Pré-COP 30: Sistemas agroflorestais da Amazônia atuam no combate às mudanças climáticas

Exemplo da SAF visitado pela pesquisadora. Foto: acervo da pesquisa

Conhecidos como SAFs, os sistemas agroflorestais são exemplos de resiliência ambiental, configurando-se ainda em estratégia de combate às mudanças climáticas. Mesmo na Amazônia, rica em biodiversidade florestal, os SAFs possuem um importante papel, contribuindo tanto para o sequestro de carbono e a sustentabilidade ambiental quanto para a geração de renda, principalmente para agricultores familiares.

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“Os sistemas agroflorestais são maneiras de cultivo consorciado que envolvem espécies florestais e agrícolas e também podem inserir o componente animal. Esse tipo de cultivo tem conhecimento na ancestralidade e atualmente se mostra como uma grande alternativa para diversificação de produção, geração de renda e manutenção dos serviços ambientais”, explica Daniela Pauletto, professora do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

A pesquisadora é autora da tese ‘Sistemas Agroflorestais na Amazônia Oriental: Análise da adoção, composição e características socioambientais’, defendida em abril deste ano no âmbito do doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte, da Universidade Federal do Pará (UFPA). A pesquisa englobou sete municípios da região Oeste do Pará: Santarém, Belterra, Mojuí dos Campos, Rurópolis, Novo Progresso, Alenquer e Monte Alegre, totalizando 68 propriedades visitadas e 75 SAFs analisados.

“A pesquisa investigou a composição, a riqueza, a dinâmica e os fatores socioambientais que influenciam a implantação de sistemas agroflorestais na Amazônia Oriental”, explica.

O estudo envolveu diferentes tipologias de SAFs mantidas por agricultores familiares, incluindo quintais agroflorestais (QAFs) urbanos e rurais; e sistemas silviagrícolas, que são a junção da agricultura com espécies florestais. Os resultados revelaram elevada diversidade de espécies alimentares e florestais, com predomínio de frutíferas e variabilidade na estrutura e manejo dos sistemas.

Leia também: Sistemas Agroflorestais do Pará promovem integração da floresta com agricultura

Durante a pesquisa, a cientista buscou entender por que as pessoas escolhem aquelas espécies para plantar. “Além de entender as escolhas, eu queria entender as combinações do ponto de vista de quem escolhe o que é imprescindível, o que as pessoas colocam nos seus sistemas consorciados. Eu queria entender as escolhas das pessoas”, explica.

Segundo a pesquisadora, o componente frutífero é o que as pessoas estão buscando. “O público que adere aos sistemas agroflorestais – agricultores familiares, extrativistas, quilombolas – tem realmente mais afinidade com a produção de frutos”, afirma.

“Na teoria mais clássica da engenharia florestal, os sistemas agroflorestais são a junção de um componente agrícola com um componente florestal. No nosso contexto, não é o componente florestal. Em geral, os SAFs não são desenhados para madeira. Eles são SAFs frutíferos. O nosso componente árvore ou arbusto ou palmeira é para fruta”, explica.

Exemplo de SAF encontrado no Oeste do Pará. Foto: acervo da pesquisa

Cumaru

Segundo a pesquisadora, a maioria das propriedades investigadas está expandindo as áreas de SAFs com espécies que dão maior lucro, como o cumaru (Dipteryx odorata). No entanto, essa expansão não compete com as áreas de cultivos tradicionais.

“Nesse perfil de agricultor, o SAF não disputa espaço com cultivos agrícolas tradicionais. Ele divide espaço. É bem interessante. As pessoas não migram a sua atuação para os SAFs. Elas ampliam, criam novas áreas, mas não abandonam a sua área tradicional de monocultivo, de plantio de mandioca, de feijão, de outras espécies que representam sua segurança alimentar”, afirma.

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Outro aspecto revelado pela pesquisa é o crescente interesse dos agricultores familiares pelo cumaru devido à expansão do mercado de sementes. Segundo a pesquisadora, a espécie tem sido muito importante para o aumento do número de sistemas agroflorestais na região.

“É muito interessante a dinâmica do cumaru. Ele realmente se torna uma mola propulsora dos SAFs, como ficou evidente no nosso mapeamento, porque permite o consórcio com outras espécies. O cumaru gera uma renda que incentiva, inclusive, o cultivo de outros espécies perenes”, afirma.

Além da demanda crescente, outra vantagem é a rapidez com que a espécie começa a produzir sementes. “Com dois anos e meio, ela já começa a ter produção de frutos. Com quatro anos, a árvore tem uma produção mais estável, com pouca demanda de manejo para o agricultor”, explica.

“Com a renda do cumaru, o agricultor consegue se “dar ao luxo” de cultivar outros que são mais exigentes, como o cacau e o cupuaçu, que precisam de mais poda e adubação”.

Quintais

Na tese, a pesquisadora também destaca a importância dos quintais agroflorestais como um local de experimentação e de ensaios que precedem a implantação de iniciativas florestais.

“A gente percebe uma estrutura muito mais estável nos quintais. Independente da pessoa ter ou não outros sistemas agroflorestais no seu contexto agrário, é muito difícil uma residência rural não ter um quintal agroflorestal”.

sistemas agroflorestais
Exemplo de quintal agroflorestal. Foto: acervo da pesquisa

“Tenho notado, tanto na revisão de literatura da tese, quanto na pesquisa, que o quintal ainda continua sendo uma grande área de ensaio. Isso é muito interessante, porque ainda é um local onde você multiplica a única muda que você ganhou ou aquela espécie que você não conhece. É onde você faz os primeiros testes: se aquilo realmente é bom, se é doce, se é aquela fruta, algo assim”.

“Os quintais são sempre muito mais diversos, muito estruturados, com espécies medicinais, espécies alimentares. Com relação à questão social, também são utilizados como área de encontro religioso, de descanso, de trabalho, de arrumar malhadeira… Então, os quintais têm um outro contexto. E as árvores, as espécies lenhosas, estão ali para dar esse suporte, dos serviços ambientais e ecossistêmicos”.

COP 30

Discussões socioambientais e pesquisas que envolvem as mudanças climáticas estarão na programação do encontro Pré-COP 30 da Ufopa, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de agosto, em Santarém (PA).

*Com informações da Universidade Federal do Oeste do Pará

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