Da cozinha ao banho: sabão de pimenta-do-reino é criado no Pará

A pesquisa realizada no Pará teve como objetivo principal a elaboração e a caracterização de sabonetes contendo óleo essencial de pimenta-do-reino e óleos fixos da região amazônica.

Foto: Alexandre de Moraes

Um grão com um sabor diferente, picante ou levemente adocicado, dependendo da quantidade utilizada. Além de adicionar sabor aos pratos, é conhecido por suas propriedades digestivas, antioxidantes e anti-inflamatórias. Ele também melhora a circulação sanguínea devido às suas propriedades vasodilatadoras, possuindo atividade antibacteriana e antifúngica. Reconheceu essa especiaria?

A pimenta-do-reino (Piper nigrum) é amplamente utilizada na culinária mundial, tanto em pratos salgados quanto em sobremesas, pois realça o sabor dos alimentos e adiciona complexidade aos pratos. Além de possuir diversas características benéficas à saúde, ao ser transformada em óleo, potencializa suas propriedades, tornando-se uma opção versátil para diversos usos. O óleo, extraído com métodos ideais, é empregado na produção de sabão em barra, em que são utilizadas tecnologias para aprimorar tanto a eficácia quanto a qualidade do produto final.

A pesquisa ‘Estudo da utilização do óleo essencial da Pimenta-do-Reino e óleos fixos da Amazônia na obtenção de sabões‘ foi desenvolvida por Isis Gomes Campos, bolsista Pibic, da Faculdade de Engenharia Química (Itec/UFPA), com orientação do professor Davi do Socorro Barros Brasil. O estudo aborda a produção de sabão utilizando óleos essenciais (com destaque para o óleo da pimenta-do-reino) de maneira sustentável e benéfica ao meio ambiente.

A pesquisa realizada no Pará teve como objetivo principal a elaboração e a caracterização de sabonetes contendo óleo essencial de pimenta-do-reino e óleos fixos da região amazônica. Utilizando métodos de extração e análise, foram avaliadas as propriedades físico-químicas e terapêuticas desses óleos, visando aprimorar a qualidade e eficácia dos sabonetes resultantes. Além disso, buscou-se explorar benefícios adicionais para a saúde da pele e o bem-estar geral dos usuários, contribuindo, significativamente, para o desenvolvimento de produtos cosméticos mais naturais e eficientes.

Processo a frio preserva propriedades da matéria-prima

A metodologia empregada envolveu a produção de sabão por meio do processo a frio. A técnica foi escolhida para preservar as propriedades naturais do óleo essencial da pimenta-do-reino e garantir, assim, a integridade dos seus compostos ativos.

Foto: Reprodução/Semas PA

Para a fabricação do sabão em barra, foram empregados cinco tipos distintos de óleo: andiroba, castanha-do-pará, coco, açaí e, é claro, pimenta-do-reino. Essa seleção foi baseada nas propriedades funcionais e medicinais, visando criar um produto com diversos benefícios e de boa qualidade. O óleo essencial da pimenta foi escolhido pelo seu diferencial e por suas múltiplas propriedades.

A reunião dos óleos no sabão em barra criou um produto final que não apenas limpa, mas também hidrata e nutre a pele.

A intenção dos pesquisadores era produzir um sabão em barra que possuísse viabilidade social amazônica, do mesmo modo agregar valor a esses produtos. “Queríamos integrar a produção a um modelo sustentável e economicamente viável para os produtores locais. Essa abordagem impulsiona a pesquisa ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento da comunidade local, permitindo o crescimento coletivo”, avalia.

Etapas de produção aplicaram os princípios da química verde

Ao utilizar uma combinação de óleos vegetais na produção do sabão em barra, a iniciativa não só promove matérias-primas renováveis, como também prioriza a sustentabilidade em cada etapa do processo de fabricação, colocando em prática os princípios da química verde, quando, além de não causar poluição, ainda se agrega valor ao produto.

Essa abordagem minimiza a geração de resíduos, reduz as emissões de substâncias poluentes, resultando em produtos finais menos tóxicos e mais seguros para o meio ambiente e os consumidores. O compromisso com a sustentabilidade demonstra que é possível integrar a responsabilidade ambiental à produção de produtos de qualidade.

O trabalho conclui que a combinação de óleos vegetais na produção de sabão em barra apresenta-se como uma estratégia viável e promissora para a indústria de cosméticos. Essa abordagem não apenas oferece benefícios funcionais e medicinais para a pele, mas também demonstra um compromisso efetivo com a sustentabilidade, ao utilizar matérias-primas renováveis e minimizar os impactos ambientais ao longo do processo de fabricação.

Saiba mais sobre óleos e seus benefícios

  • Castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa): Rico em Vitaminas A e E, possui propriedades emolientes, antioxidantes e cicatrizantes.
  • Pimenta-do-Reino (Piper nigrum): Possui ação anti-inflamatória, antioxidante e outras propriedades que otimizam processos cicatrizantes e combatem fungos e bactérias.
  • Andiroba (Carapa guianensis): Conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e analgésicas.
  • Açaí (Euterpe oleracea):Indicado para tratamentos de doenças de pele, auxiliando a regeneração, além de ser um antioxidante eficaz devido a sua alta concentração de vitamina C.
  • Coco (Cocos nucifera):Possui propriedades antioxidantes, antifúngicas, antibacterianas, calmantes, condicionantes, emolientes e hidratantes.

Fonte: Campos, 2022.

Sobre a pesquisa

O plano de trabalho ‘Estudo da utilização do óleo essencial da Pimenta-do-Reino e óleos fixos da Amazônia na obtenção de sabonetes‘ faz parte do Projeto de Pesquisa Potencial de oleaginosas da Amazônia para o aproveitamento e desenvolvimento de novos produtos.

A pesquisa foi realizada por Isis Gomes Campos, sob orientação do professor Davi do Socorro Barros Brasil. O estudo foi conduzido no Laboratório de Biossoluções e Bioplásticos da Amazônia (FEQ/ITEC), com financiamento da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, edição 172, da UFPA, escrito por Evelyn Ludovina

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