Aninga (Montrichardia linifera). Foto: Divulgação
Um exemplo da união dos conhecimentos científicos e tradicionais está se revelando uma solução eficaz para a saúde pública na Amazônia. A pesquisa que aponta para a produção de vela repelente e de xampu inseticida à base de um princípio ativo da Montrichardia linifera, uma planta aquática típica da Amazônia, popularmente conhecida como ‘aninga’, foi destaque no painel “Bioeconomia amazônica potencializada pela ciência”, promovido pela Rede Bioamazônia no dia 13 de novembro.
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O coordenador do Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia (NIT/MPEG), Amílcar Mendes, informou que a tecnologia social de autoria de pesquisadores do centro de pesquisa mais antigo da região tem por base o conhecimento tradicional de ribeirinhos.

“O ponto de partida para o desenvolvimento dessa solução tecnológica (repelente e inseticida) foi o conhecimento tradicional que os ribeirinhos detinham sobre o poder repelente da planta. Onde essa planta existia, não havia concentração de mosquitos. Isso chamou atenção de uma de nossas pesquisadoras, Cristine Bastos do Amarante, que desenvolveu estudos sobre o motivo dessa planta ter esta propriedade de repelir mosquitos”, disse, acrescentando que foi pedida a patente da substância.
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Amílcar lembra que um dos grandes desafios da saúde pública na Amazônia é a malária, tornando muito apropriada a observação de um bioativo aplicado como inseticida.

Outras vantagens são apontadas por Amílcar:
“Estamos falando de uma planta que tem insumo muito fácil de ser encontrado na natureza. É uma planta aquática originária da Amazônia, o manejo dessa planta não vai trazer grandes pressões ao ecossistema e tem a possibilidade de uma cadeia produtiva ser construída, levando em consideração o papel das comunidades tradicionais, que detém o conhecimento”.
Ademais, segundo os pesquisadores, são produtos com o prestígio da Amazônia, agrega, e são produtos livres de componentes químicos sintéticos na sua formulação, um diferencial comparado a repelentes tradicionais no mercado.
Modelos distintos
O pesquisador assegura que, em relação ao xampu inseticida, duas empresas já se mostraram interessadas na transferência da tecnologia. “A primeira pergunta que fizeram foi: estão protegidas? A patente dá uma segurança jurídica para quem vai investir nessa transferência”.

Amílcar pondera que, enquanto se pensa em uma escala industrial para o xampu, há uma perspectiva de se apostar no potencial social da vela repelente, estabelecendo cadeias produtivas em comunidades da região.
“Uma cadeia estabelecida nesses moldes garante a facilidade do insumo, a rastreabilidade dos produtos decorrentes desses bioativos e a segurança do pagamento justo e inclusivo para as comunidades tradicionais”, justifica.
Reconhecimento
Luz Marina Mantilla Cárdenas, diretora do Instituto Sinchi (Colômbia) e presidenta da Rede Bioamazônia assegura que as instituições que conformam a frente transnacional, como o Museu Goeldi, “têm gerado conhecimento que evidencia o valor estratégico dos recursos biológicos e, paralelamente, têm impulsionado o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras para articular algo chave: os saberes tradicionais com os avanços científicos”.
O painel contou com a participação de Carmen Rosa García Dávila, presidente executiva do Instituto Investigaciones de la Amazonía Peruana (IIAP); de Juliana Cardona, pesquisadora do Instituto Sinchi (Colômbia), que também discorreram sobre o tema. Como convidada especial, Yorgana Yajure Prado, pesquisadora de Inovação de Produtos na Natura Cosméticos.
*Com informação do Museu Paraense Emílio Goeldi
