caso suspeito de coronavírus

A principal orientação é que a população só deve buscar a realização do teste para o coronavírus, se apresentar, principalmente, febre, associada a algum sintoma respiratório

https://portalamazonia.com/noticias/saude/covid-19-entenda-como-e-feito-o-atendimento-em-caso-suspeito-de-coronavirus

 Rotina e cuidados

O médico Gustavo Murta teve sua carga de trabalho aumentada e garante que, os cuidados em relação à prevenção e biossegurança no atendimento redobraram, devido as taxas de contaminação de profissionais da saúde muito elevadas em outros países. Mas não nega que uma das maiores preocupações tem sido a orientação de pessoas com informações confíáveis, principalmente via mensagem de texto, para tentar dissipar as fake news e também tranquilizar.

“Tem ficado claro que a população está muito apreensiva e até mesmo desnorteada com tudo que vem acontecendo. A maior preocupação é a de fornecer informação útil e confíável. Tenho pedido à todos que permaneçam em isolamento, só saiam de casa quando for essencial, como ir ao supermercado ou farmácia. Outro cuidado importantíssimo é o de lavar as mãos com água e sabão de forma frequente e adequada, e quando isto não for possível, higienizar as mãos com álcool à 70°”, contou o médico.

Por conta do ajuste dos hospitais para atender a grande demanda prevista de pacientes, a rotina de Marcela também está mais pesada. “Trabalho de domingo a domingo. Durmo quando posso”, brinca a médica ao relatar a situação.
Passando tanto tempo em uma grande exposição de contaminação, ela garante que as medidas que tem tomado para preservar as pessoas queridas, tem sido bem rigorosas.

“O isolamento social é a melhor forma de prevenção. Além disso, higienizo sempre as mãos com água e sabão. Utilização correta do EPIs no ambiente de trabalho. Não entro em casa com o sapato e roupa que usei no hospital. Higienizo religiosamente tudo que uso: celular, caneta, carimbo, estetoscópio”

disse Marcela

Como todos podem ajudar?

A realidade é dura, e muitas vezes assustadora, mas sempre podemos fazer algo para ajudar. Nesse caso, a ajuda será ouvindo os médicos, como Marcela, em suas orientações. 

“Não entrem em pânico. Não disseminem o caos. Não deixem que o medo tome conta de vocês. Façam a parte de vocês. Ajudem da forma que vocês podem: fiquem em casa. Ficar em casa diminui as chances de você e sua família serem infectados. Diminui o contágio. Diminui o número de doentes. Vocês não tem ideia do quanto isso ajuda! Dessa forma, não saturamos os serviços de saúde e podemos cuidar de forma efetiva de todos que necessitem de tratamento!”, pediu a médica.

Gustavo ainda fez questão de dar um último recado: “Fiquem em casa! É fato que a situação é delicada, mas precisamos mais do que nunca da união e do comprometimento de todos para que essa batalha seja vencida. Sei que para muitas famílias o sacrifício de se manter em quarentena é gigante, muitas têm passado dificuldades financeiras decorrentes disso, mas é uma medida necessária para que a vida de nossos familiares e amigos seja preservada”.

“Se tiverem dúvidas, busquem informação através dos canais oficiais ou entrem em contato com algum médico. Essas próximas semanas serão cruciais, mas tenho certeza que juntos conseguiremos passar por mais essa provação. E por fim, saibam que a classe médica está comprometida e disposta a fazer o que for preciso pra dar o suporte que todos precisam. Fiquem seguros e se cuidem”, finalizou.

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