Foto: Bruno Chaves/Ufra
A preservação e o manejo sustentável das árvores são desafios tanto na floresta amazônica quanto em áreas urbanas. Uma nova tecnologia desenvolvida na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) pode auxiliar nessa tomada de decisão. Eduardo Saraiva, engenheiro florestal e professor da instituição, teve sua patente de invenção aprovada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O dispositivo permite medir ocos em árvores de forma acessível, auxiliando na avaliação da integridade sem a necessidade de equipamentos sofisticados ou da derrubada da árvore.
Eduardo Saraiva explica que o ‘Dispositivo medidor de diâmetro de oco de árvores’, como foi patenteado, partiu da necessidade de tornar a decisão sobre o corte de árvores no manejo florestal.
“Atualmente, a avaliação do oco das árvores em áreas de manejo florestal é realizada pelos operadores de motosserra, que tomam a decisão com base na sua experiência. O dispositivo partiu da premissa em apresentar mais um parâmetro para uma melhor tomada de decisão da equipe técnica da atividade”.
A invenção busca auxiliar no uso sustentável da floresta com critérios técnicos. No manejo florestal, há um processo metodológico para retirar árvores de forma equilibrada, e uma das etapas é verificar se a árvore apresenta oco. Isso influencia diretamente na qualidade da madeira e no aproveitamento. “O operador usa o sabre da motosserra para fazer a perfuração e, com base na sua experiência observa o oco e, decide se a árvore que apresentou oco deve ou não ser derrubada. Nosso dispositivo pretende oferecer um suporte mais preciso a essa tomada de decisão da equipe”, afirmou o professor.
A ideia, que surgiu em 2019, e foi solicitada a patente em 2020, teve seu reconhecimento pelo INPI no final de 2024, confirmando a originalidade e a relevância da inovação. Um produto patenteado significa obter o reconhecimento legal da exclusividade sobre uma invenção. Além disso, reforça a credibilidade da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico, contribuindo para o avanço da ciência e da indústria no país.
“Isso representa o reconhecimento do esforço para o desenvolvimento de um equipamento prático para o campo, que pode ser utilizado em diferentes condições dentro ou fora da floresta . Com as dificuldades que se tem em caminhar na floresta e procurar as árvores, não se pode ter um equipamento que apresente dificuldade nesse percurso, além da facilidade em seu uso na obtenção da resposta que se busca”, comentou.
O professor ainda afirmou que ter um dispositivo reconhecido como uma patente e ser uma inovação para a área de Engenharia Florestal é “sem dúvida, muito importante para nossa área florestal sempre em desenvolvimento, principalmente sendo algo que pode ser utilizado em campo’.
Como funciona o dispositivo
Para realizar a medição do oco, o usuário pode utilizar o sabre da motosserra ou uma furadeira, para perfurar a árvore. Em seguida, introduz o aparelho no tronco para medir o espaço interno sem a necessidade da derrubada da árvore.
Com o aparelho, que é leve e fácil de ser utilizado, se pode saber quantos centímetros possui o oco de uma árvore. Para obter uma avaliação mais detalhada do diâmetro do oco, podem ser realizadas medições em forma cruzada na árvore.

O dispositivo é feito de aço inox, como uma pequena haste com dispositivo de contato e uma régua na parte interna para medir a distância entre as duas paredes do oco da árvore. O primeiro protótipo do dispositivo é capaz de medir ocos de até 60 cm , sendo mais longo, com maior circunferência, já o segundo modelo, é mais compacto e leve, facilitando o transporte e a aplicação em campo.
O diferencial do dispositivo é a facilidade no entendimento de sua operação, eficiência e apresentando resposta no momento da operação. Ele pode ser operado por qualquer profissional da área, sem necessidade de treinamento avançado. Além disso, é uma alternativa viável para regiões, onde tecnologias mais avançadas podem apresentar dificuldades em sua aplicabilidade.
Impacto para o manejo florestal e arborização urbana
Tendo sua motivação inicial para auxiliar no manejo florestal na Amazônia, o dispositivo também pode ter aplicação no meio urbano. O professor explica que a função do aparelho não é prever se uma árvore irá ou não cair, mas permite uma avaliação técnica de mais um parâmetro no momento da derrubada e uma melhor tomada de decisão sobre sua remoção ou manutenção realizada pelo técnico responsável.
“O aparelho não vai decidir pelo técnico responsável se derruba a árvore ou vai prever a queda desta, mas sim dar subsídios para o profissional tomar uma decisão unindo a avaliação de outros parâmetros já conhecidos. Ele tem a possibilidade de fazer uma leitura interna e importante, a qual encontrávamos dificuldade antes”, comentou.
Diferente de equipamentos mais complexos, que demandam conhecimento especializado e possuem alto custo, o dispositivo criado pelo professor da Ufra é de fácil uso, podendo ser aplicado em poucos minutos.
Ainda sem testes em larga escala, a tecnologia deve passar por avaliações mais aprofundadas. O professor segue em contato com instituições que trabalham com manejo florestal e arborização urbana para testar e aperfeiçoar o dispositivo. Há também a expectativa de que ele seja incorporado em políticas públicas de manejo e preservação.
Eduardo Saraiva ressaltou que a Ufra, tem o curso de Engenharia Florestal mais antigo da região Norte e o sexto mais antigo do Brasil e sempre foi referência, disponibilizando ao longo deste tempo para o mercado, excelentes profissionais que atuam em diversas áreas do setor. O professor diz que o reconhecimento pelo INPI, valoriza o trabalho da instituição e reforça seu papel na produção de conhecimento para a Amazônia.
“Com muito orgulho, fui aluno desta casa e espero realmente conseguir contribuir tanto para a Ufra, como para o setor florestal e para a nossa região. Ter uma patente como essa, entendemos ser relevante para a Engenharia Florestal e para a gestão dos recursos florestais na Amazônia”, concluiu.
*Com informações da Ufra