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Cerca de 60% da população indígena brasileira não aldeada convive com, pelo menos, uma doença crônica. Hipertensão arterial, problemas de coluna vertebral, colesterol alto e depressão estão entre os principais diagnósticos, segundo pesquisa inédita da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicada na quinta (26) na revista “Saúde em Debate”.
O trabalho revela, ainda, que cerca de 35% dos indígenas que vivem fora das aldeias no Brasil, com 20 anos ou mais, têm duas ou mais enfermidades.
A hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, é a mais prevalente entre mulheres e idosos. Os indígenas com mais de 60 anos são também os que mais apresentam problemas na coluna vertebral (29%) e com o controle do colesterol (26%).
Os pesquisadores fizeram um levantamento inédito do perfil de saúde da população indígena não aldeada brasileira a partir de dados de 651 indivíduos, da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. A idade média entre homens e mulheres indígenas que vivem fora de aldeias é de 45 anos.
A maioria tem rendimento de até um salário mínimo (66%) e tem o ensino fundamental completo (67%), dado educacional crescente em relação aos censos demográficos anteriores. O levantamento revela também que cerca de 90% residem em áreas urbanas e não têm plano de saúde privado. Ou seja, dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para a coautora do estudo, Deborah Malta, da UFMG, o mapeamento revela uma mudança no estilo de vida da população indígena que vive em centros urbanos, assim como de outros grupos populacionais.
“As prevalências elevadas de doenças crônicas não transmissíveis neste grupo podem decorrer de mudanças de estilos de vida, piora na alimentação, aumento da expectativa de vida e aumento da obesidade’’, complementa.
Em relação à população indígena de todo o Brasil, o artigo cita dados do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena, que registrou cerca de 42 mil casos notificados de doenças crônicas entre 2015 e 2017.
A pesquisadora da UFMG destaca a importância de ampliar os estudos envolvendo a população indígena do Brasil, que dependem de políticas de inclusão, como o Sistema Único de Saúde, especialmente aquela que vive em aldeias e em áreas isoladas, como os ianomâmis. Essa população tem situação “agravada frente às invasões de suas terras, destruição de rios e florestas e piora de sua saúde, com aumento de desnutrição, malária e doenças infecciosas, em decorrência de falta de políticas de proteção durante o governo Bolsonaro’’, diz Malta.
Segundo ela, ainda há muito o que avançar no sentido equidade, embora o governo federal tenha adotado importantes iniciativas para reduzir estas desigualdades, como, por exemplo, a criação do Ministério dos Povos Indígenas.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori