Ferroada de arraia causa dor intensa e dolorosa em humanos. Foto: Reprodução/Governo do Tocantins
Imagina você curtindo uma praia e ter seu momento de lazer interrompido por uma picada, seguida de uma dor tão intensa capaz de causar desmaios. Bom, melhor não imaginar, né? Mas esse é o cenário provocado por uma ferroada de arraia, um tipo de peixe que vive em orlas brasileiras e rios da região amazônica.
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Essas espécies, apesar de serem normalmente inofensivas, utilizam um ferrão venenoso para se proteger de ataques ou quando são pisadas sem querer por humanos, o que geralmente acontece, causando ferimentos graves e dolorosos. Mas o que se fazer em caso de uma ferroada de arraia?

O Portal Amazônia conversou com Lucas Castanhola Dias, biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e especialista em morfologia, fisiologia e toxinologia de arraias de água doce, para entender como proceder após este tipo de lesão.
Fui ferroado pela arraia. E agora?
Lucas explica que o primeiro passo é retirar a vítima da água e lavar a ferida o mais rápido possível, de preferência com água morna. Segundo o biólogo, a medida ajuda no alívio da dor, que é imediata e extremamente intensa após a ferroada.
“O primeiro passo é manter a calma e retirar a vítima da água. Em seguida, deve-se lavar a ferida com água limpa para retirar resíduos de areia ou fragmentos do ferrão. Um dos cuidados mais eficazes para alívio da dor é a imersão da região afetada em água quente, pois o calor ajuda a inativar parte das toxinas do ferrão”, conta Dias, reforçando que a temperatura da água não pode ser tão quente, para não causar queimaduras.
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Após essa etapa, o paciente deve procurar uma unidade de saúde para um atendimento mais adequado tanto para ferida, quanto para o tratamento dos sintomas, que podem indicar a gravidade da lesão.
“O paciente precisa ser levado o quanto antes a uma unidade de saúde, onde será feita a limpeza adequada da ferida, avaliação da necessidade de antibióticos e a retirada de fragmentos que podem permanecer alojados. Além da dor, ocorre inchaço, sangramento, vermelhidão e, em alguns casos, necrose ao redor da lesão. Sintomas sistêmicos, como náusea, vômito e dificuldade de respiração, também podem acontecer e indicam gravidade”, pontuou Castanhola.
Porque dói tanto?
Descrita por muitos como insuportável, a dor causada pela ferroada de arraia, de acordo com Lucas, é causada por uma série de fatores que vão desde questões físicas do ferrão até uma combinação de ações químicas.
“O ferrão possui bordas serrilhadas que causam um trauma profundo e irregular nos tecidos, enquanto o epitélio que recobre o ferrão libera toxinas que diminuem nosso limiar de dor e desencadeiam processos inflamatórios. Essa associação de trauma físico e ação química é o que torna a ferroada tão dolorosa”, salienta Dias.
Ferroada de arraia causa morte?
De acordo com o biólogo, a ferroada de arraia só causa a morte em casos raros e de muita gravidade.
“Isso só acontece quando o ferrão atinge regiões vitais, como tórax ou abdômen, perfurando órgãos internos ou grandes vasos sanguíneos. Outro risco importante são as infecções graves que podem evoluir para septicemia, especialmente quando não há atendimento adequado e rápido”, explica Lucas.
Casos na Amazônia
Lucas revelou que, nos últimos cinco anos, os casos de ferroada de arraia na região amazônica ultrapassaram a marca de 800 registros, segundo os dados da Fundação De Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP): “Foram registrados 833 casos, de 2019 a 2024, segundo dados da FVS. Na região amazônica, os casos são relativamente frequentes, especialmente entre ribeirinhos, pescadores e banhistas de rios. Estudos epidemiológicos realizados em estados como Pará e Amazonas apontam que as arraias estão entre os principais animais aquáticos causadores de acidentes”.
Para o biólogo, os números apontam um possível problema de saúde pública local. “Como muitas ocorrências não chegam a ser notificadas oficialmente, sabemos que há uma subnotificação. Mas os registros disponíveis confirmam que se trata de um problema de saúde pública local”, conclui Lucas, que atualmente coordena projetos de pesquisa que buscam compreender a estrutura e o funcionamento do aparelho de veneno das arraias, bem como os efeitos clínicos e toxicológicos das ferroadas em seres humanos.
*Por Dayson Valente, para o Portal Amazônia
