Comunidades ribeirinhas do AM apresentam elevados índices de automedicação

Um estudo aponta que, em um universo de oito regiões de lagos e rios da zona rural de Coari, no Médio Solimões, no Amazonas, há prevalência elevada da automedicação nas comunidades situadas nessas localidades. Mais de 76% da população se automedica. Esse é um dos resultados da pesquisa desenvolvida pelo professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o doutor Abel Santiago Muri Gama. O estudo conta com apoio do Governo do Estado via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Intitulado “Automedição em comunidades ribeirinhas na região do Médio Solimões”, o estudo, concluído em 2016, tinha a proposta de analisar a prática de automedicação e fatores associados entre ribeirinhos daquela região, no entanto, o grupo de pesquisadores fez mais. Durante as coletas de dados para composição da pesquisa, eles exibiram filmes de curta duração que abordavam os riscos da automedicação com intuito de conscientizar os comunitários.

A equipe de pesquisa identificou que nestas regiões o acesso aos profissionais de saúde habilitados a prescrever medicamentos é limitado (Foto:Divulgação/Fapeam)
Segundo o coordenador do estudo, a pesquisa foi realizada nas oito regiões de lagos e rios da zona rural de Coari, no interior do Estado. O estudo contemplou as seguintes comunidades: Divino Espírito Santo, Ipixuna, Nossa Senhora do Cuanaru, São Francisco do Aranaí, Iracema, São Sebastião Água Branca, São Pedro do Tauana, Itapéua, São José do Mato Grosso, Santa Maria do Igapó Grande, Menino Deus Ilha do Julho, Santo Antônio do Curutari, Vila Brasil, Colônia Adventista, São Francisco do Laranjal, São João do Campina, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Boa Fé, Santa Terezinha, Vila Fernandes, São Sebastião das Flores, São José da Boa Vista, São Tomé do Patuá, Divino Espírito Santo do Izidório, Dom Bosco e Nossa Senhora de Fátima do Caioé.
De acordo com o pesquisador, um dos principais resultados encontrados foi a identificação da prevalência elevada da automedicação (76,3%). Os principais problemas de saúde foram problemas álgicos (que provocam dor) de diferentes origens (58,1%). Em relação aos medicamentos mais utilizados na prática de automedicação são os analgésicos (57,5%) e antimicrobianos (13,0%). “Os fatores associados à automedicação foram sexo masculino, faixas etárias jovens, não procura por serviços de saúde, tempo elevado de deslocamento da comunidade à zona urbana”, disse o pesquisador.Ainda segundo o pesquisador, foi possível detectar o uso irracional de medicamentos pelos ribeirinhos, sobretudo de medicamentos antimicrobianos. A pesquisa também identificou que nestas regiões o acesso aos profissionais de saúde habilitados a prescrever medicamentos é limitado. “As próximas ações serão voltadas ao acesso aos serviços de saúde e ao consumo racional de medicamentos”, ressaltou o professor.Cine RibeirinhoDurante as atividades desenvolvidas na coleta de dados da pesquisa, o grupo realizou atendimentos de saúde e promoveu ações educativas para os comunitários, como o ‘Cine Ribeirinho’. O cine reproduzia obras cinematográficas mundiais nas comunidades e tinha cunho educativo. O foco era conscientizar os comunitários sobre os riscos da automedicação, como explica o professor.“Os pesquisadores elaboraram em conjunto com os alunos no laboratório do ISB/UFAM, pequenos vídeos de forma lúdica com 2 a 4 minutos, com temas voltados aos riscos da automedicação e uso racional de medicamentos. Os vídeos foram formatados e inseridos em intervalos programados de 15 em 15 minutos durante a exibição do filme. Foram realizadas 3 sessões de cinema, contando com a participação de 156 ribeirinhos na faixa etária entre 6 a 89 anos”, contou Santiago.
Durante os atendimentos de saúde ocorreu ações educativas para os comunitários, que é o ‘Cine Ribeirinho’ (Foto:Divulgação/Fapeam)
Mais benefícios
De acordo com o pesquisador, as informações do estudo poderão subsidiar políticas públicas específicas para estas populações, no que diz respeito sobre o uso racional de medicamentos. Em relação aos benefícios para academia, o professor cita a formação de recursos humanos sensíveis e qualificados para atuar na pesquisa, ensino e no atendimento a saúde, de acordo com as características peculiares dos ribeirinhos da região Amazônica.

Apoio FAPEAM
O coordenador do estudo destacou que o apoio da FAPEAM foi crucial para o desenvolvimento da pesquisa. Todo o auxílio concedido pela bolsa foi revertido para custeio das viagens até as comunidades ribeirinhas. Ao final do projeto foram navegados cerca de 2.000 km entre rios e lagos da zona rural de Coari, durante os quatro meses de coleta de dados.

“Ressalto que a FAPEAM tem um papel extremamente importante para o desenvolvimento do Amazonas, sobretudo após conhecer e vivenciar as mesmas dificuldades as quais os ribeirinhos estão submetidos no ambiente atípico da Amazônia brasileira”, disse Abel.

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