Depois de colher os frutos, as mulheres Kayapó extraem suas sementes para produzir o óleo, hoje amplamente comercializado devido às propriedades emulsificante, hidratante, anti-inflamatória e antioxidante, entre outras.
Traço marcante dos brasileiros, a vaidade está presente em grande parte das culturas do planeta, entre as quais a do povo Kayapó. E um aliado antigo destes indígenas – e, hoje, também da indústria de cosméticos – para satisfazer esse impulso é o babaçu, fruto das enormes palmeiras de mesmo nome cujo trabalho de coleta, transporte e processamento cabe exclusivamente às mulheres da etnia. Trata-se de um dos muitos saberes carregados por elas há muitas gerações, herdados pelos não indígenas e do qual todos só podem se beneficiar com a Floresta Amazônica de pé, um dos objetivos do Tradição e Futuro na Amazônia
Conhecido pelo óleo produzido a partir dele, o babaçu cresce e amadurece entre os meses de junho e dezembro após o surgimento de longos cachos de flores amareladas na copa das árvores fartamente encontradas nas regiões norte e nordeste do Brasil. Depois de colher os frutos, as mulheres Kayapó extraem suas sementes para produzir o óleo, hoje amplamente comercializado devido às propriedades emulsificante, hidratante, anti-inflamatória e antioxidante, entre outras. Ele ajuda a combater inflamações cutâneas como a acne e a caspa, por exemplo, além de proteger, nutrir e dar brilho à pele e aos cabelos.
A produção do óleo, porém, não é uma tradição antiga dentro das aldeias. Há poucas décadas, as mulheres Kayapó, acampavam ao pé das palmeiras com seus filhos e, depois de coletar o babaçu, retornavam à aldeia entoando uma canção de agradecimento pelo fruto. Ao chegar, estocavam suas sementes e, quando precisavam, quebravam-nas com os dentes para extrair o sumo branco e oleaginoso, explica Kokotô Kayapó, indígena de aproximadamente 50 anos de idade que vive na aldeia Pykany, na Terra Indígena Mekrãgnoti (PA).
“Nossas mães colhiam a semente do babaçu e mastigavam para passar em nossos cabelos e nas nossas nucas raspadas para que ficássemos bonitas. Elas também misturavam o sumo do babaçu com a semente de urucum para nos pintar. O perfume do óleo nos deixava sempre cheirosas”,
lembra ela, referindo-se ao odor suave do vegetal.
Hoje, a colheita nesta TI é feita de forma mais rápida. As mulheres não cantam mais na volta às aldeias e, quando chegam, socam as sementes em um pilão e as levam ao fogo com água para produzir o óleo, armazenado em garrafas. Houve épocas em que parte dessa produção foi vendida para empresas de cosméticos, conferindo também renda a estes Kayapó. Não muito distante, a aldeia Pot-Krô, localizada na TI Trincheira Bacajá (PA), ainda se beneficia deste conhecimento ancestral. Lá, o povo Xikrin (outro grupo Mebêngôkre-Kayapó) possui uma miniusina capaz de produzir aproximadamente 500 litros de óleo por ano. Boa parte dele é vendido.
Fora das aldeias, o babaçu também é usado na culinária. O leite feito de sua semente é usado em diversas receitas tradicionais da região. A partir da casca é produzida também uma farinha usada em bolos. Bons exemplos das possibilidades conferidas pelo conhecimento dos indígenas e pela biodiversidade da Floresta Amazônica, que tem nos povos originários seus grandes guardiões. Para isso, contam com o apoio do TFA, projeto patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental.