Dengue afeta mais negros e periféricos no Amapá, aponta pesquisa

Falta de infraestrutura, acesso precário à saúde e racismo estrutural aumentam a vulnerabilidade da população negra à dengue, segundo pesquisadores da Unifap.

Pessoas negras e moradores de áreas periféricas são os mais afetados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue. Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

Um projeto realizado por estudantes do curso de enfermagem, com a participação de discentes de medicina e ciências biológicas da Universidade Federal do Amapá (Unifap) revela que pessoas negras e moradores de áreas periféricas são os mais afetados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya.

O projeto “Vigiaedes”, apresentado na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia no Amapá, que acontece no Sebrae em Macapá até esta quarta-feira (22), analisou dados entre 2021 e 2022 e identificou desigualdades raciais nos casos de internações e mortes causadas pela doença.

Leia também: 1 mosquito e 4 doenças: conheça o Aedes aegypti, o “maldito do Egito”

Lyanna Barroso, de 20 anos, é pesquisadora do projeto. Ela explicou que a situação está diretamente ligada às comunidades historicamente marginalizadas.

“A dengue não atinge a todos da mesma forma. Os dados mostram que a população negra é a mais afetada, e isso está diretamente ligado às condições sociais em que vivem. Nosso objetivo é levar educação e saúde para escolas e comunidades, explicando como o mosquito se desenvolve e como podemos evitar sua proliferação”, disse.

Dengue afeta mais negros e periféricos no Amapá, aponta pesquisa
Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

A pesquisadora também destaca que muitas pessoas negras, pardas, moradoras de periferia, enfrentam dificuldades para buscar atendimento médico.

“Não é que elas não se preocupem com a saúde, mas vivem em condições que dificultam esse acesso. Muitas vezes trabalham na informalidade, moram longe dos postos e, quando conseguem atendimento, não recebem o cuidado que deveriam”, conta.

Leia também: Como combater a dengue: 11 dicas práticas para evitar a proliferação do Aedes aegypti

Dados revelam desigualdade racial

A análise foi feita com base em dados oficiais do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Entre os 13.113 casos de dengue registrados no Amapá entre 2021 e 2022, 11.944 tinham informação sobre raça ou cor. Desse total, 81,4% atingiram pessoas autodeclaradas pardas.

Além disso, 88,8% das hospitalizações ocorreram entre pessoas negras (pretas e pardas). Entre a população branca, não houve evolução para óbito, seja por agravamento da doença ou por outras causas.

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“Essas pessoas vivem em áreas de ressaca, com água parada e pouca infraestrutura. São locais onde o mosquito se desenvolve com facilidade. Não é uma questão genética. O que causa esse impacto é o ambiente, o acesso à saúde e o racismo estrutural que ainda existe, além da falta de políticas públicas”, afirmou Lyanna.

Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP

Tipos de Dengue

O estudo também identificou a presença dos quatro sorotipos do vírus da dengue no estado: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.

A circulação simultânea desses sorotipos aumenta o risco de casos graves e reforça a necessidade de ações preventivas. O projeto atua em escolas e comunidades com campanhas educativas.

“Quando ensinamos sobre o ciclo do mosquito, as crianças levam esse conhecimento para casa. Queremos que a população seja protagonista na luta contra essas doenças”, diz a pesquisadora.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

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