Estrada de Ferro Madeira-Mamoré: patrimônio histórico deu origem ao município de Porto Velho

Ferroviário e historiador falam da construção e da importância da Madeira-Mamoré para a história da capital rondoniense.

É com brilho nos olhos e muito carinho que Antônio Moisés Cavalcante fala dos 110 anos da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). Ferroviário há 40 anos, ele celebra, neste dia 1º de agosto, a data de inauguração da ferrovia e do papel dela no surgimento de Porto Velho, capital de Rondônia.

Para Moisés, o surgimento da capital só veio em decorrência da construção da EFMM. Ele entende que ali está o início não só da história do município, mas de todo Estado de Rondônia.

Ferroviário fala do papel da ferrovia no surgimento do município. Foto: Saul Ribeiro/Prefeitura de Porto Velho

O ferroviário conta que não alcançou o auge da Madeira-Mamoré. Ele começou a trabalhar na Madeira-Mamoré em 1982, quando o trem fazia apenas viagens turísticas até a comunidade de Santo Antônio, um trecho de aproximadamente 12 quilômetros.

“Eu era ajudante do seu José Evaristo. O seu Nicanor era o condutor principal da Litorina e me ensinou a trabalhar. Foi uma experiência muito boa e que nos traz muitas saudades”, disse.

Pouco tempo depois, Moisés se tornou o condutor da Litorina e um apaixonado pela Madeira-Mamoré. Tanto que ainda hoje trabalha no complexo da EFMM ajudando a preservar o patrimônio histórico.

“A EFMM é tudo para mim, faz parte da minha vida. Eu vivo mais aqui no pátio da ferrovia do que na minha casa, então ela representa tudo”,

afirma o ferroviário. 

O ferroviário agradece ao executivo municipal por ter revitalizado o complexo da EFMM. Isso aumentou o seu amor e o desejo de continuar trabalhando no local.

“A minha satisfação de trabalhar na Madeira-Mamoré é imensa. Tenho a satisfação de acordar todos os dias e vir para o meu trabalho, esperando o momento botar a Litorina de volta no trilho, a Kalamazoo e também a Cegonha”, comenta.

Antônio Moisés. Foto: Saul Ribeiro/Prefeitura de Porto Velho

História

De acordo com o doutorando em história Célio Leandro, a origem da lendária ferrovia está no Século XIX, quando a Bolívia tentou emplacar a construção da EFMM, mas acabou desistindo por conta das inúmeras dificuldades.

Anos mais tarde, quando o Brasil conquistou o Acre, através do Tratado de Petrópolis, é que o audacioso projeto começou a se tornar realidade. “Com o Tratado de Petrópolis o Brasil assume a responsabilidade de construir esse grande empreendimento, iniciando em 1905 e tendo sua conclusão em 1912”, explica.

O grande interesse do Brasil era a exportação da borracha, já que na época o País era o maior produtor de borracha do mundo.

Célio Leandro. Foto: Saul Ribeiro/Prefeitura de Porto Velho

Obra

Com o Brasil no comando da obra, a construção da ferrovia começou a se tornar realidade e uma grande estrutura foi montada. Percival Farquhar, o responsável pelo empreendimento, começou a trazer pessoas de mais de 50 países para trabalhar na EFMM. Com isso, foi montado o primeiro hospital, o primeiro restaurante industrial, energia elétrica e até fábrica de gelo. “Foi montado todo um grande aparato para recepcionar esses trabalhadores e, a partir daí, deu início a construção dessa ferrovia”, acrescenta.

Importância

A grande importância da ferrovia na época da sua inauguração, na visão de Célio Leandro, foi o surgimento da cidade de Porto Velho, já que o ciclo da borracha, seu grande objetivo, estava em decadência, pois os ingleses estavam produzindo a borracha na Ásia.

“Lucro mesmo, de fato, ela só vai dar na década de 1940, quando vem o segundo ciclo da borracha e o Brasil vai investir novamente; novos vagões, novas ferrovias, mas todas as primeiras décadas do seu período de inauguração foram deficitárias”, afirma.

Já atualmente, a importância se dá pelo valor histórico da Madeira-Mamoré. 

“Pessoas que aqui viveram, que aqui trabalharam, que aqui morreram são as responsáveis por tudo o que somos hoje. A importância da Estrada de Ferro é a origem de Porto Velho”, 

finaliza o historiador.

*Por Augusto Soares, da Prefeitura de Porto Velho

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